“Isso Está em Você”
Daqui seis meses…
[CENA 01 – CASA DE ALICE/ ESTÚDIO/ DIA]
(Alice está em frente ao computador fazendo uma busca na internet de instituições que ajudem crianças com necessidades, a seguirem uma carreira na música)
ALICE – Não se encontra quase nada. (recebe uma chamada de vídeo de Pedro, fica surpresa, leva um tempo para atender)
PEDRO (por vídeo) – (sorri) Oi.
ALICE – Oi… Que surpresa.
PEDRO (por vídeo) – Pois, é. Não nos falamos tem um bom tempo, não é mesmo.
ALICE – Dois meses, para ser mais exato.
PEDRO (por vídeo) – Desculpa. Eu meio que ainda estava com raiva de você por continuar se vitimizando daquele jeito. Ver como você falava naquele programa, sei lá… talvez eu tenha pegado pesado. Pensei que você já tivesse superado essa história toda. Estava fazendo a fisioterapia direitinho, me parecia feliz… aí naquele dia, você parece ter voltado a ser aquela mesma Alice de meses atrás.
ALICE – Eu tenho que admitir que realmente estava agindo muito chata ultimamente.
PEDRO (por vídeo) – Acho que eu era o único que te aguentava. (ri)
ALICE – E continua aguentando. Eu também devo um pedido de desculpas. Realmente ficar me lastimando, preocupada com o que as pessoas iriam pensar de mim, não estava me levando a lugar algum. Pelo contrário, estava apenas me puxando para trás.
PEDRO (por vídeo) – (surpreso) Olha só… o que será que aconteceu para você chegar a essa conclusão sozinha?
ALICE – (sorri, lembra-se da garotinha cantando) Nada demais. Apenas refleti um pouco e a Alice que eu conheço, não agiria assim.
PEDRO (por vídeo) – (sorri) Fico feliz em ouvir isso. Então… o que você tem aprontado nestes últimos dias? Um passarinho me contou que você deixou a fisioterapia de lado.
ALICE – Aposto que esse passarinho tem um codinome chamado papai?! (ri)
PEDRO (por vídeo) – (também ri) Não, não foi o papai.
ALICE – Eu parei, porque estava perdendo tempo ali. Apesar dos últimos meses, nenhum resultado efetivo estava aparecendo.
PEDRO (por vídeo) – E você vai desistir por isso?
ALICE – Estou focada em outras coisas agora.
PEDRO (por vídeo) – Que coisas?
ALICE – Eu visitei a fundação da Cristina. Você lembra dela, né? Também foi uma das entrevistas…
PEDRO (por vídeo) – Sim, lembro sim. E o que te levou a visitar essa fundação?
ALICE – Ah, sei lá… estava trancada dentro de casa, não tinha muito o que fazer, então… quis conhecer esse trabalho dela e o da Ágata.
PEDRO (por vídeo) – Sei…
ALICE – Lá tem várias crianças e o trabalho que todos fazem é incrível.
PEDRO (por vídeo) – (ri) Acho que já descobri o que te fez mudar de opinião.
ALICE – Andei compondo algumas músicas, as vendi para alguns produtores conhecidos e com o dinheiro, doei para a fundação.
PEDRO (por vídeo) – (surpreso) Uau… ainda bem que estou ouvindo isso diretamente de você, caso contrário, não iria acreditar se uma outra pessoa tivesse me contado.
ALICE – Por que todo mundo fica surpreso? Quer dizer que eu não posso doar dinheiro para pessoas carentes? É errado?
PEDRO (por vídeo) – Não, não é… pelo contrário, é um gesto bastante lindo. Só que eu não esperava ouvir isso vindo diretamente de você.
ALICE – Eu tenho coração você sabe disso, né?!
PEDRO (por vídeo) – (ri) Eu sei, tô só te zoando.
ALICE – Bem… mas é isso que tenho feito ultimamente. Compus algumas músicas, as vendi e doei.
PEDRO (por vídeo) – E quanto a sua carreira? Quando pretende voltar?
ALICE – Isso por enquanto está em terceiro plano. Não me vejo voltar para os palcos tão cedo.
PEDRO (por vídeo) – Nossa… que desperdício de talento. (os dois riem) Fracamente, os fãs que votaram em você para ganhar o programa de música naquela época, devem estar todos arrependidos.
ALICE – Não diga bobagens, meus fãs ainda me amam, apesar deu tê-los abandonados.
PEDRO (por vídeo) – E é assim que você retribui o amor deles?
ALICE – Para com isso, Pedro. Vamos parar de falar de mim. Me conta, como está as coisas aí com você?
PEDRO (por vídeo) – Por aqui as coisas estão um pouco corrida. O musical é em algumas semanas, avaliações finais, férias chegando…
ALICE – (o percebe feliz contando aquilo tudo) Parece que você se encontrou aí… (Pedro a observa, fica alguns segundos em silêncio)
PEDRO (por vídeo) – Acho que sim. (envergonha-se) Acho que encontrei um lugar ao qual finalmente posso dizer que faço parte dele.
ALICE – (sente um pouquinho de inveja) Fico feliz por você.
PEDRO (por vídeo) – Você virá para o musical, né? Você e o papai…
ALICE – O papai certamente fará questão de ir, eu já não garanto muito…
PEDRO (por vídeo) – Nem vem com essa de que não pode vir, que se for preciso, vou pessoalmente aí te buscar. E você sabe o quanto eu sou persistente, não sabe? Ou já esqueceu daquele dia, em frente à sua janela?
ALICE – (lembra-se desse dia) Oh, se me lembro. Quando você realmente coloca algo na cabeça, não há nada que consiga tirar.
PEDRO (por vídeo) – (ri) Que bom que ficou entendido isso.
ALICE – Mas é sério… farei o possível para ir.
PEDRO (por vídeo) – A partir de hoje, ficarei no seu pé por causa disso, hein.
ALICE – Ah, não… por favor, se você fizer isso, terei que tomar atitudes drásticas.
PEDRO (por vídeo) – Vai me bloquear agora é?
ALICE – Já que na vida real isso não é possível, pelo menos na virtual eu posso. (ri)
PEDRO (por vídeo) – Mas olha só… e cadê aquele papo de minutos atrás, o pedido de desculpas… (os dois continuam conversando por horas, recompensando o tempo que ficaram sem falar um com o outro)
Agora…
[CENA 02 – CASA DE ALICE/ JARDIM – Q. DE ALICE/ NOITE]
(Felipe está preocupado com o filho, pensa em subir naquele palco e forçá-lo a sair dali. Dácio, que está sentado em frente ao notebook, também percebe o amigo abatido)
PEDRO – (senta-se no banquinho, posiciona seu violão na perna, olha para a janela. Sua aparência é de cansaço, suas pernas estão doendo, assim como seus dedos por tocar por horas. Gaspar está ao seu lado, o observa apreensivo) Vamos lá, Pedro… (olha para o violão, começa a tocar)
[CENA DE MÚSICA – SAFE (BANNERS)]
Climbing and falling tied up in the rhymes and reasons 1
No city, no spaces, no oceans can stand between us
When it gets heavy sometimes I’ve got doubts
And I’m just trying keep these shadows out
I’ve been thinking myself to death
You’re calling me home like a ship that got wrecked
I know there’s always a place for you and I 2
A place where every word that you say, can save my life
Oh, oh, oh, oh
Where nothing hurts and nothing breaks
Oh, oh, oh, oh
I’ll know it when I see your face
I’m safe
Coping collapsing the world tumbles down around us 3
This hoping and floating is grinding us down to stardust
When It get’s heavy I know you get doubts
But I’ll be right here when the sky falls down
I’ve been thinking myself to death
You’re calling me home like a ship that got wrecked
I know there’s always a place for you and I 4
A place where every word that you say, can save my life
Oh, oh, oh, oh
Where nothing hurts and nothing breaks
Oh, oh, oh, oh
I’ll know it when I see your face
I’m safe
Oh, oh, oh, oh
I’m safe
Oh, oh, oh, oh
I’m safe
Oh, oh, oh, oh
Oh, oh, oh, oh
When the rivers are rising, I’m safe
When I look in your eyes, I’m safe
When the rivers are rising, I’m safe
When I look in your eyes
I know there’s always a place for you and I 5
A place where every word that you say, can save my life
Oh, oh, oh, oh
Where nothing hurts and nothing breaks
Oh, oh, oh, oh
I’ll know it when I see your face
I’m safe
Oh, oh, oh, oh
When the rivers are rising, I’m safe
Oh, oh, oh, oh
When I look in your eyes, I’m safe
Oh, oh, oh, oh
When the rivers are rising, I’m safe
Oh, oh, oh, oh
When I look in your eyes, I’m safe
1. Pedro começa a cantar de cabeça baixa, sente sua garganta inflamada e não consegue subir muito o tom de sua voz. A versão dele é acompanhada somente pelo o violão.
2. Viviane está acompanhando a live pelo o celular, olha para Alice que continua com o travesseiro na cabeça, para não ouvir as músicas do irmão. Caminha até sua neta, retira o travesseiro e exibe o celular na cara dela.
VIVIANE – Veja só o que seu irmão está fazendo por você. (Alice pega o celular da mão de sua avó, acompanha a live)
3. No jardim, Pedro canta em um ritmo lento e um tom mais baixo que o da música original. Felipe quer subir naquele palco e tirá-lo dali, mas apesar disso, continua torcendo por ele.
4. Gaspar o observa apreensivo por alguns segundos, desaparece e aparece no quarto de Alice. Ver Viviane tentando abrir os olhos da neta.
VIVIANE – (quase chorando) Não é possível que você vai deixar o Pedro se desgastar dessa maneira e não vai fazer nada, filha. (Alice abaixa o celular, olha para a sua avó, também sente vontade de chorar)
5. Pedro ergue sua cabeça até a janela, está cansado demais para cantar mais alto, nem sabe se sua irmã está ouvindo. Abaixa a cabeça novamente, encerra a música, sente dores nas mãos.
[CENA 03 – CASA DE MANUELA/ Q. DE MANUELA/ NOITE]
(Manuela e Thalita estão acompanhando a live de Pedro, ambas acham o que ele está fazendo pela a irmã lindo, porém concordam que é uma tremenda burrice se desgastar daquele jeito)
THALITA – (encosta na mesa do computador) Coitado… eu conheço a Alice bem mais tempo que ele. Ela não vai sair daquele quarto. É mais fácil tirá-la dali dentro de uma camisa de força do que assim.
MANUELA – (sentada na cama) Percebe que ele está cansado, está quase sem voz já. A Alice deveria ver o esforço que o irmão dela está fazendo e sair logo.
THALITA – Ele vai acabar ficando sem voz isso sim.
MANUELA – (saí da live, bloqueia a tela do celular, o coloca ao lado) Não quero ver mais isso. Minha vontade é ir lá e dar uma força pra ele. Só que provavelmente, se a Alice me ouvir cantar, é aí mesmo que ela não vai sair.
THALITA – Com toda a certeza. (saí da live, guarda o celular também) Bem… (caminha pelo o quarto) mudando um pouco de assunto, eu gostaria de conversar com você, Manu.
MANUELA – (presta atenção nela) Estou ouvindo.
THALITA – Eu acho que você não devia desistir do vestibular.
MANUELA – Eu já tomei a minha decisão, Tha.
THALITA – Você ralou a maior parte do ano, para conseguir entrar nessa universidade. Agora que está a um passo de conseguir isso, você vai desistir?
MANUELA – Eu tenho o próximo ano, posso muito bem me inscrever de novo e tentar novamente.
THALITA – Eu acho isso muito errado, sério. Tantos estudantes por aí comemorariam por este momento, se esforçaram tanto e você não tá ligando.
MANUELA – (levanta-se, caminha até ela) É claro que estou ligando, Tha. Eu pensei muito antes de tomar essa decisão. Só que como a Éster falou, se eu me dedicar ao vestibular, não conseguirei trabalhar nas músicas para o programa. Eu tinha que escolher entre um ou outro. Além do mais, ano que vem vamos tentar juntas. Esqueceu?
THALITA – Éster te convenceu direitinho.
MANUELA – Ela só me ajudou. (se afasta, volta para a cama) A decisão foi completamente minha. (Thalita a observa, decepcionada)
[CENA 04 – LANCHONETE DO IVO/ NOITE]
(Ivo termina de atender uma mesa, caminha até o balcão e encontra Rita acompanhando a live de Pedro)
IVO – (preocupado) Então… ela saiu do quarto?
RITA – Ainda não e sendo bem sincera, não sei como esse garoto ainda tem força para continua cantando.
IVO – Esse garoto é demais.
RITA – Já a irmã… essa parece que não está nem aí.
IVO – (caminha até a cozinha) Fica de olho em tudo, irmã. Quero saber o final dessa história.
[CENA 05 – CASA DE RAMON/ Q. DE RAMON/ NOITE]
(Ramon entra em seu quarto, se joga em sua cama, pega o celular e entra na live. Pedro está cantando mais uma música, cansado e abatido. Dentre os comentários das pessoas que estão acompanhando, em sua maioria estão enviando força e pedindo para que ele aguente firme e não desista. Enquanto alguns elogiam a determinação dele, outros criticam Alice por não ter saído ainda do quarto e se perguntam se não ela não sente pena do irmão naquele estado)
RAMON – (preocupado) Qual é Pedro… chegou a hora de reconhecer os teus limites. Se você continuar assim, vai perder completamente sua voz. (Pedro está cantando ao piano, sua voz quase falhando) Chega… (saí da live, levanta-se da cama) …não vou deixar você se acabar sozinho assim. (saí do quarto)
[CENA 06 – CASA DE ALICE/ JARDIM – Q. DE ALICE/ NOITE]
(Pedro encerra a música, olha para a janela e nenhuma reação de sua irmã. Abaixa a cabeça novamente, pensa em outra música)
LUANA – (com pena dele) O que você está esperando para parar com isso, Felipe? Você vai deixar seu filho se acabar, cantando músicas para a outra que está nem aí?
FELIPE – Você pensa que eu também não estou sofrendo de vê-lo nesse estado? Só que se eu for lá e tirá-lo dali, Pedro não me perdoaria. Ele quer tirar a irmã daquele quarto, custe o que custar. (olha para a janela de Alice)
[Q. DE ALICE]
(Alice parou de ver a live, sente vontade de chorar, remorso e pena, olha para suas pernas)
ALICE – (tenta movê-las, se concentra, coloca força, mas nenhum movimento) Que droga de pernas! (chora) Eu não consigo mover nada.
VIVIANE – (se aproxima dela, ainda com a live no celular) Agir desse jeito também não ajuda em nada. Eu sei que você não quer andar por aí em uma cadeira de rodas, é uma escolha sua, não podemos te obrigar. (olha para o celular) Mas o seu irmão está dando tudo de si lá embaixo para te ajudar. (exibe o celular para Alice) Se você quiser voltar pra cá depois e nunca mais sair, fique à vontade, não iremos te impedir. Mas coloca um ponto final nisso. Saía desse quarto pelo o seu irmão. (Alice limpa suas lágrimas, observa Pedro de cabeça baixa em frente ao piano)
[JARDIM]
(Pedro está chorando, cansado e praticamente sem voz. Suas cordas vocais não aguentam mais, sabe que se cantar mais uma, pode desmaiar ali mesmo. Limpa suas lágrimas, tenta juntar forças, mas está sendo difícil manter suas mãos sobre o piano. Por um breve momento, o espírito de sua mãe aparece atrás dele)
CARLA – (cochicha no ouvido do filho) Não desiste de sua irmã, querido. (sorri e desaparece. Pedro ergue a cabeça, olha para o pai logo à frente e o ver torcendo por ele. Se pergunta se a voz que acabou de ouvir realmente era de sua mãe ou se devido o cansaço, estava começando a imaginar coisas. Seja o que for, precisava ouvir essa voz e não podia desistir agora. Posiciona sua mão corretamente no piano, começa a tocá-lo)
[CENA DE MÚSICA – GOT IT IN YOU (BANNERS)]
Holding back the flood 1
In this skyscraper town
You give all that sweat and blood
Now you think you’re gonna drown
You can’t tell that you’re bigger
Than the sea that you’re sinking in
And you don’t know what you got
But you got it at your fingertips
You got it in you
You got it in you
When the lights go out and leave you standing in the dark 2
No-one ever told you this would be so hard
I know you think your fire is burning out but I still see you shining through
You got it in you
Not everything you hear should sound like the truth 3
‘Cause nobody else’s words can define you
Maybe you don’t see it but
You’re quicker than the world can spin
You should know what you got
‘Cause you got it at your fingertips
You got it in you
You got it in you
When the lights go out and leave you standing in the dark 4
No-one ever told you this would be so hard
I know you think your fire is burning out but I still see you shining through
You got it in you
When the lights go out and leave you standing in the dark
No-one ever told you this would be so hard
I know you think your fire is burning out but I still see you shining through
You got it in you
You got it in you
You got it in you
1. Pedro fecha os olhos e mesmo sentindo dores nos dedos e tendo dificuldade em emitir o som de sua voz, ele começa a cantar. No quarto de Alice, ela e sua avó continuam acompanhando a live, estão surpresas com tamanha dedicação dele.
2. Ao refrão e os outros instrumentos começam a ser tocados. Pedro abre os olhos, olha para trás e ver Ramon na bateria e o restante dos garotos tocando. Ele se emociona e isso lhe dar força. No quarto, Alice olha para a cadeira de rodas ao lado, Viviane sorri ao perceber que finalmente sua neta abriu os olhos.
3. Viviane ajuda Alice a sentar-se na cadeira, ela envia uma mensagem para Felipe que saí correndo do jardim em direção a casa. Pedro não percebe, porque voltou a cantar de olhos fechados, devido as dores que estava sentindo nas mãos. Felipe sobe as escadas, encontra sua filha e sua mãe na ponta. Com a ajuda dele, todos descem e vão em direção ao jardim.
4. Ao entrar no jardim, Luana, Dácio e a banda ficam felizes ao vê-la sendo empurrada até o palco. Vários comentários comemorando por ela ter saído e o parabenizando pela dedicação e coragem aparecem no telão. Pedro abre os olhos e não consegue segurar as lágrimas por finalmente ver sua irmã a sua frente. Canta o verso final da música emocionado, com lágrimas que não param de sair. A banda inteira e todos batem palmas para ele, que levanta do piano com uma certa dificuldade.
PEDRO – (se aproxima dela, Alice está surpresa como ele ainda consegue andar) Eu não disse que você ia sair. (sorri, desmaia em seguida. Felipe e Luana correm até ele, Alice o observa preocupada)
Amanhecendo…
[CENA 07 – CASA DE ALICE/ Q. DE HOSPEDES/ DIA]
(após uma noite longa de descaso e ter sido examinado e tomado os cuidados necessários pelo o médico da família, Pedro desperta com alguém familiar a sua frente)
PEDRO – (sonolento, senta-se um pouco, sente uma certa dificuldade para falar) Eu sabia que você ia… (tosse, sente dor na garganta)
ALICE – É melhor você não falar muito nas próximas horas. Suas cordas vocais ficaram bem inflamadas, você vai precisar ficar um tempo sem cantar e sem falar, até que elas se recuperem. (Pedro sorri, pensa em dizer algo, mas sente que sua garganta realmente está mal. Alice empurra a cadeira até a cama) O que você tinha na cabeça para fazer aquilo?
PEDRO – Eu precisava te… (sente um incomodo, para de falar)
ALICE – Eu não acabei de dizer para você poupar sua voz (pega um copo d’água, entrega para ele, isso o alivia) O pior poderia ter acontecido sabia? Onde já se viu, cantar por mais de 7 horas seguidas… Imaginou se você perdesse sua voz? (Pedro apenas a observa, com um leve sorriso no rosto. Ele está feliz por sua irmã estar na cadeira rodas) Vai ficar olhando pra mim e sorrindo agora é? (Pedro faz gestos com as mãos, aponta para ele duas vezes, faz um coração e em seguida aponta para Alice. Ela entende o recado, envergonha-se) Desculpa, mas eu não sei falar em língua de sinais. (empurra sua cadeira até a porta do quarto) Quando você estiver melhor, a gente conversa. (saí do quarto, Pedro deita-se na cama, sorri)
[CENA 08 – CASA DE OTÁVIO/ SALA/ DIA]
(Otávio está sentado em frente ao piano, toca algumas notas aleatórias, lembra-se do que aquele participante disse. Campainha toca nesse momento)
OTÁVIO – (levanta-se, caminha até a porta, não abre) Quem é?
SAULO – Sou eu, Otávio… seu pai!
OTÁVIO – Vá embora. (caminha até o piano)
SAULO – Por favor, filho… abre a porta. Eu prometo que só vim conversar.
OTÁVIO – Não temos nada para conversar.
SAULO – Eu vi você no programa. Você cantando aquela música para a sua mãe… eu quero ajudar filho. Por favor, deixa eu entrar. Vamos conversar… (Otávio continua ao lado do piano, pensa em não abrir a porta, mas qualquer ajuda uma hora dessa deve ser bem-vinda)
OTÁVIO – (volta para a porta, a abre) Como você pode me ajudar? (Saulo sorri ao vê-lo a sua frente)
SAULO – Será que eu posso entrar?
OTÁVIO – (sério) Não.
SAULO – Tudo bem… Eu estava na plateia naquele dia. Eu vi como as pessoas ficaram com a sua apresentação. Parabéns… eu percebi o quanto é importante o programa para você, então irei te ajudar.
OTÁVIO – Como?
SAULO – Conversei com a minha esposa e meu outro filho… e eles me apoiaram em fazermos campanha para você nas próximas etapas. Vamos te ajudar nas redes sociais, vamos ser o seu fã clube.
OTÁVIO – Obviamente você não vai fazer isso de graça, né?
SAULO – É claro que vou. Eu sei que você teve uma impressão errada de mim, mas eu quero te ajudar porque você é o meu filho. E isso de alguma forma, possa compensar o tempo que eu fiquei longe.
OTÁVIO – Nada que você faça vai recompensar isso. Por mim tudo bem, qualquer ajuda é bem-vinda.
SAULO – Então vai me deixar ajudar?
OTÁVIO – Vou.
SAULO – Obrigado, filho. (o abraça, Otávio se surpreende, recua em seguida)
OTÁVIO – Mas não pense que por deixar fazer isso, que é uma aproximação. Faça sua campanha da sua casa, com a sua família.
SAULO – Eu quero pedir mais uma coisa. Quero que você diga para a produção do programa que sou seu pai.
OTÁVIO – Por que?
SAULO – Porque membros da família tem livre acesso para participar da plateia. Eu tive a sorte de conseguir participar do programa passado, os próximos talvez não consiga.
OTÁVIO – Tá… eu aviso a eles.
SAULO – Obrigado, filho. (pensa em abraçá-lo novamente, mas Otávio fecha a porta nesse momento) Eu vou te levar para a final, viu. (Otávio está em pé ao lado da porta, pensativo)
Anoitecendo…
[CENA 09 – CASA DE ALICE/ Q. DE HOSPEDES – Q. DE ALICE/ NOITE]
(Pedro está sentado na cama, jantando. Alice está na cadeira de rodas ao seu lado)
PEDRO – (consegue falar, mas sua voz ainda está rouca) Se eu soubesse que receberia esse cuidado todo, teria feito isso antes.
ALICE – (soca a perna dele) Tenta de novo que dessa vez eu jogo um balde de água gelada em cima de você e quero ver você cantar com frio.
PEDRO – (ri) Você ainda tem dúvida do que eu posso fazer por você. (Alice fica envergonhada, desvia a atenção para suas pernas) E eu só farei isso novamente, se você voltar com aquela ideia de nunca mais sair do quarto.
ALICE – (o observa) Não farei isso, prometo.
PEDRO – Espero, hein. E quanto ao tratamento… você já procurou?
ALICE – O papai está vendo isso. Nas próximas semanas ele fará algumas reformas aqui para adaptar a casa com as minhas novas necessidades.
PEDRO – E sua carreira?
ALICE – Pausada até segunda ordem.
PEDRO – E o colégio?
ALICE – Eu não vou desistir. (Pedro sorri) Preciso me adaptar um pouco mais a essa cadeira, e se tudo der certo na próxima semana eu volto.
PEDRO – Ótimo. (termina o jantar) Caso contrário, você terá que aturar eu e meu violão bem mais do que 7 horas.
ALICE – (ri) Quero só ver como você vai cantar com essa voz aí.
PEDRO – Eu dou meu jeito, ué!
[Q. DE ALICE]
(Alice entra em seu quarto, ela mesmo empurra sua cadeira, fecha a porta e vai até o espelho. Observa seu novo reflexo, e possivelmente a sua nova vida daqui em diante. A tristeza volta a preenchê-la por dentro, e se ver presa naquela cadeira, a faz se sentir inútil. Uma música começa tocar ao fundo, ela começa a cantar)
[CENA DE MÚSICA – CRY (KELLY CLARKSON)]
If anyone ask, I’ll tell them we both just moved on 1
When people all stare I pretend that I don’t hear them talk
Whenever I see you
I’ll swallow my pride and bite my tongue
Pretend i’m okay with it all
Act like there’s nothing wrong
Is it over yet? 2
Can I open my eyes?
Is this as hard as it gets?
Is this what it feels like to really cry?
If anyone ask I’ll tell them we just grew apart 3
And what would I care if they believe me or not?
Whenever I feel your memory is breaking my heart
I’ll pretend i’m okay with it all
Act like there’s nothing wrong
Is it over yet? 4
Can I open my eyes?
Is this as hard as it gets?
Is this what it feels like to really cry?
I’m talking in circles
I’m lying, they know it
why won’t this just all go away?
Is it over yet? 5
Can I open my eyes?
Is this hard as it gets?
Is this what it feels like to really cry?
1. Alice olha para seu reflexo, uma lágrima escorre de seu rosto. Empurra sua cadeira até a janela, olha para o céu, em seguida olha para suas pernas. Durante a música, ocorrerá uma pequena passagem de tempo.
2. Alice está no meio da sala, continua cantando enquanto ao fundo alguns operários estão fazendo uma pequena modificação em sua casa. Estão colocando ao lado da escada, um pequeno elevador que caiba apenas a cadeira de Alice, para ela conseguir subir e descer sozinha.
3. Ela agora está em um consultório, observa seu pai conversar com Gaspar. O médico o indicou para ajudá-la com a fisioterapia, e pelo visto Felipe confia nele. Gaspar olha para Alice, que continua cantando, ele sorri para ela, só que sua nova paciente continua triste.
4. Alice está em sua casa novamente, sobe para o segundo andar por um pequeno elevador que foi montando ao lado da escada. Empurra sua cadeira até o quarto, fecha a porta e fica em frente ao espelho.
5. Canta os trechos finais da música com os olhos cheios de lágrimas e apesar das mudanças positivas em sua vida, como a adaptação que houve em sua casa e ter encontrado um fisioterapeuta, Alice parecia infeliz.
Alguns dias depois…
[CENA 10 – CASA DELLE ROSE/ QUARTO/ DIA]
(Daniel desperta, senta-se na cama e está confiante)
DANIEL – (levanta-se) É hoje, Daniel… chegou o seu dia! (saí do quarto animado)
[CENA 11 – CASA DE PEDRO/ SALA/ DIA]
(Pedro vem da cozinha apressado, pega sua mochila em cima do sofá e caminha até a porta)
PEDRO – Estou indo, tia. (abre a porta e se surpreende com quem está a sua frente) Carol?
CAROL – (sorri) Oi, Pedro!
[CENA 12 – CASA DE ALICE/ JARDIM/ DIA]
(Viviane vem empurrando a cadeira de Alice até o jardim. Gaspar já está lá, preparado para os exercícios)
GASPAR – (animado) Bom dia.
ALICE – (vê-lo animado e feliz logo cedo, a irrita) Bom dia.
VIVIANE – Bom dia, Gaspar.
GASPAR – Vamos lá, para mais um dia de exercícios? (Alice o observa com uma cara nada feliz)
Continua no capítulo 47…