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O Novo prometeu

Altair Lima acordava todos os dias às cinco da manhã para trabalhar. Preparava a marmita e lá ia ele para a construção. Pegava três ônibus para ir e três para voltar. No final do dia, depois de carregar muito entulho, tomava a condução apinhada de gente. Ficava sem se mexer por mais de duas horas. O alívio era cair na cama e desmaiar.

Todo aquele sacrifício por causa de duas coisas: comprar um aparelho de som e voltar para o nordeste para se casar com Josefa. Uma noite, sonhou que morava numa casa bem grande e estava mergulhado até o pescoço numa banheira de água quente. De repente, sabe como é em sonhos, a cena mudou para uma mesa cheia de comida boa. Tudo do bom e do melhor. Acordou com água na boca, mas não era saliva não. Era uma goteira que pingava bem em cima dele. Chovia muito naquela madrugada. Levantou como que possuído. Vestiu uma camiseta suja e saiu para o trabalho às quatro da manhã. De chifre virado descarregou sozinho um caminhão inteiro de brita.

Um dia, sem maiores explicações, foi despedido. Chegou bebinho em casa segurando a garrafa de cachaça vazia. Jogou-se na cama e, pouco depois, sonhou outra vez com aquela casa. Só que dessa vez surgiu uma criatura escura, com dentes arreganhados e olhos de cobra. Parecia dar um sorriso sinistro. Altair acordou estremunhando, coberto de suor, tamanho o susto com a feiura do bicho. Chegou a cair da cama. Levantou-se. Foi até à mesa, improvisada, feita de uma porta velha. Puxou a vasilha cheia de água da goteira e molhou o rosto. Depois falou baixinho consigo mesmo.

Desempregado, morando num barraco caindo aos pedaços, sem ter o que comer direito. Isso não é vida não. Só levo na rabiola. O negócio de dar certo na cidade grande é pura ilusão. Mas o que é que eu faço, diabo?

Como um raio, a lembrança do tio passou pela mente. O tio Justino morava na cidade de Quixexé Mirim, que faz divisa entre São Paulo e Minas Gerais. “Quem sabe o tio Justino esteja precisando de um ajudante. Pelo menos a barriga não vai roncar mais”. – Pensou.

Pegou o mirrado dinheiro do acerto da demissão e comprou passagem só de ida para a cidadezinha. Da rodoviária teve de andar muito. Só quase no final do dia chegou ao bendito sítio. Mais ou menos perto da porteira meio banguela e desbeiçada lá estava o velho, forte, tranquilo, calvo, de chapéu e sandálias de couro, sentado num banco de madeira, descascando uma laranja com o seu canivete de cabo de chifre. Altair deu um grito de lá da porteira:

– TIO JUSTINO!

O homem ergueu os olhos sem parar o que estava fazendo:

– Diz quem é.

– SOU EU, TIO. SEU SOBRINHO ALTAIR, FILHO DE SUA IRMÃ MIRIAM. – Justino deu um salto, limpou as mãos, ajeitou o chapéu e já foi gritando:

– ENTRA AÍ, RAPÁ. MINHA NOSSA SENHORA, QUANTO TEMPO! O QUE ‘CÊ TÁ FAZENDO AQUI?

Os dois se abraçaram:

– Ah, tio, sou um trabalhador sem trabalho e desgraçado. Vim aqui na esperança de fazer qualquer coisa pra ajudar. Não aguento mais passar fome na cidade grande.

Tio Justino olhou o sobrinho de baixo para cima:

– ‘Cê tá muito magro. Mas, cê sabe que o rapaz caiu do céu. Tô na precisão de alguém aqui, sim. Vamo lá pra dentro pra conversar melhó. – Altair não acreditava. Sentia-se no céu. Sentou-se à mesa e comeu feito um príncipe. Passaram a tarde botando a conversa em dia. Altair ficou animado. Depois escolheu um quarto pra dormir. Deixou as coisas no armário velho de madeira e deitou-se na cama macia. No dia seguinte, Altair levantou-se pronto para fazer o reconhecimento do sítio.

Depois de ter visitado os viveiros, o curral, o pomar, foi dar uma volta no terreno, que se perdia de vista.

– Nossa, como é grande! – Disse com a mão sobre a testa para evitar que a luz do sol ofuscasse seus olhos. Lá no horizonte, enxergou uma árvore, com uma copa enorme. Estava perdida, viúva, em meio àquela imensidão verde. Um peão que passava parou, olhou para a mesma direção e preveniu:

– Amigo, chega lá perto não.

– Causa de quê?

– Aquela árvore é do coisa-ruim.

– Bobagem de gente da roça.

– Depois não diga que eu não avisei. – E prosseguiu o peão no seu caminho, fazendo o sinal da cruz. ” Mas é um frouxo” – Pensou Altair em voz baixa.

Mesmo assim caminhou em direção à árvore. Notou que debaixo da copa não crescia uma planta sequer, nem erva daninha. A terra era seca que nem areia. O tronco era largo, precisava de umas treze braçadas para dar a volta nele. Não pousava um inseto e os passarinhos voavam bem de longe.

– Que monte de besteira. É só uma árvore. Vou sentar e descansar. – Passado um tempo, Altair sentiu um forte cheiro de fumaça de cigarro de palha.

– Ué! De onde vem esse cheiro? Eu tô sozinho aqui!

Altair viu uma baforada de fumaça azulada vinda do outro lado da árvore. Nas pontas dos pés, Altair se levantou e contornou o tronco, tateando e pisando com cuidado para pegar de surpresa o vagabundo. Mas surpreso ficou ele ao ver um senhor, moreno, de pele com marcas profundas, castigada pelo sol. O cabelo era todo prateado. A papada dos olhos mantinha-os quase fechados. Segurava uma vela vermelha, daquelas de sete dias.

– Que diabo é isso? Nem vi o homem chegar! Veio voando, é? – Disse Altair, surpreso.

– É, meu filho, eu me locomovo rápido e em silêncio. O que é isso aí pendurado no seu pescoço? – Perguntou com voz mansa.

– Uma cruz. Não tá vendo?

– Estranho! O moço fala em diabo e usa uma cruz.

– Modo de falar.

– Pra mim mais parece que o moço desconhece tanto um quanto o outro. Você sabia que quando se fala no diabo, ele acaba ouvindo ligeirinho? Tem que tomar cuidado.

Com um frio na espinha, Altair tentou mudar o curso da conversa:

– O senhor mora por aqui?

– Moro em todo lugar. Não tenho parada. E o senhor, seu moço? O que faz por aqui?

– Vim da cidade pra ajudar meu tio. As coisas não estavam indo bem lá.

– Sabe, o homem veio do barro e pro barro vai voltar. Mas lembre-se de uma coisa: às vezes, o sossego, a paz de espírito é melhor do que passar a vida a juntar um monte de coisa que no final tudo vai ficar.

– Mas ó! O que o homem que dizer? Que conversa estranha.

– Quem deseja muito, muito vai ter que dar. O trabalho não deverá faltar. Se faltar, vai sofrer um castigo que não vai nem ter pra onde se afugentar.

– Sai daqui, véio. Vá simbora. – O velho concordou. Acendeu outro cigarro de palha, deu uma tragada e soltou a fumaça num sopro só. E disse:

– Vou te dar um presente. Um diabo-trabalhadeiro. Ele faz o que você quiser. Não importa a dificuldade da coisa. Ele vai passar dia e noite trabalhando sem descansar. Você quer?

– O que há de mau nisso? Parece até bom! Eu é que queria um bicho desse.

O velho deu um sorriso cínico e continuou:

– Mas ele não pode ficar sem trabalho. Se ficar, sua vida vai virar um inferno.

Altair deu de ombros e disse:

– Imagina que dá pra ficar sem trabalho! Num lugar como esse, trabalho é que não falta. O diabo ia trabalhar pra mim até ficar com os bofe de fora. Como faço pra ter um desses?

O homem baixou a cabeça, mexeu na sacola e tirou outra vela:

– Olhe, moço, ele está aqui dentro. De dentro da vela ele sai, mas da cidade ele não sai. – E a entregou a Altair. Mexeu e remexeu e não viu nada. Era só uma vela.

– Mas que enganação é essa, homem? Cadê o diabo? – O velho deu uma gargalhada e disse:

– Antes de ver ele, você precisa aceitá-lo.

– Minha nossa! A bobagem é tão grande… Tá, tá bom, aceito.

Altair segurou a vela contra o sol. Tentou enxergar através dela, mas não viu nada. Quando voltou a falar com o velho, tinha desaparecido. Altair, atrapalhado, contornou a árvore para ver onde aquele homem tinha ido. Evaporou-se.

Levantou a vela outra vez e percebeu a silhueta de um ser aprisionado na parafina. – Mas olhe só! O que é isso? – A vela de cor vermelha tinha ficado meio transparente. – Não é que é o diabo mesmo!? Tem até chifrinho! Vou levar essa vela lá pra casa. Aí eu acendo ela e espero derreter. Daí o coisinha ruim vai sair daí e vai trabalhar pra mim.

Todos os dias, ao chegar da roça, corria para o quarto para ver a vela. Era estranho, pois ela vertia sangue conforme derretia. No terceiro dia, Altair acordou com uma voz a chamá-lo. Olhou por toda parte e não viu ninguém. Cobriu a cabeça com o lençol deixando de fora só um tufo de cabelo:

– Psiiuuu, estou aqui.

Finalmente Altair percebeu que a voz vinha do coisinha-ruim:

– Logo sairei daqui… – Disse ele.

Só com a cabecinha para fora o diabinho falava a mesma coisa o tempo todo. Altair não aguentava mais aquela vozinha chiada tenebrosa. Pulou da cama em cima daquela coisa e trancafiou-a no armário.

Depois de três dias, Altair abriu o armário e de lá saltou um diabo grande, de um metro e meio de altura:

– Vichi! O que é isso? Já cresceu!?

O bicho era horripilante. Tinha olho de cobra, pele escura e grossa, boca grande, dentes arreganhados. As mãos mais pareciam pinças: – Quero trabalho, quero trabalho, quero trabalho… – Só repetia isso o tempo todo. E se aproximava passo a passo de Altair, mexendo os dedos de um jeito ameaçador.

– Você quer trabalho? – Perguntou Altair já prensado contra a parede e com as mãos do diabo quase a lhe furar os olhos. – Ora, então, limpe e arrume o meu quarto. Quando eu voltar quero tudo no lugar. – O diabo-trabalhadeiro começou a arrumar o quarto rapidinho.

Altair aproveitou a chance e saiu para fazer algumas compras na cidade. Voltou, correu para o quarto. Abriu a porta bem devagar, e não acreditou no que viu:

– Que diabo é isso?

O quarto tinha se tornado uma verdadeira suíte de hotel cinco estrelas. O chão de madeira rústica virou um espelho. As paredes limpíssimas. Os metais das fechaduras, das argolas que enfeitavam os pés das cadeiras e da cama pareciam ter sido banhados a ouro. As cortinas foram lavadas e consertadas.

Altair ficou paralisado e boquiaberto com a reforma, limpeza e arrumação. Mas foi aí que o diabo se aproximou de um jeito macabro e insaciável.

– Trabalho, quero mais trabalho, quero mais trabalho…

– Tá bom, vá arrumar a sala.

– O coisa ruim correu para a sala e começou a trabalhar. No final da tarde, quando tio Justino retornou de suas tarefas, quase caiu pra trás sem acreditar no que via:

– Santo Deus! Por acaso entrei na casa errada?

Tio Justino ficou maravilhado com a nova decoração. Parecia coisa de cinema. As paredes foram rebocadas e pintadas. Fechaduras limpas e funcionando. A cristaleira todinha reformada. Qualquer antiquário pagaria uma fortuna por ela. Os copos de requeijão foram lapidados de modo a parecerem cristal de verdade.

– Quem fez isso? – Perguntou tio Justino custando a acreditar.

– Eu, tio. Euzinho. – Respondeu Altair ocultando o coisa ruim.

– Você é porreta mesmo! É por isso que eu quero você aqui comigo. E tem mais: vou promovê-lo a gerente do sítio. – Disse enquanto tirava as botas cheias de lama.

Enquanto o tio Justino admirava cada detalhe da reforma, Altair aproveitou para correr para o quarto e levou o diabo junto. Lá, o cão começou a falar: – Quero trabalho, quero trabalho, quero trabalho…

– Tá bom, diabo. Vou lhe dar um trabalho maior. Quero ver se dá conta.

– Sabe, sobrinho, – veio o tio Justino invadindo o quarto e falando de um jeito ansioso – eu lá no fundo sabia que essa casa tinha jeito. Tô achando isso tudo um sonho. O duro é aguentar a viagem que eu tenho que fazer, ainda mais com essa hemorroida… Tá me matando. – Altair olhou pra bunda do tio como uma ideia e depois para o diabinho, mas rapidamente tratou de esquecer. O tio Justino simplesmente virou as costas e o rapaz aproveitou para dar mais tarefas.

– Vá limpar toda a casa e os viveiros. Tire as ervas daninhas do pomar. Faça tudo direitinho senão tu vai voltar pra vela.

Ao acabar de dar o comando, o diabo-trabalhadeiro desapareceu. Tio Justino voltou de supetão ao quarto e avisou que iria se ausentar por uns dias. Altair disse:

– Xá comigo, tio. Eu cuido de tudinho aqui. Quando o senhor voltar, nem vai reconhecer este sítio mais.

Tio Justino partiu no dia seguinte, bem cedinho. Altair se levantou, tomou seu café e saiu se espreguiçando. Ainda com os braços para o alto, interrompeu a bocejada e percebeu algo diferente no sítio. Olhou para trás e viu a casa totalmente reformada, novinha. Até porteira foi pintada de branco e estava funcionando. Os viveiros tinham até ventilação e encanamento com água fresca. Os animais, bem tratados e com ração já posta nas cocheiras. O pomar, no lugar das ervas daninhas, um tapete de grama verde. As frutas das árvores, polidas uma a uma. Tudo brilhava.

Altair, se sentindo todo esquisito e cheio de arrepio na espinha, correu para o quarto se perguntando:

“Será que ele fez tudo isso sozinho? De um dia pro outro?”

Tropeçando nos próprios pés, deparou-se com cinquenta diabos iguais ao primeiro. Realmente o temor era verdadeiro. O diabo tinha dado cria. Os filhotes dele começaram a falar em coro: – Quero trabalho, quero trabalho, quero trabalho…

Quando começaram se juntar em volta de Altair, Lice abriu a porta do quarto. Altair ficou apavorado. Temia que seu segredo fosse finalmente revelado.

– Seu Altair, o senhor gostaria de um suco de maracujá? – Perguntou Lice com a maior naturalidade.

– Si-sim. – Gaguejou Altair, sem entender nada. – “Ela não viu! Ela e ninguém mais conseguem ver esse monte de pestinhas aqui!”

– Está bem. Já-já eu trago. – E saiu Lice tranquilamente.

– Trabalho, quero trabalho…- Continuavam com aquele mantra infernal.

“Como vou controlar esse monte de diabos aqui? Já fizeram de tudo!” – Pensou, se sentindo mais ameaçado ainda.

– Quero trabalho, quero trabalho, quero trabalho…

– Está bem. Cuidem de limpar a cidade. Não deixem uma sujeirinha. E…também…cuidem dos jardins da cidade inteira. Podem ir já.

Os pestinhas desapareceram por encanto.

E três dias se passaram. Altair descansava na rede da varanda, quando viu mais de seiscentos e sessenta e seis diabos se aproximando da casa. Como ele conseguiu contar tantos ninguém sabe. Na mesma hora, um charreteiro chegou para fazer a entrega de uma carga de ração:

– Boa tarde, seu Altair. Onde posso pôr as sacas?

Altair se atordoou. E lá vinham eles, os coisinha-ruim. Altair não sabia se falava ou se corria.

– PONHA EM QUALQUER LUGAR, DIABO! – Gritou e logo se deu conta do que disse. Bateu três vezes na boca e pediu perdão a Deus. Saiu correndo para se esconder no porão de casa.

– O SENHOR VIU COMO A CIDADE ESTÁ BONITA? O PREFEITO ESTÁ MUITO ORGULHOSO. – Gritou o rapaz, enquanto descarregava a ração.

Aquelas criaturas proliferavam mais do que rato e se não desse mais trabalho para elas, seria morto na certa. – “Já sei. Vou despachá-los pra cuidar do estado todo, quem sabe do país. Aí, então, vão me dar sossego.” – Pensou, mas nem mesmo concluíra o plano, lembrou-se das palavras do velho: “De dentro da vela ele sai, mas da cidade ele não sai”.

– Minha nossa senhora! O que vou fazer? Pra fora da cidade eles não vão.

– Foi, então, que Altair teve uma ideia: – “Vou pedir pra eles que cuidem de cada planta, de cada animal de toda a redondeza. Não vão deixar uma folhinha sequer estragada nos pés de frutas”.

Quando finalmente saiu debaixo de uma caixa, se deparou com o porão abarrotado de criaturinhas malignas. Então, as ordens foram dadas e os diabinhos partiram.

-“Mas são burro mesmo. Vão levar uma eternidade. Vou aproveitar que o tio Justino vai voltar só daqui três dias, aí, então, fujo pra bem longe. Se eles não podem sair da cidade mesmo, eu posso.” – Pensou certo de que se livraria deles.

Quem sabe poderia pensar em algo que o tirasse daquela assustadora situação. Mas nada lhe ocorria. Foi então que Altair teve uma ideia que julgou ser brilhante. Se ele mandasse os diabinhos recomporem a carcaça da vaquinha que tinha morrido a pouco tempo atrás. Pediria que lhe dessem a vida outra vez. Isso seria impossível. – “Então, eles, burros do jeito que são, vão ficar a vida toda tentando.”

Altair se preparou para falar com os diabinhos. E deu o seguinte comando:

– Vão até o cercado, seus bichos dos inferno e refaçam a carcaça da vaquinha. Quero ela vivinha. Tem mais: antes ela era uma vaca fuleira, agora eu quero ela que nem vaca de raça, tipo holandesa. – Rapidamente desapareceram.

Altair correu até o cercado e viu a vaca caída, mortinha de tudo. De repente, aquele monte de diabinhos cobriu-lhe a carcaça. Parecia um formigueiro em cima de açúcar. A vaquinha lá embaixo foi devagarzinho desaparecendo. Cinco minutos depois reapareceu. Estava de pé, sacudindo o rabo de lá pra cá. E não é que a desgraçada até mugiu! Altair ficou de boca aberta.

Altair enlouqueceu. Chorava feito criança. “Tô ferrado!”. Quando olhou para os pés, milhões de diabinhos do tamanho de formigas gritavam:

– Quero trabalho, quero trabalho, quero trabalho…

O rapaz levou a mão ao peito e pegou a cruz de madeira. Deu três beijos nela e ergueu-a em direção dos diabinhos. Não houve a menor reação. Chorando, Altair concluiu: – Cruz na mão de pecador… Oh, falta de fé sem jeito!

Já fraco, desinfeliz e desesperançado, disse:

– Queria sumir daqui e reaparecer em outro lugar. Bem longe.

Imediatamente os milhares de milhares de diabinhos cobriram o corpo de Altair e o estraçalharam. Só um grito desesperado dele ecoou pelo sítio. Até hoje, dizem as pessoas, que Altair aparece inteiro de manhã, mas desaparece à tarde. E ele não faz nada. Só fica lá parado, olhando, feito uma alma penada. Quixexé Mirim cresceu muito depois do tratamento que os diabinhos deram a ela. Tornou-se a maior exportadora de frutas e frango de corte da América do Sul.

FIM

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  • Esse eu tive o prazer de ler há algum tempo atrás, mas reli agora e a experiência foi novamente maravilhosa. Esse conto é muito bem escrito e dotado de um delicioso humor negro. Marca o leitor. Geraldo Medeiros Jr. é um grande contador de histórias. Sou fã!

  • Esse eu tive o prazer de ler há algum tempo atrás, mas reli agora e a experiência foi novamente maravilhosa. Esse conto é muito bem escrito e dotado de um delicioso humor negro. Marca o leitor. Geraldo Medeiros Jr. é um grande contador de histórias. Sou fã!

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