Tarde da noite quando uma moto buzina em frente à casa de Lúcia que destranca o portão da garagem.
Lúcia: Ah finalmente, você demorou, hein? – reclama ao ver Juca tirando o capacete.
Juca: O importante é que estamos juntos amor! – encostam os lábios e se agarram.
Lúcia: Me sentia sozinha, feliz de estar com meu vilão gostoso!
Juca: Fiquei escondido da polícia e durante a semana arranjei um documento falso.
Lúcia: E os seus negócios em São Roque?
Juca: Gustavo cuidará do estoque de drogas e armas, garoto de confiança. Precisa de dinheiro?
Lúcia: Não se preocupe, eu sei me virar.
Juca: Notei que você montou uma lanchonete do lado.
Lúcia: Uma das minhas fontes de renda.Te apresentar o que gera lucro realmente! – diz ao abrir um quarto do fundo, ascende a luz e Juca entra com ela.
Juca: De onde você consegue todos os bichos? Tem até cobra! – repara nas gaiolas e caixotes cheio de animais silvestres.
Lúcia: Trazem lá das matas de São Roque. Tenho compradores que revendem para o exterior.
Juca: Os animais valem quanto? Quem compra?
Lúcia: É meu segredinho.
Juca: Ok.
Lúcia: Agora vem pra cama que tô morrendo de saudades!
Amanhece, Eduardo e Catarina estão colocando as bagagens no porta-malas.
Maria: Tem certeza Carol? Sair desse jeito apressada da cidade?
Carolina: Doloroso abandonar a senhora, o lugar que nasci, porém… Momento de voar.
Catarina: Tchau vó. – abraça Maria.
Maria: Tchau querida, se cuida, tá?
Catarina: Pai, cadê a mãe e o Gustavo?
Zeca: Sua mãe já foi trabalhar e o Gustavo pra escola. Não quiseram se despedir. – dá um beijo em Catarina e segura Aninha no colo.
Carolina: Pode deixar que cuidarei bem dela Zeca. Vamos Cacá?
Zeca: Carolina, o Roberto está querendo falar com você. – aponta para o rapaz que olhava de longe. Ela o encara por alguns segundos de silêncio.
Roberto: Será que podemos conversar? – Carolina o ignora ao escutar Eduardo chamá-la.
Eduardo: Carol?
Roberto observa Carolina e Catarina partir. Em minutos o automóvel some pela trilha do vilarejo. Maria volta para o serviço no bar e Zeca consola o patrão.
Zeca: Sinto muito senhor Roberto.
Roberto: Fez a escolha dela. Tá na hora de esquecê-la. – sobe no cavalo e segue rumo à fazenda, tão triste como Carolina que olha pela janela do carro. Os dois se lembram da mesma cena: do primeiro encontro na infância e o dia da transa. Analisam porque terminaram o romance, sofrendo amargamente por dentro.
Maria servia os clientes, no entanto repara em Moisés, Melissa e o cachorro de estimação se aproximar com a carroça de recicláveis.
Maria: Mel?
Melissa: Oi dona Maria, tá tudo bem? – cumprimenta Maria.
Maria: Tá… Pensei que você tinha se mudado pra Bahia! É o que a Cacá me contou!
Moisés: Eu menti pra Cacá.
Maria: Mentiu?
Moisés: Tivemos que mentir. A Isa mandou um capanga matar a Melissa.
Maria: Deus do céu! Não acredito que a Isa teve coragem de fazer isso!
Melissa: Escapei por pouco. O próprio bandido confessou que a Isa queria se livrar de mim! Antes de apertar o gatilho ele teve pena e me soltou.
Maria: Deve ter sido horrível, nem posso imaginar! A Isa passou dos limites, ela cometeu um crime, tem que pagar! Denunciá-la na delegacia!
Moisés: Não Maria! Nosso motivo de enganar era pra não provocar tempestade! Importante que a Isa não saiba que a minha filha tá viva. E se eu revelasse a verdade pra sua neta, a Isadora iria descobrir!
Melissa: Por mais difícil que seja, o meu pai tem razão! Temos que evitar confusão.
Maria: Você não precisa se preocupar, a Cacá foi embora com a Carolina.
Moisés: Foram pra onde?
Maria: Pra São Paulo.
Melissa: É melhor assim.
Maria: Também acho, estava sendo maltratada pela mãe. A Isa destruiu as roupas da Cacá e queria trancá-la à força no quartinho.
Moisés: Maria, te imploro, não fale nada pra sua filha que a Mel esteve aqui. Por favor!
Maria: Difícil engolir o que a Isa aprontou.
Moisés: Medo que ela tente algo contra a Mel outra vez. Sorte que nenhum mal ocorreu, mas não podemos arriscar, a Isa é louca!
Maria: Me perdoa Mel, me perdoa! Não fazia ideia que criei um monstro!
Melissa: A senhora não tem culpa.
Moisés: Eu é que quero pedir desculpas por ter roubado a garrafa de pinga. – aperta a mão de Maria.
Maria: Certo Moisés, compreendo o quanto é complicado pra você controlar o vício.
Moisés: Trouxe vinte reais pra compensar a cachaça que peguei…
Maria: Não precisa, guarde! Me ajuda pra caramba recolhendo as latinhas que jogam no chão.
Moisés: Obrigado Maria, obrigado.Temos que ir antes que a bruxa da Isadora apareça e veja a Mel!
Carlos estaciona o veículo e ao se recolher na residência vê a imagem de Helena de repente e se preocupa com a volta do fantasma.
Carlos: Desgraçada! Não pode ser, o demônio me perturbando novamente! – se escora na parede e desliza no piso cobrindo a cabeça pra fugir do que viu.
Ao se levantar enxerga o vestido branco longo e os cabelos sujos de sangue escorrendo no rosto. Ele quebra vários pertences atirando na assombração que desaparece.
Carlos: Sai da minha mente maldita! Sai! – grita desesperado e toma um copo de água. Logo ouve um barulho na porta e corre pra atender. É Gustavo que tira uma sacola preta da mochila.
Carlos: Beleza moleque?
Gustavo: Não, não! A grana! Não me faça de otário! – se afasta.
Carlos: Que frescura é essa agora? Sabe que eu sempre te paguei certinho, às vezes demoro, mas pago!
Gustavo: A grana!
Carlos entrega o pagamento.
Carlos: Dá! Tô precisando urgente da droga, tava delirando sem ela. Só? – nas últimas palavras estranha a quantidade.
Gustavo: É o que tem pra hoje. Será assim, me passa o dinheiro e recebe a cocaína!
Carlos: Você tá marrento, hein moleque? Cai fora! – Carlos fecha a porta na cara dele. Então Carlos cheira o conteúdo de uma das cápsulas na mesa.
Carlos: Ufa! Alívio! Cansado de delírios me atormentando!
…
Música de encerramento: Imagine Dragons – Radioactive Tema: Livre