ESTAÇÃO MEDICINA
CAPÍTULO 15
CATIVEIRO
CENA 01/SÃO PAULO/TATUAPÉ/CAMPUS UNIVERSITÁRIO OLIMPIUS/ HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ORLANDO MOÇA/ ALA DE ENDOCRINOLOGIA/ TARDE CHUVOSA
Goram, Marcela, Suzy e Heloísa chegam a ala de endocrinologia e percebem que Hector está sendo contido por dois enfermeiros, Sara conversa com uma outra médica mais nova que ela, asiática também, 39 anos, chamada Gabriele.
SARA – Doutora Gabriele, eu realmente estou preocupada. Acabei assumindo esse caso que nem tem relação ortopédica por conta de falta de generalista e neurologia disponível, mas ele tá muito agitado. Pensei em alguma causa hormonal.
Uma enfermeira chega trazendo o resultado do exame.
GABRIELE – O Resultado da oftalmoscopia indireta saiu. Vamos ver..
SARA – Como eu suspeitava, ele tem descolamento de retina.
GABRIELE – E não é pouco não, o mapeamento identificou muitas lesões.
SARA – E não foi identificado causa de miopia em nenhum momento que é a mais provável.
Suzy se aproximou.
SUZY – Professora, podemos dar uma olhada?
SARA – Claro Suzy. Nem vi vocês aí.
Ela entregou os exames para eles. Heloísa pesquisa no celular.
HELOÍSA – Esse descolamento de retina não poder ser causada por alguma causa infecciosa?
SARA – Paciente não é idoso, logo esperamos uma resposta febril, não está ruborizado, não relatou dor e por enquanto com nenhum edema com godet positivo.
HELOÍSA – Godet? O que é isso?
SARA – Ah, me desculpe, você é primeiranista, esqueci disso, godet é um sinal clínico quando pressionamos o nosso polegar numa área edemaciada por 5 segundos e fica a marca do nosso dedo.
HELOÍSA – Entendi e aí um diagnóstico provável para isso é uma infecção?
SARA – Isso mesmo.
GORAM – Mas mbo’ehára, akói(sempre) temos um edema com sinal de godet?
Doutora Gabriele entra na conversa.
GABRIELE – Não. O Cacifo ou sinal de godet pode não estar presente. Neste caso, pensamos em condições neoplásicas, ou seja, de câncer, mas também temos linfedema que é o acúmulo de líquido linfático em tecidos de gordura e mixedema pré-tibial como uma manifestação autoimune nas pernas. Geralmente esses edemas são frios também.
GORAM – Entendi, aguyje.
De repente, Hector começa a gritar.
HECTOR – Águaaaaaaaaa, quero água!
E ele acaba vomitando, respinga em Goram.
SARA – Oh, meu Deus, afastem-se.
E Hector vomita incessantemente.
SUZY – O que está acontecendo? Será que ele tá com aquilo que o outro tinha, choque séptico?
GABRIELE – Não é um choque séptico, as extremidades estão termicamente normais, ele não está com dificuldade respiratória, nem hipertérmico, não há também nenhuma condição séptica identificada previamente.
Ele começa a se coçar.
HECTOR – Tá coçando, coçando muito.
Ele tenta se levantar da cadeira, mas enfermeiros o contém, outros pacientes da sala observam assustados.
Instrumental dramático.
GABRIELE – Isso está aparecendo… Hey, alguém mede a glicose capilar desse paciente.
Enfermeiros surgem de trás do balcão com o aferidor e alguns o contém, enquanto uma mede. Sara troca olhares com os amigos de Goram. Big-close-up na face de Gabriele.
GABRIELE – Eu sabia!
SUZY – O que foi? O que está acontecendo?
Instrumental explosivo. Ela mostra para os primeiranistas o valor registrado de 590 mg/dl.
HELOÍSA – Então…
GABRIELE – Ele é diabético e está em estado hiperglicêmico hiperosmolar.
Close alternado. Suzy assustada. Heloísa surpresa. Marcela aflita e Goram respirando fundo.
FADE OUT.
CENA 02/SÃO PAULO/PRAÇA DA SÉ/TARDE CHUVOSA
FADE IN
Fabiana desce do ônibus com um guarda-chuva e começa a procurar no celular exatamente qual a rua que fica a clínica oncológica.
De repente, uma ventania a puxa forte e retorce seu guarda-chuva, quebrando-o.
FABIANA – Ai não. Que saco! Mas essa agora.
Ela começa a ficar encharcada. A chuva aumenta.
FABIANA – Vou ter que esperar um pouco esse temporal passar.
Ela corre para uma catedral próxima e percebendo que está entreaberta, aguarda ali.
Ao longe, do outro lado da praça, Guto abaixa o vidro do carro com um sorriso malandro.
GUTO – Nunca vi guria tão teimosa.
Voltar para Fabiana irritada, quando seu rosto se transforma.
FABIANA – Ah, não, você de novo por aqui. Para de me seguir, vou chamar a polícia.
GUTO (E pega seu braço) – Meu carro está logo ali, vem, eu te levo lá.
FABIANA – Me solta, eu não quero ir com você, será que você não entendeu?
Ele acaba num movimento brusco quando ela empurra ele, se apoiando nela e ambos caem para dentro da igreja, a ventania trata de fechar a porta atrás dele.
Guto e Fabiana ficam a poucos centímetros de si, ele em cima dela. TAQUICARDIA. Ela o empurra para o lado.
FABIANA – Sai de cima de mim, eu não fico aqui nem mais um minuto com você.
Ao puxar a porta, percebe que está trancada.
FABIANA – Abre porta! Vamos abre!
Ela bate mais forte. Nada acontece.
FABIANA – Eu não estou acreditando nisso! Isso é um pesadelo!
Ele se levanta e tenta ajuda-la e também não consegue abrir.
GUTO – Puxa vida, meu carro tá lá fora!
FABIANA – A Igreja estava aberta, deve ter alguém aqui. ALGUÉM, ALGÚEM!
Ninguém responde. Estava tudo escurecendo. DESESPERO NA FACE DELA.
CENA 03/SÃO PAULO/TATUAPÉ/CAMPUS UNIVERSITÁRIO OLIMPIUS/ HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ORLANDO MOÇA/SANITÁRIO MASCULINO DO HOSPITAL/ TARDE CHUVOSA
Goram entra no banheiro para lavar a camiseta suja de vômito e escuta uma conversa muito estranha vinda de uma das cabines, de um homem ao telefone.
HOMEM – Sim, mas Doutor Mateus Moça não desconfiou de nada. Foi apenas um susto. Estou indo para lá, chefe, estou terminando meu expediente de segurança aqui no hospital, a gente tá cuidando da coroa direitinho. Desde que sequestramos ela ontem no banco lá perto da mansão, ela tem se comportado, tá morrendo de medo. Mas eu entendi, eu tô indo para lá para ajudar o Reinaldo a dar um susto nela como combinamos. Fica tranquilo, Doutor Bernardo Moça, te garanto que ela vai pensar duas vezes antes de abrir a boca para o mundo.
Quando ele puxa a descarga, Goram se esconde dentro de uma cabine entreaberta. Instrumental explosivo. O homem lava as mãos e sai.
GORAM – Então guaimi não voltou para casa dela como imaginei, ela foi sequestrada e que coincidência eu ter descoberto isso justamente aqui. Como esse mundo é akuti e quão podre eles fizeram das pessoas que trabalham nas propriedades dos meus pais. Mas o showzinho deles estão com os dias contados, se não, não me chamo Giovanni Moça.
E sai atrás do homem.
NO ESTACIONAMENTO
Assim que o homem parte, Goram corre até um táxi que chega trazendo uma família.
GORAM – Anda rápido, égua, preciso seguir aipo carro!
CORTAR PARA:
CENA 04/ RORAIMA/BOA VISTA/ INT. APARTAMENTO DOS GUAJAJARA/QUARTO DE ARAPONGA/TARDE
Araponga depois de algumas fotos só de langerie, entra no chat e manda as fotos no privado para o Paulistano Misterioso, mas para sua surpresa, mesmo depois de alguns minutos, ele não fica online.
ARAPONGA – Ué, onde que esse avausu está?
CENA 05/SÃO PAULO/IMAGENS AÉREAS
Anoitece entre as principais rodovias da Capital Paulista.
CENA 06/SÃO PAULO/PRAÇA DA SÉ/NOITE CHUVOSA
Fabiana está dentro da igreja andando de um lado para o outro.
FABIANA – Eu não estou acreditando que eu estou presa dentro de uma igreja num bairro que eu mal conheço e ainda com você.
GUTO – Qual o problema, gatinha? É melhor do que estar lá fora nesse toró, você quase foi levada pela chuva.
FABIANA – Exagerado, eu só ia deixar a chuva passar e ia para a clínica, entender porque a minha mãe tá faltando no trabalho dela e pegando esses atestados, descobrir a identidade desse Guilherme.
GUTO – Você gosta muito dela, não é?
FABIANA – Ela é minha mãe.
GUTO – Quem me dera ter uma relação assim com a minha.
FABIANA – Pois, você não tem?
GUTO – Não. Sempre dei melhor com meu pai, minha mãe é…uma criminosa.
FABIANA – Oi?
GUTO – É isso mesmo que você ouviu, ela é uma bandida. Vive por aí, sobrevivendo, dando golpes nas pessoas.
FABIANA – Golpe financeiro?
GUTO – Sim…ela é uma estelionatária. Não me identifico com ela, aliás, há muito tempo que não falo com ela. Meu pai rompeu com ela quando descobriu tudo, ela traiu meu pai com mais de 18 homens.
FABIANA – Tô passada…
GUTO – Sim. As pessoas geralmente possuem essas reações.
FABIANA – Eu sinto muito por isso, de verdade.
GUTO – Tudo bem.
FABIANA – Bom…acho que nos resta gritar até alguém nos ouvir.
Ele acena assertivo.
Ela volta a bater na porta.
FABIANA – ALGUÉM! ESTAMOS PRESOS NA IGREJA!
CENA 07/SÃO PAULO/JABAQUARA/FAVELA BABILÔNIA/EXT.GALPÃO ABANDONADO/NOITE
PLANO GERAL. O Homem que falou ao telefone com Bernardo, estaciona o carro numa área aberta em frente a um barraco de madeira. Ele sai do carro e olha para ver se não há ninguém na região. Bate na porta e se adentra. Instrumental explosivo, desfocar e focar no táxi mais perto da CAM. Goram paga o motorista.
GORAM – Pode ficar com o troco.
MOTORISTA – Você tem certeza que quer ficar aqui? É muito perigoso esse bairro.
GORAM – Goram sabe se cuidar, obrigado pela preocupação.
MOTORISTA – Bom…quem avisa, amigo é. Uma boa sorte, meu rapaz.
Goram sai. O Táxi parte. O mocinho respira fundo e se encaminha para as proximidades do barraco. Olha pela janela e não consegue ver muita coisa, na ponta dos pés, dá a volta pela casa e se abaixa quando vê um câmera rodar no telhado para não ser pego… até que encontra uma janela quebrada e consegue ver o que ocorre lá dentro.
INTERIOR GALPÃO.
Dois homens, inclusive, aquele que foi seguido por Goram aparecem trazendo Ângela que estava com um pano preto na cabeça e braços amarrados, jogam-na numa cadeira. Retiram o saco preto, sua boca está vedada, ela tenta gritar, mas todo som é abafado. Um homem surge da escuridão, a face dela se transforma, era ninguém menos que Bernardo.
BERNARDO – Achou que podia me ameaçar e iria sair ilesa. Gostou do lugar que você veio parar?
Ângela ficou pálida. CAM NERVOSA. Rosto de Goram. CONTENTAMENTO. INSTRUMENTAL EXPLOSIVO. CONGELA.
FADE OUT
CONTINUA…