Custódio chega da rua, e para no corredor ouvindo a conversa entre Raquel e Estela. — Lembra que você me pediu para tomar uma decisão? Estou esperando o momento certo.

Estela — Você vai deixar o meu irmão? É isso que está querendo me dizer? Vai atrás dos seus pais na Espanha?

Raquel — Tomarei essa atitude se for preciso. Como estamos não podemos continuar. O que irá acontecer depois, só o tempo dirá. Seu irmão será o único a decidir nossas vidas, na hora certa.

Estela — Conte comigo, Raquel! Pelo bem do meu irmão, eu estarei do seu lado sempre, pelo que der e vier.

Agradecida, Raquel abraça Estela.

Custódio se afasta, sem que elas notam sua presença, entra no quarto de Raquel e vasculha a mobília, encontrando no fundo do baú o que procura. Uma caixa pequena de madeira, repleta de joias valiosas e pedras de preciosas. Coloca-as no bolso do casaco e a caixinha no lugar. Quando ameaça sair do quarto volta e se esconder, vendo Estela e Raquel passarem no corredor. Custódio sai rápido pela porta da frente, e na rua, monta no cavalo, fazendo-o sair em galope.

Custódio, no barracão recebe socos da irmã. Estela grita raivosamente com ele. — Seu canalha. O que você fez com a minha amiga?

Custódio se defende. — Pare com isso, Estela? O que pensa que está fazendo?

Estela — Se você não me ajudar encontrar minha amiga, eu acabo com o seu sossego.

Custódio — Você quem a colocou para fora de casa, e eu que devo procurá-la agora?

Estela — Você não tinha o direito de fazer com ela o que fez! Eu, muito mais ainda idiota de acreditar em você, por ser meu irmão.

Custódio se defende ¬— Não sei do que está falando, e para com esse escândalo.

Estela enlouquecida — Não seja ordinário, falso e fingido, você sabe sim, perfeitamente o que estou falando. Ou, vai querer que eu refresco a sua memória, na frente dos seus empregados, que talvez pensam você ser um homem perfeito, onde na verdade não é!?

Custódio — Para com essa gritaria.

Estela — Posso gritar aqui dentro do jeito que eu quiser! Bem alto, para que todos possam ouvir. Estou gritando dentro do que é meu. Está fábrica também me pertence. Sou dona da metade de tudo que tem aqui dentro, que faz parte da herança que nosso pai me deixou. Que deve estar se remoendo na sepultura, de vergonha do filho que tem, por você ser um escroto desprezível. Não tinha o direito de fazer com a minha amiga o que fez. Sua obrigação era respeitá-la, dentro da casa que também é minha, e posso colocar lá dentro o que eu bem entender!

Custódio, para Adalberto, o mais próximo ouvindo a discussão. — Tire essa maluca daqui? Leve-a embora, antes que perco a minha paciência.

Adalberto segura-a por trás, pela cintura, tenta puxá-la. Estela ainda tenta acertar Custódio com socos e pontapés. — Se acontecer alguma coisa de ruim com a minha amiga, ou com o filho dela, eu juro por Deus, que você vai se arrepender por todos os seus pecados, porque se Deus não fazer justiça, eu faço! Eu vou ser uma sombra no seu caminho por mil anos.

Custódio ri chocalhando as mãos. — Olha o medo que estou sentindo! Tanto, que estou tremendo! — e depois fala sério. — Tenho mais o que fazer, em vez de me preocupar com uma vadia, que não se deu o respeito se deitando por aí com um moleque.

Estela — Moleque?! Então você falou mesmo com ele?

Custódio — Eu não sabia que ela estava com você!

Estela — E quando soube quis tirar aproveito da situação! O que você queria? Ficar com o filho dele, já que você é um impotente, incapaz de engravidar a sua mulher?

Adalberto puxa Estela, rodando o corpo dela, mas não consegue evitar levar uma bofetada.

Custódio grita com ele. — Leva essa maluca embora daqui, antes que perco minha cabeça e dou nela uma surra tão grande, que ela vai se arrepender de ter nascido. — Aponta a irmã. — Não quero vê-la aqui nunca mais. Agora vá embora daqui. — e grita com os funcionários a maioria escravos — Voltem ao trabalho, isso aqui não é um circo de diversão.

Adalberto fala com Estela — Vamos, moça? Melhor ir embora. Eu acompanho você.

Estela, envergonhada se afasta sozinha.

Custódio, no escritório pega das mãos de Adalberto uma planilha. Enquanto confere as anotações. Adalberto puxa conversa. — Para uma irmã tratar um irmão como ela o tratou, na frente de seus empregados deve ter bons motivos. Tenho duas imãs. Elas nunca me trataram mal. Espero que nunca me tratem sem eu dar bons motivos, é claro! Porque se eu der, poderei respeitar a atitude delas.

Custódio encara o rapaz de 23 anos. — Você ficou interessado na minha irmã?

Adalberto nada responde, também fixo a ele — Tudo bem! Estou querendo mesmo me livrar dela. Mas fique sabendo desde já, Estela não tem parte nesta fábrica, como mencionou aquele dia. Você entendeu o que eu quis dizer?

Adalberto solta um leve sorriso: — Se eu quisesse brigar por dinheiro, continuaria brigando com meu pai. Estou trabalhando para o senhor porque quero. Caso contrário, aceitaria a proposta dele. Ainda posso aceitar e continuar os meus estudos, e quem sabe me tornar doutor. Fiquei de dar a resposta hoje a ele. E confesso, achei a sua irmã interessante, posso conhecê-la melhor, quando quiser, já que pensa em se livrar dela. Eu sempre pensei em me casar por amor e não interesse pelo que ela receba de herança. Mas sim, que também me aceite como sou. Uma que talvez possa sair pelo mundo comigo, sem rumo, sem destino, sem medo de viver um grande amor.

Custódio — Está querendo ganhar aumento de salário com toda essa conversa, ou, ficou mesmo gamado na minha irmã?

Adalberto — Podemos fazer um acordo, eu me caso com a sua irmã, e a mantenho longe, em troca do senhor me contar em detalhes o motivo da briga que ocorreu entre os dois?

Custódio — Foi por causa de uma amiga que Estela arrumou.

Adalberto — Quem é essa amiga, a ponto dela se doer, ficando contra o próprio irmão?

Custódio — Uma que ficou de barriga do namorado e o pai a colocou para fora de casa. Um momento de bobagem de minha parte, eu quis tirar aproveito da situação, mas a garota disse que preferia a morte que se entregar a outro homem, que não seja o pai do filho dela. Por azar, minha irmã descobriu, acabei colocando a culpa na moça. Minha irmã, a fera que é, colocou ela para fora de casa, no meio da noite. Mas porque quer saber dessa história?

Adalberto — Como é o nome da amiga da sua irmã?

Custódio — Margaret.

Adalberto se alegra — Eu e sua irmã, acredito que vamos nos dar muito bem. Inacreditável como as coisas acontecem.

Custódio — Ainda não respondeu a minha pergunta?

Adalberto — Respondo amanhã, quando eu trouxer uma pessoa para que o senhor confirme o que acabou de me contar. O senhor repetiria tudo o que me falou?

Custódio — Veja bem o que vai aprontar comigo, rapaz? Eu contei o que aconteceu por mostrar interesse na minha irmã, não quero confusão para o meu lado. Bastam as confusões que já tenho.

Adalberto — Não vou colocá-lo em nenhuma situação desagradável. Ninguém precisa saber da nossa conversa depois. O que preciso é reverter a situação que também criei em relação essa amiga da sua irmã, assim, vou ficar em paz comigo mesmo, e se der certo o que estou pensando, sua irmã não vai lhe cobrar mais nada. O que diz, eu ir conhecê-la melhor amanhã à noite, na sua casa? Hoje, fiquei de conversar com meu pai. Vou procurar me entender com ele, por causa de um problema que surgiu, e assim, tomo um rumo certo na vida, com boa esposa ao meu lado, uma que eu posso confiar. Amar de verdade, onde podemos ser felizes ao lado um do outro, construindo o nosso futuro juntos, compartilhando a cada dia nossas vidas, com filhos em busca da tal felicidade que todos os casais sonham encontrar.

Custódio cabisbaixo, pensativo — Felicidade há dois não existe! Não se iluda com isso, rapaz. Sempre irá encontrar espinhos no seu caminho. Sempre acontecem coisas ruis para atrapalhar a felicidade, principalmente entre duas pessoas que se amam. Na verdade, os fracos são incapazes de enfrentar as dificuldades que surgem. As tentações estão diante dos nossos olhos todo o momento e a carne se torna fraca. Bom, espero que você seja forte e faça minha irmã feliz de verdade. Desejo o melhor a ela.

Adalberto — Sua irmã será para mim uma esposa muito especial!

Custódio — Como assim?

Adalberto — Vamos continuar essa conversa amanhã à noite, na vossa casa, quando eu for lá conhecer melhor a sua irmã? Vou levar duas pessoas comigo. Uma, talvez seja meu pai, a outra, será para o senhor confirmar o que me contou a respeito da moça, está bem assim?

Custódio concorda. Adalberto pede licença e volta ao trabalho. Ele tira do bolso do casaco as joias de Raquel. E fala com ele mesmo. — Estela está certa! Não posso esquecer os ensinamentos que aprendi com o nosso pai. Não sou esse homem ruim que estou me transformando. — Com os olhos inquietos, coloca as joias no bolso e sai do barracão. Logo depois está com Roberto Lacerda.

Custódio — Porque odeia seu pai?

Roberto Lacerda — Você veio na minha casa para me perguntar isso, ou me punir por não aparecer na fábrica?

Custódio — Falei do seu pai com você, e não mais apareceu no trabalho.

Roberto Lacerda — Tenho inveja da sua sorte, sabia?

Custódio. — Obrigado pela sua honestidade, mas porque está me dizendo isso?

Roberto Lacerda — Você agora tem o triplo da sua fortuna.

Custódio — Não entendi!

Roberto Lacerda — Você ainda não soube o que aconteceu com os pais de Raquel? O navio que seguia em destino a Espanha naufragou. Não sobrou nenhum sobrevivente.

Custódio senta-se na diva, chocado. — Como soube primeiro que eu?

Roberto Lacerda — Você sabe, é um entra e sai na minha outra casa. — ri — Você não vai ficar com essa cara de velório na minha frente? De rico você passou a ser milionário.

Custódio, desapontado — Raquel nunca vai me perdoar, muito mais por isso agora.

Roberto, senta ao lado dele. — Onde tem sua culpa nisso? Por acaso mandou afundar o navio?

Custódio — Eu insisti para que os pais de Raquel voltassem para a Espanha. O pai dela não queria ir.

Roberto Lacerda — Leite derramado não faz mamadeira. Você vai ter que engolir esse sapo vivo. Eu sinto muito em lhe dizer, meu amigo, mas vai doer um bocado. — bate no peito de Custódio. — Aqui dentro, se Raquel resolver puni-lo pela morte dos pais. E depois, você não veio aqui para chorar pelo que não sabia.

Ele vai pegar bebida para os dois — Há, e deixe eu falar do senhor Afonso. Ele me deserdou. Não aprovou minha relação com a marta. Eu já era casado quando a conheci e meu pai, o homem certinho que é, foi contra eu ter duas mulheres.

Custódio — E para pirraçá-lo você montou a outra casa. Lembro ter me dito isso uma vez.

Roberto Lacerda — Sabe o que mais me doe por dentro? Ouvir meu pai dizer que preferia me ver enterrado solteiro, que aceitar a minha vida dupla. Foi por essas palavras dele que montei aquela casa com a Marta. Eu quis mostrar a ele que posso ter quantas mulheres eu quiser. Que ele não manda na minha vida. Posso fazer dela o que bem entender. Agora me diz o que veio fazer aqui? Não teria vindo me procurar se não fosse sério. — sorri, enquanto entrega a bebida para Custódio. — Ou, sentiu falta minha? — balança o dedo — Não volto! Se veio me pedir para voltar a trabalhar com você, perdeu o seu tempo. Não vou dar este gosto ao velho. Quero que ele morra, sabendo que não presto.

Custódio — Já coloquei outro para trabalhar no seu lugar. Imaginei que não voltaria, e incrível que pareça, ele está na mesma situação que a sua, de bronca com o pai. Gostei dele, tanto que vou apresentá-lo melhor para a minha irmã amanhã noite.

Roberto Lacerda — Pensei que esperaria eu ficar viúvo de todas as minhas mulheres para me casar com a sua irmã. — riram.

Custódio prossegue. — Ele é bom sujeito. Estou aqui por causa dele. Acredito que ele e Estela vão se dar bem. Os dois, fizeram eu refletir melhor a minha vida. Apesar de que eu jamais esperava acontecer com os pais de Raquel o que aconteceu. Não tenho ideia qual será a reação dela, quando souber que os pais estão mortos. — levanta, anda de um lado a outro, muito perturbado, e depois de um suspiro — Quero que você encontre uma moça, o nome dela é Margaret. Ela está grávida do namorado. O pai a colocou para fora de casa. Bom, você não precisa saber de tudo o que aconteceu. Apenas encontre-a para mim. Pode fazer isso?

Roberto Lacerda — Quanto tempo faz?

Custódio — Uma semana. Ela lembra uma moça da casa, a Rebeca.

Roberto Lacerda — Nas ruas da cidade não está. Já estaria lá na casa. — ri — Sou um homem bem caridoso, recebo todas as moças desamparadas na minha humilde residência. Dou casa, comida e sexo a vontade. — gargalha e prossegue: — Depende o que você me pagar, saiu agora atrás dela. Volto depois que encontrá-la.

Custódio tira um maço de dinheiro e lhe entrega.

Roberto confere. — Espere, aí? Isso aqui é o que me deve pelo meu trabalho na fábrica.

Custódio — Pensei que não fosse querer receber seu salário?

Roberto Lacerda — Eu ia procurar amanhã bem cedo. Tenho que comprar mais remédio para o meu menino. Meu caçula está doente.

Custódio pega outro maço de dinheiro e um bracelete de diamante e ouro. — Acredito que estará bem pago. Quero a joia de volta se não encontrar a moça. Estamos combinados?

Roberto examina a joia. — Quanto vale?

Custódio — O dobro do valor desta casa, com tudo que tem dentro e ainda sobra uma boa quantidade.

Roberto beija os dedos cruzados. — Juro, pelo paizinho do Céu. Que essa joia volta para as suas mãos, se eu não trouxer a moça. Vou encontrá-la, onde estiver, palavra de irmão. Você não me daria uma joia tão cara a troco de nada, simplesmente por encontrar alguém. Quem é ela de verdade? Não vai dizer que é o que estou pensando? Se for, nunca deixe o senhor Afonso saber. Ele vai se tornar seu inimigo número dois, porque o um, ele já vai ser quando descobrir que você me ajudou montar a casa.

Custódio — Seu pai não é tão mal assim.

Roberto Lacerda — Eu, que não sou o filho que ele sempre desejou. Mas, procuro ser um bom pai aos meus filhos. E você sabe que não brinco em serviço, então, já que vou fazer um serviço importante, quero que fique de olho no meu garotinho. O médico ficou de examinar ele novamente, caso a febre não ceder até o amanhecer, terá que ser internado.

Custódio — Eu soube que tem várias pessoas doente na cidade, por causa da epidemia que está se alastrando.

Roberto Lacerda — E se você prometer passar amanhã de manhã aqui sem falta e ver como meu garoto está, e levá-lo ao hospital, caso precisar, saio hoje mesmo de viagem. Assim, um ajuda o outro. Se o garoto ficar internado, não sei quando vou poder viajar. Catarina não pode ir a santa casa, o doutor achou melhor ela não se ariscar, devido a gravidez.

Custódio — Tudo bem. Passo aqui amanhã cedo. E a moça é um descarto de consciência. Não pretendo me tornar um homem mau. Vou tentar corrigir os meus erros, pelo menos com os que ainda posso consertar.

Roberto Lacerda — E o escravo que você mandou matar por chegar perto da sua mulher?

Custódio ri, balança a cabeça negando.

Roberto — Que bom eu saber que você ainda é um homem bom! Vou revirar o país inteiro se for preciso e encontrar a moça e trazê-la pra você. — aponta Custódio. — Só não esquece de cuidar bem do meu garoto. Quero encontrá-lo bom quando voltar para casa. Posso mesmo confiar em você?

Custódio — Prometo cuidar dele como se fosse meu filho. Assim, vou aprender cuidar do meu desde já.

Roberto — Ainda vai dar o meu nome ao seu se for um menino?

Custódio o encara, sem nada dizer e sai. Ele entra em uma pequena sala, onde funciona um escritório, no centro da cidade. O comerciante que o atendeu é o mesmo que havia levado Tião. — Infelizmente não posso atender o vosso pedido. O patrão pediu para mandar o escravo para bem longe daqui.

Custódio — Não importa para onde o mandou. Quero-o de volta. Pago em dobro os gastos e o valor que ele tem.

Homem — Desculpa em dizer, mas se o rapaz era um bom escravo, o patrão devia ter pensado bem antes de desfazer dele.

Custódio — Qual é o seu preço? Eu pago o que você quiser, mas quero o meu escravo de volta!

Homem — Não tem dinheiro no mundo que me faça lhe devolver ao senhor. O escravo está morto.

Custódio — Morto?! Que brincadeira é essa? Como assim morto?

Homem — Eu o mandei para o sul, com centenas deles. Um fazendeiro comprou, para desmatar uma fazenda muito grande para o plantio de cana. Antes que chegassem lá, os escravos escaparam. Fugiram mata adentro. Ouve muito tiro. Mataram alguns para amedrontar o bando, e o seu escravo foi um deles.

Custódio, na rua, caminha sem ânimo. Dentro de um estabelecimento, ao lado do balcão, depois de tomar uma dose dupla de cachaça, sussurra em voz baixa — Raquel nunca vai me perdoar. Ela nunca vai me perdoar.

Moreira, também apoiado no balcão, toma uma bebida e ao ouvir Custódio. — O que disse? Foi comigo que falou?

Custódio, ao olhar Moreira, vê Geraldo e Adalberto entrando, do outro lado, indo em direção uma mesa, na parte lateral do estabelecimento. — Como esse mundo é muito pequeno. Eu não acredito que o rapaz é filho daquele homem.

Moreira olha para trás e também observa Geraldo e Adalberto. — Conhece os dois?

Custódio — Sim! O homem é mentor no colégio. Já o vi algumas vezes. O rapaz começou trabalhar comigo faz alguns dias. Comentou comigo hoje que pretende tomar um rumo certo na vida. Andou tendo problemas com o pai, e falaria com ele hoje, sem falta. Ele ficou interessado na minha irmã. Tanto que estou decidido aceitá-lo como meu cunhado.

Moreira — Como assim, interessado na sua irmã? — aponta Geraldo e Adalberto sendo atendido pelo comerciante. — Quantos filhos têm aquele homem?

Custódio — Pelo que sei apenas um. E confesso que estou tão surpreso quanto ao senhor.

Moreira — Você disse que o rapaz está trabalhando com você faz poucos dias? E está querendo dar um novo rumo na vida, e resolveria hoje uns problemas que teve com o pai? E que ele ficou interessado na sua irmã?

Custódio — Sim, e que poderá aceitar a proposta do pai, de ir estudar para doutor na Europa. Eu, agora sabendo de quem ele é filho, por mim, pode se casar com a minha irmã amanhã mesmo se ele quiser.

Moreira toma a bebida que está no copo, de uma só vez. Tira do cinturão um punhal, e fala com Custódio — Arrume outro para se casar com a sua irmã, esse terá que me dar satisfação do paradeiro da minha filha. — e sai em direção Adalberto. Pega-o pelo colarinho da camisa, para que fique de pé. — Onde está minha filha?

Adalberto muito assustado — Quem é o senhor?

Geraldo fica de pé, falando com Moreira — Calma, eu e meu filho vamos encontrá-la. Eu prometo! Vamos procurá-la!

Moreira, ao ver Custódio se aproximar, pergunta para Adalberto. — É verdade o que este homem acabou de me dizer? Que você quer dar um novo rumo na sua vida, e que ficou interessado na irmã dele? E que hoje resolveria com o seu pai, se vai para a Europa ou não estudar para ser um doutor?

Adalberto — Calma, vamos conversar direto eu não sou…

Moreira grita, tocando o corpo dele com a ponta do punhal. — Responda a minha pergunta, sim ou não!

Geraldo — Espere ele não….

Adalberto — Sim! — E sente o punhal atravessar o corpo na altura do estomago.

Moreira para Geraldo — Seu filho não é tão moleque como pensei, para desonrar uma moça de família e não assumi-la depois. Eu o avisei que ele seria morto se deixasse a minha filha sozinha.

Geraldo em pânico — Ele não é o meu filho!

Moreira se afasta para trás, arrancando de volta o punhal do corpo de Adalberto. Olha Custódio. — O senhor me disse que eram pai e filho.

Custódio — Eu me enganei! O senhor é pai dá… — E se cala, sem dizer o nome de Margaret.

Adalberto vomita sangue.

Um homem grita: — O rapaz está morrendo, ele precisa de socorro.

Moreira — Meu Deus, o que fiz? — e segura Adalberto que caia de joelhos — Me perdoe? Eu confundi você com outro.

Custódio, rapidamente se afasta. Ao entrar em casa, encontra Raquel trocando curativos da mão de Estela. Custódio, ainda perturbado por todos os acontecimentos, fala secamente com a irmã, enquanto despeja água na caneca, da moringa encima da mesa. — Pensou em se matar por que não fez o serviço bem feito. O pescoço é mais em cima. Na mão só vai sentir dor por um bom tempo.

Estela — Como pode ser tão insensível. Cortei minha mão sem querer.

Custódio — O que deseja que eu lhe diga, depois de saber de três mortes e presenciar um assassinato?

Estela e Raquel entreolham surpresas. Estela pergunta com mais sensibilidade. — Quem são as pessoas?

Custódio engole a água que desce grossa na garganta. — O rapaz que segurou você, quando foi lá na fábrica brigar comigo, acabou de ser assassinado no estabelecimento do outro lado da rua.

Estela em voz rouca — Não, isso não é verdade!

Custódio coloca a caneca na mesa — O corpo dele deve estar estendido no chão ainda. Não tenho motivos para mentir. Vá lá conferir se quiser.

Estela sai correndo, saindo pela porta. Custódio encara Raquel. Rapidamente ela também se afasta. Com os olhos inquietos ele se sente agoniado. Pega uma garrafa de cachaça e toma no gargalho.

No outro dia. No escritório da fábrica de charutos, Custódio fala com o feitor. — Amanhã você me arruma outro para trabalhar no lugar do rapaz que morre, a vida continua. Agora pode ir.

Feitor — Sim, senhor! — Dá passos e volta. — Há, patrão, outra coisa, eu estava esquecendo. Logo pela manhã o filho do Roberto, o garoto de dez anos, esteve aqui e falou que o irmãozinho piorou.

Custódio entra em pânico — Meu Deus, eu esqueci do garoto. — e se apressa. Na cocheira, monta no cavalo e segue em galopes pelas ruas. Não demora parar de frente à casa de Roberto. Bate, várias vezes, na porta e ninguém atende.

Ele monta novamente no cavalo e volta disparar o cavalo. Entra no hospital.

Um médico o atende: — Trouxeram a criança tarde demais. Infelizmente não resistiu. O corpo foi liberado faz poucas horas. O avô veio buscar.

Custódio senta numa cadeira e lamenta: — O que está acontecendo, meu Deus? A morte resolveu me perseguir.

E na rua, caminha vagarosamente, puxando o cavalo pela rédea. Logo depois, se aproxima do pequeno caixão lacrado. Poucas pessoas rezam distante. Custódio pousa a mão aberta em cima do pequeno esquife. Todos ficam em silêncio, olhando o gesto dele, que chora, sem conter a tristeza que sente.

Custódio vira-se para trás, com alguém lhe colocando a mão no ombro. Afonso, com oitenta anos, o olha com admiração, e olhos também cheios d’água.

Afonso — Obrigado, por vir.

Custódio não consegui encará-lo. — Eu não devia ter mandado Roberto… — E se cala, sem conseguir prosseguir a conversa.

Afonso — Não se sinta culpado! Minha nora me contou, que Roberto foi fazer um serviço importante que você pediu a ele, que estava cuidando do meu neto quando você chegou. Quando Roberto voltar para casa, vou perdoá-lo. Em nome do meu neto que Deus está levando de volta para junto dele. Porque se meu filho não estivesse trabalhando honestamente. Se estivesse na farra, enquanto o filho estava morrendo, eu não sei o que seria capaz de fazer com ele. Então, devo agradecer a Deus, por colocar você no caminho do meu filho. Roberto tem muito o que aprender com você como amigo, do que a mim como pai. Eu nunca consegui entender o meu filho, mas eu juro por Deus que vou entender a partir de agora. Quando Roberto entrar por essa porta, eu vou recebê-lo de braços abertos, porque é aqui, dentro da minha casa que ele vai vir buscar a esposa e os outros filhos, quando voltar.

Dentro da catedral, Custódio se aproxima de Marta, e pergunta em voz baixa. — Por que marcou um encontro aqui, pedindo que eu viesse falar com você, sem falta?

Marta, olhando ao redor — Sua irmã pensa que é muito esperta, mas é tola demais!

Custódio — Minha irmã! O que Estela tem a ver com isso?

Marta — Não sei! Ela me mandou um aviso, dizendo que você queria falar comigo.

Custódio — Com tanta coisa que tenho pra fazer, minha irmã resolve brincar comigo.

Rapidamente ele sai da igreja. Entrando em casa, encontra Estela chegando na sala.

Custódio — Que brincadeira foi essa que você armou comigo? Pode me explicar?

Estela empalidecida nada responde.

Custódio — Estou esperando uma explicação, Estela! Ou, você agora deu de também brincar com os meus sentimentos?

Estela entra em desespero ¬— Ah, meu Deus como eu sou idiota! Como eu posso ser tão burra? Aquela maldita me enganou, ela roubou as minhas joias!

Custódio segura-a, pelo braço, quando ameaça passar por ele, em direção a porta. — Onde está Raquel?

Estela — Eu não sei! Eu sai, quando voltei não a encontrei aqui. E aquela mulher me enganou. Ela levou minhas joias, em troca de lhe dizer que o filho da sua amante não é seu, é do seu amigo Roberto.

Custodio — Para onde Raquel foi?

Estela — Não é de Raquel que estou falando. É do filho daquela mulher que não é seu.

Custódio indo em direção a porta. — Estou indo atrás de Raquel. Ela não devia ter saído de dentro desta casa.

Estela lamente — Há, meu Deus, Raquel está certa! Você quer humilhar ela, tanto que nem se importou em saber que o filho da outra não é seu. Tomará que Raquel tenha mesmo ido embora da sua vida, que nunca mais volte. Você não me merece o amor dela, que devia ter feito a mesma coisa que a outra vez, indo para a cama também com o seu amigo Roberto, quando ele veio aqui, oferecer o ombro amigo para ela chorar. E eu vi, com os meus próprios olhos, que o filho daquela mulher, tem debaixo do pé, a mesma marca de nascença que tem o outro filho do Roberto.

Custódio, segurando-a, fortemente pela garganta — Cala a boca! Eu não quero mais ouvir uma palavra saindo da sua boca. Eu não quero nunca mais ouvir a sua voz.

Estela, sufocada, tenta tirar as mãos dele, ainda presa em sua garganta. Custódio aperta com mais força. — Eu Mato Raquel! Eu mato o Roberto se chegar perto dela novamente. Eu mato você se não calar a sua boca, então não fale a respeito do meu filho com Adalgisa. E se você abrir a sua boca pra falar de novo que ele não é meu filho, eu mato você!

Estela fecha os olhos, sem mais conseguir respirar. Custódio solta-a, e se vira para trás, ainda fala com ódio, e olhos fechados. — Vá embora desta casa. Vá viver longe daqui. Eu não quero machucá-la com as minhas próprias mãos, então, não me prove mais. Esqueça que é minha irmã e desapareça da minha vida pra sempre. — Vira-se, e ameaça apontá-la, mas se afasta assustado, vendo-a caída ao chão. Cai de joelhos e toca nela com as pontas dos dedos. Em pânico chama: — Estela? — sem ver reação. — Meu Deus, o que fiz!

Rapidamente se coloca de pé, indo em direção a porta, volta olhar o corpo inerte. Passa as mãos pelos cabelos, nervosamente, pega-a nos braços leva-a para o quarto, colocando-a na cama, e depois sai, seguindo as ruas, muito perturbado.

Ao chegar no escritório da fábrica, se surpreende com a presença de Raquel, esperando.

Raquel, alegre, se aproxima dele, mostrando o rostinho do bebê. — Você sabe de quem é este bebê? O filho que poderia ser nosso! Meu e seu. É o filho que perdemos naquele dia, pela minha estupidez, de muitas vezes não aceitar a mãe dele fazendo parte da sua vida. Mas, por ele, por esse seu filho, eu aceito ser mãe dele também.

Custódio, atônito, balança a cabeça negando.

Adalgisa chega, aflita. Fica aliviada ao ver Raquel com Custódio, e arranca o bebê dos braços de Raquel.

Adalgisa — Sua mulher é uma louca! Uma maluca, que roubou o nosso filho sem eu perceber. Vim direto para cá, para dizer a você o que tinha acontecido. Não imaginei que ela estivesse aqui com o menino.

Custódio — Entregue-o de volta a Raquel? Eu que pedi a ela que buscasse o menino. Achei que Raquel não teria coragem de fazer isso, mas ela teve. Raquel pegou o menino dentro de casa sem você perceber. Isso significa que você não serve para ser mãe de um filho meu.

Adalgisa entra em desespero: – Eu o deixe sozinho por alguns minutos. Não imaginei que a louca da sua mulher fosse entrar lá e pegar o menino. Mas, eu juro que isso nunca mais irá acontecer.

Custódio – Não vai mesmo! Raquel provou que pode ser uma mãe melhor que você. A partir de agora, Raquel vai cuidar do menino. Ou será que existe é proibido um filho morar com o pai? Porque ele é meu filho. Ou não é?

Adalgisa fixa Raquel, antes de confirmar: – Sim! Claro que ele é seu filho.

Custódio pega o menino e entrega-o a Raquel. – Leve-o para casa. Cuide dele como se fosse nosso filho. Meu e seu. Vou providenciar uma ama de leite, e levarei em seguida para que possa alimentá-lo. Daqui a pouco estarei em casa.

Raquel observa Adalgisa chorar, e depois sai, levando o bebê.

Adalgisa — Você não pode fazer isso comigo! Não pode tirar o meu filho de mim. Eu tenho sentimentos de amor por ele.

Custódio, saindo – Fique chorando aí o tempo que quiser. Estou indo comprar uma ama de leite para o menino. Quando eu voltar, não quero encontrá-la aqui.

E, do lado de fora ele para, com semblante tristeza no olhar lamenta: — Estou pagando caro por este filho. Muito mais caro que a minha própria vida. Vamos todos pagar pelos mesmos pecados e Deus que dará a sentença que cada um de nós merecer.

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