​O sino da escola anuncia a saída dos alunos, entre eles temos Catarina e Melissa que vão em direção de Moisés. O barbudo observa do lado de fora com sua carroça de reciclagem perto do muro.

Moisés: Oi filha! – abraça Melissa e dá um beijo na testa dela.

Moisés: Beleza Cacá? Quer ir conosco?

Isadora: Ela não vai pra lugar nenhum com você, seu velho imundo! Vem comigo Catarina! – ela a puxa pelo braço.

Moisés: Senhora…

Isadora: Presta atenção! Quero que você e essa menina se afastem da minha filha! Não vou permitir que a Catarina se envolva com pessoas do seu tipo!

Moisés: Do que a senhora tá falando? Por que eu sou catador de latinhas?

Isadora: Não é só por isso, sei muito bem que você é um cachaceiro de carteirinha, vivia no bar da minha mãe, te vi várias vezes com uma garrafa de pinga jogado pelas ruas!

Moisés: Eu não tô mais bebendo, eu parei de beber faz um tempo, nunca dei nenhuma bebida alcoólica pra minha filha ou qualquer um!

Isadora: Até parece que me engana, seu nojento! Além de tudo, a Catarina está se tornando uma aberração por causa dela! Essa garota tá influenciando coisa errada, levando para o mau caminho!

Moisés: Aberração? Por que as duas se gostam?

Isadora: O que vocês estão olhando? Pra casa! – aponta para Guilherme e Gustavo que ouviram boa parte da conversa. Os irmãos saem.

Catarina: Mãe, por favor! Vamos conversar…

Isadora: Cala a boca Catarina! Eu sou a sua mãe e não vou permitir que você se contamine! Entendeu velho? Mantenha a sua filha distante dela! – encara Moisés.

Moisés: Você é louca? Elas se amam, você não pode impedir!

Isadora: Pois vou impedir sim! Nem que eu tenha que tirar a Catarina dessa cidade e mandá-la pra longe da praga da sua filha! Sumam da minha frente! E você, vem comigo! – arrasta Catarina pelo braço enquanto Moisés e Melissa lamentam.

Catarina: Mãe… Não, me solta, me solta! – tenta fugir, mas Isadora a captura no caminho.

Isadora: Você virá comigo Catarina, seja por bem ou por mal!

Melissa abraça o pai ao ver Catarina e a mãe dela se afastando.

Melissa: E agora pai?

Moisés: Calma Mel, calma.


Guilherme e Gustavo estavam caminhando alguns metros à frente do ponto de ônibus. De repente Gustavo avista uma mulher saindo com o marido do Banco que guarda o valor sacado na bolsa.

Gustavo: Anda logo sua lesma!

Guilherme: Pra onde tá indo?

Gustavo: Me espera na esquina, eu já volto!

Guilherme: O que vai fazer?

Gustavo: Fica aí, vou na frente comprar chiclete!

Guilherme se distrai com um joguinho no celular enquanto o gêmeo atravessa a rua apressado e discretamente se aproxima por trás do casal que viu anteriormente. Algumas quadras seguindo em um lugar de pouco movimento, ele arranca a bolsa dela que grita desesperada. Gustavo retira o dinheiro e corre. O marido da vítima roubada o persegue, porém perde de vista no centro do vilarejo.

Gustavo se esconde numa viela coberta por latões de lixo. Conta as notas que coloca na sua mochila.

Gustavo: Que sorte! Estava precisando tanto dessa grana pra me acertar com o Juca! – fala sozinho com um sorriso após conferir o que roubou.

O homem conforta a esposa que chora ao encontrar a bolsa jogada sem o dinheiro. Para a surpresa dele, no caminho de volta, repara no irmão que continua parado na esquina.
Então furioso, o agarra pela gola do uniforme escolar e pressiona a confessar o crime ao confundi-lo: Ah, então você tá aqui seu miserável, cadê o dinheiro que roubou?

Guilherme: Eu não sei do que você está falando, estou retornando da escola…

Aumenta a raiva sobre Guilherme, o derruba no chão e começa a chutá-lo, o pega pelo pescoço, ergue sobre a parede e se prepara para agredir: Não me faça de bobo seu moleque, fala! Fala onde você escondeu o dinheiro! Fala de uma vez ou eu vou socar a sua cara!

Acho melhor a gente chamar a polícia, não tem nada na mochila. – ela vasculha derrubando cadernos e livros.

Que polícia o quê! É menor de idade, não adianta! Levará uma surra se não abrir o bico! – mete um soco no rosto e chuta a barriga.

Guilherme: Por favor, eu não sei de dinheiro nenhum!

Pra onde você pensa que vai? Terá que aprender a não pegar as coisas dos outros! – agarra e o soca novamente.

Chega! Vamos embora, infelizmente deve ter repassado o roubo para o comparsa. – a mulher interrompe a violência e se afastam de Guilherme caído.

O adolescente continua deitado na esquina sem forças pra se levantar, se arrastando pela calçada. Para a sua sorte, Isadora e Catarina aparecem. 

Isadora: Guilherme? Filho, o que está fazendo no chão? – o olhar dela muda ao ver sangue no rosto do menino.

Catarina: O que aconteceu com você Guilherme, cadê o Gustavo? – o ajuda a se levantar com cuidado.

Guilherme: Eu… Eu não sei… Estava esperando o Gustavo e de repente um casal veio me agredir por causa do dinheiro roubado…

Isadora: Dinheiro? Como assim meu filho?

Guilherme: Eu não sei… O homem começou a me bater…

Catarina: Tenho certeza que isso tem haver com o Gustavo! – ela apoia os braços do irmão no ombro, Isadora recolhe os livros e a mochila.

Isadora: Nossa, te machucaram pra caramba meu filho!

Guilherme: Eles acabaram de fugir, questão de minutos mãe.

Isadora: Rápido Catarina! Me ajuda a levá-lo ao posto de saúde para fazer um curativo no rosto.

Catarina: Desgraçado! Como pode ter agredido meu irmão desse jeito?

Isadora: É o que queria saber! Não posso deixar vocês por um instante na rua que se metem em confusão!

Catarina: Tá doendo muito Guilherme?

Guilherme: Sim… Minha barriga, ele chutou minha barriga com força, está doendo bastante…


No hospital, Jorge e Helena entram no quarto observando Roberto sentado na cama com gesso no braço esquerdo.

Jorge: Que susto você deu na gente, hein rapazinho?

Helena: Graças a Deus foi apenas uma fratura, o médico nos disse que você ficará com o gesso por dez ou quinze dias.

Roberto: Será chato o gesso no braço, mas fazer o quê, né? Quero ir pra casa logo, tô enjoado do hospital.

Helena: Nada disso mocinho, o doutor falou que você tem que ficar em observação, amanhã ele te dará alta!

Roberto: Que saco! Eu tô bem, é uma pancadinha no braço!

Jorge: Que história é essa de você subir em pé de manga, hein rapaz? Tá bem grandinho pra ficar escalando!

Roberto: Acabei escorregando pai! Pode ter certeza que vou pensar duas vezes antes de subir em árvore.

Helena: É bom mesmo, você deu trabalho demais por hoje.

Roberto: Aliás, tenho uma coisa importante pra contar a vocês, mas aqui no hospital não. Vou deixar pra falar no momento certo.

Helena: O que é? Está misterioso demais!

Jorge: Bom, eu e sua mãe vamos deixar você descansando. Quero aproveitar que o dia tá bonito e dar um passeio pelas trilhas da fazenda.

Helena: Amanhã cedo a gente vem te buscar.

Roberto: Ok, bom passeio pra vocês. – diz ao se deitar e receber um beijo da mãe.

Após os pais saírem do quarto, Roberto não consegue evitar a lembrança da menina que viu correndo no matagal quando ele tinha apenas dez anos de idade. Começa a falar sozinho em voz alta.

Roberto: É… Quem imaginaria que te encontraria novamente tantos anos depois… – as suas lembranças se voltam para os beijos e momentos ardentes com ela.

Roberto: O que tá acontecendo comigo? Não consigo tirar você da minha cabeça. – se deita para o lado, fecha os olhos, no entanto o rosto de Carolina vem a sua mente para incomodá-lo.

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Música de encerramento: Lewis Capaldi – Someone You Loved Tema: Livre

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