Na fazenda Corais, Zeca desce do cavalo. O leva para o celeiro, lhe dá uma maça e morde outra da sacola que carrega. Acaricia o animal conversando com ele sem perceber que Eduardo se aproxima.

Zeca: Gostou da maça, hein Zorro? Chega por hoje, né? Descanse amigão.

Eduardo: Olha só, o jumento falando com o cavalo, quem diria. – mostra uma risada nos lábios após retirar o chapéu e se escorar na entrada do celeiro.

Zeca: Vá se lascar, vá! – joga uma das maças na direção de Eduardo que sente o impacto no peitoral.

Eduardo: Calma aê, brincadeira caipira! Então, tá sabendo que sou o novo capataz da fazenda? Capataz! Mereço, trabalho que nem um louco nesse lugar.

Zeca: Sabendo sabichão, parabéns! Falta desencalhar agora!

Eduardo: Você sabe que eu gosto de uma pessoa…

Zeca: Gosta, mas não tem coragem de se declarar, um baita de um covarde, isso sim! – diz ele com sorriso na voz.

Eduardo: Não é falta de coragem, pare de falar asneira Zeca! Esperando o momento certo. Bem que você poderia me ajudar! Ela é sua cunhada, me ajuda aí, por favor?

Zeca: Se vira meu filho! Fica esperando o momento certo que outro marmanjo conquista ela.

Eduardo: Vai nessa! Carolina não é mulher fácil de conquistar. Porém eu sou paciente, aliás, tá na minha hora de ir pra casa tomar um banho. Mais tarde vou buscá-la pra faculdade. E você, está indo embora também?

Zeca: Opa, tenho outro compromisso, te contei. Não sou capataz que nem você, sou um simples jardineiro e cuidador de cavalos. Dando meus pulos pra pegar uma renda extra, tenho quatro filhos pra criar.

Eduardo: Toma cuidado, hein?

Zeca: Tô esperto Edu, já combinado com os fazendeiros da região. Arranjei uma ótima compradora, não posso perder a chance de faturar. Vou apresentá-la pra você, talvez resolva participar do esquema.

Eduardo: Falo por causa da fiscalização, área protegida pelo Ibama.

Zeca: Eu sei. Sendo discreto. Estou tendo ajuda do senhor Jorge pra guardar as armadilhas e tranquilizantes.

Eduardo: Fui.

Zeca: Tchau mano. – fecha a porta do celeiro e Eduardo se afasta. Zeca ajeita o boné na cabeça e monta na sua bicicleta.


Moisés encosta o carrinho de reciclagem ao pisar no humilde barraco de madeira na periferia de São Roque. Catarina e Melissa se aproximam dando carinho no cachorro de estimação que as recebe com alegria.

Moisés: Ufa, finalmente chegamos. Vou ali dentro pegar um pouco de água, tô com uma sede danada!

Melissa: Pai, por favor, traz água pra nós?

Moisés: Trago.

Melissa: Ele adora você. – diz ao ver o cachorro lambendo Catarina. 

Catarina: Eu o adoro também, trouxe um pacote de ração, tá com fome pulguento? – ela abre o pacote que retira da mochila. Catarina observa o cachorro comer e Melissa pega nas mãos dela.

Melissa: Não é apenas o pulguento que te adora, sabe o quanto gosto de você. Tava tão preocupada quando vi aquele bandido com a arma na sua cabeça, fiquei com medo que acontecesse alguma coisa ruim.

Catarina: Nem quero pensar. Vamos lá no balanço?

Melissa: Vamos.

Catarina senta no balanço improvisado com pneu velho que está preso numa corda entre duas árvores. Logo Melissa começa a balançar ela.

Moisés: Tá aqui a água meninas. – traz uma garrafa e um copo.

Melissa: Obrigada pai. – entrega pra Catarina beber primeiro. 

Catarina: Vou pra casa Mel.

Melissa: Já? Acabou de chegar, fica um pouquinho comigo?

Catarina: Eu queria, mas você sabe quem é minha mãe.

Moisés: Ela está certa Mel, a Isadora ficará preocupada. Amanhã vocês se encontram de novo na escola.

Catarina: Verdade, amanhã a gente se encontra. – ao dizer as últimas palavras se levanta do balanço e dá um selinho rápido na boca de Melissa que segura seu rosto com as mãos.

Melissa: Se cuida. – dá outro selinho nela.

Moisés e Melissa observam Catarina se distanciar com um sorriso ao olhar pra trás.

Moisés: Vocês se amam muito, confessa filha?

Melissa: Sim pai. Não sei por quanto tempo continuaremos se vendo, nem imagino a reação da família dela ao descobrir nosso namoro.

Moisés: Cedo ou tarde vocês terão que assumir a verdade e enfrentar o desafio. Seja como for, estarei com você. – ele dá um beijo na testa da filha

De repente Melissa corre para alcançar Catarina.

Melissa: Cacá!

Catarina se vira ao ouvir o grito do seu nome e responde com outro sorriso enquanto Melissa corre ao seu encontro e a abraça.

Melissa: Fica mais?

Catarina: Fico.


De volta à fazenda Corais, Roberto estaciona a camionete perto do casarão e se deita na rede da varanda quando observa sua mãe se sentar numa cadeira ao seu lado.

Roberto: Oi mãe. – fala ao receber um carinho no cabelo e a mãe apertar uma das mãos dele.

Helena: Tudo bem com você filho?

Roberto: Cansado mãe. Por quê?

Helena: Não sei. Se casará em alguns dias e parece tão triste. Fala a verdade pra mim, você tá pronto para a nova vida que vai levar?

Roberto: Os dias estão voando mãe… A Laura me pressionou tanto com o casamento e o Jorge empurra os negócios da fazenda e do laticínio nas costas… Eu queria fazer faculdade de medicina, no fim acabei aceitando a vontade dele. Acho que não tomei o rumo certo na minha vida, deveria seguir os meus sonhos e não agradar o pai.

Helena: Ele quer o melhor pra você Roberto, um dia tudo será seu, está te preparando para o futuro dessas terras.

Roberto: Terras que tem sangue inocente derramado? Terras que estão manchadas de tristeza do passado horrível, eu tinha cinco anos quando ele me fez ver aquela cena, tem certeza é o melhor pra mim?

Helena: Não quero falar sobre esse assunto, esquece!

Roberto: Esquecer? Você sempre fugindo, mas eu era uma criança mãe! Não tem como esquecer. Infelizmente não posso esquecer.

Os dois ficam em silêncio por alguns segundos até Roberto se levantar da rede.

Roberto: Mãe, vou dar um passeio com o Zorro.

Helena: Tá bom filho. – ela enxuga uma lágrima.

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Música de encerramento: Paolo Nutini – Iron Sky Tema: Livre

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