À gueixa se preparava em seu camarim para dançar. Passava os últimos passos de sua dança, para não poder passar vergonha na frente de grandes empresários e políticos do país.

Depois de repassar os passos de dança, sentou-se de frente ao espelho e retocou sua maquiagem. Deixando-a, além de encantadora, também, misteriosa e sedutora.

Sua roupa era de tecidos finos, exportados da Ásia, sua maquiagem pesada, era feita pela marca mais cara de cosmético do país e seus sapatos eram de prata, com tamancos para aumentar seu tamanho.

Já os seus cabelos, eram negros e lisos. Sedosos.

Ajeitou sua peruca com aparatos do penteado nela, para não cair quando ela executar os passos lentos, mas ao mesmo tempo, veloz de uma gueixa. Passos leves, mas ao mesmo, pesados. Passos curtos e longos. Passos pensados e executados.

Se olhou no espelho, encarando aquela mulher maquiada, representando uma das figuras mais tradicionais da cultura nipônica, algo que o povo ia-se esquecendo ao longo dos anos. Encarou-se, pela primeira vez, sentindo seu coração disparar ao ver o homem que tanto amava, porém, não podia ser dele.

Ele entrou no camarim, mas estancou ao vê-la sentada, já se preparando para apresentar. Olhou no espelho e logo reconheceu que era à moça que havia se apaixonado.

Os olhos daquele homem que cuidava da segurança, brilhavam ao ver aquela gueixa sorrir para ele.

Mas, porém, ele não pôde namorá-la, pois ele não tinha como sustentar-se e era somente um homem que não tinha estudos, e só podia trabalhar como segurança em uma casa de gueixas.

― Jung? ― seu sorrisso desfez-se ao lembrar-se que seus pais a proibira de casar-se com um homem pobre.

― Desculpe entrar sem bater, senhorita Jin. ― desculpou-se, baixando sua cabeça em respeito à gueixa. ― É que à senhora Hirosama está lhe chamando para se apresentar aos empresários que viera a negócios para o nosso país. ― explicou-lhe, não buscando ver à face daquela mulher que tanto amava, venerava, mas não podia-lhe ser sua mulher.

― Já estou indo, Jung. ― respondeu-lhe, sem tirar os olhos dos dele, refletidos no enorme espelho em seu camarim.

Ele engoliu em seco, deu às costas e, quando foi saindo, Jin o chama.

― Jung, fique aqui comigo, por favor? ― seu pedido saiu-lhe, quase que implorando por aquela presença masculina que a deixava, ao mesmo tempo, nervosa, também, segura.

― Não posso, senhorita Jin. Com licença. ― saiu rapidamente, não querendo mais olhar àquela mulher vestida em um quimono floral com uma enorme cauda de tecido brilhoso, com maquiagem de gueixa e aquela voz doce, meiga, sedutora.

Alguns segundos depois, Hirosama entra impaciente e chama-a para apresentar-se logo.

Ela pega um leque com detalhes florais e de tamanho médio, logo acompanha à mulher já de idade.

Caminha pelo o corredor da casa de gueixas, até chegar de trás de uma porta grande de correr. À porta se abriu e tudo estava escuro.

Uma luz branca, iluminou-a parcialmente, pouco a pouco.

Subiu ao palco, que era rodeado de uma grande mesa circular no mesmo formato do palco e grudado a ele. Deu passos lentos, abrindo o leque sobre seu rosto, deixando somente seus olhos à vista dos empresários sentados ao redor do palco, com seus olhos vidrados naquela gueixa tão desejada, misteriosa e sedutora.

Começou com passos lentos, seus olhos penetrantes, a luz que iluminava aquele corpo por debaixo de um quimono floral e em como ela mexia com os sentimentos masculinos.

Às cordas dos três shamisens, tocados por outras gueixas, ecoava por todo o local, junto do Kakko, Koto e flauta japonesa transversal formando uma melodia, ao mesmo tempo, intensa, também, leves.

Então, a música se torna mais intensa e ela começa a vivê-la, senti-la. Tudo se torna intenso naquele momento para aquela gueixa, que, não queria estar ali.

Queria estar nos braços do homem que ama.

Largar sua profissão e viver à vida de uma mulher casada e com filhos.

Foi o que fez.

*****

Depois de apresentar-se, desceu do palco e cumprimentou todos os homens curvando-se e indo para seu quarto, deixando às outras gueixas da casa, servirem-lhes chá.

Ao entrar em seu camarim e trancar à porta, é agarrada pelo o meio do corpo, grudando seu corpo ao do homem de olhos rasgados, castanhos, por quem era apaixonada.

― Fuja comigo, Jinoyama-san. Meu amor. Fuja comigo?!

― Não posso. Minha família, minha profissão….

― Que se fodam todos eles. Eu quero só você meu amor. Ter uma vida normal, como sempre quis. ― Jung quase implorava para ela juntar suas coisas e eles irem à uma cidade afastada da movimentada Tóquio e região.

Pensou por alguns segundos, logo depois, afastou-se dele, temerosa que Hirosama os encontrasse abraçados, quase se beijando.

― Jung, não. Por mais que eu queira sair deste inferno, não posso. ― respirava ofegante, com seu coração acelerado.

― Por que?! Eu não lhe posso dar uma boa vida?! ― alterou sua voz. ― Te dou somente uma chance. Desista da sua vida de gueixa e se case comigo, ou me esqueça e nunca mais olhe em minha cara. ― saiu do camarim, batendo à porta forte.

Ela teve de engolir em seco.

O amava muito. Sabia disso. Porém, não poderia largar sua profissão desde criança, de uma hora para à outra. Teria que pensar muito a respeito de seu homem e de sua profissão que a dividia.

Teria que escolher um lado e sofrer suas consequências.

Então, se escolhesse se casar com Jung, teria que se aposentar, definitivamente, de sua profissão e se tornar mulher, servindo a seu marido, Jung.

Voltou ao salão e serviu o chá aos homens engravatados que ali se encontravam. Antes de ser gueixa, era uma serva. Aprendeu isso, desde que começara, aos cinco anos de idade, a se preparar para ser gueixa.

*****

Voltou ao seu futon, horas depois de ter atendido os homens, conversado com eles e servido-lhes chá.

Tirou sua maquiagem, seu quimono, vestiu um quimono normal e desarmou o penteado, revelando os longos fios escuros.

Sentou-se de frente sua penteadeira e ficou se olhando, imaginando na proposta do homem, pelo o qual era apaixonada.

Pensou e repensou sobre à proposta de sair de sua profissão e se aposentar dela e ir morar com Jung, ou, continuar nela e esquecer dele.

E ela decidiu o que queria.

Passou-se horas adentro da noite fria, até que, enfim, amanhece e ela vai falar com Hirosama a respeito de sua decisão.

Falou em desistir de sua carreira como gueixa, aposentar-se definitivamente de sua profissão e casar-se com Jung.

À mulher não aceitou. Não quis, mas era à decisão de sua melhor gueixa de sua casa.

Ela entregou-lhe os quimonos, maquiagens, sapatos, intrumentos musicais para ela, juntou suas roupas, vestiu um quimono normal e saiu, para sempre, da vida de gueixa, para, então, viver normalmente com o seu homem.

Do outro lado do portão, o homem a encarava com os olhos brilhantes, não acreditando que ela o escolhera e abandonara sua profissão e família.

Abraçou-o, logo depois, guardou suas malas e foram embora.

Passado-se alguns meses, Jin engravida.

Foi uma alegria para os dois. Moravam em uma casa no meio de uma floresta, próximo ao parque de cerejeiras.

O primeiro filho, à vida que eles tanto sonharam, quando estavam ainda trabalhando na Casa de Gueixas Hirosama e de quando saíram de lá.

Mas, porém, mal sabiam eles do que estava por vir.

Quando se completara nove meses de gravidez, Jin estava a preparar o almoço, quando, de repente, seu marido leva uma pancada de pau de um vizinho que virara desafeto seu. Numa pancada só, Jung cai ao chão e o homem corre em direção a sua propriedade.

Então, ela escuta uma voz agoniada, chorando de dor.

Vai à porta de sua casa, logo se desespera ao ver seu marido caído ao chão.

Corre até ele, vendo o sangue escorrer do couro cabeludo até o seu peito, caindo até o chão de terra batida.

― O que aconteceu, Jung?

― Ele… ― tossiu com o sangue já se acumulando em sua boca. ―, me bateu com um pedaço de pau, só porque nossa criação entrou em sua plantação e comeu tudo. ― tossiu novamente.

― Desgraçado! Filho da puta! Desgraçado! ― berrou de raiva, pondo à cabeça de seu marido em seu colo.

― Me leve para o hospital, senão eu morro aqui mesmo. ― ele pediu e logo Jin o ajudou o pôr no banco de trás e ela ir no banco do motorista.

No meio do caminho ela entra em trabalho de parto e o resto já sabem.

Ela sofre um acidente, sua barriga bate numa pedra, é resgatada e vê seu filho nascer natimorto, logo depois, entra em coma.

*****

Jin se lembrou de seu passado ao ver a foto dela e de seu marido, no templo, casando-se.

Uma lágrima escorreu, ao lembrar do filho ou filha que não tivera.

Ouviu uma risada infantil chamando-lhe à atenção. Olhou à porta e viu uma menina de, mais ou menos, cinco anos de idade, cabelos negros longos e lisos, magra e de olhos castanhos, olhando-a com olhos de menina sapeca.

Sorriu para ela, quando se encararam e ela desapareceu, acenando-lhe um “tchau”.

Passou-se alguns segundos e ela vai à gaveta da mesa, abre e pega um remédio controlado que ela tomava, pega um comprimido, engole e depois toma um copo de água, para ele descer e fazer efeito.

Então, de repente, Pedro abre à porta e ela guarda à foto rapidamnte na gaveta, junto do remédio. Ele logo desconfia e pergunta osbre aquilo.

Estava na hora de atuar e tentar fazer o que lhe foi ordenado pelo o governador.

― O que à senhora guardou na gaveta? ― aproximou-se dela e sentou na poltrona de frente sua mesa.

― Somente à foto de meu passado. O que queres aqui, crápula? ― tratou-o mal, semi cerrando suas sobrancelhas de nervosismo, pelo o que o homem que queria fodê-la, estava fazendo.

― Senhora, não sou crápula…. ― segurou seu nervosismo, não de raiva, mas sua barriga chegava a dar sinais diante dela. ―, só estou apenas cumprindo com o que foi acordado entre à senhora e o governador. ― por fim, respondeu, tentando controlar sua respiração.

Respirou, sem ela perceber, até voltar sua respiração ao normal.

Aquela mulher mexia com ele, de uma tal maneira, que ele nem sabe o que é exatamente. Mas sabia que algo os conectava. Algo muito estranho e de dar uma enorme angústia entre os dois.

Engoliu em seco e começou a “fiscalizá-la”.

― O que à senhora vai fazer hoje à tarde?

― Pagar contas e ver o depósito que o governo fez na conta corrente do orfanato. ― respondeu-lhe, tirando de uma caixa com o nome Dívidas dentro de outra gaveta, pondo-a sobre à mesa e abrindo-a. Logo o homem pega Às contas e começa a anotar tudo, já começando a pensar no que vai fazer para ela perder à aposta entre ela e o governo de Tóquio.

Mal eles sabiam do que estava por vir.

 

******

 

Rio de Janeiro – Alguns meses antes……

 

― Muito bom esta água de coco. Lá no meu país a água de coco é meio artificial. Aqui direto do coco é uma delícia. ― ele riu tímido. Ainda estava descobrindo-se em sua orientação homossexual. E ele sentiu-se atraído por aquele brasileiro bronzeado.

― Também adoro. Vai adorar comer o queijo daqui. O nosso leite é bem forte e gostoso. Vai adorar!

― Adoro leite! Amo fazer doce de leite! Uma moça brasileira que conheci lá no Japão, me ensinou a fazer e me apaixonei pela a cultura gastronômica de vocês!

― Quer conhecer mais da cidade? Tem meu apartamento em frente a praia de Copacabana. É bem próximo ao hotel, onde você está hospedado.

― Não vou incomodá-lo ou incomodar sua família? ― ele fez uma expressão de nervoso e meio incomodado por ir invadir a casa de um brasileiro tão bonito que ele está vendo.

― Nada. Não vai me incomodar. Moro sozinho. Minha família nem mora aqui na capital.

― Desculpa. É que eu não o conheço direito e não posso confiar totalmente em ti.

― Não precisa ficar com medo. Eu sei quem é você. Você é filho do governador, né? Você veio representando-o sobre um acordo bilateral entre os dois países com as negociações por parte das empresas de meu avô e com o avô de Danilo.

― Sério?! ― espantou-se ao saber que aquele homem bonito a sua frente era ninguém mais do que a pessoa com que ele estava procurando. Porém, para outros motivos.

― Sim! Quer andar mais um pouco pelo Rio de Janeiro e depois irmos ao meu apartamento para tomarmos um bom vinho? ― Rômulo sorriu e viu o jovem asiático corar de vergonha.

― Sim!

Então os dois andaram mais um pouco, conheceram pontos turísticos da cidade e, por fim, foram ao condomínio, onde Rômulo mora.

Chegando lá, os dois entram e começam a beber vinho, se sentam ao sofá, conversam sobre a viagem, economia do Brasil em uma grave crise por causa da corrupção, a economia do Japão que é crescente, o preconceito predominante na cultura japonesa sobre os homossexuais e sobre relacionamentos.

― Já namorei mulheres e homens. Mas, porém, nenhum deles me fazia sentir especial. Então, comecei a focar somente no meu trabalho e estudos. Nada melhor que ocupar nossas mentes com serviço, estudos e muita academia. Isso faz nos afastar de besteiras que causam grandes tragédias psicológicas. E você, Satoshi? Já namorou?

― E… eu?

― Sim. ― o encarou com aqueles olhos de um homem que não precisava fazer um olhar sensual para conquistar. Só precisava o encarar para conquista-lo.

― Nunca namorei sério em minha vida. Estou me descobrindo homossexual. Eu não tive um relacionamento sério com nenhum homem ainda. Tenho medo de meu pai.

― Por que?

― Ele é um monstro. Você não conhece a cultura machista de meu povo. Eles não aceitam bem a orientação sexual e nem aceitam que a mulher deve ser respeitada. Eles acham os donos das mulheres. Tem uns que assediam e elas ficam caldas. O machismo impera no Japão. Um país que sofreu tanto, teve o seu chão lavado de sangue, ainda ter uma cultura estúpida do homem ser superior a mulher. E elas terem que aceitar tudo caladas.

― E aqui no Brasil também temos este problema.

― Não. Pelo menos aqui vocês têm mulheres com influência e mulheres que engajam e lutam pelos os direitos de vocês. Lá, se uma levanta a voz contra o sistema, logo ela é silenciada. Mas, porém, quando um escândalo é espalhado, pessoas com cargos estão ameaçadas, logo renunciam ao cargo e nunca mais se fala no assunto.

― Você tem razão. Muita razão. Mas… mudando de assunto… ― virou-se no sofá em direção a Satoshi e o encarou. Os olhos rasgados encararam os olhos de amêndoa. ―…. gostei de você. Acho-o atraente. Seria um homem ideal no qual eu quero ter uma relação duradoura.

― Também o acho…. bonito. ― ficaram se encarando por alguns longos segundos, até que Satoshi quebra o silêncio. ― Desculpa. Está na hora de eu ir embora. Amanhã tenho que ir cedo para a reunião com os ministros e seu avô. ― Levantou-se e foi se arrumando.

― Espere. Vou lhe levar de volta ao hotel.

― Sim. Vou esperar.

Os dois voltaram novamente ao hotel, Satoshi se despediu de Rômulo e combinaram de sair depois do encontro que o jovem asiático ia ter no dia seguinte.

 

 

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