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Um Bisneto Para Minha Avó

[CENA 01 – PONTO DE ÔNIBUS/ DIA]
(Lucas está na parada de ônibus, observa uma garota a sua frente mexendo no celular)
LUCAS (narrando) Nunca parei para imaginar como seria a mulher que iria gerar um filho meu. Na verdade, ter um filho agora nem estava em meus planos. (o ônibus chega, as pessoas começam a entrar) Meu foco este ano era me formar na universidade, me estabilizar financeiramente, encontrar alguém e assim, quem sabe, construir uma família. (entra no ônibus, fica em pé ao lado de outro rapaz, observa algumas garotas) Só que o problema está justamente em encontrar à garota. Não posso chegar em qualquer uma e lançar a proposta de ter um filho comigo assim do nada. (repara uma garota olhando estranho para ele, desvia sua atenção para a janela do ônibus)

[CENA 02 – BAIRRO DE SANTA HELENA/ RUA/ DIA]
(o ônibus para no ponto de ônibus do bairro de Santa Helena. Lucas desce, segue seu caminho para casa a pé)
LUCAS (narrando) Eu até que podia pedir ajudar para alguma amiga, tipo a Sandra. Aquela ali é maluquinha de vez, certamente aceitaria. Só que um filho meio que cria um laço entre duas pessoas. Talvez prejudique a nossa amizade. E também não quero correr o risco dessa criança herdar os genes malucos dela. (ri, para em frente comércio do seu Antônio)
ANTÔNIO – (o cumprimenta) Oi, menino Lucas.
LUCAS – Olá, seu Antônio. Como o senhor estar?
ANTÔNIO – Tirando umas dorzinhas no corpo, estou ótimo.
LUCAS – (ri) Essas dorzinhas sempre incomodando, não é mesmo seu Antônio?
ANTÔNIO – É meu filho. E sua avó? A dona Helena melhorou? Fiquei sabendo que ela passou a noite fraquinha ontem.
LUCAS – Ela tá melhor sim, graças a Deus.
ANTÔNIO – Que bom. Pensei que a hora dela já havia chegado, sem mesmo antes de conhecer o bisneto. Falando nisso, esse bisneto vem ou não vem, hein menino Lucas?!
LUCAS – (ri, envergonha-se) Ele está em projeto ainda, seu Antônio. Logo vem. (acena para o seu Antônio, continua indo em direção a sua casa, narra) Falta só encontrar alguém para concebê-lo. (fica apreensivo)

[CENA 03 – CASA DE LUCAS/ SALA – Q. DA DONA HELENA/ DIA]
(Lucas chega em casa e encontra o irmão e o primo jogando videogame na sala)
LUCAS – Ih maninho, está perdendo! (coloca a mochila sobre o sofá)
GABRIEL – E feio. Tá perdendo de lavada pra mim.
PABLO – (um pouco irritado) Isso é porque acordei em um dia ruim. Vamos uma outra partida, pra você ver.
GABRIEL – Bora.
LUCAS – (se aproxima do irmão, bagunça um pouco o cabelo dele) E a mamãe, onde está?
PABLO – Não me atrapalha, Lucas. (arruma o cabelo, foca no jogo)
LUCAS – Você tá perdendo aí! Vou te atrapalhar em que? Em a derrota não ser mais vergonhosa, é? (ri, assim como o primo)
PABLO – O jogo só termina quando acaba.
LUCAS – Meio que lógico isso, não?!. (caminha até a escada, encontra sua mãe)
LILIAN – Já chegou, querido. (o abraça, o beija na bochecha)
LUCAS – Cheguei agora, mãe. Estava subindo para o meu quarto, tomar um banho. Como está a vovó?
LILIAN – Ela tá melhor. Estou terminando a sopa de legumes para ela e para o papai. O almoço também está quase pronto.
LUCAS – Então acho que vou dar uma passadinha lá no quarto, depois vou tomar banho.
LILIAN – Está bem. (Lucas sobe as escadas, Lilian se aproxima dos garotos) Meninos, é hora de acabar isso aí, lavarem as mãos, que vamos almoçar.
PABLO – Estamos indo, mãe.
GABRIEL – Só vou dar uma surra aqui no Pablo, tia. (Lilian sorri, vai para a cozinha)
[Q. DE DONA HELENA]
(Lucas bate no quarto da avó, a encontra deitada na cama)
LUCAS – Vó?! A senhora está dormindo?
HELENA – (abre os olhos, sorri ao reconhecer a voz do neto) Oh meu menino Lucas.
LUCAS – (se aproxima da cama, senta-se ao lado dela) Como a senhora estar?
HELENA – Melhor. (segura na mão dele) Como foi a aula hoje?
LUCAS – Mais uma aula com o professor só lendo slides. (ri)
HELENA – Que tipo de profissionais eles pretendem forma com isso?!
LUCAS – Onde está o vovô?
HELENA – Se não estiver jogando cartas com os amigos lá embaixo. (senta-se um pouco na cama) E meu bisnetinho, quando vem?
LUCAS – Calma, vó. Fazer uma criança não é fácil assim. Tem que ser planejado.
HELENA – Sabe que eu não tenho mais tanto tempo assim. Quero segurar meu bisneto, antes desse coração velho parar de uma vez.
LUCAS – Não diz isso, vó. A senhora vai viver muito tempo ainda.
HELENA – Já vivi demais, querido. A única coisa que eu quero antes de partir, é conhecer o meu bisneto. Por que você não conversa com a Júlia, sua ex namorada. Eu gostava dela, vocês formavam um casal lindo.
LUCAS – Eu e a Júlia somos apenas amigos, vó. E mesmo assim, ela está preocupada em conseguir o mestrado. Um filho agora não cairia bem.
HELENA – Vocês de hoje em dia são bem diferentes do pessoal da minha época. Filho para nós era sinônimo de família feliz. Ter uma criança brincando e correndo pela casa, era alegria para qualquer família.
LUCAS – Os tempos são outros, vó. Hoje as pessoas se preocupam com a formação que elas irão ter, qual carreira seguir… construir uma família, meio que ficou em segundo plano, pelo menos para alguns.
HELENA – Geração triste essa a sua, querido. (Lucas sorri)
LUCAS – Bem, eu vou tomar banho. Já, já a mamãe vem trazer a sopa da senhora. (Helena sorri, Lucas levanta-se, beija a testa da avó e saí do quarto. Helena deita-se novamente)

Anoitecendo…

[CENA 04 – LANCHONETE/ NOITE]
(Lucas está sentado com seus amigos, dividem uma pizza)
JORGE – Você realmente vai querer ter um filho, só porque sua avó pediu?
SANDRA – Eu achei fofo.
JORGE – Você tá no seu último semestre, preparando seu TCC e tudo mais. Como vai prestar atenção em uma criança?
LUCAS – Sabe que um bebê leva pelo menos 9 meses para nascer, né?! Até lá, já terei terminado a faculdade.
JORGE – Sim, mas me refiro com os outros detalhes de crianças. Tipo roupinhas, berço, quartinho cheio de brinquedos, ursinhos. Aquela dúvida se é menino ou menina, sabe?! Tudo isso precisa ser decidido antes da criança nascer.
LUCAS – O meu TCC está finalizado já, estou apenas revisando. Vou enviá-lo para aprovação e defendê-lo. Uma criança agora não vai atrapalhar.
SANDRA – Não escuta ele, Luquinha. Mas então… já encontrou a parceira para fazer esse filho?
LUCAS – Não. Ainda não.
SANDRA – Bonito desse jeito, deve dar trabalho nenhum. Aposto que qualquer uma da universidade seria louca para ter um filho com você.
LUCAS – Só que eu não quero qualquer uma. Pessoal, vocês não estão entendendo a minha angústia. Estamos falando de uma criança. De uma vida, que precisa de um pai e de uma mãe para criá-lo
JORGE – Do jeito que sua família é, duvido nada eles mesmo criarem está criança.
SANDRA – Sua mãe iria ficar louca com o primeiro neto dela. Se eu não fosse sua amiga, eu até que te ajudaria com isso.
LUCAS – Pois, é. (ri) Você já foi uma das minhas opções, que foi descartada em nome de nossa amizade.
SANDRA – Se você quiser, eu posso te apresentar algumas amigas minhas que querem ser mães. Tipo a Carlinha.
JORGE – A Carlinha, prima do Rafael?
SANDRA – Ela mesma.
JORGE – Não vai nela não, irmão. Carlinha é aquele tipo garota ciumenta e possessiva, que fica 24h no seu pé. Você tá procurando uma mãe para seu filho, não uma radiopatrulha.
LUCAS – Fica tranquilo, que eu conheço muito bem os tipos de amigas da Sandra.
SANDRA – Tenho amigas centradas também, ué. Nem todas são malucas.
LUCAS – Eu agradeço o que você quer fazer por mim, Sandra, de verdade. Mas vou procurar essa mulher sozinho mesmo.
JORGE – É assim que se fala, mano. Agora, que tal a gente ir daqui direto para uma festinha, hein?! (cutuca o braço de Lucas) Quem sabe você não encontra a mãe do seu filho lá.
SANDRA – Tava pensando em ir para uma festa mesmo. Boa ideia, Jorge. Bora, Lucas?
LUCAS – (anima-se) Bora lá.
JORGE – É assim que se fala.

[CENA 05 – BOATE/ NOITE]
(Lucas, Jorge e Sandra estão dançando no meio da pista. Os três inicialmente dançam juntos. Um cara chama Sandra para dançar, se afasta de seus amigos. Jorge e Lucas vão para o bar)
JORGE – Essa Sandra é muito fácil, meu deus!
LUCAS – Deixa ela se divertir. Aliás, devíamos estar fazendo o mesmo. (o barman entrega a bebida deles) Valeu.
JORGE – (olha para uma garota na pista) Eu vou me divertir já, já. (pega o copo e vai atrás dela. Lucas o observa, em seguida presta atenção na pista, olha para algumas garotas) Será que a mãe do meu filho tá aqui? (sorri, uma garota senta-se ao seu lado)
ELISA – Um Mojita, por favor. (vira-se para a pista, dar uma olhadinha em Lucas, foca na pista novamente)
LUCAS – (sorri, tenta puxar assunto) Se vai começar com uma bebida leve assim, é sinal de que veio dirigindo.
ELISA – Talvez.
LUCAS – (levanta-se do banquinho, fica de frente a ela) Prazer, Lucas. (estende a mão para cumprimentá-la)
ELISA – Olá, Lucas. (não aperta a mão dele, vira-se para o bar, olha para o barman)
LUCAS – (senta-se novamente) Ok. (os dois ficam em silêncio, a bebida que ela pediu chegou)
ELISA – Obrigada! (vira-se para Lucas, toma um gole e o observa) Desistiu?
LUCAS – Do que? (vira-se para ela) Pensei que você não estivesse muito afim?!
ELISA – Não, estou. Mas imaginei que talvez, dependendo do rumo que a conversa teria, você tivesse alguma chance.
LUCAS – (ri) Desculpa, então devo ter começado errado…
ELISA – Talvez.
LUCAS – (se aproxima dela) Dattebayo, onde foi que eu errei?!
ELISA – O que você disse? (gargalha)
LUCAS – Foi mal… é que sou muito fã de animes e tem um que repete muito essa expressão japonesa. (ela ainda está rindo, envergonha-se) Só estou piorando as coisas, eu sei… (vira para o bar)
ELISA – Um pouquinho, baka!
LUCAS – (a observa, surpreso) Você também…?
ELISA – Nunca viu uma garota gostar de anime?! (toma um gole de sua bebida, sorri)
LUCAS – Já.
ELISA – Então por que o espanto?
LUCAS – É que nunca pensei que encontraria uma em um ambiente como este.
ELISA – Ih, já vi tudo. Aposto como as garotas que você viu, foram nesses eventos geeks…
LUCAS – Não, quer dizer…
ELISA – Viu, só. (vira o copo, toma tudo de uma só vez, levanta-se) Bem, você tem mais 05 segundos para me fazer voltar para esse banquinho. Caso contrário, vou para pista. (Lucas vira o copo, levanta-se)
LUCAS – Adorei a ideia. Tava com vontade de dançar mesmo. (segura a mão dela, a puxa para a pista, começam a dançar)

[CENA 06 – CASA DE LUCAS/ SALA/ NOITE]
(a família de Lucas está reunida na sala assistindo novela. As crianças estão no cômodo ao lado)
ALFREDO – Onde está o Lucas?
CARLOS – Deve estar com o Jorge em alguma balada por aí.
HELENA – O menino está se divertindo, meu velho.
LILIAN – Ele saiu com os amigos.
ALFREDO – Ele e está Sandra já se assumiram? Sempre ouço o nome desses dois juntos.
LILIAN – De acordo com o Lucas, eles são só amigos.
CARLOS – Como se o nosso filho fosse contar a verdade pra gente, né querida.
LILIAN – Para mim, ele sempre conta. Se os dois estivessem namorando, eu saberia.
HELENA – Shh, vocês estão perdendo a melhor cena da novela. (todos se calam, prestam atenção na novela)

[CENA 07 – BOATE/ NOITE]
(Lucas e Elisa acabam escolhendo uma mesa para conversarem melhor, estão bem íntimos agora)
LUCAS – Agora que construímos uma ponte entre a gente…
ELISA – (ri) Francamente, você não deve sair com muitas garotas, não é mesmo?
LUCAS – O que foi agora?
ELISA – Primeiro, você me cumprimenta como seu fosse um ‘cara’.
LUCAS – O que?
ELISA – Agora, porque conversamos mais ou menos uns 20 minutos, acredita que tem alguma ponte entre a gente.
LUCAS – Pensei que estamos nos entendendo, sei lá…
ELISA – Até que estávamos. Da mesma intensidade que você avança duas casas, você volta uma.
LUCAS – (se aproxima dela) Bem, talvez isso faça eu progredir umas três casas dessa vez. (a surpreende e a beija. Elisa gosta, retribui)

[CENA 08 – MOTEL/ QUARTO/ NOITE]
(após se beijarem por um longo período na boate, os dois decidiram encerrar a noite em um motel. A casa de Lucas estava fora de cogitação, devido sua grande família e Elisa simplesmente não queria levá-lo até sua casa. Os dois estão em pé ao lado da cama, se beijam. Começam tirar as roupas e se jogam na cama, apenas de peças íntimas. Lucas encerra o beijo, pega sua calça do chão, tira sua carteira do bolso e pensa em pegar uma camisinha. Olha para Elisa e por acreditar ter encontrado a garota certa, deixa a carteira de lado. Volta para perto de Elisa, a beija novamente. Ficam sem roupa e o clima pega fogo embaixo das cobertas)

Amanhecendo…

[CENA 09 – CASA DE LUCAS/ COZINHA/ DIA]
(a família de Lucas está reunida na cozinha tomando o café da manhã, com exceção dos avós dele)
PABLO – Meu irmãozinho parece que não dormiu no quarto. Passei lá para atormentá-lo e a cama dele continuava arrumada.
LILIAN – Depois que a novela terminou ontem, a gente foi deitar e ele realmente não havia chegado.
CARLOS – Talvez ele tenha dormido na casa da Sandra.
LILIAN – Vou ligar aqui para ele. (pega o celular)
CARLOS – Deixa o garoto. Daqui a pouco ele aparece aí, como se nada tivesse acontecido.

[CENA 10 – CASA DE JORGE/ Q. DE JORGE/ DIA]
(Lucas está dormindo no chão ao lado da cama de Jorge. Este, entra no quarto e encontra o amigo dormindo)
JORGE – (pega o travesseiro, joga em cima dele) Ô, bela adormecida?! Tá na hora de levantar.
LUCAS – (acorda, sonolento) Que horas são?
JORGE – 08:15. Vamos, eu te dou uma carona até sua casa.
LUCAS – (senta-se) Não precisa. Só vou jogar uma água na cara e vou pegar um táxi. (levanta-se, caminha até Jorge) Valeu por me deixar dormir aqui.
JORGE – Tranquilo. Afinal, não podia deixar um amigo que bate na minha porta 02h da madrugada, dormir na rua, não é mesmo?!
LUCAS – (ri) Isso só foi uma vez, está bem. (caminha em direção a saída do quarto)
JORGE – (o segue) Pelo menos valeu a pena?
LUCAS – Oh, se valeu.

[CENA 11 – CASA DE LUCAS/ SALA – Q. DE HELENA/ DIA]
(Lucas chega em casa e encontra o irmão e o primo jogando videogame. Caminha direto até as escadas, mas acaba sendo descoberto)
PABLO – Chegado agora, irmãozinho?
LUCAS – É. Fui em uma festa com o pessoal ontem, que terminou bem tarde da noite.
PABLO – Mamãe quer conversar com você.
LUCAS – Tá. Vou tomar um banho e vou procurar ela. (sobe as escadas, ao chegar no corredor, caminha em direção ao quarto de sua avó)
[Q. DE HELENA]
(entra no quarto, encontra sua avó em frente ao espelho)
LUCAS – Bom dia, vó. Olho só, em pé assim tão cedo.
HELENA – Não é algumas dorezinhas que irão me parar, querido. (caminha com uma certa dificuldade até a cama, Lucas a ajuda)
LUCAS – A senhora já tomou seus remédios?
HELENA – Infelizmente já. Quando você estiver nessa minha idade, entenderá o quanto é bom acordar cedo e já se entupir de remédios.
LUCAS – Eles são para o seu bem, vó. Sabe que deve tomá-los.
HELENA – Sei, sei. Você e sua mãe vem com essa história sempre. Mas então… dormiu na casa da Sandra foi?
LUCAS – O quê?
HELENA – A novela ontem terminou e você não havia voltado pra casa, sinal de que iria dormir fora. (o cutuca, que o faz ri) Então, foi na casa da Sandra?
LUCAS – Não, vó. A Sandra é só minha amiga. Eu dormir na casa do Jorge.
HELENA – Sei. É feio mentir para os avós, hein. Principalmente, quando são de idade já.
LUCAS – Estou falando a verdade, vó. A verdade é que eu dormi sim com uma garota ontem à noite. Só que não foi com a Sandra, foi uma que eu conheci em uma festa.
HELENA – Como ela se chama?
LUCAS – (lembra-se que não perguntou o nome dela) Poxa, vó… acredita que eu não perguntei!
HELENA – O que tem na cabeça de vocês hoje, que dormem com uma pessoa sem saber o nome dela?
LUCAS – A gente meio que começou um pouco estranho ontem, acabei não perguntando.
HELENA – Vocês vão se ver novamente? Quero conhecê-la.
LUCAS – Quem sabe um dia eu não a trago aqui para conhecer vocês.

Alguns dias depois…

[CENA 12 – CASA DE JORGE/ SALA/ DIA]
(alguns dias se passam e Lucas nunca mais viu Elisa. Ele até voltou algumas noites na boate que se conheceram, mas parece que a garota sumiu no mapa)
JORGE – (entra na sala, com duas cervejas nas mãos) Então… desistiu de encontrar essa mulher e colocar em prática a minha ideia genial? (entrega uma cerveja para ele, senta-se no sofá)
LUCAS – Primeiro, sua ideia não é genial. Segundo, eu vou encontrar essa garota novamente, custe o que custar.
JORGE – Por enquanto, sua avó fica esperando o bisnetinho dela.
LUCAS – (preocupa-se, já que nos últimos dias as dores de sua avó estavam aumentando) Tá, e você quer que eu abra um site para que mulheres se candidatem para ser a mãe do meu filho. Isso que é absurdo.
JORGE – Não é, porque você não está vendo a situação como um todo.
LUCAS – Então me explica o que é que eu não enxerguei ainda?
JORGE – Ao invés de ficar procurando por aí, atrás de garota por garota, por que você não atrai elas até você?! Com um site, várias mulheres poderão se inscrever, você poderá analisar o perfil de cada uma e selecionar aquelas que mais se encaixem em você.
LUCAS – Tá e a vergonha de um cara da minha idade procurando uma mulher para ter um filho fica onde?
JORGE – Você não precisa dizer o objetivo principal. Pode dizer que está à procura de uma relação apenas.
LUCAS – Sua intenção é ótima, Jorge. De verdade, valeu mesmo. Mas agora, preciso encontrar a garota daquela noite.

[CENA 13 – CASA DE LUCAS/ Q. DE HELENA/ DIA]
(Dona Helena está deitada na cama, sente uns formigamentos nas pernas. As dores nas costas têm a incomodado também)
LILIAN – (entra no quarto) Oi, mamãe. Como a senhora está se sentindo?
HELENA – Não bastavam essas dores insuportáveis, agora aparece esses formigamentos nas pernas.
LILIAN – (senta-se na cama, preocupa-se) Onde está formigando?
HELENA – Do joelho pra baixo.
LILIAN – (toca nos joelhos de sua mãe) Acho que a senhora está passando muito tempo deitada nesta cama. Eu tô preparando o almoço, mas vou ver se o Pablo quer dar uma volta com a senhora.
HELENA – E você acha que com essas dores eu vou aguentar sair do quarto, filha?!
LILIAN – A senhora já tomou o seu remédio? (levanta-se)
HELENA – Já. Mas parece que não estão adiantando mais.
LILIAN – Vou ter que chamar o médico aqui, mamãe. (ajeita o travesseiro dela) Descansa um pouco, está bem. (Helena se acomoda na cama. Lilian ajeita as cobertas, a observa e saí do quarto em seguida)

Alguns dias depois…

[CENA 14 – LANCHONETE/ TARDE]
(Lucas nunca mais viu a garota daquela noite e também não podia ficar procurando eternamente, devido os problemas de saúde de sua avó. Não tendo outro jeito, acaba aceitando a ideia de Jorge)
SANDRA – (observa os dois em frente do notebook) Quer dizer que você vai criar um site de relacionamento, exclusivo seu?
LUCAS – Acho que sim.
SANDRA – (a Jorge) Essa ideia genial só pode ter sido sua, né?!
JORGE – Vocês podem me zoar agora, mas meu site vai ser um sucesso.
SANDRA – E como ele vai funcionar?
LUCAS – Também gostaria de saber.
JORGE – É um site de cadastro simples. Na primeira página, a candidata vem aqui e preenche com alguns dados pessoais e vai enviar também uma foto para identificação. Na página seguinte, ela responderá algumas perguntas específicas. (Sandra levanta-se, fica atrás deles) Essas perguntas serão conforme os gostos pessoais do Lucas. Tipo, gêneros de filmes favoritos, comida, animes…
SANDRA – Animes?
LUCAS – Sim. Meu filho vai gostar de anime, assim como a mãe dele.
SANDRA – (ri) Ok.
JORGE – Essas perguntas na verdade servirão como filtro para gente. Dependendo do número de candidatas, podemos filtrar aqui os perfis que mais combinam com o Lucas.
SANDRA – (senta-se) E vocês esperam receber quantas inscrições?
JORGE – Bom… eu estimo umas 200, por aí.
LUCAS – Tudo isso?
JORGE – Viu só, como meu site será uma mão na roda. Você sabe quanto tempo levaria para conhecer 200 garotas?!
LUCAS – Eu só quero uma, Jorge. Não precisa disso tudo.
JORGE – Relaxa, confia no seu brother.
SANDRA – Tá, e onde entra a história do filho?
JORGE – Isso eu deixei para a última página de inscrição. Nesta última página é onde saberemos qual das candidatas deseja ser mãe, sonha em construir uma família. (vira o notebook para Sandra) Ela responderá este pequeno questionário, com algumas situações problemas, onde saberemos se o instinto materno floresceu nelas.
SANDRA – (ler uma das perguntas) “Se o seu filho encontra uma moeda no chão, a coloca na boca e acaba engolindo ela, o que você faz? a) Liga ou leva rapidamente a criança para um pronto-socorro; b) Faz a criança tomar água em abundância, com a intenção de levar o objeto ingerido até o intestino; c) Deixa a criança perceber que a aquilo não é comida e espera ela expelir o objeto naturalmente; d) Nenhum das alternativas, já que se eu fosse uma boa mãe, não deixaria moedas no chão, próximas ao meu filho.” (ri) Sério, vocês são demais. Que tipo de garota irá responder uma pergunta dessa?!
JORGE – (puxa o notebook para perto dele) A que vai namorar com o Lucas, ué.
SANDRA – (a Lucas) Se eu fosse você, o impedia logo dessa maluquice quando ainda tem tempo.
LUCAS – Acho melhor você tirar essas perguntas, Jorge?
JORGE – Tá, e você quer uma mãe desnaturada cuidado do seu filho?!
LUCAS – Não, mas é que…
JORGE – Você vai me agradecer depois, vai por mim. (os três ficam em silêncio, Lucas o observa finalizar o site, Sandra termina seu lanche) Prontinho. Site finalizado.
SANDRA – E agora?
JORGE – Agora, vou criar um mecanismo de compartilhamento, que vai criar um anúncio que será exibido na rede social de algumas garotas da cidade.
SANDRA – Isso é possível?
JORGE – Com o Jorginho aqui, tudo é possível. (concentra-se em seu notebook, Lucas se afasta dele, conversa com Sandra, enquanto o amigo trabalha) Pronto! (exausto) Anúncio divulgado.
SANDRA – E como você sabe que está funcionando?
JORGE – Bem, criei um algoritmo que vai localizar todos os perfis de garotas da cidade e exibirá nas redes sociais delas o anúncio que eu criei. Aquelas que se interessarem, irão clicar neste anúncio e serão redirecionadas para a minha ficha de inscrição. (vira o notebook para ela) Em outras palavras, porque você não testa?
SANDRA – Quer que eu entre no meu perfil?
JORGE – Sim. (Sandra puxa o notebook para perto, digita seu login e senha)
SANDRA – (entra em sua rede social e na primeira tela, já ver o anúncio) Uau. “Olá, Sandra! Que tal ter a oportunidade de conhecer uma pessoa incrível, morando pertinho de você. Basta clicar no botão abaixo e fazer o seu cadastro. Estamos te esperando, hein!” Como você fez isso?
JORGE – Como eu disse, com o Jorginho aqui, tudo é possível. (Sandra clica no anúncio, foi redirecionada para o site de inscrição)
LUCAS – Quer dizer que todas as garotas que verem este anúncio e clicarem, será uma candidata?
JORGE – Não exatamente. Para isso, ela precisam realizar a inscrição. Muitas podem simplesmente ver o anúncio e ignorar.
LUCAS – E quanto tempo para recebermos a primeira inscrição?
JORGE – (puxa o notebook para perto, confiante) Questão de minutos!

[CENA 15 – CASA DE LUCAS/ Q. DE HELENA/ TARDE]
(Dona Helena está sentada na cama, com suas pernas quase dormente. Lilian bate na porta, entra no quarto)
LILIAN – Oi, mamãe. (Elisa entra logo atrás dela) Quero te apresentar a Elisa. Ela é fisioterapeuta que contratamos para ajudá-la com essas dores e formigamentos que a senhora tem sentido.
ELISA – (se aproxima) Olá, dona Helena. Como a senhora está?
HELENA – Com as pernas dormentes!
ELISA – (senta-se ao lado dela) As duas?
HELENA – Sim.
ELISA – Posso? (Helena a permite tocar em suas pernas) Licença. A senhora está sentindo? (apalpa a batata da perna esquerda)
HELENA – Um pouco.
ELISA – A senhora tem feito algum tipo de exercício, caminhada…
LILIAN – Mamãe passa a maior parte do dia em casa. Infelizmente, não tenho tido muito tempo para levá-la para passear.
ELISA – A senhora não pode ficar muito tempo parada. Uma caminhada ao ar livre de vez enquanto fará bem para seu corpo. Movimentar o corpo, fazer o sangue circular é essencial para a senhora. (levanta-se, olha para o relógio) A senhora quer tomar um pouco de ar comigo lá fora?
HELENA – Por favor, querida. (levanta-se com uma certa dificuldade, Elisa a ajuda) Estou cansada de ficar em casa.
ELISA – Se apoie em mim.
HELENA – Obrigada. (Lilian se aproxima delas e também a ajuda, as três saem do quarto)

[CENA 16 – LANCHONETE/ TARDE]
(Lucas termina seu lanche, observa Jorge um pouco cabisbaixo com seu site)
LUCAS – Alguma inscrição?
JORGE – (atualiza a página) Nenhuma até o momento.
LUCAS – Não tem nem meia hora que você publicou o site, talvez devamos esperar mais um pouco.
JORGE – Pensei que meu site seria um sucesso e receberíamos dezenas de inscrições.
SANDRA – A culpa não é sua. É como você falou, as pessoas devem ter visto seu anúncio, porém devem ter ignorado. Eu só cliquei, porque eu sei o motivo. Caso contrário, eu mesma teria ignorado.
JORGE – Talvez você tenha razão. Eu preciso pensar uma outra forma para divulgá-lo. (atualiza a página e o número de inscrições sobem para 02) Se inscreveram! Duas garotas se inscreveram!
LUCAS – (se aproxima dele) O que? Quem são as garotas?
JORGE – Vou ver agora. (exibe informação das duas) A primeira se chama Bruna Larissa, 25 anos, formada em administração, mora sozinha em um apartamento no centro da cidade. (Lucas observa a foto dela) A segunda se chama Michele Viana, 24 anos, estudante de enfermagem, mora com a mãe.
LUCAS – (olha a foto dela) E qual das duas tem mais afinidade comigo?
JORGE – Espera. Deixa eu ver os filtros aqui. (o sistema está fazendo uma combinação com os dados, após alguns segundos, mostra o resultado) É… parece que nenhuma.
LUCAS – (decepciona-se) Bem, então vamos ter que descartar essas duas.

[CENA 17 – PRAÇA/ TARDE]
(Elisa levou Helena para aproveitar um pouco o sol do final da tarde. Dona Helena parece estar se sentindo bem melhor)
HELENA – Você é fisioterapeuta há muito tempo, querida?
ELISA – Não muito, tô há 1 ano apenas.
HELENA – Você me parece bem nova mesma, para ter uma grande experiência na área.
ELISA – É. Mas a senhora pode ficar tranquila, que eu amo o que eu faço. Vou saber cuidar muito bem da senhora.
HELENA – Espero isso, querida. Minha filha já acertou os dias que você virá?
ELISA – Sim. Iremos ter 03 encontros durante a semana. Mas, dependendo da evolução que a senhora apresente, podemos ampliar ou reduzir os encontros. O objetivo principal, é fazer a senhora se sentir bem. Quando isso acontecer, meu trabalho terá encerrado. (Helena a observa, sorri. Em seguida volta a prestar atenção em algumas crianças brincando)
HELENA – Crianças são uma benção, não é mesmo?!
ELISA – São sim.
HELENA – Você tem filhos, Elisa? (volta observá-la)
ELISA – (envergonha-se) Não, não tenho dona Helena.
HELENA – Mas tem namorado?
ELISA – Saio com um cara aí, mas não sei se é namoro.
HELENA – (volta prestar atenção nas crianças) Já sei. Vocês estão “ficando”. Não isso que vocês fazem hoje?
ELISA – É quase isso. (olha a hora em seu relógio) Bem, acho que nosso passeio acabou. (levanta-se) Vamos?
HELENA – Já? Estava tão bom aqui. As minhas dores até sumiram.
ELISA – Viu como pegar um pouco de ar faz bem?! (a ajuda a se levantar)
HELENA – Obrigada! (Helena segura no ombro de Elisa, as duas saem calmamente da praça)

[CENA 18 – CASA DE LUCAS/ SALA – Q. DE HELENA – Q. DE LUCAS/ TARDE]
(Helena chega em casa junto com Elisa, Lilian vem da cozinha)
LILIAN – (se aproxima delas) Já chegaram? Como a senhora está se sentindo, mamãe?
HELENA – Ótima.
LILIAN – Que bom. Você é milagrosa, hein menina.
ELISA – Que é isso. Eu não fiz nada. Vamos subir, dona Helena?
HELENA – Vamos. (continua apoiada no ombro de Elisa, sobem as escadas)
LILIAN – Daqui a pouco subo para ver como a senhora está, mamãe. (Lilian volta para a cozinha, minutos depois Lucas chega em casa)
LUCAS – Mãe? Cheguei!
LILIAN – (responde da cozinha) Estou na cozinha, filho.
LUCAS – Tá. Vou tomar banho, depois converso com a senhora!
LILIAN – (responde da cozinha) Ok. (sobe as escadas)
[Q. DE DONA HELENA]
(Elisa ajuda dona Helena deitar-se na cama)
HELENA – Obrigada, querida.
ELISA – Não precisa me agradecer. A senhora está se sentindo bem mesmo?
HELENA – Estou sim. O formigamento nas pernas passou, assim como as dores nas costas.
ELISA – Que bom. Vou conversar com a sua filha e ver a medicação que a senhora anda tomando. Talvez o excesso de medicamentos, seja o responsável por alguns sintomas.
HELENA – Ah, por favor, não aguento mais me entupirem de remédios.
ELISA – (ri) Prometo ver todos que a senhora está tomando e ver quais realmente precisam ser usados, está bem? (se aproxima dela, segura suas mãos)
HELENA – Não vejo a hora de te apresentar para o meu neto.
ELISA – (ri, envergonha-se) Por que?
HELENA – Sei lá. Acho que vocês se dariam bem.
ELISA – A senhora é uma graça, dona Helena. Agora preciso ir, está bem?! (se afasta dela) Vou conversa com a sua filha. Até o próximo encontro.
HELENA – Tchau, querida. (Elisa beija a bochecha de Helena, sorri e saí do quarto. Helena olha para o teto)
[SALA]
(Elisa volta para a sala, não encontra ninguém. Lembra que Lilian foi para cozinha, mesmo assim, decide esperar ali mesmo)
[Q. DE LUCAS]
(Lucas está enrolado só de toalha em seu quarto. Troca algumas mensagens com Jorge. Sorri, joga o celular em cima da cama e vai para o banheiro)
[SALA]
(Elisa continua em pé na sala, ao lado do sofá. Lilian volta da cozinha)
LILIAN – Agora sim, querida. Podemos conversar.
ELISA – Só quero confirmar mesmo se venho depois de amanhã?
LILIAN – É claro que sim. Mamãe parece que gostou de você, eu também. Por isso que te contratei.
ELISA – Ok. Então, eu volto depois de amanhã para mais um encontro com a dona Helena. Ah, eu gostaria também de ter a relação de medicamentos que ela está tomando.
LILIAN – Por quê?
ELISA – Não se preocupa, só quero saber se ela não anda tomando remédios exagerados demais.
LILIAN – Tá, na próxima quando vier, eu dou a relação para você.

ELISA – Ok. (Lilian a acompanha até a porta, as duas se despedem, Elisa vai embora)

Algumas semanas depois…

[CENA 19 – CASA DE JORGE/ SALA/ TARDE]
(Lucas e Jorge estão no meio do chão da sala, analisando as candidatas que realizaram a inscrição no site)
LUCAS – O seu site vai fazer um mês e até agora não conseguimos encontrar uma garota compatível. Acho que deu ruim essa ideia.
JORGE – Calma. De ontem para hoje recebemos três novas inscrições. O site está fazendo a compatibilidade das candidatas.
LUCAS – Ambos vão dar 0%, com certeza. (deita-se no chão, segundos depois, um resultado aparece)
JORGE – (animado) Olha só! 89% de compatibilidade com uma. (Lucas senta-se rapidamente, fica ao lado do amigo)
LUCAS – Com quem?
JORGE – (exibe o perfil da garota) Valéria Araújo, 25 anos, mora sozinha em um apartamento na tijuca. É dona de uma livraria, o Cantinho da Vê.
LUCAS – Bonita ela é!
JORGE – Ela acertou 8 das 12 perguntas relacionadas ao sentimento materno.
LUCAS – Iremos considerar como bom.
JORGE – Dentre as coisas favoritas que ela marcou, destaco: caminhar pela praia, cuidar de cachorro, comer pizza, assistir séries com uma pessoa ao lado…
LUCAS – (levanta-se, anda pela sala) Já que essa até agora foi a única que deu compatibilidade, não custa nada tentar.
JORGE – Pensa em entrar contato agora? Ou quer esperar outras inscrições?
LUCAS – Não, quero entrar em contato com ela agora. Já esperamos demais com 90 e poucas inscrições, para finalmente ter aparecido uma.
JORGE – Ok. (pega o celular, disca o número dela) O contato dela está aqui, vou ligar e fazer a ponte entre vocês.
LUCAS – Por que você vai ligar?
JORGE – (levanta-se) Oras, eu que criei o site, nada mais justo que eu oficializar o encontro entre vocês.
LUCAS – Sei. Tá estranho você querer ligar para a garota que eu vou conhecer.
JORGE – Relaxa, que se tudo der certo eu vou ser é o padrinho do casamento de vocês. (coloca o telefone para chamar, segundos depois uma garota atente do outro lado) Oi, boa tarde. Eu falo com a Valéria? Oi, querida. Me chamo Jorge… (enquanto ele conversa à vontade com a garota, Lucas o observa)

[CENA 20 – PRAÇA/ TARDE]
(Elisa e dona Helena estão sentadas em um dos bancos da praça, ambas estão jogando cartas)
HELENA – Ganhei! (mostra as cartas que estavam em sua mão)
ELISA – Realmente sou péssima nesse jogo.
HELENA – Nada. (Elisa fica enjoada, levanta-se rapidamente, pega uma sacola e vai para detrás de uma árvore. Minutos depois volta para o banquinho) Você está bem?
ELISA – Estou. Não tenho comido muito bem ultimamente, deve ser isso.
HELENA – Ou outra coisa.
ELISA – Que outra coisa, dona Helena?
HELENA – (embaralha as cartas) Só nessa semana, já é o terceiro enjoo que eu presencio. Na minha época, isso era suspeita de outra coisa.
ELISA – Outra coisa? Não, não é gravidez, dona Helena. É só um mal estar mesmo.
HELENA – Eu fosse você, tiraria a prova dos noves. (entrega as cartas, Elisa se preocupa, com a teoria da dona Helena)

Algumas semanas depois…

[CENA 21 – LANCHONETE/ TARDE]
(Lucas saiu nas duas últimas semanas com a moça que deu compatibilidade com ele no site desenvolvido por Jorge. Os dois se deram bem e ele acredita que está pronto para avançar na relação)
LUCAS – A Valéria é demais, cara. Acho que nem precisamos mais desse seu site. É ela que vai ser a mãe do meu filho.
JORGE – Eu acho melhor você repensar essa sua decisão, que o uma outra compatibilidade apareceu.
LUCAS – Outra? Não, seja quem for eu não quero saber. Eu quero a Valéria e está decidido.
JORGE – Tem certeza? (vira o notebook) Porque essa deu 95% de compatível.
LUCAS – (surpreso) 95%? (olha o perfil da garota)
JORGE – Carol Albuquerque, 24 anos, mãe de uma menina de 2 anos.
LUCAS – Essa deve ter acertado todo o questionário.
JORGE – Acertou. É a primeira que gabarita.
LUCAS – Interessante.
JORGE – Vocês só diferem no gosto pessoal, mas pouca coisa. (repara que o amigo ficou indeciso) Então… entro em contato com ela ou não? (Lucas continua em silêncio, pensativo)
LUCAS – Vamos testar essa daí. (Jorge comemora)
JORGE – Boa, garoto. (pega o celular, disca o número dela)

[CENA 22 – CASA DE LUCAS/ JARDIM/ TARDE]
(Dona Helena está no jardim, fazendo alguns exercícios com a ajuda de Elisa)
HELENA – (se alonga) Então… os enjoos pararam?
ELISA – Pararam um pouco.
HELENA – Já sabe o sexo da criança?
ELISA – Ainda não. Acho que nem estou no terceiro mês de gestação.
HELENA – Realmente, a barriga não tá aparecendo ainda. Mas, é só questão para ela começar a crescer. O que seu namorado achou?
ELISA – Ele ficou surpreso, mas gostou da ideia de ser pai. Confesso que após saber dessa gravidez, a nossa relação se aproximou um pouco mais.
HELENA – (ri) Uma criança é uma benção para qualquer casal.
ELISA – Sim. Terminamos com o alongamento. Vamos lá com os exercícios?
HELENA – Vamos! (Elisa se aproxima dela e começam os exercícios)

Algumas semanas depois…

[CENA 23 – CASA DE JORGE/ SALA/ TARDE]
(Lucas tem saído com Carol nestas últimas semanas. O contato com Valéria diminuiu um pouco, mas continua dando atenção a ela)
LUCAS – Nossa, realmente eu estou confuso. A Valéria é demais, é inteligente, divertida, pensa em construir uma família. Achava que ela seria a garota que estava procurando. Só que aí veio a Carol, que é centrada, responsável e já é mãe. A filha dela é muito fofa também.
JORGE – Decisão difícil, hein irmão.
LUCAS – Estou completamente confuso. As duas são demais.
JORGE – E se eu te disser que apareceu mais uma?
LUCAS – (surpreso) Não, por favor, não diga que apareceu outra?
JORGE – Apareceu. (vira o notebook para ele) Leana Barbosa.
LUCAS – Qual é, cara? Quanto de contabilidade?
JORGE – 93%.
LUCAS – Ah, não sei não. Acho melhor descartamos essa aí, desativar esse site, porque já chega.
JORGE – Também tava pensando em desativá-lo, você já tem duas candidatas, creio que já chega.
LUCAS – Por favor, desativa logo.
JORGE – Eu descarto a Leana? (Lucas observa o perfil da candidata, fica curioso)
LUCAS – Não. Vamos conhecer essa Leana. (senta-se no chão, ao lado dele. Analisam o perfil da candidata)

[CENA 24 – PRAÇA/ TARDE]
(Elisa e dona Helena estão sentadas em um dos bacos da praça. Observam algumas babás cuidando de algumas crianças)
HELENA – Eu fico triste por essas mães que pagam mulheres para cuidarem de seus filhos. Estão perdendo uma das melhores fases da vida de uma mulher.
ELISA – Muitas vezes, essas mães são ocupadas demais e não tem tempo para ficar de olho nos filhos, dona Helena.
HELENA – A partir do momento que você se torna mãe, a única prioridade que você deve ter é de cuidar da vida que você gerou por nove meses. (Elisa passa a mão em sua barriga)
ELISA – Infelizmente, nem todas pensam assim.
HELENA – Eu fiz questão de cuidar de todos os meus quatro filhos. Não contratei e não pedi ajuda a ninguém para criá-los. Hoje, todos estão adultos, fortes e vivendo suas vidas.
ELISA – Eu meio que estou entendendo o que a senhora quer dizer. Não sei nem o rosto dessa criança que está crescendo aqui dentro, e eu já a amo.
HELENA – São seus instintos maternos florescendo, querida. Eles só ficaram mais fortes no decorrer da gestação. E aí de você, se eu souber que você contratou alguém para cuidar dessa criança, viu?
ELISA – (ri) Não, não farei isso. Eu mesma quero cuidar do meu filho.
HELENA – É assim que se fala. Então, já descobriu o sexo da criança?
ELISA – Já sim. É um menino.
HELENA – (a abraça) Parabéns. Que venha um menino forte e saudável.
ELISA – Obrigada, dona Helena.
HELENA – Já estão pensando no nome?
ELISA – Ainda não. Tem seis meses pela frente ainda, temos muito tempo pra pensar.

Algumas semanas depois…

[CENA 25 – LANCHONETE/ TARDE]
(as últimas semanas foram indecisas para Lucas. Ele saiu com a Leana e também se interessou por ela. Agora, tem três candidatas e precisa escolher uma)
SANDRA – Tá, quer dizer que você conheceu essas três garotas graças ao site maluco que o Jorge criou, você gostou das três e não sabe qual escolher agora.
LUCAS – Exato. Por favor, Sandra… você é a única que não estava envolvida no processo de seleção, talvez pode me ajudar.
SANDRA – Por que algo me dizia que você iria acabar se enrascando ao entrar nessa história com o Jorge?!
JORGE – Ei, ei… não reclama não que o meu site foi um sucesso. O Lucas só não teve mais opções, porque eu tirei o site do ar.
LUCAS – Não, chega. Eu já estou confuso com três, se tivesse mais aí mesmo não saberia o que fazer.
SANDRA – Como são essas garotas?
JORGE – (entrega o notebook para ela) O perfil de cada uma estão aqui. (Sandra começa a olhar uma por uma. O silêncio dela, deixa Lucas cada vez mais ansioso)
LUCAS – Então? Qual devo escolher?
SANDRA – Vou ser bem sincera com você, Lucas. Acho que essa decisão deve ser sua.
JORGE – Nossa, ajudou muito, hein. Sabia que não devíamos ter envolvido ela no meio desta conversa.
SANDRA – É você quem está querendo ter um filho. Não sou eu, não é o Jorge, por isso essa decisão tem que ser sua. Bom, mas se você tá tão confuso assim, eu vou te dar uma dica. (entrega o notebook para Jorge) Escolha aquela que mais tocou você por dentro.
JORGE – (sarcástico) Que dica, hein. (bate palma)
SANDRA – O Lucas me entendeu. Você pode ter se interessado pela três, mas uma certamente foi mais fundo em seu coração, do que as outras. (Lucas fica pensativo) Essa será a mãe de seu filho. (Lucas olha para o notebook, onde exibe as três fotos das candidatas)

[CENA 26 – PRAÇA/ TARDE]
(Elisa está fazendo caminhada com a dona Helena. Ambas estão dando algumas voltas ao redor da praça)
ELISA – E o seu neto, dona Helena? Já estou há dois meses com a senhora e não o conheci ainda.
HELENA – Ele ultimamente não tem parado em casa. Aquele menino deve estar aprontando alguma, com certeza.
ELISA – Ele é muito danado?
HELENA – Nada. O Lucas é um amor de pessoal.
ELISA – Lucas é o nome dele?
HELENA – É sim. (por algum motivo, ela lembra do Lucas que conheceu meses atrás, mas por ser um nome comum, não acredita que seja o mesmo) Eu pedi para ele me dar um bisneto logo, já que talvez não tenha tanto tempo assim.
ELISA – (ri) Não diga isso, dona Helena. Agora a senhora está vendendo saúde.
HELENA – Graças a você, que tem passado os últimos dias cuidando de mim.
ELISA – Graças a dedicação da senhora e a nova vida saudável que começou a adotar.
HELENA – (ri) Quanto ao meu neto, um dia desse vou apresentar vocês dois. Pena que você tem namorado, caso contrário, vocês formariam um belo casal. (sorri, caminha apressada na frente dela)
ELISA – (ri) Eu já disse hoje que a senhora é uma graça?! (a acompanha)

Algumas semanas depois…

[CENA 27 – CASA DE JORGE/ SALA/ TARDE]
(Lucas passou as últimas semanas conhecendo um pouco mais as três garotas. Ele acredita que se as conhecem um pouco melhor, talvez o ajudasse em sua escolha, porém, só confundiu ainda mais sua cabeça)
JORGE – Tá difícil aí, hein? Cara, se que pudesse fazer alguma coisa, eu faria.
LUCAS – Parece que cada vez mais que eu penso, mais difícil decidir fica.
JORGE – Ué, se você não consegue escolher uma, então fica com as três!
LUCAS – Tá, maluco. Claro que não. Eu só quero ficar com uma, Jorge. Se ao menos eu tivesse encontrado aquela garota daquele dia. Eu talvez não estaria nesta situação agora.
JORGE – Situação que eu coloquei. Acho que a Sandra tem razão.
LUCAS – Não fica assim. O seu site funcionou, me ajudou bastante. Talvez o único problema, seja ter ajudado até demais. (levanta-se) Bem, eu vou indo. Acho que eu sei para quem eu devo pedir ajuda.

[CENA 28 – CASA DE LUCAS/ Q. DE HELENA/ TARDE]
(Dona Helena está arrumando sua cama, Lucas entra no quarto nesse momento)
LUCAS – Licença, vó. (se surpreende com ela em pé) Olha só… a senhora me parece bem disposta, hein? Vai correr?
HELENA – Vou fazer caminhada com a Elisa.
LUCAS – Elisa? Ah, sim. A fisioterapeuta.
HELENA – Ela vai chegar em algumas horas, então decidi me aprontar. E você, meu querido? Tem um tempinho que não vem visitar mais a sua avó. O que tá aprontando?
LUCAS – É uma longa história, vó. (senta-se na cama, Helena senta-se ao lado dele)
HELENA – Estou aqui, se você quiser compartilhar comigo.
LUCAS – Nem sei por onde começar. Digamos que eu estou indeciso…
HELENA – Indeciso com o que?
LUCAS – Com garotas.
HELENA – Ih, já entendi. O coraçãozinho do meu neto está dividido entre duas garotas, é isso?
LUCAS – Quase. Na verdade, são três.
HELENA – (surpresa) Três?
LUCAS – Sim. Nesses últimos meses, eu conheci três garotas incríveis e ambas mexeram comigo. Só que eu quero ficar apenas com uma e eu não consigo me decidir com qual.
HELENA – (segura na mão dele, sorri) Oh, menino. Tem tanto o que aprender ainda.
LUCAS – A senhora sabe o que eu devo fazer?
HELENA – Bem, para início de conversar, essa confusão nem teria iniciado, se desde o início você tivesse escutado o seu coração, ao invés de sua cabeça.
LUCAS – Engraçado, que a Sandra me deu um conselho parecido.
HELENA – A Sandra? Então ela é uma das garotas?
LUCAS – Não, vó. Eu e ela somos só amigos, nada demais.
HELENA – Tinha esperanças de que essa amizade evoluísse para algo mais forte. Mas, vejo que ela também se preocupa com você e quer o seu bem. Por isso, ela deu este conselho.
LUCAS – Então, a senhora acha que se eu ouvir o meu coração, eu consigo chegar a uma escolha?
HELENA – Sem sombra de dúvidas. (Lucas olha para frente, pensativo)
LUCAS – Obrigado, vó. (a abraça)
HELENA – Não me agradeça, querido. (Lucas se levanta) Ah, quando conseguir ter feito a decisão correta, traga a garota pra gente conhecer, hein.
LUCAS – (envergonha-se) Pode deixar, vó. Agora, vou deixar a senhora se preparar aí. A tal Elisa deve estar chegando.
HELENA – (levanta-se) Espera um pouco. Quem sabe assim, não aproveito e apresento vocês dois.
LUCAS – Quem sabe uma próxima. Agora, preciso ouvir meu coração.
HELENA – (sorri) Tá, certo. Boa sorte, meu menino. (Lucas sorri, sai do quarto de sua avó)

Alguns dias depois…

[CENA 29 – LANCHONETE/ TARDE]
(Lucas está sozinho na lanchonete, está ao telefone com Jorge)
JORGE (ao telefone) – Finalmente conseguiu escolher uma?
LUCAS – Consegui, cara. Foram longos dias tentando ouvir meu coração.
JORGE (ao telefone) – (feliz) Parabéns, irmão. Agora vem cá, quem foi a garota sortuda?
LUCAS – Eu a convidei para um sorvete aqui na lanchonete. (repara a hora no relógio) Ela deve estar chegando.
JORGE (ao telefone) – Eita, vai oficializar o relacionamento, hein?
LUCAS – Quase isso. Digamos, que vou dar um passo à frente, apenas.
JORGE (ao telefone) – Eu posso saber o nome da felizarda ou você vai ficar me enrolando?
LUCAS – (sorri, repara que sua escolhida chegou) Depois eu te falo. Ela chegou. (desliga, guarda o celular no bolso, levanta-se) Já estava preocupado, pensando que você não fosse acertar o local. (ri)
VALÉRIA – Até que não foi tão difícil encontrar essa lanchonete. Nada que um maps não resolva.
LUCAS – Verdade. (puxa a cadeira para ela, os dois sentam-se) Que bom que você veio. (os dois se entreolham, sorriem)

[CENA 30 – PRAÇA/ TARDE]
(Elisa e dona Helena estão jogando cartas em um dos bancos da praça)
HELENA – (ganha mais uma vez) Ganhei!
ELISA – Desisto, dona Helena. Já jogo com a senhora a meses e continuo perdendo.
HELENA – Comparada com você, tenho anos de prática, querida. Tenho uma relação engraçada com as cartas. Foi jogando que conquistei o meu marido.
ELISA – (ri, fica curiosa) Sério? Como foi essa conquista?
HELENA – O Alfredo costumava passar o dia jogando com os amigos. Hoje ele ainda continua, não mudou muita coisa. Mas na época ele era considerado o rei das cartas. Ninguém do bairro o conseguia derrotar. A fama dele de “rei das cartas” se espalhava no bairro inteiro. Eu fiquei curiosa para conhecer esse tal jogador invencível, então um certo dia fui até o local que ele costumava jogar e comecei a observá-lo. Vendo que os boatos que diziam dele eram verdade, caminhei até ele e o desafiei.
ELISA – Até então vocês dois não haviam se conhecido?
HELENA – Não. A gente já havia se esbarrado uma vez ou outra assim pela rua do bairro, mas contato mesmo, foi neste jogo.
ELISA – E o que aconteceu?
HELENA – Ele obviamente me analisou do pé a cabeça, viu que por eu ser mulher, não o venceria em um jogo de cartas, então aceitou o meu desafio.
ELISA – A senhora confiante, não voltou atrás.
HELENA – Não mesmo. Na época ele estava muito convencido, alguém precisava acabar com aquela palhaçada.
ELISA – E esse alguém foi a senhora?
HELENA – Obviamente, para a nossa aposta valer a pena, ela tinha que ter um certo peso. Se ele ganhasse, ele continuaria tendo o título de rei das cartas do bairro e eu teria que fazer comida para ele pelo resto da vida. (Elisa sorri) Agora se eu ganhasse, o título teria que passar para mim, já que eu fui a única que o derrotei e ele teria que ser meu namorado.
ELISA – Assim, sem se conhecerem, nem nada?
HELENA – O abençoado na época era um pedaço de mal caminho, menina. Eu não podia deixar passar essa oportunidade e que outra o pegasse primeiro.
ELISA – (sorri) A senhora então não perdeu tempo e o fisgou.
HELENA – Mas é claro, pensa que eu sou boba. Obvio que eu não queria que a diversão acabasse logo, então, para deixar a competição melhor, decidimos fazer uma melhor de 3.
ELISA – A senhora ganhou quantas?
HELENA – (ri) Eu ganhei as 3. (Elisa comemora, sorri) Ganhei o título de rainha das cartas do bairro e ganhei um namorado.
ELISA – A senhora é uma graça, dona Helena.
HELENA – Ele obviamente não gostou muito de ter perdido para mim, mas com o tempo, fui conseguindo acalmar aquele velho.
ELISA – E estão felizes até hoje.
HELENA – Sim, estamos.
ELISA – Vocês continuam jogando?
HELENA – Eu ainda continuo com o título de rainha, então… (as duas riem, Helena embaralha as cartas e começa a distribuí-las)

Alguns meses depois…

[CENA 31 – CASA DE LUCAS/ JARDIM/ TARDE]
(a barriga de Elisa está enorme, a criança está perto para nascer e ela pretende passar esse final da gestação cuidando dela)
HELENA – (senta ao lado da piscina, olha para a barriga de Elisa) Esse meninão pode chegar a qualquer momento, hein.
ELISA – Sim. Completei 38 semanas ontem.
HELENA – E o maridão coruja?
ELISA – Ele está comprando algumas coisas para o quarto do bebê. Disse que me mostrará hoje em casa. Na verdade, eu gostaria de conversar algo com a senhora. A senhora tem se mostrado ótima nesses últimos meses, não tem mais reclamado de dores ou formigamentos, então… acho que meu trabalho termina por aqui.
HELENA – Ah, não… eu gosto tanto da sua companhia, querida.
ELISA – Eu também gosto da companhia da senhora. Mas, com essa criança a caminho, quero me dedicar um pouquinho a ela.
HELENA – Tá, certo. (toca na barriga dela) Uma velha como eu não tem como competir a atenção com um filho. Tá vendo, né menino. Sua mãe te ama, mesmo antes de você nascer. (a criança se mexe) Olha, ele mexeu!
ELISA – Sim. Acho que ele gosta da senhora. (Helena se emociona, tira a mão da barriga dela)
HELENA – Tá, eu libero você se me prometer trazer esse menino para eu conhecê-lo.
ELISA – É claro que eu prometo. (olha para sua barriga, faz carinhos nela)

Anoitecendo…

[CENA 32 – CASA DE LUCAS/ COZINHA/ NOITE]
(a família de Lucas está reunida na cozinha jantando. O jantar é especial, porque Valéria está grávida de três meses e a notícia será anunciada hoje para todos)
LUCAS – (embora o jantar esteja indo bem, Valéria está se dando bem com a Lilian e a dona Helena, os demais parentes estão aproveitando o jantar, Lucas não se segura de ansiedade para dar logo a notícia, principalmente para a sua avó) Um momento da atenção de vocês, por favor. (olha para Valéria) Temos uma notícia para dar.
ROBERTO – (o tio brincalhão) Finalmente irão anunciar o casamento?!
LUCAS – Não, ainda não tio. (a dona Helena) Na verdade, há algumas semanas, a Valéria vem sentindo alguns sintomas estranhos…
PABLO – Ela vai morrer?
LILIAN – Que é isso, filho!
LUCAS – Claro que não! (joga o guardanapo no irmão, bate na mesa três vezes) Tinha que vir de você, né. (a dona Helena novamente) Na verdade, os sintomas que ela vem sentindo são comuns no estado que ela se encontra atualmente. (dona Helena já suspeita do que seja, tenta segurar a emoção) Hoje ela foi ao laboratório e fez um teste para ter certeza. (olha para família) A família Oliveira vai ganhar mais um membro! (todos batem palmas, dona Helena se emociona) A senhora terá um bisneto, vovó! (levanta-se e a abraça)
HELENA – Já era hora, meu menino. (Valéria levanta-se e a abraça também)
CARLOS – Já sabem o sexo da criança?
LUCAS – Ainda não, pai.
VALÉRIA – Marcamos uma ultra para a semana que vem.
LILIAN – Independente do que for, será bem-vindo na nossa família e será amado de qualquer forma. (abraça o filho, olha para dona Helena em seguida) Está vendo, mamãe? Eu serei vovó!
ALFREDO – (levanta-se) Vamos brindar para o mais novo membro da família. (todos levantam-se, erguem seus copos e brindam. Lucas beija Valéria)

Algumas semanas depois…

[CENA 33 – CASA DE LUCAS/ Q. DE HELENA – SALA/ TARDE]
(Dona Helena está arrumando sua cama, quando uma visita lhe bate na porta)
ELISA – (entra) Oi! Licença, dona Helena. Olha só quem veio visitar a senhora. (entra com o seu filho nos braços)
HELENA – Elisa, querida. (caminha até ela, as duas se cumprimentam) Que surpresa maravilhosa. (olha para a criança) Seu menino é lindo, Elisa. Eu posso segurá-lo?
ELISA – Claro. (Elisa entrega seu filho para dona Helena com cuidado)
HELENA – (caminha até a cama, admira a criança) Que bebê lindo. (acha algo familiar na criança, senta-se na cama) Engraçado.
ELISA – O que?
HELENA – Que olhando bem para o seu filho, ele me lembra o meu neto quando era bebê.
ELISA – Do seu neto?
HELENA – É. A carinha dele, tem os mesmos traços de quando o Lucas nasceu.
ELISA – (brinca) Não dizem por aí, que todas as crianças têm a mesma cara. Deve ser por isso.
HELENA – (observa bem a criança, Lilian entra no quarto) Filha, vem ver uma coisa.
LILIAN – (se aproxima dela) Eu vim mesmo ver esse meninão da Elisa. Que bonitinho, mamãe.
HELENA – Ele não tem a cara do Lucas quando era bebê?
LILIAN – (olha bem a criança) É… olhando bem, tem alguns traços sim. A orelhinha, o cabelo…
HELENA – Pensei que só eu estava vendo coisa.
LILIAN – Talvez seja porque o Lucas será pai em breve também e estamos imaginando como será o filho dele, mamãe.
HELENA – Talvez. (Elisa por algum motivo fica intrigada com esse Lucas)
ELISA – Vocês falam tanto desse Lucas, que pra falar a verdade, até hoje eu nunca o conheci.
LILIAN – Sério?
HELENA – Sempre que a Elisa estava em casa, o Lucas estava na rua. Os dois nunca deram de se encontrar.
LILIAN – Bem, hoje ele tá em casa. Deve estar no quarto. Quer que eu vá chamá-lo?
ELISA – Adoraria. Assim finalmente o conheço.
HELENA – Aproveitamos e mostramos a criança para ele.
LILIAN – Vou chamá-lo. (saí do quarto, Elisa se aproxima da dona Helena. Minutos depois, Lucas e Lilian entram no quarto)
LUCAS – A senhora me chamou vó? (olha para Elisa, ambos ficam surpresos por terem se reencontrado) Você?
LILIAN – Você já a conhece, Lucas? (dona Helena repara que Elisa também ficou estranha)
ELISA – (responde rapidamente, antes que Lucas contasse alguma coisa) Acho que não. É a primeira vez que estou conhecendo o seu filho. (caminha até ele, estendendo-a mão) Prazer, me chamo Elisa.
LUCAS – (confuso, repara na criança que sua avó está segurando) Lucas. (aperta a mão dela)
HELENA – Vem ver o filho da Elisa, querido. Ele é a sua cara. (Lucas se aproxima de sua vó, um pouco nervoso. Ao ver a criança, nota algumas semelhanças entre ele)
LUCAS – Ele tem quantos meses?
ELISA – (nervosa) Fez um, semana passada.
LUCAS – (a Elisa) E quem é o pai?
ELISA – O pai está lá na sala.
LUCAS – Quero conhecê-lo. (olha para a criança novamente)
HELENA – Não quer segurá-lo um pouquinho, filho. Assim você já prática, para quando chegar o seu.
ELISA – Sua família disse que você também será pai. Parabéns.
LUCAS – (sério) Obrigado! (fica um certo clima entre os dois, dona Helena percebe)
HELENA – Vocês estão bem? Ficaram sério desde que se conheceram.
ELISA – É… lembrei que em 1h, tenho uma consulta marcada para o Bento. (caminha até ela, pega a criança com cuidado. Lucas a observa)
LUCAS – Bento é o nome dele?
ELISA – É. Desculpa, dona Helena, mas tenho que ir agora.
HELENA – (levanta-se) Não se desculpe, querida. Vá cuidar de seu filho. (todos saem do quarto, vão para a sala)
[SALA]
(o namorado de Elisa está sentado no sofá, jogando videogame com o irmão de Lucas)
ELISA – (se aproxima dele) Vamos, Gui.
GUILHERME – Já, amor?
ELISA – Já. Lembra da consulta com a pediatra as 16h?
GUILHERME – Verdade. Bem, acho que vamos deixar essa partida para um outro dia, campeão.
PABLO – Poxa, vamos terminar só essa?
GUILHERME – Não, dá. A patroa ali está chamando. (levanta-se, ele e Lucas se encaram)
LUCAS – Beleza. (Guilherme e Lucas são um pouco parecidos, como o cabelo, o estilo físico)
GUILHERME – (estende a mão para cumprimentá-lo) Beleza. (Pablo desliga o jogo, levanta-se e observa os dois frente a frente)
PABLO – Parece que colocaram um espelho no meio da sala. (dona Helena e Vivian também percebem a semelhança entre os dois)
ELISA – Vamos, amor?
GUILHERME – (caminha até ela) Vamos.
ELISA – Tchau, dona Helena.
HELENA – Tchau, querida. Venha nos visitar mais vezes.
ELISA – Tá, pode deixar. (olha para Lucas brevemente, em seguida caminha até a porta)
GUILHERME – Tchau, pessoal. (Lilian os acompanha até a porta, se despedem e vão embora. Lucas fica pensativo no meio da sala)

Alguns meses depois…

[CENA 34 – HOSPITAL/ Q. DE VALÉRIA/ NOITE]
(o filho de Lucas nasceu, Helena e Lilian estão fazendo companhia para Valéria, enquanto a enfermeira traz a criança)
HELENA – Que demora essa a do Lucas.
LILIAN – Calma, mamãe. As enfermeiras estão cuidado da criança, verificando se está tudo bem. Logo, logo o Lucas trará o seu bisneto nos braços.
HELENA – Essa demora me deixa angustiada. Na minha época, todas as crianças nasciam saudável, não tinha esse cuidado todo.
VALÉRIA – Hoje a humanidade tem várias doenças e vírus do que naquela época, dona Helena. Os recém-nascidos por serem frágeis, requerem esse cuidado especial. (Lucas entra no quarto neste momento, com o seu filho nos braços. Uma enfermeira vem logo atrás)
LUCAS – Olha só quem chegou. (caminha em direção a sua avó)
HELENA – (feliz, emociona-se) Meu bisnetinho.
LUCAS – Você não se importa, né amor… da vovó segurar ele primeiro do que você?
VALÉRIA – Claro que não. (Lucas entrega seu filho para dona Helena)
HELENA – Que criança linda!
LUCAS – Está aí, vovó. Demorei, mas está aí o bisneto que a senhora tanto queria.
HELENA – Agora sim, posso partir feliz. Já vivi tudo que tinha que viver.
LILIAN – Mamãe, não diga besteira.
LUCAS – A senhora vai viver muito ainda, vó. Vai ver esse moleque bagunçar aquela casa. Quem sabe até não viverá o bastante para conhecer o trineto da senhora. (todos sorriem, babam a criança nos braços da dona Helena)

FIM

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