O cenário é a sala de uma casa de classe média alta. Lucivalda está varrendo o tapete. Para e olha em volta, pensativa.

LUCIVALDA

Nossa! Isso está tão quieto!

Victor e Soraia vêm do quarto discutindo.

VICTOR

Não, Soraia! Eu não vou produzir um comercial pra isso que você inventou agora!

SORAIA

Como não, Victor? Você é meu marido e o melhor publicitário de São Paulo. Minha empresa precisa de você!

VICTOR

Soraia, meu amor. Isso que você chama de empresa é uma lojinha de roupas para animais de estimação de gente fresca. Eu tenho mais o que fazer!

SORAIA

Não é lojinha, é ateliê!

Soraia se senta no divã e choraminga tentando convencer Victor.

SORAIA

Você está sendo cruel comigo! E se fosse um empresário importante te pedindo esse comercial?

VICTOR

Com certeza um empresário importante não me pediria para fazer um comercial ridículo desses.

Soraia se levanta brava.

SORAIA

Eu abri mão da minha carreira de atriz, modelo e dançarina, pra me casar com você, e é assim que você me trata?

VICTOR

Você largou a sua carreira porque sabia que era péssima nas três coisas, Soraia. Vamos fazer assim: eu prometo pensar na sua proposta, ok?

SORAIA

(sorri) Ok, meu amor. Pensa com carinho, ou você ficará dias sem carinho na cama.

VICTOR

Eu sabia que você iria apelar, dona Soraia.

Victor beija Soraia e sai. Soraia se aproxima de Lucivalda.

SORAIA

Você viu como se convence um homem, Luci?

LUCIVALDA

Vi, dona Soraia. Isso é todinho a cara da senhora.

SORAIA

Luci, leva pra mim no quarto o café da manhã, please.

Soraia vai para o quarto. Lucivalda coloca a mão na cintura.

LUCIVALDA

Agora sim estou no hospício onde trabalho.

Lucivalda vai para cozinha. Eduardo entra e se senta no sofá. Maria Elis vem de seu quarto, entra na sala sorrindo e se aproximando de Eduardo.

MARIA ELIS

Voltou, meu amor?

Maria Elis beija Eduardo.

EDUARDO

É, Elis. Eu me esqueci de salvar um arquivo e vou precisar dele agora. Olha pra mim no computador, amor.

MARIA ELIS

Claro.

Maria Elis se levanta, vai até a mesa do computador se senta e mexe no computador.

MARIA ELIS

Duzinho, eu não consigo ver o arquivo.

EDUARDO

Abre a janela.

MARIA ELIS

O quê?

EDUARDO

Abre a janela.

Maria Elis se levanta, vai até a janela da sala e a abre um pouco.

MARIA ELIS

Assim está bom ou abre tudo?

Eduardo se vira e olha Maria Elis na janela.

EDUARDO

O que você está fazendo aí, Maria Elis?

MARIA ELIS

Abrindo a janela que você mandou.

Maria Elis se aproxima de Eduardo, que, inconformado, se levanta.

EDUARDO

Eu mandei você abrir a janela do computador, Maria Elis!

MARIA ELIS

Nossa! Como você é burro! Computador não tem janela.

Eduardo fica irritado.

EDUARDO

Eu sei! Mas parece que seu neurônio bêbado não sabe!

Lucivalda vem da cozinha.

LUCIVALDA

Eita que dá para ouvir os berros de longe. O que foi, seu Eduardo?

EDUARDO

A Maria Elis que logo cedo já soltou suas pérolas.

MARIA ELIS

Errou de novo, ok? Porque nem colar de pérolas estou usando!

LUCIVALDA

Tadinha, seu Eduardo. É que eu ainda não servi a ração matinal dela. Vem, dona Elis. Vou te servir, viu?

Maria Elis e Lucivalda vão para cozinha. Eduardo vai até a mesa do computador e se senta. Hugo vem de seu quarto bocejando e deita no divã.

HUGO

To cansadão.

EDUARDO

Do quê? Você passa o dia todo sem fazer nada.

HUGO

Como nada? Eu sou skatista profissional.

EDUARDO

Isso pra mim é não fazer nada.

Eduardo se levanta e senta do lado de Hugo.

EDUARDO

Eu preciso que você me faça um favor.

HUGO

Manda.

EDUARDO

Eu quero fazer uma surpresa para sua irmã.

HUGO

Qual delas?

EDUARDO

Como qual? A minha mulher, né? Elis.

HUGO

Pode falar.

EDUARDO

Hoje é nosso primeiro aniversário de casamento, e eu queria fazer uma surpresa, mas não tive tempo em pensar em alguma coisa. Você pode me ajudar?

HUGO

Pode deixar. Até o fim do dia vou ter uma ótima ideia.

EDUARDO

Até o fim do dia não, né? Tem que ser logo, e quando todo mundo estiver em casa.

HUGO

Vai em paz, Dudu. Daqui a pouco te ligo com uma ideia brilhante, de cegar qualquer um de tão brilhante que vai ser.

Eduardo se levanta e vai saindo.

EDUARDO

Olha lá, hein!? Vou confiar em você.

Eduardo sai. Hugo se ajeita no divã.

HUGO

Vou tirar um cochilo antes.

Ariane entra brava e bate a porta. Hugo cai do divã ao se assustar.

HUGO

O que foi? Terremoto?

ARIANE

Não, seu desocupado. Sou eu.

Ariane se senta no sofá.

HUGO

Não é terremoto, é tsunami. (se levanta) O que aconteceu?

ARIANE

Parece que o mundo conspira contra mim. Acordei super disposta; fui à padaria. Quando eu cheguei lá, tinha uma fila que parecia a do sopão da prefeitura. Ia de uma esquina à outra. Depois de meia hora esperando, chegou a minha vez.

HUGO

E por isso você está brava?

ARIANE

Depois de tudo isso, quando chegou minha vez, acabou o pão. Aí… Hum… Aí o bicho pegou. Você acredita que o padeiro teve a coragem de olhar pra mim e falar “é rapidinho, daqui a 20 minutinhos sai o pão”?

HUGO

O que você fez?

ARIANE

Nada demais. Bati nele com a minha bolsa e vim embora.

HUGO

(ri) Desceu a porrada no padeiro, coitado.

ARIANE

Coitada de mim, que tenho que enfrentar isso antes do trabalho.

Ariane vai para seu quarto. Hugo se levanta, pega seu skate e sai. Pierre entra todo agitado. Soraia se aproxima. Pierre puxa Soraia pela mão.

PIERRE

Soraia, tenho dois babados pra te contar. Qual você quer primeiro: o bom ou o bad?

SORAIA

Ai, bi, fala a boa primeiro.

Pierre e Soraia se sentam no sofá.

PIERRE

Sabe a toda poderosa Alicinha Alencar?

SORAIA

Claro, aquela que fez campanha contra testes em animais.

PIERRE

Então… ela me procurou para dar dicas sobre o que vestir no poodle dela, e eu, óbvio, falei do nosso ateliê.

SORAIA

Que ximo! Com uma cliente como ela, nosso ateliê vai bombar.

PIERRE

Pois é, mona. Ia bombar. Essa é a bad. A Alicinha disse que não vestiria seu cachorro com uma grife desconhecida.

Soraia se levanta com raiva.

SORAIA

Grife desconhecida!? Se Victor fizesse o comercial, não seria desconhecida! Agora ele vai se ver comigo! (sai)

PIERRE

Soraia, volta aqui, menina. O bofe vale mais vivo.

Pierre sai atrás de Soraia. Lucivalda entra.

LUCIVALDA

Coitado do seu Victor. A coisa tá preta pro lado dele.

A campainha toca. Lucivalda vai até a porta. Entregam para ela um buquê de flores. Maria Elis vem do quarto. Lucivalda fecha a porta.

MARIA ELIS

Flores!?

LUCIVALDA

Sim, mas não é pra comer. Essas aqui são da dona Ariane.

Lucivalda sai com as flores. Hugo entra andando de skate e vai para perto de Maria Elis.

E aí, maninha? Tudo bem?

MARIA ELIS

Tudo, e com você?

HUGO

Ótimo. Elis, tipo assim, você já teve algum sonho especial?

MARIA ELIS

(pensativa) Sonho especial… Já tive sim.

HUGO

Então me diz: qual?

MARIA ELIS

O da padaria do seu Alfredo. Eu nunca comi um sonho tão especial feito aquele.

Hugo se senta.

HUGO

Não é sonho de comer, sua tonta! Eu quero saber se você já quis muito uma coisa e ainda não teve.

MARIA ELIS

Ah, entendi! Difícil essa, Hugo. Vou pensar e te falo depois.

HUGO

Eu queria saber hoje e não daqui a cinquenta anos.

Victor entra correndo, assustado.

HUGO

Que foi, velho? A polícia está atrás de você?

VICTOR

Pior que isso. Sua mãe ficou louca.

Entram Pierre e Rebeca, segurando Soraia. Elis e Hugo se levantam. Victor se esconde atrás de Elis.

SORAIA

Covarde, sai de trás da Elis, porque eu vou fazer picadinho de você!

VICTOR

Meu amor, você está correndo atrás de mim, e eu nem sei por quê.

Soraia fica mais brava. Chega até o sofá, arrastando Rebeca e Pierre, que estão segurando ela.

SORAIA

Você não fez o comercial do ateliê pra mim, e eu perdi uma cliente!

VICTOR

Toda essa confusão por causa dessa coisa ridícula de ateliê pra cachorro? Por favor, né, Soraia.

SORAIA

O quê? Coisa ridícula?

PIERRE

Ui, bofe! Você não deveria ter dito isso.

Soraia vai para cima de Victor, derrubando Rebeca e Pierre no chão. Hugo segura Soraia.

HUGO

Eu garanto que o velho tem uma boa explicação.

VICTOR

Eu não fiz o seu comercial porque tenho que fazer um comercial hoje que é pra ontem.

MARIA ELIS

Você fez um comercial hoje que passou ontem?

PIERRE

Cruzes, Soraia! Sua filha é abilolada, né?

Rebeca e Pierre se levantam.

REBECA

Eu tenho que sair em defesa do meu chefinho. Dona Soraia, seu Victor está com a agenda lotada. Se a senhora quiser, até mostro.

Ariane vem de seu quarto, brava.

ARIANE

Será que por um minuto essa casa não fica silenciosa. Eu estou tentando trabalhar!

SORAIA

E eu tentando matar o seu pai.

ARIANE

Mamãe, depois que eu projetar a decoração do escritório do Eduardo, você pode matar o papai, mas agora não.

PEDRO

(entra) Gente, o que está acontecendo? Dá pra ouvir os gritos lá de fora.

ARIANE

É claro dá pra ouvir tudo quando se coloca o ouvido na porta.

Ariane vai para seu quarto.

PEDRO

Ela é sempre assim, é?

VICTOR

É. Saiu à mãe dela.

SORAIA

Quer saber? Eu vou procurar outra produtora, e você, senhor Victor Falsetta, pode esquecer que eu sou sua mulher. A partir de hoje, eu sou sua prima de quinto grau.

Soraia vai para seu quarto. Victor se senta.

PIERRE

Bofe, tu pegou pesado com minha diva. Vou lá ver se ela precisa de alguma coisa.

Pierre vai atrás de Soraia.

REBECA

O senhor quer alguma coisa, seu Victor?

VICTOR

Quero consertar a burrada que fiz agora. Por causa dessa porcaria de comercial, a Soraia me deixa sem carinho à noite.

MARIA ELIS

Papai, se a minha mãe é sua prima, o que eu sou sua?

Victor olha para Elis indignado. Olha Hugo, Pedro e Rebeca em seguida.

VICTOR

Sabem no dia que Soraia e eu fizemos Maria Elis? Estávamos totalmente bêbados, e eu acho que o álcool matou as células inteligentes dela.

PEDRO

Não fala assim da gatinha.

HUGO

Gatinha? Ela está mais para antinha.

EDUARDO

(entra) Ouvi a palavra antinha. Por acaso é a minha?

Eduardo vai até Elis dá um selinho nela.

VICTOR

O que você está fazendo em casa, Eduardo?

EDUARDO

Oi pra você também, Victor.

VICTOR

Desculpa, é que a Soraia me tirou do sério. Falando nisso, vou ver como ela está, e, dona Rebeca, por favor, vai até a floricultura comprar as flores mais bonitas que estiverem lá. Depois compre uma caixa de bombons.

REBECA

Pode deixar comigo, seu Victor.

Rebeca sai. Victor vai para seu quarto.

PEDRO

Se fosse eu, daria um belo colar de diamantes.

EDUARDO

É acontece que só você faria isso. Com a herança que recebeu, você pode dar até uma mansão.

PEDRO

Falando nisso, já volto. (sai)

EDUARDO

Elis, meu amor, pega pra mim, por favor, meu relógio que esqueci no nosso quarto.

Maria Elis vai para o quarto.

HUGO

Vem cá, seu relógio não é esse que está com você no seu pulso?

EDUARDO

É, mas eu fiz isso pra ela sair. E aí? Você já teve uma ideia legal sobre a surpresa para Elis?

HUGO

Ta difícil. A Elis é burra, mas não deixa escapar nada do que ela gosta.

Elis vem do quarto e fica perto da porta da cozinha. Eduardo e Hugo não percebem.

EDUARDO

Hugo, eu tenho que fazer uma coisa bem legal pra mulher da minha vida, mas a Elis não pode saber.

HUGO

Pode confiar, Dudu. Não deixo Elis saber de nada.

Hugo e Eduardo saem. Elis vem para a sala triste. Lucivalda entra.

LUCIVALDA

Que foi, dona Elis? Que cara é essa?

MARIA ELIS

Você não vai acreditar. Nem eu estou acreditando.

Maria Elis se senta.

LUCIVALDA

A senhora descobriu que não tem cérebro.

MARIA ELIS

Não, pior. O Eduardo está me traindo.

LUCIVALDA

(gargalha) Dona Elis, é mais fácil você fazer todas as tabuadas do que seu Eduardo trair a senhora. Tem um ano que ele vive aqui nessa casa de louco. A senhora quer prova de amor maior que essa?

MARIA ELIS

Eu ouvi. Ele disse com todas as letras: a Elis não pode saber que vou fazer uma coisa legal para a mulher da minha vida.

LUCIVALDA

Tem certeza?

MARIA ELIS

Tenho como dois e dois são pato.

LUCIVALDA

Depois dessa eu vou preparar um suco de maracujá.

Lucivalda vai para cozinha. Victor vem de seu quarto e vê Maria Elis triste.

VICTOR

O que foi, Elis?

MARIA ELIS

O Eduardo tem uma mulher da vida dele.

VICTOR

Claro: você.

Maria Elis se levanta brava.

MARIA ELIS

Ninguém acredita em mim! Pois eu vou provar que o Eduardo tem outra mulher.

Maria Elis sai chorando.

VICTOR

Não é possível! As mulheres daqui são loucas.

Pierre vem do quarto.

PIERRE

A minha amiga Soraia mandou eu te falar que só volta a falar com você quando o comercial do ateliê ficar pronto.

Pierre vai para o quarto.

VICTOR

Até a bicha daqui é louca.

Victor se senta, e Pedro entra.

PEDRO

Victor, me faz um favor? Você entrega esse colar para Ariane.

VICTOR

Por que você mesmo não entrega?

Pedro se senta ao lado de Victor.

PEDRO

É que eu tenho medo. Você sabe como sua filha é mal humorada, então eu mando presentes para ela como um admirador secreto. Hoje mesmo eu mandei entregar flores.

VICTOR

Flores? A minha filha é alérgica.

Ariane vem espirrando do quarto.

ARIANE

Eu vou matar o filho da mãe que me mandou essas flores! (sai)

PEDRO

Eu não sabia disso.

VICTOR

Pode deixar. Eu entrego o colar.

PEDRO

Valeu, futuro sogrinho. Vou atrás dela. (sai)

VICTOR

No que depender da minha filha, esse futuro sogro é num futuro bem distante.

REBECA

(entra aflita) Seu Victor, aconteceu uma tragédia.

VICTOR

Ai, Deus! O que foi agora?

REBECA

As flores que o senhor pediu para eu comprar, um cavalo comeu.

VICTOR

Um cavalo? E por acaso esse mesmo cavalo comeu a floricultura toda?

REBECA

Não.

VICTOR

Então por que você não foi lá e comprou outro buquê?

REBECA

É, ele não comeu tudo, mas estava parado lá de frente, e eu fiquei com medo.

VICTOR

Tá bom. E os bombons, onde estão? Não vai me dizer que o cavalo também comeu.

REBECA

Claro que não.

VICTOR

Ah, bom… Me dá aqui, que vou levar para Soraia.

REBECA

Seu Victor, é que está muito calor lá fora e derreteu tudo.

Victor se levanta e diz olhando para o céu.

VICTOR

Por que eu? E agora? O que vou fazer?

REBECA

Que caixa é essa, seu Victor?

Victor olha a caixa do colar.

VICTOR

Já sei o que dar para Soraia!

Victor vai para seu quarto. Hugo entra e vê Rebeca sozinha. Ele a abraça por trás.

HUGO

Até que enfim você ficou sozinha.

Rebeca se afasta de Hugo.

REBECA

Hugo, aqui não! Seu pai pode entrar a qualquer momento.

Hugo vai até Rebeca e a abraça.

HUGO

Ele não vai chegar agora.

Hugo e Rebeca se beijam deitando no divã. Lucivalda entra.

LUCIVALDA

Eita, que a coisa tá boa!

Rebeca empurra Hugo, que cai no chão.

REBECA

Lucivalda, por favor, você não viu nada.

LUCIVALDA

Pra quê segredo? Todo mundo sabe que vocês dois são namorados.

REBECA

Sabem nada.

Hugo se levanta.

HUGO

Sabem, sim. Eu contei.

REBECA

Até para seu Victor?

HUGO

O velho foi o primeiro a saber.

Rebeca bate em Hugo no braço, irritada.

REBECA

Você não me contou nada por quê?

HUGO

Porque o proibido é mais gostoso.

Victor e Soraia vêm do quarto abraçados.

SORAIA

Nunca poderia imaginar que você compraria uma joia para me pedir desculpas, meu amor.

VICTOR

O valor desse colar não é nada comparado ao amor que sinto por você.

Victor e Soraia se beijam.

VICTOR

Agora vou até a produtora, e a Rebeca vem comigo.

Victor e Rebeca saem. Pierre vem do quarto.

SORAIA

Está vendo, Pierre? Eu aqui fazendo escândalo à toa.

Pierre se aproxima de Hugo e aperta o bumbum dele. Hugo se afasta.

HUGO

Ih! Sai pra lá, Pierre. Olha aí, mãe, essa sua amiguinha me apalpando.

SORAIA

Respeita meu filho, menina.

PIERRE

É que Hugo tem uma bundinha que diz assim: “me aperte”.

 

Hugo pega o skate.

HUGO

Eu não sou do seu time, não, viu?

Hugo sai. Soraia fica admirando o colar.

PIERRE

Agora que você já está melhor, vou ao ateliê. Se cuida, mona.

Pierre sai. Maria Elis entra com uma camisa de Eduardo na mão.

MARIA ELIS

Eu sabia! A prova está aqui.

SORAIA

O que foi, Maria Elis?

MARIA ELIS

Foi que Eduardo é um “adulto”.

SORAIA

E só agora você viu?

MARIA ELIS

Você já sabia?

SORAIA

Minha filha, você está bem? Só um cego não veria isso. E o que tem demais na camisa do seu marido?

MARIA ELIS

A prova que ele está me traindo. Perfume de outra mulher.

SORAIA

Traindo? Ah, você quis dizer que Eduardo é adultero? Meu amor, ele te ama. Jamais te trairia.

Eduardo entra.

MARIA ELIS

Eduardo Vasconcellos, você pode me dizer o que é isso?

Maria Elis levanta a camisa.

EDUARDO

Uma camisa. Minha camisa, por quê?

MARIA ELIS

E o perfume barato que está nela é de quem?

Eduardo cheira a camisa.

EDUARDO

Seu.

MARIA ELIS

Meu!/

EDUARDO

É, você comprou no shopping, não lembra?

SORAIA

(ri) Ai, Eduardo! Minha filha está achando que/

Ariane entra brava. Pedro entra em seguida.

ARIANE

Vou te contar, o Pedro é pior que chiclete. Ele gruda e não sai mais!

Ariane se senta.

PEDRO

E você que só sabe reclamar.

Pedro olha o colar de Soraia.

PEDRO

Esse colar…

SORAIA

Gostou? O Victor me deu de presente.

PEDRO

Esse colar eu comprei para Ariane.

ARIANE

Pra mim?

Victor e Rebeca entram. Todos olham para Victor.

VICTOR

Que foi?

Soraia se levanta e cruza os braços.

SORAIA

Victor Falsetta/

VICTOR

Não fui eu.

PEDRO

Victor, você pode me dizer o que o colar que eu comprei para a Ariane está fazendo com Soraia?

VICTOR

O colar? Da Ariane? É… Eu dei pra Soraia, mas foi porque ela não me perdoaria só com um simples pedido.

SORAIA

Cachorro! É assim que você tem meu perdão? Roubando a própria filha?

ARIANE

É! Me dá o colar, mamãe.

Ariane pega o colar com Soraia.

PEDRO

Para reparar o erro das flores.

ARIANE

Foi você o imbecil que me mandou flores? Claro! Não poderia ser outra pessoa.

Pedro pega o colar.

PEDRO

Quer saber, sua insuportável? Você não merece nada.

ARIANE

Olha aqui, seu pegajoso. Enfia esse colar…

Pedro beija Ariane. Todos olham espantados. Ariane fica mole e sorri.

ARIANE

Nossa!

Hugo entra. Lucivalda vem da cozinha com uma jarra na mão.

LUCIVALDA

Alguém quer um suco de maracujá?

TODOS

Não!

Todos menos Eduardo se sentam.

EDUARDO

Elis, eu tenho que te falar uma coisa.

Maria Elis triste.

MARIA ELIS

Eu sei.

Eduardo olha feio para Hugo.

HUGO

Não disse nada pra ela, não, irmão.

VICTOR

Quem vai falar agora serei eu. Rebeca, diga a Soraia o que estávamos fazendo.

REBECA

Um comercial para Animal’s Ateliê.

SORAIA

(chocada) O quê?

VICTOR

O comercial que estávamos fazendo era pra você, meu amor. Eu queria te fazer uma surpresa, porque não há coisa no mundo que você peça que eu não faça.

SORAIA

(sorri) Meu amor, que lindo! Então eu te devo um pedido de desculpas.

VICTOR

Só de ver você assim feliz, está ótimo.

Soraia e Victor se beijam. Maria Elis chora.

EDUARDO

O que foi, Maria Elis?

MARIA ELIS

O amor é tão lindo! Pena que você me trocou por outra.

EDUARDO

Eu! Quando? Você ficou louca?

MARIA ELIS

Eu ouvi você dizendo para o Hugo que você queria fazer alguma coisa especial para a mulher da sua vida e que eu não poderia saber.

EDUARDO

Maria Elis, você é a mulher da minha vida. Hoje nós fazemos um ano de casados, e eu queria fazer algo especial pra você.

Maria Elis fica feliz.

MARIA ELIS

É mesmo, meu amor? E esqueci!

Eduardo tira do bolso um anel.

EDUARDO

Mas eu não. Feliz aniversário de um ano, amor.

Hugo se levanta. Vai até o aparelho de som e coloca a música O Meu Sangue Ferve Por Você de Sidney Magal. Eduardo dá o anel para Elis. Eles se beijam. Eduardo segura a mão de Elis

EDUARDO

Maria Elis…

Eduardo canta.

-Teu!

Todo teu

Minha!

Toda minha

Juntos essa noite

Quero te dar todo meu amor…

Pierre canta.

Toda!

Minha vida

(sim)

Eu te procurei

(nananananá)

Hoje sou feliz

Com você que é tudo

O que sonhei…

Os homens cantam para as mulheres. Refrão repete duas vezes.

– Oh! Eu te amo!

Oh! Eu te amo, meu amor

Oh! Eu te amo!

E o meu sangue ferve por você…

Eduardo canta, abraçando Maria Elis.

Você me enlouquece

Você é o que quero

Eu sou prisioneiro

Prisioneiro

Desse seu amor…

Todos cantam. O refrão repete três vezes.

Toda!

Minha vida

(sim!)

Eu te procurei

Hoje sou feliz

Com você que é tudo

O que sonhei

– Oh! Eu te amo!

Oh! Eu te amo, meu amor

Oh! Eu te amo!

E o meu sangue ferve por você…

Lucivalda, que estava observando, sorri.

LUCIVALDA

Não tem jeito mesmo… Os opostos se atraem.

FIM

 

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