Outro dia amanhece. Roberto entra no casarão da fazenda, porém encontra Jorge sentado no sofá triste, abatido. Isadora e Carolina estão sérias ao servir o café que esfria na mesinha da sala.
Roberto: Bom dia gente! Pai desculpa, não aguentei esperar me buscar, pequei um táxi no hospital, não suportava ficar ali… Que cara é essa? Cadê a mãe? – se preocupa ao ver Jorge levantar o rosto com uma expressão desagradável.
O pai sai do sofá e desvia o olhar para a pintura do enorme quadro pendurado no centro da parede, um retrato de Helena. Roberto repara no sofrimento dele e nas empregadas que abaixam as cabeças.
Roberto: Pai? O que ocorreu pai? Fala logo! – ao se aproximar com um dos braços imobilizado pelo gesso.
Jorge: Filho… A sua mãe… Eu não tenho coragem de te falar, fale pra ele Isa! – diz lentamente com a voz sofrida ao esconder o choro.
Isadora: Eu? Mas senhor Jorge…
Jorge: Por favor, Isa.
Roberto: Fala Isa, o que aconteceu com minha mãe? O que houve?
Isadora: A sua mãe sofreu um acidente… Um acidente grave e não resistiu… – pronuncia com dificuldade.
Roberto: Como assim? A minha mãe tá morta? Não pode ser! É verdade pai? – ele encara Isadora, Carolina e Jorge que estão na sala abalados.
Jorge: Infelizmente é verdade filho… A Helena se foi…
Roberto: Não! Não… Como isso pode acontecer… Ela estava… Ela estava tão bem! – se desespera com a notícia, Jorge o abraça.
Jorge: Horrível filho, ela caiu do penhasco e bateu a cabeça… Eu não consigo entender!
Roberto: Ela caiu do penhasco? Pai…
Jorge: Passou tão rápido, a gente caminhava nas trilhas da mata, eu fui pegar a garrafa de água na camionete e ela continuou… Quando a encontrei, era tarde…
Carlos acorda com o barulho do relógio e péssimo humor.
Carlos: Ai, que dor de cabeça… – fala sozinho após desligar o despertador e se levantar da cama com preguiça.
Quando escova os dentes no banheiro e fica de frente ao espelho se assusta com a figura: a imagem de Helena coberta de sangue.
Ele derruba a escova, então fica sem reação por alguns segundos. Ao virar para trás não encontra nada e ao olhar de volta no espelho só aparece o seu reflexo agora.
Carlos: Ah meu Deus… – vem a lembrança da tragédia do dia anterior, da cena de Helena jogada do penhasco. Embrulha seu estômago e um calafrio ao sentir o vento gelado da janela do quarto que bate diversas vezes. As cortinas balançam ao entrar, logo vê a imagem de Helena novamente na sua frente, mas em questão de segundos desaparece. Carlos cobre o rosto.
Carlos: Sai daqui demônio, sai da minha casa! – atira um abajur na parede ao ver outra vez Helena.
Carlos: Ah não, será que tô ficando louco? – diz desesperado depois do fantasma sumir. Põe as mãos no cabelo bagunçado e rodeia pelo quarto até ouvir o barulho da campainha da porta.
Ao atender se depara com Gustavo que retira uma sacola preta da mochila ao vê-lo.
Gustavo: Trouxe o que você pediu.
Carlos: Ótimo… – tenta pegar a sacola, no entanto Gustavo afasta da mão dele.
Gustavo: An, an… Primeiro o meu pagamento, não vai me fazer de trouxa.
Carlos: Tá moleque. Me dá! – após retirar um dinheiro da carteira e entregar a Gustavo puxa a sacola com raiva.
Carlos aguarda Gustavo conferir a grana contente e fecha a porta. Pega uma das cápsulas de cocaína, abre esparramando o pó na mesa onde cheira.
Carlos: Finalmente… – encosta a cabeça na cadeira satisfeito.
Laura desce as escadas do quarto e observa o pai limpando um revólver sentado na poltrona da sala.
Laura: Onde conseguiu a arma pai?
Rodrigo: Ué, comprei. E em breve pretendo usá-lo. É o momento da sua mãe pagar pela traição. Quero o endereço. Você sabe onde aquela maldita da Lúcia tá vivendo, não sabe?
Laura: O endereço está na mensagem que ela enviou no celular, vou anotar no bloco de notas. Toma cuidado pai pra não estragar nossos planos com essa vingança boba.
Rodrigo: Será que sou eu que preciso ter cuidado? – se levanta e Laura fica em silêncio.
Rodrigo: Fiquei sabendo da morte da Helena.
Laura: Morte da Helena? A mãe do Roberto?
Rodrigo: Ela mesma. Está em todos os jornais. Parece que caiu do penhasco.
Laura: Nossa, que triste, imagina o clima na fazenda?
Rodrigo: Espero que você não tenha nada haver com a morte dela.
Laura: É claro que não pai.
Rodrigo: Não fazia parte dos nossos planos. Se lembre do verdadeiro motivo por qual está se casando com o Roberto. É mais do que dinheiro que está envolvido, não se esqueça.
Laura: Como iria esquecer? Te prometi desde pequena e vou cumprir a nossa promessa.
Rodrigo: Importante que você cumpra, preciso da sua ajuda pra poder descansar em paz. Estamos perto do que eu quero. Não me decepcione Laura. – pega o bloco de notas que ela deixa na mesinha e sobe para o quarto.
Rodrigo: É bom se arrumando para o enterro da Helena no cemitério, não terá velório por causa da situação do corpo. – diz para a filha ao subir as escadas.
Maria servia os clientes do bar quando repara em Catarina e Guilherme.
Catarina: Vó?
Maria: Oi meus lindos, estão bem? Cadê o Gustavo que não veio com vocês? – dá um beijo na testa deles.
Guilherme: Ele entrou na escola e sumiu vó, matou aula.
Maria: Não ficou na aula? E onde estava?
Catarina: É o que a gente queria descobrir.
Maria: Falando nele, ó ele vindo ali!
Gustavo: Tá tudo bem?
Maria: Onde se meteu Gustavo que os seus irmãos não te viram na escola, hein mocinho?
Gustavo: Ai vó, quanta preocupação! Fui na casa de um colega.
Guilherme: Até quando vai continuar com as mentiras seu pilantra?
Gustavo: Enlouqueceu maninho? O mentiroso é você que fica apanhando pelas ruas! E tá feio pra caramba o olho roxo, viu?
Catarina: Guilherme, não! – ela segura o irmão que pretendia avançar sobre Gustavo.
Guilherme: Ele provoca vó, tá vendo? Ele provoca! Ele é um descarado, não presta nem pra enganar vó!
Gustavo: Me erra vai, me erra!
A tarde começa quando Laura e Rodrigo chegam ao cemitério encontrando algumas pessoas reunidas diante do enterro de Helena, entre elas Carlos, que acaba de cumprimentar Jorge e Roberto.
Rodrigo: Jorge, estou sem palavras! Ouvi comentários na região do vilarejo, mas não entendo, como a Helena pode ter caído do penhasco?
Jorge: Eu não sei Rodrigo, ainda não consigo decifrar, a polícia está investigando o caso.
Rodrigo: Sinto muito, conte comigo no que precisar. – fala acompanhado da filha que apoia Roberto ao lado.
Laura: Meu amor… Não fica assim, acidentes acontecem…
Roberto: Como você quer que eu fique Laura? Minha mãe acabou de morrer e tenho certeza que não foi um acidente! A polícia encontrou rastros de pneu de outro carro! A minha mãe jamais ia cair do penhasco à toa, alguém a derrubou, não vou sossegar enquanto não encontrar o culpado!
Ao dizer as últimas palavras, Carlos vomita.
Roberto: Carlos? – volta sua atenção para o amigo que o recebe angustiado.
…
Música de encerramento: Maroon 5 – Animals Tema: Carlos e Laura, Carlos, Laura