Estação Medicina

Capítulo 4

Olhares Coléricos 

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CENA 01/SÃO PAULO/ TATUAPÉ/UNIVERSIDADE OLIMPIUS/ AUDITÓRIO ANCHIETA/MANHÃ

 

Ligar instrumental melodramático

Vitor percebe que Goram está no auditório e acena para ele. Mas o mocinho sai transtornado pela lateral do local em silêncio guiando-se por placas até um banheiro, onde levanta a tampa da privada e vomita desesperadamente.

BANHEIRO AUDITÓRIO

GORAM – Maldito! Assassino desgraçado! Égua não! Como abá pode dizer que herdou o hospital? Ele não tem direito a nada!

Liga a torneira, deixa a água cair, lava a boca num gesto maquinal.

GORAM – Mas os dias dele estão contados! ESTÃO CONTADOS!

Instrumental explosivo. Close no rosto vingativo do mocinho olhando o próprio reflexo no espelho.

Goram volta e sorrindo para Vitor passa por entre alguns alunos e senta em seu lado.

VITOR – Está tudo bem, parceiro? Você correu para o banheiro!

Goram disfarça.

GORAM – De rocha! Sim. Ainda estou um pouco de ressaca das bebedeira da semana no Bar do Esteto.

Aumentar voz do auditório

MATEUS – Como deve ser de conhecimento de todos, o curso de medicina tradicionalmente possui 6 anos. Os dois primeiros terão contato com o ciclo básico, onde aprenderam matérias gerais necessárias para todas as profissões da área da saúde : Biologia Celular, Anatomia, Neuroanatomia, Fisiologia, Epidemiologia, Biofísica, Semiologia, Farmacologia, Discussão de caso clínico, entre outros. Os dois na sequência serão de ciclo clínico, terão o primeiro contato com as especialidades sabendo as principais doenças, tratamento, exames complementares de Ortopedia, Ginecologia, Cardiologia, Neurologia, Endocrinologia, Oncologia, entre outros. E por fim os dois anos finais de Internato, onde passarão pelas mesmas especialidades com a diferença que darão plantões nelas e terão contato com os residentes. Mas não se acomodem. Um bom currículo lattes implicará além da graduação, trabalhos de campos, extensões, pesquisa, pós-graduação, doutorado, pós-graduado, projeto-voluntários, intercâmbios. Explorem a universidade. Tem lugar para todos aqui crescerem aqui. Somos privado, somos gratuítos, somos cinco estrelas. Boa vinda a todos, sigam aos veteranos e dinos, estas duas primeiras semana serão apenas de apresentações.

Os alunos se levantam para aplaudir. Goram aplaude num tom de repulsa completa.

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CENA 02/SÃO PAULO/ TATUAPÉ/UNIVERSIDADE OLIMPIUS/EXT. ATRÁS DO PRÉDIO PRINCIPAL/MANHÃ

Nara, uma sextoanista canta O Tempo Não Para de Cazuza num pequeno palanque junto com Escova, ruivo, magro, jeito bagunçado, um baterista do terceiro-ano e Dennis um violonista negro, magro, cabelo cor-de-rosa, do segundo.Alguns estudantes acompanham.

NARA – Disparo contra o sol, sou forte, por um acaso, minha metralhadora cheia de mágoas, eu sou um cara…

Suzy surge no meio da multidão encantada.

NARA – Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades, o tempo não para.

Ela acaba esbarrando sem querer em Dandara, uma jovem rica, de undercut curto, piercing, bem punk.

SUZY – Ai, me desculpa. Não foi minha intenção!

DANDARA – Relaxa. Nossa, velho, você não acha que tem algo de errado com essa banda? Me incomoda muito. A começar pelo nome Fada Madrinha.

SUZY (Estranha) – Para dizer a verdade para mim está muito bom.

DANDARA – Como bom? Só tem uma mulher nesta banda, sendo que somos maioria neste país. Machismo estrutural é foda. E esse nome rememorando o conto da Cinderela, em que uma guria se submete a crueldades como borralheira e se supera num relacionamento monogâmico que a esvazia por completo em sua identidade, a figura masculina a salva de ter uma vida ruim. Para mim já deu.

Ela sai meio irritada, Suzy se incomoda.

CENA 03/SÃO PAULO/ TATUAPÉ/UNIVERSIDADE OLIMPIUS/BIBLIOTECA DA MEDICINA/MANHÃ

Goram está terminando de olhar a estante de anatomia e acaba ao puxar uma edição brilhante com uma caveira perfeita que o encanta, derrubar todas as outras.

GORAM – Égua não!

Ele percebe que a bibliotecária o encara de longe e faz sinal de silêncio. VERGONHA. Ele se abaixa para pegar os livros. Quando uma mão delicada surge para ajudar. Ele olha para cima. Era Heloísa.

HELOÍSA – Deixa que te ajudo.

Goram se perde no tempo. Instrumental romântico.

GORAM (fala arrastada) – Claro… Caralho, que porã!

Ele começa a babar, então percebe e se limpa desesperado. Heloísa se cora levemente, rindo baixinho.

Ela vai simultaneamente colocando os livros na estante junto com ele e ele observa seu jeito meio nerd toda compenetrada em organizar. Close alternado de mudanças de expressão dele intercalado por ações dela.

André aparece.

ANDRÉ – Hey Goram!

O protagonista se vira e quase derruba os livros novamente. Heloísa segura junto com ele as edições e eles trocam olhares muito perto.

ANDRÉ- Hey cara! Tá tudo bem?

Goram desperta.

GORAM (fala rápido)- Hey mano, como vai? Semana yrupê, falei tão pouco com tu no dia da matrícula.

ANDRÉ – Estou bem, acabei de voltar de uma reunião do atletismo, me inscrevi para participar.

GORAM – Que barato! Vitor me chamou para entrar para o vôlei, porque haynu, mas acho que vou esperar um pouco até pegar mais familiaridade com as disciplinas.

Ele volta o olhar para o lado e percebe que Heloísa havia sumido.

Flashback rápido Goram se lembra do beijo no bar do Esteto quando estavam bêbados.

GORAM(V.O.) – Será que ahê se lembrava?

ANDRÉ – Quer almoçar no bandejão? Acabei de pegar meu cartão na secretaria.

Indígena confirmou meio perdido.

GORAM – Bora capar o gato!

CENA 04/SÃO PAULO/ TATUAPÉ/UNIVERSIDADE OLIMPIUS/HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ORLANDO MOÇA/ENFERMARIA MOLÉSTIAS INFECCIOSAS/ TARDE

Rita sorri para Laurinha, criança indígena, 10 anos, magra, cabelos até as costas.

RITA – Sabe o que eu vim fazer aqui hoje, mocinha?

LAURINHA – Claro, Doutora. Vai me dar alta, né? Não aguento mais.

Adelaide ri.

ADELAIDE – Filha, isso é jeito de falar com a Doutora Rita!

Rita concorda.

RITA – Ela tá certa, Adelaide. Ninguém aguenta ficar internado por mais de uma semana, lugar de criança não é em hospital, é na escola e com os amigos no parquinho. Não é, Laurinha?

Laurinha acena positivamente

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CENA 05/SÃO PAULO/ TATUAPÉ/UNIVERSIDADE OLIMPIUS/HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ORLANDO MOÇA/ESTACIONAMENTO/TARDE

 

Rita está saindo para almoçar, quando percebe que Jesuína, uma funcionária de limpeza idosa chorava sentada na guia. Ela foi ao seu encontro.

RITA- Jesuína, o que aconteceu? Por que está chorando, mulher de Deus?

JESUÍNA- Perdi meu emprego, dona Rita. Eu não sei o que será de mim agora.

RITA (incrédula)- Como é que é? Conta essa história direito.

JESUÍNA – Política do hospital, seu Mateus quer cortar gastos desnecessários, diminuiu a equipe de limpeza, começando pelos idosos.

RITA – Mas que desumanidade. Ele sabe que você terá dificuldade para se inserir no mercado, pela idade, pela pouca especialidade. Então ele voltou a agir assim mesmo depois da nossa última conversa. Ele que me aguarde e você enxuga esse choro Jesuína que isso será revertido. Eu te garanto!

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CENA 06/SÃO PAULO/ TATUAPÉ/UNIVERSIDADE OLIMPIUS/RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO/TARDE

Goram passa seu cartão na entrada junto com André.

GORAM – Égua. Muito barato! Três conto o almoço.

Atravessa a catraca depois de passar. Um grande salão se revela em sua frente com estudantes das mais identidades, dos mais variados cursos da área da saúde humana : farmácia, fisioterapia, odontologia, medicina, terapia ocupacional, psicologia. Goram fica procurando Heloísa, mas não a encontra.

ANDRÉ – Caraca velho. Olha só para isso, esse lugar não parece ter fim.

GORAM – Nem essa fila, olhe só para ela. Nunca vi algo tetekue.

Eles entram. André se encanta por um rapaz branco de camiseta listrada, fortinho, que numa primeira impressão parecia muito popular com a camiseta da atlética de medicina. Tratava-se de Romeu. Ele desvia o olhar quando uma das meninas da mesa que Romeu se sentou, percebe seu olhar. Ele olha para sua cor negra. SENTE INFERIORIDADE.

Chegam a vez dele, as merendeiras simpáticas servem uma porção de arroz, feijão, purê de batata e um bife no ponto.

GORAM – Está com uma cara boa por demais essa embu’i.

ANDRÉ – Nem me fale.

Eles pegam salada, suco e se sentam na primeira mesa que avistam lugares próximos e vazios.

GORAM – Ufa. Não aguentava mais guatá.

ANDRÉ – Sim, ainda mais neste sol, está um calor de rachar.

É quando um cara que estava do lado de André com o garfo rouba um pouco de purê do rapaz. Goram estranha. O sujeito nojento era Pedro, um sextoanista barbudo de cabelos raspados, valentão. André fica com medo. Goram percebe que o afrodescente ficou calado e reage.

GORAM (enfrenta) – Hey cara, esse é o purê do meu angirû. Como tu faz uma coisa dessas e mete seu garfo nele?

Pedro levanta e junto com ele vemos Escova, o baterista ruivo da banda Fada Madrinha e Samuel, também sextoanista que fazia boxer, era negro, mas não retinto como André.

PEDRO (ri, batendo na mesa) – Olha só o indiozinho tomou as dores pelo namoradinho. Você não deve me conhecer, mas sou Pedro, mando na calourada toda, então abaixa essa bola aí, beleza, se não quiser problemas.

SAMUEL – Sem contar que esse calouro é negro, velho(aponta para André) a raça dele tá sujeita a escravidão. Tá acostumado a levar porrada, não é nada.

Fabiana que estava na mesa ao lado, levanta-se irritada ao ouvir aquilo.

FABIANA – O que você disse? Seu racista de merda! Repete, se você for homem!

Closes alternados. André estremeceu. Goram aprovou a postura dela. Pedro e Escova ficaram sem palavras. Samuel a olhou persuasivo.

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CENA 07/ SÃO PAULO/ TATUAPÉ/ REPÚBLICA DOS ESTUDANTES/EXTERIOR/TARDE

Heloísa chega no endereço dado pela assistente social. Era uma casa de dois andares, branca, de janelas verdes, com um jardim de flores na frente. ENCANTAMENTO.

CENA 08/ SÃO PAULO/ TATUAPÉ/ REPÚBLICA DOS ESTUDANTES/ QUARTO 12/TARDE

 

Dona Noz Moscada, uma anciã rabugenta de 74 anos, apresenta seu apartamento, havia uma pequena salinha-cozinha, um quarto e um banheiro. Era a caseira do local.

DONA NOZ-MOSCADA – Temos regras muito claras sobre o uso de energia elétrica, depois da meia-noite, passo vistoriando, todos devem estar dormindo. Banho de no máximo dez minutos para homens e vinte para mulheres. Coleguinhas até seis da tarde, namorado até às oito. Festinha sem muito barulho aos sábados até às sete. Você entendeu?

Heloísa acenou que sim rapidamente.

DONA NOZ-MOSCADA – Ótimo. Pode me procurar para qualquer coisa, estou no térreo, apartamento 1, logo depois do extintor de incêndio próximo a entrada. Ah, sim, cuidado com o gás, tem que durar para o mês inteiro e o botijão é pequeno…

Heloísa se perde no beliche. Nunca havia visto um de perto. A anciã percebe.

DONA NOZ-MOSCADA – Ah sim, mas uma mocinha irá dividir o quarto contigo, são dois por apartamento para menina e quatro para meninos.

Nesse instante, Suzy aparece retirando seu óculos de sol.

SUZY – Acho que é aqui.

Heloísa se vira.

DONA NOZ-MOSCADA – Falando da própria…

HELOÍSA – Vai morar aqui também?

SUZY – Sim, você também?

Heloísa sorri e a cumprimenta.

HELOÍSA – Prazer. Chamo-me Heloísa.

SUZY – Eu me chamo Suzy, a colega de rep e cantora mais talentosa que você vai conhecer.

Heloísa riu e se simpatizou logo de cara.

HELOÍSA – E eu a nerd mais amável que você irá conhecer.

Dona noz-moscada as interrompe, voltando-se para Suzy.

DONA NOZ-MOSCADA- Bom, garota, preciso te apresentar as regras sobre a república dos estudantes…

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CENA 08/SÃO PAULO/ TATUAPÉ/UNIVERSIDADE OLIMPIUS/RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO/TARDE

 

FABIANA – Vamos! Fala de novo se você é homem!

SAMUEL (ri) – Não preciso provar para ninguém que sou homem, não tenho problemas com isso.

FABIANA – Mas um racista nojento não hesita em ser, mesmo sendo negro.

SAMUEL – Acho que você precisa de um óculos, porque eu não negro. Sou moreno.

Pedro e Escova riem alto.

FABIANA – Aí que você se engana, meu querido. Pelo visto não conhece o conceito de colorismo, não importa a tonalidade mais retinta como a dele ou não, seus traços, sua fisionomia é afrodescente, é negro.

Goram bate palma alto.

SAMUEL – Essa guria viaja, tinha que ser mulher também.

Dandara que passava perto, cospe em seu rosto.

DANDARA – Alto lá, seu babaca machista. Quem você pensa que é para falar assim com ela? Cientificamente nós mulheres somos muito mais ágeis para lidar com muitas tarefas, temos inteligência emocional e intelectual mais elevada, somos maioria da população!

Pedro entra na conversa sarcástico.

PEDRO – Shi…Essa aí é feminista!

DANDARA – Sou, com certeza. Com orgulho, justamente para impedir que babacas que nem vocês existam.

SAMUEL – Moçada, essa aí com certeza não casa cedo, além de feia, beira sapatismos.

Dandara esmurra o veterano que tenta partir para cima dela, mas Vitor chega e o enfrenta.

VITOR – Tá maluco, velho? Vai bater numa garota?

SAMUEL – Vou sim, por quê? Você vai me impedir? Essa vadia me bateu!

DANDARA – Vadia é a sua masculinidade frágil que precisa tratar mulheres e outros negros dessa forma para se sentir algo na vida. Mas você é um bosta! Um merdinha.

Samuel tenta partir, mas Vitor o esmurra. Estudantes gritam porque eles se envolvem em um confronto. Pedro e Escova tentam ajudar o amigo até que seguranças do restaurante apartam.

SEGURANÇA 1 – Vamos parar com isso!

SEGURANÇA 2 – Acabou a briga! Se continuarem vou levar a direção!

Samuel, Pedro e Escova vão embora junto com uma galera da atlética. Samuel estava com nariz sangrando.

SAMUEL – Vocês todos vão me pagar! Principalmente você, vadia.

André se sente mal ao ver que Romeu apoiou os valentões ao longe. Goram se volta para Vitor.

GORAM – Cara, você nos ajudou. Muito Aguijé.

VITOR – Magina. Esses caras não podem tratar ninguém assim. Fazer trote com vocês.

FABIANA – Isso é uma merda. Essa política de muitas faculdades têm que acabar, não somos propriedades deles.

DANDARA – Isso é cultural, mulheres inferiorizadas, cara assim não tinha nem que estar vivo, homem é tudo igual.

GORAM – Goram não é assim.

VITOR – Nem eu.

DANDARA – É cultural, acabam sendo inconscientemente. Por isso que sou lésbica, não consigo me envolver.

FABIANA – Vamos continuar o almoço, se ainda for possível…

VITOR – Claro, claro.

Eles se sentam e continuam o almoço. André contém o choro. Eles se apresentam em off.

CENA 09/SÃO PAULO/ IMAGENS AÉREAS/ANOITECE

 

Mountain sound, hit de abertura da web-novela é mostrado no refrão com imagens da capital anoitecendo, trânsito da marginal Tietê. Bares noturnos acendem suas luzes. Baladas ligam seus neons. Aviões riscam o céu no horizonte.

CENA 10/SÃO PAULO/CENTRO/ BORDEL BOVARY/NOITE

 

Marcela termina de pegar suas roupas, quando Bovary do alto da escada joga seu perfume importado

BOVARY (irônica) – Era seu, né? Perdoe-me!

Marcela ri.

MARCELA – Você acha que estou saindo daqui humilhada, sua velhota ? É um dia de glória para mim saber que depois que passar por aquela porta nunca mais precisarei olhar para sua cara!

Larissa se aproxima com outras meninas

LARISSA- Nós vamos sentir sua falta, amiga!

E a abraça chorando. Tiffani, 16 anos, negra a abraça.

TIFFANY – Sim! Fará muita falta nesta casa. Rainha.

Marcela promove um abraço coletivamente

MARCELA – Saibam que esta história não terminará assim! Eu vou voltar para buscar todas vocês!

BOVARY – Mas que papinho mais para boi dormir! Termina logo isso e volta para casa daquele mendigo que te abrigou esses dias até a dondoca resolver voltar aqui e pegar as tralhas dela.

Germana. 24 anos. Ruiva.

GERMANA- Você nos enche de orgulho! É uma inspiração para todas nós!

MARCELA(emocionada) – Vocês que são uma inspiração para mim! Exemplos de coragem diária! Não é porque vendem o corpo que merecem ser destratadas, inferiorizadas. Vestir um jaleco branco é fichinha perto de rodar bolsinha na Paulista quatro da manhã.

Bovary se irrita

BOVARY – Ai chega desse chororô aí em baixo!

MARCELA – Não se preocupe, sua coruja velha, já estou de saída!

Ela sobe as escadas e aponta o dedo na cara da cafetina

MARCELA – Só mais uma coisa, sua demônia. Por mim eu te denunciava por exploração sexual de menor! Você bem que merecia pegar uma cana bem braba. Passar os seus últimos dias na cadeia. Mas por conta delas, por conta de saber que se essa espelunca fechar elas ficarão na rua da amargura, que eu não poderei ajudá-las tão breve, só por isso eu não te denuncio. Mas ai deu saber que você maltratou, humilhou uma delas. Eu viro bicho! Eu volto para te matar, sua desgraçada! Você entendeu?

E saiu batendo o pé, enquanto Bovary a maledicia a quatro cantos.

A música Trevo de Anavitória começa a tocar

Na calçada da frente, um amigo ajudava Marcela a colocar a bagagem no porta-mala de seu velho chevette. Ela dá um último abraço nas meninas e mulheres antes de partir, Larissa chora alto.

MARCELA (já no carro) – Obrigada Zé! Pela força que está me dando. Sem você, não sei o que seria de mim!

José: Homem branco e obeso. 53 anos. Divorciado.

JOSÉ – Imagine, minha flor! Não é todo dia que temos um mulherão desses dentro do nosso carro e hospedada na nossa humilde residência.

Marcela ri.

MARCELA – Você não tem jeito mesmo, Zé. Agora toca para bem longe daqui!

JOSÉ – Como quiser, minha deusa!

Ela acena para as meninas, fazendo um coração no vidro.

Após o carro virar a esquina, Bovary aparece cobrando.

BOVARY – Vamos parar com essa tempestade e gastar toda essa energia naquela louça imunda na pia e o chão do salão. Clientes vão chegar, não podemos afugentá-los.

Larissa e as meninas a encaram resistentes e se adentram.

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CENA 11/SÃO PAULO/REPÚBLICA/EMISSORA BOITEMPO/ EDIÇÃO JORNALISTA/CORREDOR/NOITE

Rita sorri satisfeita ao sair de um elevador.

RITA – Agora você está ferrado, seu Mateus Moça! Vai aprender a tratar gente simples com humanidade também.

Ela ri e fazendo uma dancinha para comemorar sai do prédio.

CENA 12/SÃO PAULO/ VILA MADALENA/ CASA DE ADELAIDE/ INTERIOR/QUARTO DE GORAM/NOITE

 

O mocinho está sentado na sua cama quando se recorda da noite de assassinato de seus pais e de quando Mateus decidiu o sequestrar

INÍCIO DO FLASHBACK

 

CENA 13/SÃO PAULO/ JARDIM AMÉRICA/ MANSÃO DOS MOÇA/ SALA DE ESTAR/NOITE CHUVOSA

 

BERNARDO – Seu irmão viu tudo! 

 

MATEUS – Você acha que sou cego? Bernardo! Agora nós temos que sumir com esse moleque de vista. Antes que esse mini-humano abra a boca! E eu não duvido não, pentelho do jeito que é.

 

Giovane (Goram) que estava contido pelos capangas em seu quarto, escutando a conversa, escapa e enfrenta o irmão mais velho.

 

GIOVANE – Eu não sou pentelho! Vou te entregar para a polícia. Você e seu namorado vão ser presos! 

 

Mateus o esbofeteia. 

 

MATEUS – Para de encher o saco! Tá vendo Bernardo, esse ser precisa sair de circulação.

 

Ele para um instante. Olhos dilatados. Sorriso maldoso. 

 

MATEUS – Mas como eu não pensei nisso antes? Um sequestro! E ainda enfatizo a minha performance de órfão desesper

ado! 

 

Ele se abaixa e contempla o irmão com um olhar sádico.

 

MATEUS – E se der tudo certo, será a última vez que você vai pisar nesta casa!

 

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CENA 14/SÃO PAULO/ VILA MADALENA/ APARTAMENTO DE ADELAIDE/ INTERIOR/QUARTO DE GORAM/NOITE

 

Olhos avermelhados. Grito de dor. Taquicardia. Close no corpo estacado de Goram. Fecha em sua mão com um copo de água quebrado pelo esforço. Congela

Continua…

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