Últimos Capítulos.

Trovões e relâmpagos tomam lugares no espaço e a chuva forte não demora desabar. Pessoas, na rua, invadem o restaurante de Raquel. Na cozinha, ela atende ao telefone. — Tudo bem, Mafalda, pode ficar tranquila, as crianças já devem estar dormindo.

Garçom chega falando com ela. — Dona Raquel, o salão está cheio.

Raquel se apressa — Mafalda, preciso desligar. Quando o temporal passar… — desliga o aparelho — A ligação caiu. — Ao observar o salão, na cozinha ela fala com o pessoal: — Meu Senhor, a chuva fez milagres, é a primeira vez que o restaurante fica lotado assim. Graças a Deus o Tião fez um bom estoque na última compra, até parece que estava adivinhando.

Ajudante na pia — Que ia passar mal, só foi ele chegar do mercadão.

Raquel — Não me lembra disso. Graças a Deus ele foi socorrido à tempo e está fora de perigo. E essa noite vamos trabalhar dobrado, só espero a energia não acabar. Estou precisando de um extra e comprar um telefone lá pra casa, assim, posso ter notícias toda hora das crianças. Minha mãe está sozinha com os dois e o Roberto morre de medo de temporal.

Marcia, outra ajudante — Meu filho de dez anos também.

Outro garçom chega trazendo novos pedidos. — Vou admitir, essa noite o Tião vai me fazer falta. E não estou desprezando o serviço de vocês, mas ele sabe manejar essa cozinha melhor que eu. Ele é um anjo que apareceu na minha vida.

A luz pisca com um raio riscando o Céu.

Custodio que ainda dorme, acorda assustado com o barulho do trovão. Percebe que ainda é noite. Ele acende a luz e olha as horas, são duas da manhã. Ele balança a cabeça, com sintomas da ressaca e na cozinha pega um copo de água e vê água da chuva escorrer pelo chão. Faz sinal negativos com a cabeça e volta para a cama.

Raquel, vê a última pessoa deixar o restaurante. Ela suspira aliviada, e começa fechar o caixa. — Creio que já podemos ir pra casa também. Foi cansativo, mas valeu. — Leva a mão no estomago. — A correria foi tanta que não deu tempo de comer. — e se refere a moça, lavando os copos na pia — Marcia, sobrou algo para comer?

Marcia — Não sobrou nada pronto, dona Raquel.

Ajudante de cozinha — E nem no estoque. Se a chuva não parasse e as pessoas quisessem continuar comendo, não teria mais nada a ser servido.

Marcia, desapontada, destampa um prato feito, olhando o alimento, sem ninguém perceber.

Raquel — Isso quer dizer que preciso estar as sete da manhã no mercado, para fazer compras para o almoço? Não, Raquel, não se deixe levar pelo cansaço, você tem dois filhos pequenos em casa. Então, vamos só agradecer. E, espero Giza não dar trabalho essa noite também, ela agora deu de acordar de madrugada chorando. Antes era o Roberto, agora é ela, e do jeito que estou em cacos, espero que tenha sobrado alguma coisa do jantar em casa, depois de preparar tanta comida. O vazio que estou sentindo no estomago, acredito que não lembrei nem mesmo de almoçar.

A moça volta destampar o prato, suspira desiludida. Raquel, fala com ela, um pouco distante. — Marcia, já terminou de lavar as panelas, vamos embora. E se alguém precisar eu levo pra casa.

Marcia pega o prato pronto, se aproxima de Raquel e lhe entende: — Tem o meu jantar, dona Raquel, eu também não comi, deixei separado pra levar pros meus meninos, e como demoramos hoje, eles já devem estar dormindo faz tempo.

Raquel — Você está levando o seu jantar pra casa todos os dias?

Marcia — Desculpe, dona Raquel se faço errado, eu fiquei sem nada em casa, e ainda falta mais de dez dia pra mim receber o salário.

Raquel suspira — Vou comer. Sempre penso melhor de barriga cheia. — Pega outro prato e divide o alimento. — Vamos comer, nós duas.

Marcia — Prefiro não, sabendo que meus filhos dormiram de barriga vazia.

Raquel – Saco vazio não fica em pé. Você tem que estar bem alimentada para aguentar os tombos que a vida oferece. Agora come, e se depender de mim, seus filhos nunca mais vai dormir de barriga vazia. Eu sei o quanto isso é horrível. Falo isso de experiência própria. Agora come. Depois vamos ver o que tem no estoque e anotar o que comprar amanhã bem cedo.

As duas comem. Logo depois no depósito.

Macia — Fiquei sabendo que a senhora ficou viúva faz quatro anos também. Nunca pensou em se casar de novo?

Raquel prende e depois solta o ar, pensativa, os olhos ficam inquietos e decide confessar. — Eu nunca fui casada. Sou mãe solteira de duas crianças lindas que amo de paixão. Eles são a minha fortaleza.

Marcia, surpresa — E o pai das crianças?

Raquel — Se depender de mim, ele nunca vai saber que é pai. Acho que ele não faz a mínima ideia.

Marcia — Quando as crianças crescerem e perguntar por ele? Um dia isso vai acontecer, já pensou nisso?

Raquel — Já! Muitas vezes, principalmente quando as crianças ainda estavam dentro de mim. Ai o Roberto apareceu e me convenceu de que poderíamos dar certo, que jamais iria sair do meu pé, acabei aceitando o pedido dele, para que meus filhos pudessem ter um pai perto deles, e, infelizmente o Roberto nem chegou conhecê-los. Ele faleceu um mês antes das crianças nascerem. Ele veio pra São Paulo buscar os pais para irem no nosso casamento e foi morto, por um raio, andando debaixo de uma tempestade, talvez igual à que desabou nesta noite. Eu me lembrava disso hoje, cada raio que caia. Que um raio me fez viúva antes mesmo de se casar.

Marcia — E quanto ao pai dos seus filhos? Porque não se casaram?

Raquel — Uma história meio complicada que prefiro não dizer. Sabe aquela sensação deque você sabe que vai sofrer por amor, se insistir. É assim que me sinto, todas as vezes, que penso na minha relação com o pai dos meus filhos. Não sei porque, mas sinto arrepios pelo corpo quando penso nele. Então, procuro não pensar. Resolvi deixar por conta do destino. O futuro a Deus pertence. O que os meus bebês tiverem que passar, eles vão passar sem, ou com o pai, e quando ele souber da existência das crianças e me procurar, quem sabe, nossas histórias mudam de rumo. Ele também está vivendo sozinho e, bom, concluindo: se ele me quisesse já teria me procurado. A família dele, pai, mãe, irmãos, sabem onde estou, e que as crianças existem, e decidiram não dizer a verdade a ele.

Marcia pensa — E assim, ele jamais poderá dizer que a verdade foi escondida, e ficar aborrecido com a senhora terá que ficar aborrecido com a família dele também.

Raquel se surpreende — Eu não tinha parado para pensar nisso! Meu Deus, mulher, você tirou um peso da minhas costas. Eu vivo me perguntando qual será a atitude dele quando souber da verdade? Não irei mesmo levar a culpa sozinha! — Sorri — A família dele vai levar comigo, gostei de saber disso!

Pegando a Bolsa, separa um pacote de dinheiro, confere o valor e estende uma parte a mulher.

Raquel — Isso aqui é metade do seu salário. A partir de hoje, começo fazer pagamento quinzenal, mesmo assim, caso você precisar, faço um vale no meio da semana. Não deixe faltar alimentos para os seus pequenos, porque eu jamais quero que isso aconteça com os meus.

Marcia conferindo o dinheiro — Isso aqui é mais do que foi combinado do valor do meu salário.

Raquel ¬— Estou pagando um extra por ficarmos trabalhando até tarde.

Marcia — Obrigada, dona Raquel. E amanhã eu vou trabalhar com mais alegria, sabendo que venho para o trabalho e meus meninos vão ficar com o que comer em casa. Eles ficam esperando eu chegar, porque era a única refeição do dia.

Raquel — Se não me engano você me disse ter quatro meninos.

Marcia — Sim! 10, 8, 6 e 4 anos. Eu também estava grávida do meu último menino quando meu esposo morreu. — Ri — Desculpa a senhora não era casada.

Raquel — Com quem eles ficam em casa?

Marcia — Ficavam com a minha irmã, mas ela foi morar em outra cidade, e agora ficam sozinhos.

Raquel — Amanhã você faz uma marmita e leva a eles, sem deixar de fazer a sua refeição. Vai que o restaurante enche de novo e ficamos até tarde.

Marcia — E não sobre nada novamente! Mas vou deixar a minha parte separada, caso, precisar dividir com a senhora novamente.

Raquel — Nada disso! Amanhã faço um estoque dobrado, sem falta. Agora vamos embora, eu deixo você na sua casa. Há, e não esqueça de me lembrar de fazer o pagamento dos outros amanhã. Vou deixar você encarregada disso, a partir de agora.

Marcia feliz — No dia em que sai da casa da minha antiga patroa e passei aqui na frente, e vi o anuncio precisando de ajudante de cozinha, imaginei, minha vida melhorar. Deus ouviu as minhas preses. Como doméstica eu não recebia metade que a senhora me pagou hoje. E se a senhora quiser, vou no mercado junto, fazer compra pro restaurante. Melhor, se a senhora confiar em mim, e já que fizemos a lista de compras, eu vou no mercado, compro e trago para o restaurante, depois volto pra casa e descanso um pouco mais até o meu horário, e a senhora vem mais tarde, assim descansa melhor.

Raquel pensa, tira a lista da bolsa e dois pacotes de dinheiro. — Negócio fechado. Sei que você precisa muito desse emprego e não vai me dar o cano.

Marcia — Deus me livre, onde vou arrumar uma patroa igual a senhora? Só se for na lua. Esse dinheiro não muda a minha vida e dos meus filhos. Agora um emprego garantido sim!

Raquel – Vamos embora.

Na rua elas entram no carro. Raquel sai dirigindo. Não demora, Raquel chega em casa, a mãe e Mafalda aguardam. Ela estranha. — Por que estão me esperando acordadas?

Mafalda — Cheguei praticamente agora também, dona Raquel, fiquei esperando a chuva passar bem antes de vir. Prefiro evitar pegar um constipado. — coloca a mão na barriga — Por causa do meu bebê.

Raquel — Você já falou pro Tião que ele vai ser pai?

Laura assustada — Raquel, cadê o Roberto? Ele não está com você?

Raquel — Que loucura é essa que está falando?

Laura — Pensei que você já tinha vindo em casa, e por alguma razão saiu levando o Roberto junto, já que eu havia dormido com a Giza.

Dudu acorda com batidas insistentes na porta. Ele fica surpreso. — Raquel?

Raquel em desespero — Meu filho Roberto, por acaso ele apareceu por aqui?

Dudu — Não! O que aconteceu?

Raquel — Fiquei no restaurante, praticamente até agora. Encheu de gente, por causa do temporal, e foram embora quando a chuva passou. Minha mãe deixou o Roberto sozinho na sala, brincando e foi deitar com a Giza, acabou dormindo, acordou com o barulho da chuva, e não encontrou o Roberto em casa. Ela não teve como sair de casa, pra pedir ajuda, por causa da Giza, que acordou aos gritos, assustada com os trovões, e o Roberto, de manhã, antes de eu sair de casa, ele me perguntou se podia brincar com o primo dele, então eu vim direto pra cá. — e chora em desespero — Meu Deus, onde está meu filho? Ele está perdido por algum lugar. Eu não tenho ideia onde procurá-lo agora.

Dudu — Calma, Raquel? Calma! Vamos encontrar ele. — e fala com Francine chegando — Pega água pra ela. O dia está amanhecendo, vou ligar pro meu pai, assim ele ajuda procurar.

Raquel — Preciso ir, não posso ficar parada aqui, eu preciso encontrar o meu filho. Ele deve ter ficado debaixo do temporal a noite inteira. E que Deus permita não ter acontecido com ele o mesmo que aconteceu com o Beto.

Dudu — Espere e mantem a calma. Você não está em condições de sair dirigindo assim, deixa meu pai chegar, ele vai com você na delegacia, eu vou direto no hospital. Alguém, talvez encontrou ele na rua.

Raquel — No hospital não adianta ir, a Mafalda foi visitar o Tião, acabou ficando presa lá, por causa do temporal, chegou em casa, pouco antes de mim.

Afonso, naquele momento, no banheiro se olha no espelho. Leva a mão no peito, sentindo dores. O som do telefone lhe chama a atenção. Ele vai atender, enquanto continua esfregando o tórax. — Pronto!

Noemi chega na sala.

Afonso senta ao divã, respira com dificuldade. — Tá, filho, eu já estou indo. — desliga o aparelho.

Noemi — O que aconteceu?

Afonso solta novos gemidos, esfregando o peito.

Noemi fica apavorada — Afonso, você está me assustado? O que aconteceu que o deixou assim?

Afonso — Roberto! Nosso neto Roberto desapareceu. Eu preciso ajudar procurar ele. — E ao tentar se levantar, a dor no peito é maior e cai, sem conseguir se manter de pé.

Noemi chama e sem resposta corre no telefone e faz a ligação. Dudu atende. Logo depois, Afonso, ainda desacordado, é colocado na ambulância.

Casa de Custódio. Ba, na sala, surpresa, fala com Custódio, vendo-o em casa. — O doutor dormiu em casa? — sem esperar resposta, brinca — Por isso que deu uma tempestade. Meu Deus, quanto tempo faz que não dorme na sua cama. Se eu soubesse que estava aqui, teria vindo mais cedo. Vou preparar um desjejum bem rápido.

Custódio — Já estou de saída. E assim que jardineiro chegar, pede a ele que avise o marceneiro que a porta que ele trocou, ficou muito alta e entrou água da chuva por baixo.

Ba franzi o cenho — Tem certeza, doutor? E a porta está com defeito na fechadura, ele já foi avisado pra vir arrumar. Tanto que também estou entrando e saindo pela porta da frente, não consigo abrir por fora. O piso está normal, eu já estive na cozinha, se tivesse entrado água o piso estaria molhado.

Custódio — Ba, levantei as 3 da manhã, fui na cozinha beber água, e o chão estava emundado.

¬Ba — Bom, o doutor me mostra por onde entrou a água. Eu acho que foi um sonho que teve.

Custódio se afasta rapidamente e na cozinha olha o piso totalmente seco. Olha abaixo da porta rente ao chão. No sonho, havia uma abertura maior. Ele gira a chave, no momento em que o telefone toca. Ba ameaça ir atender, retorna com ele pedindo.

Custódio — O que é isso? Ba deixa o telefone, me ajuda aqui. — Ele tira o casaco, já enrolando o garoto, levando-o para o quarto. Pede cobertores. Ba se apressa, o telefone toca, outra vez, e logo se cala.

No hospital, doutor Pedro na companhia de Adalberto, procuram salvar Afonso.

Desacordando, em delírios, murmura: — Meu filho? Onde está meu filho?

Doutor Pedro — Manda alguém ir atrás do doutor Custódio. Creio que seja ele que o pai está querendo.

Adalberto sai da sala da emergência. Encontra Dudu no corredor. — Meu pai, como está? Eu não consegui ficar esperando na portaria.

Adalberto — Conseguiu falar com o seu irmão?

Dudu — Ele não deve estar em casa. Ninguém atende o telefone.

Noemi — Estranho, porque eu sei que a Ba está lá todos os dias de manhã.

Dudu — Estou indo atrás dele.

Raquel em casa chora — Onde está meu filho, mãe? Eu não sei mais onde procurar. Rodei com o carro, por todas as ruas aqui do bairro.

Custódio também entra em desespero. — Vamos, garoto, reage.

No hospital. Afonso vê Roberto entrar por um túnel escuro. Ele chama — Filho, volte, onde está indo?

Roberto continua caminhando.

Afonso fica bravo. Os dois estão numa rua. — Não vire as costas pra mim, eu sou seu pai, estou falando com você. O caminho que está seguindo vai levá-lo direto para o inferno.

Roberto retorna — E o que o senhor fez está correto? Não esperou esfriar o lado que era da minha mãe na sua cama e já colocou outra no lugar.

Afonso — É bem diferente o meu caso com o seu.

Roberto — Onde está a diferença? Pelo menos não desejo a morte de uma para ficar com a outra?

Afonso lhe dá uma bofetada — Nunca mais fale assim comigo. Eu não desejei a morte da sua mãe. Deus é testemunha disso. Quanto a você, eu preferia enterra-lo solteiro, que ver vivendo com duas mulheres.

Roberto — O senhor vai se arrepender do que fez e de suas palavras, eu juro por Deus que vai. A partir de hoje, vou viver com quantas mulheres eu quiser. Duas será pouco, vou dormir, cada noite com uma, por que eu que mando na minha vida, e faço dela o que bem entender.

Afonso – Roberto, volte aqui?

Roberto volta — E tem mais, eu nunca vou aceitar aquela mulher no lugar que era da minha mãe. Nunca! Nem mesmo quando eu estiver no inferno, e o senhor, se abusar, vai estar lá comigo e a sua amante também, se o senhor não me provar que estavam de olho um no outro, antes da minha mãe morrer, porque não faz 3 meses que ela foi enterrada e o senhor vem dar uma de moralista.

Afonso – Rapaz você não…

Joana entra na frente. Era Noemi. Ela é branca e de cabelos avermelhados. — Deixe ele pensar o que quiser, não brigue com ele por minha causa. Eu vou aceitá-lo como se fosse um filho meu, mesmo que ele não aceite.

Roberto Lacerda, com desprezo, mira Joana — Escreva o que vou lhe dizer, eu jamais vou aceitar a senhora como minha mãe. Nem mesmo se eu morrer e nascer novamente como filho dos dois. — e sai.

Afonso ameaça ir atrás.

Joana o impede. — Deixe-o ir. Deixe ele escolher o próprio destino. Se você defrontá-lo será pior. Um dia ele vai voltar, sem magoas no coração, e eu estarei aqui do seu lado, para recebê-lo.

Afonso — Eu não desejei a morte da minha mulher. Eu não conhecia você quando ela morreu.

Joana — Um dia, quem sabe, do outro lado, seu filho conheça a verdade, e vai saber que nós dois, nos conhecemos um mês depois da morte de Noemi.

Roberto, dentro do túnel. Não consegue evitar as lágrimas. E leva a mão em direção a imagem de Joana, com a mesma característica de Noemi, apenas diferentes na cor.

Noemi mulher negra e com semblante tristeza, através da vidraça observa Afonso, ainda sendo medicado pelos médicos.

As filhas Tainá e Ranai chegam.
Taina — Onde está Custódio? Por que meu irmão não está aqui cuidando do pai?

Noemi — Alguma coisa de errado aconteceu. Seu irmão vive dentro deste hospital e justamente hoje que seu pai precisa dele, ninguém sabe onde está?

Roberto dentro do Túnel escuro vê outra tela se abrir. Ele vê Custódio e Ba colocar o corpo do garoto, ainda desacordado dentro da banheira, com água bem quente. Roberto ameaça caminhar, volta a atenção na tela, ouvindo Custódio pedir ao garoto. ¬— Vamos, garoto, volte. Não faça isso comigo.

Roberto se vê garoto, correndo por uma rua, gritando “pai”. Tinha o rosto banhado de lágrimas.

Custódio desce do cavalo, pega-o pelos braços. — Não adianta correr atrás de mim, garoto. Eu não vou levá-lo comigo. Então, volte e fica com a sua mãe.

Garoto chora — Ela não é minha mãe.

Custódio — Ela quem o colocou no mundo. E você vai ficar com ela a partir de agora. No dia em que eu tiver certeza que é meu filho, como ela jura que é, eu volto para ser o seu pai novamente. — Monta no cavalo — Agora volte para casa da sua mãe, onde eu o deixei. — Toca o animal e sai em disparada.

Em prantos, o menino observa Custódio desaparecer entre a poeira da estrada. Volta correndo o caminho e para de frente Adalgisa, e, em lágrimas, pergunta: — Meu pai vai voltar? Ele vai voltar pra mim?

Adalgisa — Não! Custódio nunca vai voltar. Ele não é seu pai.

Garoto corre pela rua.

Adalgisa corre atrás. — Volte aqui, garoto, aonde você vai?

Garoto — Eu odeio você. Eu odeio o meu pai. Você não é minha mãe. – E corre novamente. Logo bate na porta de uma casa.

Marta o atende — O que está fazendo aqui, garoto?

Menino, ainda em prantos — Meu pai foi embora. Nunca mais vai volta.

Marta — Como você veio parar aqui?

Ba, naquele momento, enquanto coloca água quente na banheira, pergunta: — Como esse garoto veio parar aqui na porta?

Custódio segurando o pulso do menino — Vamos perdê-lo. O batimento cardíaco dele está acabando.

Roberto Lacerda, dentro do túnel, se vê em outra tela que se abre. Como Zequinha, em meio ao círculo de madeira, encara com firmeza Robson, segurando uma tocha acesa. — Se estiver mesmo preparado para morrer comigo, diga que me perdoa. Fale bem alto, eu preciso ouvir. Você me perdoa?

Zequinha olha o chão, e a voz sai rouca: — Perdoo.

Robson — Não ouvi. Fale mais alto.

Zequinha chora — Eu o perdoo.

Robson se irrita: — Se vai morrer comigo, levante a cabeça. Olhe nos meus olhos e fale bem alto que me perdoa. Ainda não ouvi direito.

Zequinha — Eu te perdoo, pai. Eu te perdoo, por ser meu pai.

Robson se alegra. — Agora eu ouvi. ─ Abre os braços. — Agora me abraça. Eu quero um abraço seu.

Sorrindo, o menino imita seu gesto. Robson o aperta com afeto, olhos encharcados: — Perdoe-me, filho, por eu nunca tê-lo aceitado por ser diferente de mim.

Zequinha — Somos iguais por dentro, pai. O meu sangue é o seu.

Robson — Sim. Somos iguais. O mesmo sangue que corre em mim, faz bater o seu coração. Agora vamos morrer em paz. Sem mágoas um do outro. Este fogo irá nos tornar iguais por dentro e por fora. Vamos juntos para onde nossa alma for levada. Este fogo irá nos unir para sempre. Através dele vamos nos tornar um só, sem diferenças! — Solta o pedaço de madeira, aceso, sobre a querosene, e o aperta ente seus braços.— Meu filho! Perdoe-me. — E solta a tocha, e o fogo se alastra na madeira.

Dudu chega na casa de Custódio. Fica surpreso vendo o sobrinho aos cuidados de Custódio.

Beto ainda no túnel, parado, observa a pequena luz que brilha no final do corredor. Entre a claridade, surge Estela. Ela lhe estende a mão. Ambos sorri um para o outro e o menino mexe a mão, no momento, em que Roberto segura a de Estela.

Custódio se alegra — Ele está voltando. Agora posso levá-lo para o hospital.

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