CENA 01. HOSPITAL. QUARTO DE MIGUEL. INT. NOITE.

Continuação imediata do capítulo anterior.

=== SONOPLASTIA: SUSPENSE ===

Miguel está deitado na cama, apavorado ao reconhecer Márcio.

MIGUEL
Quem te mandou pra cá?

MÁRCIO
Ninguém. Vim sozinho. A Lilian/

MIGUEL
Você contou pra ela que eu…?

MÁRCIO
Fica calmo, que eu te explico tudo.

NORMA
(entra) Miguel, a cantina/ (a Márcio) Quem é você?

MÁRCIO
Um amigo.

MIGUEL (mente)
Da praça. Ele me vê tocar de vez em quando.

NORMA
Bom, já que é assim, você faz companhia pro meu marido? Vou ver se consigo comer alguma coisa. A cantina daqui do hospital já fechou, e eu não trouxe nada.

MÁRCIO
Fica tranquila, que vou cuidar muito bem dele.

NORMA
Já volto. (sai)

MÁRCIO
Ela sabe?

MIGUEL
Não, e nem quero que conte. O segredo está muito bem guardado; quer dizer… estava.

MÁRCIO
Fico admirado de você conseguir se esconder por todos esses anos do seu pai aqui mesmo em São Paulo.

MIGUEL
Não foi difícil. Tem alguns lugares em que ele não pisa de jeito nenhum. Não gosta nem de lembrar da pobreza de onde veio.

MÁRCIO
E como conseguiu driblar jornalistas, repórteres?

MIGUEL
Fiquei uns vinte anos em Araçariguama, perto daqui. Lá casei e tive um filho. Foi o tempo de ficar mais velho e voltar pra cá. Assim ninguém ia me reconhecer. Quem ia querer olhar pra um pé-rapado? E assim fiquei até hoje. (encara Márcio) Como foi que me descobriu?

MÁRCIO
A Lilian… Ela está escrevendo uma biografia pro teu pai e resolveu investigar sobre o filho morto. Não sei como, ela chegou ao meu nome. Me procurou pra fazer umas perguntas. Quando mostrei a foto da formatura…

MIGUEL
Ela me reconheceu. Droga! Quem mais sabe?

MÁRCIO
Só um colega da Lilian.

MIGUEL
Isso não pode se espalhar. Não quero que aquele velho descubra que estou vivo.

MÁRCIO
Nem agora que ele está perto de morrer?

MIGUEL (choque)
Que história é essa?

CLOSES alternados entre Miguel e Márcio.

=== SONOPLASTIA OFF ===

CORTA PARA

CENA 02. APARTAMENTO DE NARA. SALA. INT. NOITE.

Nara e Nando entram. Nando fecha a porta, e Nara põe a bolsa na estante mais próxima da porta.

NARA
Quer beber alguma coisa?

NANDO
Não, quero não.

NARA
Tá, então senta aí, que vou pegar pra mim.

NANDO (agarra Nara pela cintura)
Mas antes me dá uma coisa.

Nando beija Nara, que corresponde e o envolve entre os braços. O celular de Nara toca.

NARA
Será que não vou ter descanso nem depois de chegar em casa? (vê o celular) Adivinha. (Nando sorri; Nara atende) Alô, Isolda? (tempo) O César Rinaldi, não é? Vê com a Lígia como ficou a história na delegacia e coloca uma notinha de nada. Não quero escândalo. (tempo) Se ele socorreu o homem na rua, então não tem por que apelar. (tempo) Me liga amanhã, que tô numa reunião agora. (tempo; ri) Sim, com o Nando. Por quê? (ri; tempo) Confio em você. Sem apelação, tá? Beijo. (desliga)

NANDO
Isolda sendo Isolda.

NARA
Deixa ela pra lá. Vamos nos divertir.

Nando e Nara se beijam.

CORTA PARA

CENA 03. HOSPITAL. QUARTO DE MIGUEL. INT. NOITE.

Continuação da cena 01.

MÁRCIO
Como é que você fez pra se fingir de morto?

MIGUEL
Naquela noite, fui com você pra faculdade, mas sem ânimo pra nada. Só queria me matar de verdade. Não aguentava mais ser quem eu era. (pausa) Você tinha ido pra aula, e eu fiquei no banheiro. Depois saí e fui pro matagal atrás do prédio. Fiquei escondido com uma arma na cabeça. Tinha levado uma escondida no casaco. Foi quando apareceu um casal e um corpo foi jogado ali. Por sorte não me viram. O homem estava todo desfigurado. (pausa) Foi aí que tive a ideia de trocar de roupa com ele, deixar meus documentos e sumir.

MÁRCIO
Deixa eu ver se entendi. O corpo que foi enterrado era desse homem?

MIGUEL
Era. Aí coloquei minha arma na mão dele e atirei pra deixar a pólvora na mão dele. Naquela noite mesmo consegui uma carona num caminhão e fui pra São Roque. Uns dias depois, já estava em Araçariguama. Por sorte ninguém desconfiou.

MÁRCIO
E aí conheceu a mulher?

MIGUEL
Não. Vivi como mendigo por uns anos, até que me deram um emprego e uma identidade nova: Miguel da Silva. Como era uma cidade pequena, ninguém me reconheceria. Alguns anos depois que fui conhecer a Norma e me casar com ela. Aí o Guilherme nasceu e passei a trabalhar numa banda. Tocava piano e violino. A Norma quis vir pra São Paulo, e aí passamos a morar na periferia.

MÁRCIO
Você disse que ela nunca soube da sua história. Nunca teve medo de que ela ou teu filho descobrisse? Qualquer foto num jornal…

MIGUEL
Meu pai, arrogante e influente que sempre foi, deve ter proibido qualquer coisa sobre mim. Pelo menos isso.

MÁRCIO
E agora? O que pretende fazer?

MIGUEL
Nada. Só quero que ele morra e que o assunto fique esquecido pra sempre.

MÁRCIO
Existe uma herança monstruosa pela frente. Quer mesmo abrir mão?

MIGUEL
Depois de tudo que ele me fez, é claro que não quero um centavo daquele dinheiro sujo. O herdeiro que faça bom proveito.

MÁRCIO
De uma coisa você pode ter certeza: conta com meu silêncio.

MIGUEL
Eu sei que posso confiar em você.

CORTA PARA

CENA 04. APARTAMENTO DE LILIAN. SALA DE JANTAR. INT. DIA.

Laura termina de colocar o café da manhã na mesa. Lilian entra de pijama e boceja.

LAURA
Bom dia, filha. Dormiu bem?

LILIAN
Dormi, sim. Sonhei muito. (beija Laura no rosto) Bom dia, mãe! (senta à mesa)

LAURA
Vai lá no Ruggero hoje?

LILIAN
Vou sim, mas antes vou passar no hospital pra ver o Miguel. A Rah vai comigo.

LAURA
E o César?

LILIAN
Marquei com ele depois do Ruggero. A gente reatou, te falei?

LAURA
Falou sim. Só espero que o Jairo não fique amolando vocês.

LILIAN
Nem fala.

Lilian come uma fatia de queijo. Laura toma um gole de café.

CORTA PARA

CENA 05. APARTAMENTO DE MÔNICA. QUARTO DE MÔNICA. INT. DIA.

Mônica e Jairo deitados na cama, apenas de roupas íntimas. Ela acorda e se assusta ao ver Jairo; olha para a hora no celular e chacoalha o amante.

MÔNICA
Vamo, acorda!

JAIRO (sonolento)
Me deixa.

MÔNICA
Acorda, Jairo! Já são dez horas. Acorda!

JAIRO
Que é?

MÔNICA
A gente tá atrasado. Levanta daí, que tem gravação daqui a pouco.

Mônica se levanta, vai até o guarda-roupa e pega um vestido.

CORTA PARA

CENA 06. REDE SONHO DE TELEVISÃO. CIDADE CENOGRÁFICA. RUA. EXT. DIA.

Tony e Breno estão com alguns figurantes. Tony inquieto à espera de Mônica e Jairo.

TONY
Cadê esses dois?

BRENO
Sei lá, não estive com eles.

TONY
São dois irresponsáveis, isso sim. Maldita a hora que o Júlio contratou esses bostas.

BRENO (vê Mônica e Jairo ao longe)
Pronto! Já tão vindo aí.

TONY
Até que enfim!

MÔNICA (se aproxima)
Oi, Breno. Desculpa, Tony. A gente/

TONY
Como sempre, a estrela acha que é noiva em casamento.

JAIRO
Não fala assim com ela, não. A culpa foi minha.

TONY
Já nos seus lugares, que a gente tem que correr com as gravações.

Breno, Jairo e Mônica se arrumam no set de filmagens.

CORTA PARA

CENA 07. HOSPITAL. QUARTO DE MIGUEL. INT. DIA.

Miguel conversa com Lilian e Raúla.

MIGUEL
Estou bem, dentro do possível.

RAÚLA
Ai, que bom! Quando a Lili me contou, fiquei apavorada.

MIGUEL
O César me ajudou, e agora está tudo bem. Vou me recuperar.

RAÚLA
Tenho certeza. (olha o relógio de pulso) Nossa! Tenho que correr. Lili, fica aqui com ele?

LILIAN
Fico. Depois me conta mais do “nosso amigo”. (troca beijos de rosto)

RAÚLA
Tá bom. Tchau, Miguel. (sai e fecha a porta por fora)

LILIAN
Miguel, eu queria conversar uma coisa/

MIGUEL
Descobriu que o filho do Ruggero não morreu, não foi?

LILIAN
Eu nunca podia imaginar que vocês dois tivessem alguma ligação.

MIGUEL
Como descobriu?

LILIAN
Não foi nada fácil. O Ruggero não contava nada pra biografia. Muita coisa, eu tive que procurar nas entrelinhas. Até que ele falou, sem querer, que você tinha feito vestibular pra Música. Não tinha quase nada na internet que comprovasse, mas consegui algumas pistas com ajuda do Pedro.

MIGUEL
E aí você achou o Márcio?

LILIAN
Foi. Marquei uma entrevista com ele. Quando ele me mostrou a foto da formatura de vocês…

MIGUEL
Ele veio aqui ontem. Mais alguém sabe?

LILIAN
Não. Só o Pedro, o Márcio e a gente.

MIGUEL
Esse assunto tem que ficar enterrado. Pra todos os efeitos, Miguel Fontana di Capri está morto.

GUILHERME (entra)
Quem tá morto?

MIGUEL
Deu pra ficar ouvindo a conversa atrás da porta?

GUILHERME
Não ouvi nada. Cheguei agora, e você disse que alguém tinha morrido.

LILIAN
Meu pai. Ele morreu tem uns meses.

GUILHERME
Melhor pra você.

LILIAN
Por que diz isso?

MIGUEL
Lilian, não dá ouvidos pro que ele fala.

GUILHERME
Se o pai dela fosse como você/

LILIAN
Não fala de quem não conhece. E vê se aprende a respeitar teu pai. Ele faz o que pode pra te dar o que você tem hoje; se mata de trabalhar pra te colocar numa faculdade.

GUILHERME
Tá perdendo tempo defendendo isso aí.

LILIAN
Olha, eu só não te falo umas verdades porque isto aqui é um hospital. Miguel, depois a gente conversa. (olha para Guilherme) Não tenho estômago pra ouvir mais nada.

Lilian sai. Norma entra em seguida.

NORMA
O que deu nessa moça?

GUILHERME
Resolveu ser o anjo da guarda do papai. Tô caindo fora. (beija o rosto de Norma)

NORMA
Tomara que dê tudo certo lá na entrevista. Boa sorte!

GUILHERME
Tchau, mãe!

Guilherme olha Miguel com nojo e sai. Norma encara Miguel, que vira o rosto.

CORTA PARA

CENA 08. MANSÃO DE RUGGERO. SALA. INT. DIA.

Lilian entra nervosa. Melita se aproxima dela e a cumprimenta. Ciro está num canto e presta atenção.

MELITA
Você está bem? Estou te achando tensa.

LILIAN
Nada. É que encontrei uma pessoa desagradável.

MELITA
Seu ex-noivo?

LILIAN
Antes fosse. Foi um moleque idiota. Por pouco não joguei a verdade na cara dele.

MELITA
Verdade?

LILIAN
É. O pai dele… Esquece. Não quero te amolar.

MELITA
Não tem problema, não. Quer um pouco de água com açúcar?

LILIAN
Quero sim, obrigada. E o doutor Ruggero?

MELITA
Está no quarto. Já vou chamar. Fica à vontade. (sai pelo corredor)

CIRO (se aproxima)
Vida de jornalista nem sempre é fácil. O pai desse rapaz é alguém importante?

LILIAN
Depende do que vê como importante.

CIRO
Seja mais específica.

LILIAN
Sabe como é: ele vai derrubar muita gente do cavalo. Acompanha no blog da Isolda. Vou esperar o doutor lá dentro.

Lilian sai pelo corredor. Ciro fica com raiva.

CORTA PARA

CENA 09. REVISTA DE FOFOCAS. REDAÇÃO. INT. DIA.

Lígia e Michele conversam perto do bebedouro. Isolda entra e vê o burburinho; aproxima-se das duas.

ISOLDA
O que tão cochichando tanto aí?

LÍGIA
A Mi tá contando aquele caso do César?

ISOLDA
Que caso? Desembucha.

MICHELE
O homem que o César atropelou ontem. Ele tá recebendo umas visitas bem estranhas no hospital.

ISOLDA
E eu com isso?

MICHELE
Hello, fofa! Por que um tocador de violino da praça da ralé ia arrastar a Lilian e o Márcio Vergueiro pro hospital?

ISOLDA
A Lilizinha, eu sei que tava toda interessada no pobretão, mas o Márcio Vergueiro, um homem tão distinto, sofisticado? Tem caroço de abacate nesse angu. Lígia, corre lá e vê se descobre alguma coisa.

MICHELE
Fui eu que descobri, poxa!

ISOLDA
Se você aparecer lá, vão desconfiar. A Lígia ninguém conhece.

MICHELE
É, você tá certa.

ISOLDA
É claro que eu tô. Sou Isolda Calderón, meu bem. (a Lígia) Vai lá e pesca o que a Lilizinha tá escondendo.

Isolda anda em direção à estação. Michele pega um copo de água. Lígia sai pelo corredor.

CORTA PARA

CENA 10. MANSÃO DE RUGGERO. SALA. INT. DIA.

Arnaldo abre a porta para Guilherme. Ciro se aproxima do jovem.

CIRO
Você deve ser o rapaz que veio pra primeira entrevista.

GUILHERME
Sim, eu mesmo. Passei no escritório, e mandaram vir pra cá.

CIRO
O doutor Ruggero faz questão de participar das entrevistas. Espera um pouco, que ele está terminando uma reunião no escritório.

Ruggero vem do corredor, acompanhado de Lilian. Guilherme fica desconfortável ao vê-la.

RUGGERO
(a Ciro) Veja só! O rapaz já chegou! (a Guilherme) Gosto de gente assim.

LILIAN (a Ruggero)
Bem, não vou mais tomar teu tempo.

RUGGERO
A Melita combina com você a próxima sessão.

LILIAN
Maravilha. Com licença.

Lilian olha firme para Guilherme e sai. Ciro estranha a reação do rapaz.

CIRO
Está se sentindo bem?

RUGGERO
Ficou encantado pela moça. (a Guilherme) Acorda!

GUILHERME
Desculpa. Fiquei distraído.

RUGGERO
Vamos pro escritório. Lá podemos conversar mais à vontade.

Ruggero, Guilherme e Ciro vão juntos para o cômodo.

CORTA PARA

CENA 11. HOSPITAL. QUARTO DE MIGUEL. INT. DIA.

Laura e Milton conversam com Miguel.

MILTON
Como está o braço?

MIGUEL
Quase não dói mais. O problema é outro.

LAURA
Teu filho voltou a te destratar?

MIGUEL
Voltou, sim. A Lilian estava aqui.

MILTON
Que judiação! Como é que esse rapaz tem coragem de fazer maldade com você depois de tudo que fez por ele?

MIGUEL
A Norma faz a cabeça dele.

LAURA
Qualquer dia, vou conversar com ela de mãe pra mãe. As coisas não podem continuar como estão. Onde já se viu? (Norma entra)

MILTON
A amargura cega as pessoas.

NORMA
Por acaso, tá falando de mim?

MIGUEL
Onde é que você estava?

NORMA
Onde mais? Ligando pro meu filho, ora bolas. Foi fazer entrevista de emprego, esqueceu? (a Laura) Tô pedindo pra Deus fazer aquele bendito homem contratar o Guilherme.

MIGUEL
Que homem?

NORMA
O maior homem de quem já ouvi falar. (a Milton) Não é por nada, não, mas sempre fui louca pra conhecer ele. (sorri) E agora o Guilherme realiza meu sonho de ficar perto do Ruggero Fontana.

=== SONOPLASTIA: TENSÃO ===

Miguel começa a passar mal e a chorar. Laura tenta socorrê-lo.

NORMA (continua)
Ele é rico, sensível, uma pessoa maravilhosa.

LAURA (grita; ao mesmo tempo)
Enfermeira?

NORMA
Deixa, é só chilique. (Milton corre pra fora) Meu marido é um bundão mesmo.

LAURA (tom)
E você uma surtada! Vai chamar uma enfermeira.

NORMA (tom)
Não fala assim comigo, não! Tá pensando o quê?

Uma enfermeira entra com Milton e vai até Miguel.

LAURA
Por favor, ajuda aqui.

NORMA
Volto depois que acabar o teatrinho.

Norma sai. A enfermeira examina Miguel enquanto Milton e Laura assistem.

CORTA PARA

CENA 12. CASA DE MIGUEL. FRENTE. EXT. NOITE.

Anoitece. Imagem da fachada da casa.

=== SONOPLASTIA OFF ===

CORTA PARA

CENA 13. CASA DE MIGUEL. SALA. INT. NOITE.

Guilherme e Norma jantam à mesa. Conversam animados.

NORMA
O amigo gagá da Laura ficou com teu pai. Mas conta: como é que foi na entrevista?

GUILHERME
Tirando a Lilian, foi tudo bem. O Ciro vai marcar a segunda entrevista. Na verdade vão ser aqueles testes: psicotécnico, redação… Torce por mim, mãe.

NORMA
É o que mais faço. Você vai conseguir. A gente tem que sair do sufoco. Tô até pensando em me separar do seu pai se esse emprego sair.

GUILHERME
Melhor coisa que você faz.

NORMA
Também penso assim. Agora vamos jantar antes que a comida esfrie.

Os dois começam a jantar.

CORTA PARA

CENA 14. APARTAMENTO DE BRENO. SALA. INT. NOITE.

César abre a porta para Lilian e a recebe com um selinho.

LILIAN
Oi, César! Tem alguém aqui?

CÉSAR
Não. (fecha a porta) O Sérgio acabou de sair, e o Breno não volta hoje.

Lilian e César se sentam no sofá. Ela coloca a bolsa ao lado dela.

LILIAN
E então? Preparado?

CÉSAR
Mais ou menos.

LILIAN
Pelo menos assim você desabafa.

CÉSAR
É, vou tentar.

César e Lilian se entreolham.

CORTA PARA

CENA 15. CASA DE CIRO. QUARTO DE CIRO. INT. NOITE.

Ciro deitado com Yoná na cama. Ele está com a camisa aberta; ela totalmente vestida e abraçada nele.

CIRO
A Lilian tá escondendo alguma coisa, e eu não estou gostando.

YONÁ
Ela sabe de coisas da intimidade do doutor Ruggero. É normal que/

CIRO
Ela tem me olhado torto. Daqui a pouco ela vai colocar meu irmão contra mim, e eu não posso deixar.

YONÁ
E o que está pensando em fazer?

CIRO
Não sei. Mas tenho que agir contra essa moça, antes que ela ponha tudo a perder.

YONÁ
Você não está imaginando coisas? Ela nem tem acesso à parte financeira do velho.

CIRO
Não sei, não. E o Pedro também tem ficado muito estranho desde que começou a trabalhar com ela.

YONÁ
Esquece isso, meu amor. Vamos aproveitar que estamos sozinhos.

CIRO
É isso que você quer, né?

Yoná sorri safada. Ciro a beija e se deita sobre ela.

CORTA PARA

CENA 16. APARTAMENTO DE BRENO. SALA. INT. NOITE.

César conversa com Lilian sobre Ruggero.

CÉSAR
Meu pai trabalhava pra uma empresária. Ela se chamava Wanda Brites; era dona de uma discoteca famosa aqui em São Paulo. Meu pai era o motorista. Eu ainda era muito pequeno, mas lembro que ele mudou muito de um dia pro outro… desde o acidente. O Newton Seixas, que era um maestro, estava de caso com ela, e isso o Ruggero não aceitava. Ele queria porque queria a Wanda só pra ele. Aí o Seixas inventou de fugir com ela, e ela deu férias pro meu pai. Na mesma noite o carro caiu no precipício. A Wanda conseguiu escapar, mas o Seixas morreu ali mesmo. Uns dias depois, a Wanda ligou lá pra casa e se despediu do meu pai. Depois disso, nunca mais voltou.

LILIAN
E o que aconteceu depois?

CÉSAR (de frio a raivoso)
Depois que eu já era grande, o Breno me indicou pra Sonho e eu comecei a trabalhar lá. Até aí não tinha a menor noção dessa história toda. Era só um jovem cheio de sonhos e que queria abraçar o mundo. Até que um dia briguei com um diretor e o. O carcamano de araque viu e me humilhou na frente de todo mundo. Meu pai ficou sabendo e resolveu jogar na cara do Ruggero tudo o que sabia dele com a Wanda. O desgraçado usou uns advogados pra inverter a história e jogar meu pai atrás das grades. (Lilian chocada) Não deu nem uma semana, e meu pai apareceu morto. Os jornais disseram que ele tinha se matado, mas eu sei que não foi nada disso. Foi ele que mandou matar meu pai. E agora eu quero justiça.

LILIAN
Não sei nem o que dizer. Sabia que o Ruggero colecionava inimigos, mas não que fosse tão ruim.

CÉSAR
Tá vendo por que não quero você com ele?

LILIAN
Agora, mais do que nunca, preciso me arriscar. Nem que seja pra esclarecer o que ele fez com você, com o Seixas, com o Miguel e sabe-se lá com quantos mais.

CORTA PARA

CENA 17. MANSÃO DE RUGGERO. SALA. INT. NOITE.

Melita lê uma revista, sentada no sofá. O telefone toca. Arnaldo entra pelo corredor.

MELITA
Pode deixar, que eu atendo.

ARNALDO
Sim, senhora. Boa noite!

MELITA
Boa noite! (Arnaldo sai; Melita atende) Alô?

=== SONOPLASTIA: SUSPENSE ===

MULHER (V.O.)
Alô? É da casa do Ruggero Fontana?

MELITA
É sim. Quem quer falar com ele?

MULHER (V.O.)
Uma conhecida. Ele pode falar?

MELITA
É que ele já foi dormir.

MULHER (V.O.)
Ah, sim. Ligo outra hora.

MELITA
Não gostaria de deixar recado? (a mulher desliga)

Melita fica cismada com a ligação.

=== SONOPLASTIA OFF ===

Efeito de fim de capítulo: imagem de Melita congela; efeito de flash de fotografia; imagem fica em preto e branco.

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Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

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