Era noite quando Zeca aparece empurrando a bicicleta com as gaiolas, acompanhado por Guilherme que leva outras. Se aproximam de Jorge fumando um cigarro encostado na entrada de um galpão da fazenda Corais.

Zeca: Pena que seu irmão não gosta de nos ajudar a pegar os bichos. A gente poderia ter muito mais. Some quando preciso dele!

Guilherme: Meu irmão está envolvido em alguma encrenca pai.

Zeca: Como assim? Que encrenca?

Guilherme: Nem imagino, mas coisa boa não é.

Os dois chegam perto do patrão. 

Jorge: Então, trouxe o que te pedi?

Zeca: Sim. O anu preto que o senhor queria. – entrega o pássaro preso pra Jorge.

Jorge: Você conseguiu finalmente!

Zeca: Não foi fácil. Com ajuda do meu filho Guilherme nós prendemos ele nessa redinha. – mostra uma rede que Guilherme segura nos ombros.

Jorge: Ótimo Zeca. Ainda espero que consiga trazer o sabiá e o bem-te-vi pra minha coleção.

Zeca: Vou tentar senhor Jorge, eu vou tentar! Hoje o dia tava bom, capturei vários na mata.

Jorge: Tô vendo. – observa a fauna diversificada: sagui filhote, jabuti, iguana.

Zeca: Já tenho uma compradora pra todos. O senhor entende que não saio pra caçar apenas pelo dinheiro extra, é por diversão.

Jorge: A chave do cadeado do galpão, vou dar a você. Sempre que precisar pode deixá-los. Toma cuidado pra não ser avistado por ninguém, ok? Essa área faz parte da reserva ambiental.

Zeca: Beleza senhor Jorge, agradecido com sua ajuda.

Jorge: Não agradeça, faço porque gosto de você, além disso, me forneceu essa maravilha da natureza. – diz ao entregar a chave pra Zeca.

Zeca: Pode contar comigo.

Jorge: Bem… Vou indo. – sai exibindo a ave silvestre.

Zeca: Boa noite senhor Jorge. Vem Guilherme, traz os animais!

Nesse momento Zeca e Guilherme levam o restante para dentro do galpão.

Zeca: Você escutou o senhor Jorge? Boca fechada, hein?

Guilherme: Tranquilo.


Dentro do casarão da fazenda Corais, Roberto acaba de chegar e vai em direção as escadas do quarto. Ao subir o primeiro degrau encontra a mãe que repara na camisa rasgada dele e na mancha de sangue no braço.

Helena: Boa noite filho, tudo bem com você?

Roberto: Boa noite mãe, tá tudo bem sim.

Helena: Tem um corte no seu braço? Onde se cortou desse jeito? – agarra o braço dele.

Roberto: Me machuquei pela mata, não se preocupa.

Nesse momento os dois avistam Jorge entrando em casa com a gaiola em uma das mãos.

Roberto: O que é isso pai? Um pássaro? De onde você tirou esse bicho?

Jorge: Não enche Roberto. – passa por ele nas escadas.

Roberto: O senhor sabe que comprar animal silvestre é crime! – Jorge nem olhou para trás e subiu para o quarto.

Helena: Filho, eu falo com ele, tá?

Helena sobe no quarto e vê o marido pendurando a gaiola ao lado de três na parede.

Helena: Não acredito que você arranjou um novo passarinho Jorge!

Jorge: Lindos, né Helena?

Helena: Os coitados são da floresta Jorge e devem ficar na floresta, entenda!

Jorge: Até você Helena? Você tem suas manias e eu tenho as minhas, me deixa!

Helena: Certo. Fique com eles, vou dormir, exausta da viagem. – o deixa fumando um cigarro sentado na varanda do quarto e ela solta os cabelos presos na cama.


Zeca e Guilherme chegam de bicicleta. Maria nota os dois na varanda do seu bar caminhando para os fundos.

Maria: Por onde você andava Guilherme?

Guilherme: Passeando com o pai vó.

Maria: Passeando, sei.

Zeca: Tome um banho pra jantar, rápido Guilherme.

Maria: Onde estava com meu neto, hein bonitão?

Zeca: Oxi, ele já disse, a gente tava dando uma volta.

Maria: Uma volta? Alguma coisa está mal contada nessa história!

Zeca: Ué? Pare de implicância velhota!

Maria: Implicância? Eu não confio em você, seu caipira fedido! Isa sinceramente, o que tinha na cabeça ao se casar com o traste do Zeca? – as últimas palavras ao ver Isadora que acompanhou a conversa e prepara o jantar para a filha Aninha. Porém Isadora os ignora.

Zeca: Vai cuidar dos seus cachaceiros lá no bar, vai!

Maria: Vou mesmo.

Zeca: Vai, por favor!

Assim que Maria sai da cozinha, Zeca serve a comida pra Ana.

Zeca: Isa não vejo a hora da nossa casa ficar pronta!

Isadora: Também Zeca, mas parece que não fica pronta nunca! Quase dezoito anos aguardando!

Zeca: Sei Isa. Falta pouco, o pedreiro está rebocando as paredes. Logo, logo vamos ter nossa própria casa, não aguento a sua mãe, todo o dia é um inferno.

Isadora: E eu tenho que suportar a briga de vocês!


A noite está bonita e animada na casa de Carlos. A música alta contagia os convidados no salão que bebem cerveja a rodo. Carlos cumprimenta alguns ao tomar vodca com gelo e energético. No entanto, o seu destaque é para a participante que entra bem maquiada, belo decote, salto alto nos pés, short curtíssimo. Ele a cumprimenta com um sorrisinho tentador, enfia o copo de vodca na boca dela.

Carlos: Demorou, hein?

Laura: Demorei, mas cheguei. – faz Carlos beber o restante.

Carlos: Não quero vodca, quero sentir a saliva da sua boca. – eles se beijam intensamente.

Carlos: Bem vinda a festinha! – termina a bebida e sorri pra ela.

Laura: Gatão, busca bebida gelada pra nós?

Carlos atende prontamente o pedido da amada e dança com integrantes da festa na euforia.
Carlos faz a mistura de vodca com energético em duas taças com gelo enquanto curte o som das músicas típicas de festa eletrônica.

Traz a bebida para sua amada após enfrentar esbarrões do pessoal, o salão é pequeno e está lotado pra quase cinquenta pessoas. Carlos a pega pelo braço e afasta Laura de um galã que estava dançando coladinho nela. Eles se distanciam do centro do salão se encostando no canto da parede.

Laura: Tá cheio, por que convidou tantos?

Carlos: Tá muito cheio mesmo. Eu não convidei a maioria! – diz no ouvido dela, o celular vibra, ele olha a mensagem no visor do aparelho.

Laura: O que foi?

Carlos: Espera aí. – enfrenta a multidão apertada e com certo sacrifício chega à porta. Abre dando de cara com Gustavo que retira uma sacolinha de cápsulas da mochila ao vê-lo.

Carlos: Trouxe o que eu pedi?

Gustavo: Tá aqui, a melhor cocaína. – entrega a sacola.

Carlos: Ótimo.

Gustavo: Ei, ei! A grana? – ele põe o pé na frente da porta ao ver Carlos fechando.

Carlos: Depois te dou moleque, agora tô sem. Cai fora!

Gustavo: Não foi o que combinamos, não convida pra festa?

Carlos: Vaza moleque. – fecha a porta na cara dele.

Carlos tenta passar e fica enfurecido ao se aproximar do canto que estava. Ele acaba vendo o rapaz que dançava com Laura a beijando dessa vez no meio da galera que rebola descontraída ao redor. Carlos arranca o cara de perto dela, logo em seguida dá um soco que o faz cair na multidão.

Carlos: Sai desgraçado!

Laura: Carlos, tá louco? – ela tenta segurar, Carlos é forte e desliga o aparelho de som. O silêncio assusta o restante dos jovens que voltam a atenção pra ele.

Carlos: Acabou a festa! Acabou! Todo mundo fora da minha casa! Fora! Agora! – grita irritado. 

O homem que beijou Laura tenta acalmar Carlos, de qualquer forma ele reage com agressividade.

Carlos: Fora canalha, não encosta!

Laura: Calma Carlos. Por que o descontrole?

Carlos: Você vem me pedir calma? É só eu virar as costas que se esfrega no próximo? Você é minha, entendeu Laura?

Laura: Eu não sou sua! Ciuminho pra cima de mim? Quem você pensa que é?

Carlos: Presta atenção Laura, eu não vou suportar fazer papel de bobo! Não basta ter que dividir você com aquele idiota do Roberto? – ele bebe enquanto pega uma das cápsulas de cocaína da sacola e despeja o pó no balcão. Nesse momento o salão está quase vazio.

Laura: Presta atenção você Carlos! É bom se comportar direito comigo ou nossa história se encerra, seu louco! Vou embora, estragou o clima!

Carlos: Espera Laura, espera! Desculpa, Laura volta!

Laura: Amanhã a gente conversa.

Laura o ignora e desaparece, Carlos põe as mãos no rosto arrependido. Volta a cheirar o pó despejado no balcão bebendo um gole de vodca. Fica sozinho no salão da casa.

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Música de encerramento: Kristen Marie – City Tema: Livre

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