ESTAÇÃO MEDICINA

CAPÍTULO 14

SEQUESTRO

FADE IN

CENA 01/SÃO PAULO/JD AMÉRICA/INT. MANSÃO DOS MOÇA/CORREDOR PARA COZINHA/NOITE

 

Goram sorri ao ouvir a revelação de Ângela e acaba esbarrando na porta do banheiro, fazendo-a ranger.

LADO EXTERIOR DA JANELA

Bernardo, que falava do lado de fora próximo a janela do corredor com Ângela, pede silêncio.

BERNARDO – Silêncio! Tem alguém nos ouvindo!

Ele olha pela janela para o corredor e não vê ninguém.

BANHEIRO EMBAIXO DA ESCADA

Big-close-up no rosto assustado de Goram. Plano americano, ele com o corpo encostado na porta, preocupado em ser visto.

LADO EXTERIOR DA JANELA

ÂNGELA – Você acha que me engana? Não tem ninguém aí! EU QUERO QUE ASSUMA SEU LUGAR DE PAI E DÊ UMA QUANTIA CONSIDERÁVEL MENSALMENTE A MINHA FILHA!

BERNARDO Aqui não é hora, nem o melhor lugar para tratar disso, já disse isso. Eu já fiz muito em receber a senhora em meio a um jantar importante do meu marido.

ÂNGELA Nestas horas você se lembra que é casado, não é? Mas na hora de utilizar minha filha para ser sua amante, tá tudo bem. E você não foi bom em me receber, você tinha que me receber, porque eu ia gritar, gritar, até o seu marido aparecer lá no portão e saber de tudo. (RINDO)

Instrumental explosivo. Big-close-up em Bernardo. MEDO.

ÂNGELA – É melhor você abrir o bolso e me dar uma boa quantia se não quiser ver o seu casamento ir parar em instantes na lata de lixo.

BERNARDO – Vamos até um banco aqui perto. Mas depois você vai me deixar em paz.

ÂNGELA Sumir eu não vou, porque não quero uma quantia, quero uma mesada para minha filha ter condições decentes de cuidar do meu neto ou neta. Torço para um menininho.

Bernardo faz uma cara de nojo, eles saem.

BANHEIRO EMBAIXO DA ESCADA

Goram respira aliviado, o susto passa e se transforma em felicidade.

GORAM – Égua, então esse jejuka tem uma amante? Ah, mas eu vou usar tanto essa carta a meu favor!

CATARINA – Você vai alguma carta a seu favor?

Instrumental explosivo. Goram dá um salto de susto. Close em Catarina curiosa.

GORAM – …Carta a meu favor? Ah sim, vou usar o fato deu ter estudado bastante para Olímpiada para impressionar os investidores que estão na karuha.

CATARINA – Isso mesmo, garoto. Mas se demorar desse jeito, vai perder todo jantar. Doutor Mateus pediu para chama-lo. Queira me acompanhar até lá.

Goram balança cabeça assentindo. Eles saem.

SALA DE JANTAR

Goram chega com Catarina a mesa e Mateus se levanta.

MATEUS Goram, querido. Achei que tinha se perdido na minha mansão?

Goram esboça um sorriso amarelo, por dentro, ele estava com estômago embrulhado.

GORAM (V.O) – Sua mansão, seu verme? Dos meus rus!

MATEUS – Bom, vamos nos sentar, ali na cabeceira da direita. Meus queridos amigos de negócio, é com muita honra que apresento a vocês nosso cérebro de ferro tupiniquim: Goram Guajajaras.

Goram sorri para cada um dos investidores e acionistas que ali se encontram.

CENA 02/SÃO PAULO/PARAISÓPOLIS/INT.CASA DE CACAU/COZINHA/NOITE

Fabiana aguarda a resposta da mãe.

FABIANA – Vamos mãe, estamos esperando uma resposta sua! Onde a senhora estava?

CACAU – Eu…

SILÊNCIO.

CACAU – Eu estava no postinho!

FABIANA – No postinho de saúde?

FERNANDA – Aconteceu alguma coisa, Cacau?

CACAU – Minha pressão caiu na rua, algumas pessoas me levaram para o postinho perto da igreja Soledade.

FERNARDA – Sei, medicaram?

CACAU – Sim, tomei soro.

FABIANA – Que estranho, porque não colocaram band-aid na fossa cubital, nem na sua veia cefálica…nem na basílica.

CACAU – Essa minha filha já cheia dos termos médicos. Eu acabei tirando, acaba me incomodando.

FABIANA – Sei…

CACAU – Foi muito bom te rever Fernanda, agora vou me recolher.

FABIANA – A Senhora não vai esclarecer porque mentiu da outra vez dizendo que estava na casa dela e mentiu agora dizendo a mim porque estava na presença dela?

CACAU – Agora eu menti para te preocupar, meu amor. Se eu falasse para você que estava no postinho de saúde, você iria se estressar por um detalhezinho. Já da outra vez eu acabei aceitando ficar mais tempo na casa de uma patroa que me ameaçou mandar embora se eu cobrasse hora-extra dela por isso, ela precisava de mim porque iria dar um jantar importante, como sei que você é esquentada, preferi não comentar porque senão você iria tirar satisfação com ela.

FABIANA – E iria mesmo! Não é só porque o ministério do trabalho deixou de existir e a legislação trabalhista relaxou com as reformas do Temer que podem montar e superexplorar os trabalhadores desse jeito.

CACAU – Tá vendo, por isso inventei uma mentirinha boba que estava com Fernanda, não esperava que fosse tirar essa história a limpo, trazendo ela aqui. Que desnecessário, filha.

FABIANA – Desnecessário que nada, super necessário. Fiquei preocupada com você, não engoli sua história. Que patroa fez isso com a senhora? Foi a megera da Úrsula que te faz chorar?

CACAU – Tá vendo, você se esquenta com detalhes. Por isso não comento nada. Bom, vou me recolher, espero que me desculpe Fernanda por não poder te acompanhar, estou exausta, vou tomar um banho e dormir, que amanhã o dia começa cedo.

FERNANDA – Okay Cacau. Boa Noite para você.

Elas se beijaram e Cacau se recolheu. Fernanda e Fabiana ficaram a sós.

FERNANDA – Bom…tudo se esclareceu.

FABIANA – Não tenho tanta certeza disso, Fernanda. Eu sei muito bem quando minha mãe está mentindo e sinto que ela está, essa história de trabalhar a mais para patroa e estar no postinho de saúde não me convenceu.

CORTAR PARA:

 CENA 03/SÃO PAULO/VILA MADALENA/INT.APARTAMENTO DE RITA/SUÍTE/NOITE

Instrumental melodramático. De frente para o espelho do banheiro, sonolenta por conta das drágeas que ingeriu, começa a beijar o próprio reflexo, deixando marcas de batom no espelho. Ela então limpa o batom com água corrente da torneira e desamarra o cabelo, abre o espelho e começa a picotar o cabelo a gritos, liberando tufos na pia. Olhos encharcados. CESSA. CLOSE em Rita. Cabelos mal cortados com fios pela face inteira. Retira a camisa e o sutiã, desprezando os bojos, retira o salto alto e vai para o quarto.

QUARTO

Cambaleia e se larga em sua cama. Big-close-up em seus olhos fechados.

CENA 04/SÃO PAULO/JD. AMÉRICA/INT. MANSÃO MOÇA/SALA DE ESTAR/NOITE

Goram termina de tirar foto ao lado de Mateus para fotógrafos contratados por ele, alguns investidores também aceitam participar. Plano Americano em Goram nitidamente incomodado, mas fingindo gostar.

Bernardo entra pela porta da sala. Instrumental crescente. A cabeça de Goram o acompanha.

MATEUS – Amor, onde você estava? Falou que estava cheio para o jantar, mas disse que participaria das sessões de foto. Aquele cara(cochicha) é o representante de medicina de Harvard.

BERNARDO – Nossa, vou cumprimentá-lo.

Ele vai para o plano de fundo. Goram o observa atento.

MATEUS – Goram, daqui cerca de um mês você estará em Salamanca na Espanha, já conseguimos a sua primeira viagem internacional.

GORAM – Não sei há’e em Espanhol!

MATEUS – Não tem problema, vou contratar um tradutor para você.

GORAM (V.O) – Filho da mãe, eu representando a universidade e esse jaguaryái nem para me pagar um curso de língua estrangeira? Meu pai repudiaria uma visão dessas. Onde será que aquele outro assassino estava? A lechãi que estava com ele teria ido embora depois do banco? Provavelmente sim! E pensar que agora ele está em poguýpe, agora vou ficar que nem sarna, porque algo me diz que é apenas o começo, o buraco dessa história é muito mais embaixo.

CENA 05/SÃO PAULO/IMAGENS AÉREAS/MANHÃ

Entrelinhas de Ana Vilela começa a tocar a todo vapor. Imagens aéreas da cidade de São Paulo são mostradas. Metrôs lotados na Conceição. Congestionamento na Paulista. Crianças brincando em ruas da Penha. Casais LGBTQIA + saindo de baladas na Augusta, indicando que amanheceu. 

CENA 06/SÃO PAULO/TATUAPÉ/UNIVERSIDADE OLÍMPIUS/EXTERIOR/MANHÃ

Nara está de pé cantando e tocando ukulele para crianças sentadas no chão junto com suas mães, atrás dela, percebe-se uma parede improvisada de papelão com recorte de uma janela, onde aparece fantoches de meia. George está vestido de Zé Gotinha interagindo com os fantoches. Era um pequeno evento com mães do sus a fim de conscientizar a elas e seus filhos sobre a importância de se vacinar. Suzy e Heloísa chegam e se encantam.

NARA – Do lado de cá, a vista é bonita, a maré é boa de provar, do lado de cá eu fico tranquila enquanto meu corpo dança sem parar, do lado de cá, tenho música, amigos e alguém para amar. Do lado de cá, eu tomo vacina e fico fortinha sem parar, do lado de cá bactérias e vírus não possuem brecha pra machucar, do lado de cá, eu fico tranquila, enquanto meu sangue com soldadinhos estão a trabalhar, são os glóbulos brancos ativados pela minha memória, que não é no cérebro, mas na medula…

SUZY – Que projeto lindo, Nara. Vou gravar!

HELOÍSA – Cantando Chimarruts, tinha que ser perfeito, né?

Ao final do espetáculo musical de fantoches, algumas mães vêm tirar dúvida.

MÃE 1 – Eu tenho uma dúvida, sempre quando tomo a vacina da gripe, eu fico com dor nas articulações, febril, isso é causado pela vacina?

NARA – Não. A vacina não causa isso, esses sintomas são reações imunológicas de seu corpo frente a vacina, algumas pessoas apresentam isso, mas o que precisa ser entendido é que é natural, não se deve assustar, isso é um bom sinal, indica que seu corpo está criando memória imunológica para que caso você for infectada por aquele vírus, você possa responder mais rapidamente e combate-lo. Isso tudo dura no máximo 48 horas, caso continue, você procura um médico, mas é raríssimo, acredite.

MÃE 2 – E alergia a vacina? Sempre ouço falar, verdade que uma vacina pode nos matar?

GEORGE (sem a cabeça da fantasia de zé gotinha, apenas com a roupa) – Sim, se o choque anafilático, que é a reação mais grave que seu corpo tem em frente a uma alergia não for controlado, você pode ir a óbito, mas isso é grave, estima-se que a cada um milhão de vacinados, uma pessoa apresente isso e não necessariamente ela vai a óbito, porque temos meios de reverter isso. Algo que precisa ficar claro é que não é ao agente infeccioso atenuado ou morto que a resposta alérgica, quando presente, desenvolve-se, mas aos condimentos que incrementam a vacina, por exemplo, Nara falou da vacina da gripe, usa-se muito comumente proteínas de ovo, se for alérgico a alguma dessas proteínas terá uma resposta alérgica, mas há meios de reverter e de novo, não justifica, não se vacinar por conta disso.

MÃE 2 – Entendi. Obrigada.

Suzy e Heloísa observam admirando os veteranos.

MÃE 3 – Eu tenho uma dúvida, tenho uma prima da família que não vacina os filhos dela, porque acredita que é um meio de limitar a capacidade humana, ela é vidrada naquela tese do médico Andrew Wakefield que afirmou que a vacina para tríplice viral, acho que é assim que fala, causou autistas em crianças. Eu particularmente acho um absurdo, minha pergunta é, como lido com pessoas assim?

NARA – Você quer responder, George?

George balança cabeça assertivamente, mas Heloísa intervém.

HELOÍSA – Posso responder?

NARA – Claro, Flor, manda bala. Se esquecer de algo, a gente completa.

Heloísa sorriu.

HELOÍSA – Então, mãe, é muito difícil lidar com essas pessoas porque elas estão com uma ideia muito fixa na cabeça, são adeptos ao movimento antivacina. Esse estudo desse médico britânico foi refutado por milhares de outros de lá para cá, no entanto, elas não querem ver isso. O Sarampo que faz parte da tríplice viral, junto com a rubéola e a caxumba, vacina aí tomada numa primeira dose a 1 ano de idade e depois sendo reforçada três meses depois com a tetra viral, adicionando aí a varicela, vulgo catapora,…está aumentando. Ano passado mesmo, em 2019, estima-se que em 300% aumentou o surto de sarampo por agravante desse movimento revisionista. Mas respondendo sua pergunta, sempre rebatendo e informando, logicamente poupando nossa saúde mental é o caminho. Se puder leve seus priminhos escondidos para tomar vacina.

Nara, Suzy e George riram.

MÃE 3(sorriu) – Pode deixar, obrigada pela informação!

E saiu.

NARA – Arrasou garota e você ainda está no primeiro semestre, será uma baita médica.

HELOÍSA – Tomara! Tenho muito medo de acabar falhando!

SUZY – Vai não…você é super inteligente, Helô.

Tocou o sinal.

SUZY – Melhor irmos, depois queria falar com você, Nara, eu gosto de cantar, mas agora vai começar a aula de Histologia!

NARA – Jura? Precisamos conversar mesmo. Estamos procurando mais gente para banda. Anota, meu número, flor, rapidinho. Eu tenho internato de urologia.

GEORGE – E eu seminários de clínica médica.

Depois de anotado o celular, plano geral, eles partem para direções distintas.

CORTAR PARA:

CENA07/SÃO PAULO/EXT.TERMINAL PORTUGUESA TIÊTE/PLATAFORMA DE DESEMBARQUE/ MANHÃ

Odélia, 64 anos, cabelos Chanel ruivos, um pouco acima do peso, caminha de um lado para o outro com o celular na orelha.

Som da moça da caixa postal.

ODÉLIA – Oxente! Mas será possível? Será que Rita esqueceu que eu chegava hoje de viagem? Combinamos que ela iria me buscar! Ah, mas quer saber de uma coisa, eu vou chamar um táxi, estou morta de cansaço, minhas pernas estão me matando.

Ela desaparece num corredor. CAM MOSTRA LENTAMENTE ACIMA DE SUA CABEÇA A INDICAÇÃO PARA O PONTO DE TAXÍ.

CENA 08/SÃO PAULO/JD AMÉRICA/INT.MANSÃO DOS MOÇA/QUARTO DE MATEUS/MANHÃ

Instrumental suspense. Bernardo acorda com o tocar de seu novo celular, ele atende meio misterioso a chamada.

BERNARDO – Nossa hóspede gostou da estadia? Eu entendo perfeitamente seus compromissos na universidade, Mateus é intransigente quanto a isso, eu não conseguiria te garantir o emprego caso faltasse nele… O nome do sujeito é Reinaldo? Eu espero que esse tal de Reinaldo seja um homem de muita confiança mesmo, o que estamos fazendo não é uma simples brincadeira…

CENA 09/SÃO PAULO/TATUAPÉ/INT. UNIVERSIDADE OLÍMPIUS/LABORATÓRIO DE HISTOLOGIA/MANHÃ

VIVIANE – Puxa vida, professora, mas não tem como mesmo eu assistir a aula? Acabei esquecendo meu jaleco em casa.

RÚBIA – São normas da universidade! Não posso permitir.

FABIANA (de jaleco) – Mas nós vamos trabalhar com material perigoso que justifique isso? No laboratório de bioquímica, eu até entendo afinal vamos trabalhar com soluções ácidas, básicas, corantes que demoram a se dissolver, bico de Bunsen que tem fogo. Mas aqui só vamos ver lâminas.

RÚBIA – Infelizmente são normas e normas foram feitas para serem cumpridas.

FABIANA – Mesmo que elas sejam totalmente sem sentido algum?

Rúbia ficou muda.

RÚBIA – Você não pode assistir a aula, mocinha. Não insista, depois você pega o conteúdo com seus colegas.

E foi para frente da sala. Fabiana abraçou Viviane, ao longe Eliane que chegava na sala, não gostou nenhum pouco. Close-up em sua face enciumada.

Quando Viviane saiu da sala cabisbaixa, Eliane puxou seu braço.

VIVIANE – Ah, amiga. Você tava aí, infelizmente…

Eliane retirou da mochila um segundo jaleco.

ELIANE – Pode usar esse! Tenho um reserva que encomendei.

Viviane sorriu.

VIVIANE – Ai, amiga. Você é uma fofa!

ELIANE – Você poderia ser também, se não se bandeasse para o lado da gorila!

VIVIANE – Que gorila?

ELIANE – Aquela negra ali. Você sabe que eu não gosto dela, não deveria ter aceitado seu abraço.

VIVIANE – Eu só aceitei porque ela me defendeu da Professora que estava implicando comigo.

ELIANE – Pois aceitou errado! Não vê que ela teve pena de você, você acha que merece pena dos outros, Viviane?

VIVIANE – Não. Minha mãe sempre disse que pena é um sentimento horrível que o outro tem sobre a gente, tirando totalmente nossa potência, resiliência e achando que nossa vida será miserável.

ELIANE – Pois bem, sua mãe está certíssima. Afaste-se dela. Agora senta que a aula de Histo prática vai começar.

Viviane balança a cabeça concordando.

FOCAR EM OUTRO PONTO DA SALA COM 3 GRANDES BANCADAS E UM MICROSCÓPIO PARA CADA ALUNO. DESTA VEZ, EM HELOÍSA, SUZY, GORAM E ANDRÉ.

Goram chega e senta num microscópio ao lado de André e em frente ao de Heloísa.

ANDRÉ – Cara, você tá legal? Tá com uma cara de cansado!

GORAM – Pior que tô mesmo, mano. A arete ontem com os investidores foi pesada. Aquele jantar foi interminável!

Suzy se anima.

SUZY – Então foi ontem que o garoto propaganda da Olímpius botou para quebrar com os investidores na grande mansão dos Moça?

Goram riu. Heloísa achou graça.

GORAM – Hee. Só fiquei um pouco nervoso com o meu espanhol, ainda mais depois que Mateus contou que já tinha marcado minha primeira jeguata internacional.

ANDRÉ – CARAMBA!

SUZY – Jura? E quando vai ser?

GORAM – Em Julho!

SUZY – Massa!

Rúbia os surpreende batendo a régua na bancada. Eles param na hora.

RÚBIA – Continuem…toda sala estava ouvindo essa conversa paralela a minha aula. Só quero afirmar que não vai cair inglês na minha prova, mas camadas dos vasos sanguíneos.

Eles ficaram em silêncio.

RÚBIA – Posso continuar minha aula, Doutores?

Eles afirmaram que sim. Heloísa ficou vermelha. Suzy trocou olhares com Marcela que fez símbolo que a professora era louca. Fabiana que estava ao lado de Marcela soltou baixinho.

FABIANA – Mano, ela pensa que a gente tá onde? No Jardim de infância?

Guto a admirou, estava na mesma bancadas, mas em alguns bancos para trás.

RÚBIA – Então, caríssimos, voltando ao curso de histologia cardiovascular percebam que uma artéria possui tradicionalmente três camadas: túnica íntima, túnica média e túnica adventícia.

CORTAR PARA:

CENA 10/SÃO PAULO/VILA MADALENA/APARTAMENTO DE RITA/EXTERIOR/ MANHÃ

Meire juntamente com Caio pressiona a campainha do apartamento de Rita.

MEIRE – Ué? Será que ela se esqueceu que hoje íamos distribuir cestas básicas para população do morro do Índio?

CAIO – Provavelmente e pelo visto não chegou no Hospital, acabei de receber uma confirmação no zap.

Meire pressiona novamente a campainha.

MEIRE – Ritaaaaaa! Será que ela está no banho?

Odélia sai do elevador puxando a mala, estava acompanhada do síndico.

ODÉLIA – Oxente! Mas que casal bonito está parado bem em frente meu apartamento!

Meire estranha.

MEIRE – SEU APARTAMENTO?

ODÉLIA – De minha sobrinha, Ritinha. Alexandre para o pessoal lá da Bahia.

MEIRE – Nossa, não sabia que a Doutora Rita tinha contato com alguém da sua família, ela é bem afastada de vocês, não é?

ODÉLIA – Sim, o povo da família lá de Salvador é danado de preconceituoso. Tem a cabeça muito pequena para algumas coisas, eu sou mais viajada, vivida. Em tempos e tempos apareço e fico alguns dias por aqui. 

MEIRE – Ah, isso é bom. Vejo Doutora Rita muito solitária. Mas sabe, não sei se terá muito sucesso, pelo jeito ela não deve estar aí.

ODÉLIA – Ué? Onde essa criatura se meteu? Ficou de me buscar no Terminal. Mas não tem problema, tenho uma cópia das chaves. Vou abrir. Obrigada Hélio por me ajudar com a bagagem.

HÉLIO – Magina, Dona Odélia, o prazer é todo meu.

Eles trocam olhares meio sebosos. Caio ri.

Ofélia abre o apartamento e eles se adentram.

INTERIOR APARTAMENTO DE RITA

SALA DE ESTAR   

MEIRE – Ao que parece, ela não está no banho.

ODÉLIA – Ritinha! Coração!

Instrumental melodramático. Caio então a encontra caída na cama. Um rastro de cabelo picotado pelo chão, vindo do banheiro. Ela estava desmontada, desmaiada e ao seu lado cartelas de medicamento vazias.

MEIRE – MEU DEUS, RITAAAAAAA

ODÉLIA – O QUE FOI QUE ELA FEZ, MINHA NOSSA SENHORA DAS CAUSAS IMPOSSÍVEIS!

Caio pega uma cartela. Big-close-up em sua mão. Cartela vazia.

CAIO – Ela tomou muitas cartelas inteiras. Ela precisa ir para o hospital imediatamente!  

Fechar com closes alternados entre Meire. Odélia. Hélio. Voltar para Caio. Termina em Rita desmaiada.

CENA 11/SÃO PAULO/TATUAPÉ/CAMPUS UNIVERSITÁRIO/QUADRA 1/SALÃO/TARDE

 

CONTRA-PONGLÉ. O Tempo está se fechando no céu. Vitor passa pelo chão. Plano Americano. Mostrar ele deslizando a mão pelas paredes do salão. Ao longe ele observa seus antigos colegas treinando vôlei. ANGÚSTIA.

Miguel o vê e vai ao seu encontro.

MIGUEL – Cara, você acha mesmo bom, você ficar aqui vendo nosso treino? Isso não vai te fazer nada bem.

VITOR – Mas eu sinto muita falta. Essa situação toda está me gerando um mal-estar tão forte, uma impotência de não saber o que fazer.

MIGUEL – Eu imagino, depois que você me contou o que eles fizeram contigo na festa, fiquei tão revoltado que minha vontade era agredir aquele Samuel e a turminha trotista dele!

VITOR – Deve ter algum jeito de provar minha inocência, deve haver.

Miguel olha para um quadro onde havia os antigos times de vôlei da faculdade e tem uma luz. Close em sua face ansiosa.

MIGUEL – Cara, como eu não pensei nisso antes…

VITOR – Do que você tá falando, velho?

MIGUEL – Meu, Do Dennis Pinto!!!

VITOR – Ah, sim, o famoso Bolão! Um dos melhores jogadores que tínhamos, formou-se ano retrasado. O que tem ele?

MIGUEL – Como? O que tem ele? Você se lembra como Samuel ficava na frente dele? E Bolão vivia dizendo que não suportava trotista escroto.

VITOR – Lembro disso, mas onde você quer chegar?

MIGUEL – Velho, se o Samuel ficava pianinho perto dele é porque ele deve saber de algum podre desse babaca.

VITOR – CARALEO! Você é um gênio!

MIGUEL – E não sou? Vou ver se consigo o contato dele com o treinador ou nos grupos, meu, a gente vai virar esse jogo, eu te garanto.

Close-up em Vitor. ESPERANÇA.

CENA 12/SÃO PAULO/TATUAPÉ/CAMPUS UNIVERSITÁRIO OLIMPIUS/RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO/TARDE CHUVOSA

 

Goram está terminando de comer strognoff de carne seca sentado na mesa ao lado de Heloísa e André. Na mesa também estão Suzy, Marcela, Fabiana, Guto, Viviane e Dandara.

MARCELA – E então José, esse amigo meu, conseguiu a partir de um bom advogado, a minha soltura. Mas eu pensei que eu fosse mofar na cadeia, que iria perder a faculdade, me deu um medo muito forte.

VIVIANE – Que história horrível! A gente nem imaginava que você estava presa, Marcela.

SUZY – Pois é, se não íamos até lá e exigiríamos a sua soltura imediata.

Marcela riu. Eliane fez sinal para Viviane sentar com ela em outra mesa e a caipirona mato-grossense obedeceu.

GUTO – Que tiazona desgraçada! Mas vocês precisam entregar essa vagabunda.

DANDARA – Eu não gosto deste termo empregado a nós mulheres, mas desta vez não tem como fazer isso, ela é um demônio em carne e osso mesmo.

MARCELA – Nosso medo é onde vamos abrir as meninas, entendem? Não temos como sustentar todas, elas iriam acabar na rua numa situação de miséria.

FABIANA – Eu não concordo com agressão a idoso e acho que você errou muito nisso. Mas reconheço que é situação complicada. Será que vocês não conseguem arrecadar dinheiro puxando uma campanha virtual?

MARCELA – Vamos tentar, conversar com outras casas de prostituição mais humanas. Mas a grande questão é que elas estão nesta situação por uma condição de marginalização, muitas queriam estar longe dali e eu sei muito bem como é isso, demorei anos para realmente conseguir fazer o que eu queria, estar aqui é um sonho mesmo que eu já tenha passado a 4ª década de vida!

SUZY – Oxi, imagine. Até parece! Não tem idade para corrermos atrás dos nossos sonhos e você é prova viva disso. Comeu o pão que o diabo amassou, mas lutou, batalhou, teve ajuda de amigos, pessoas que te ajudaram a estudar e conseguiu estar aqui conosco.

FABIANA – Eu tenho muito orgulho de você, amiga.

Focar em Goram está acariciando as mãos de Heloísa, escondidamente abaixo do banco, a nerd está corada. André troca olhares irônicos com Suzy que faz sinal de silêncio. Goram passa o braço por cima de Heloísa e a rouba um beijo.

Meire e Caio entram correndo no restaurante universitário um pouco molhados. Eles vão até a mesa dos estudantes. Goram se levanta assustado.

GORAM – Égua mãe. O que houve?

Todos param para chegada do casal.

MEIRE – A RITA!

GORAM(preocupado) – O que aconteceu com a Ñepohana Rita?

Heloísa fica um pouco irritada, troca olhares com Suzy.

MEIRE – Tomou uma caixa inteira de calmante, levaram ela para emergência. Ela tentou se matar, gente.

Caio tenta acalmar a amada. Goram põe a mão na cabeça de preocupação.

CORTAR PARA:

CENA 13/SÃO PAULO/TATUAPÉ/CAMPUS UNIVERSIDADE OLÍMPIUS/EXT.HOSPITAL ORLANDO MOÇA/TARDE CHUVOSA.

Andando na área coberta um segurança de 25 anos, alto, moreno com cabelos um pouco ralos, recebe uma mensagem de Bernardo.

“Ligo para você em uma hora”

Quando ele cruza um dos prédios. Eis que Mateus o surpreende com um guarda-chuva na mão.

MATEUS –  Eu procurando um professor pesquisador e olha o que encontro? Um segurança levado falando ao telefone no horário de trabalho.

HOMEM – Eu…eu…

MATEUS – Não negue, meu rapaz, que será pior. Eu vi você mexendo com essa porcaria. Com quem você estava falando com a esposa dona de casa ou com a penca de macaquinhos que você deve ter?

Ele não sabia o que responder. Então o professor pesquisador passou aos fundos e Mateus o deixou em paz, indo em direção a seu intento. Ele respirou fundo e entrou por uma porta lateral do hospital. 

CENA 14/SÃO PAULO/TATUAPÉ/CAMPUS UNIVERSITÁRIO OLIMPIUS/INT. HOSPITAL ORLANDO MOÇA/RECEPÇÃO/TARDE CHUVOSA

 

GORAM – Por Maíra e Macunaíma. Eu não aguento mais ver o interior desse hospital associado com tanta chara. O Meu atropelamento, a agressão que Doutora Rita sofreu no estacionamento e agora essa tentativa…

Suzy traz um copo de água para ele.

SUZY – Calma, Goram! Ficar desse jeito não vai adiantar em nada. Eles estão fazendo de tudo para desintoxicá-la.

A japonesa troca olhares com Heloísa que estava preocupada, mas enciumada. Suzy fez sinal para ela se aproximar e ficar com ele.

HELOÍSA – Vai ficar tudo bem.

Goram olhou para ela e sorriu. Focar em Meire num outro canto da recepção com Caio.

MEIRE – Imagine se nós não tivéssemos ido até o apartamento dela, imagine se a tia dela não tivesse aparecido, ela poderia estar morta a essa hora.

Caio abraça a amada. O Doutor chega. Silêncio. Todos param o que estão fazendo e vão em sua direção. Odélia fica frente a frente com ele.

ODÉLIA – Então, Doutor, Rita está bem?

Ele abaixa a cabeça.

DOUTOR – Infelizmente a notícia que eu tenho para dá, não é nada das boas, ela não tá reagindo ao carvão ativado.

ODÉLIA – Ah, minha nossa, Senhora do Perpétuo do Socorro.

MEIRE – Amor, ela pode morrer, Rita pode morrer. Eu não tô acreditando numa coisas dessas.

Goram senta bruscamente e atônito no sofá. André enxuga as lágrimas. Heloísa acaricia os cabelos do protagonista. Marcela cumprimenta José que chega nesse instante, eles se abraçam.

CENA 15/SÃO PAULO/PARAISÓPOLIS/RUA MANOEL ANTONIO PINTO/ TARDE CHUVOSA

 

ÔNIBUS

Fabiana puxa o sinal e olha no celular e se entristece com a mensagem de Marcela que Rita não respondeu. O veículo para no ponto e ela desce. Mas por não estar com guarda-chuva quase é levada pela ventania, as calçadas estão um pouco alagadas, ela acaba molhando seus pés.

NA CALÇADA

FABIANA – Merda! Esses bueiros tudo entupidos, prefeitura falou que ia consertar, fez nada a respeito. Risco de pegar uma leptospirose nessa água imunda.

Ela começa a andar com dificuldade em direção a sua casa até que avista sua mãe saindo para rua e com ajuda dos vizinhos, leva um homem com dificuldade para dentro de um carro da uber. Ela parece agradecê-los e depois some dentro do carro.

FABIANA – Mas quem é aquele homem? Não era para ela estar no trabalho?

Então um carro buzina para ela, assustando-a. Ela olha para o banco do motorista, era ninguém menos que Guto. Foi tirar satisfação.

FABIANA – Posso saber o que você está fazendo aqui?

GUTO – Quer uma carona até sua casa que é logo ali?

FABIANA – Como você sabe que minha casa é logo ali? Você tá me espionando?

GUTO – Espionar é uma palavra muito pesada, eu estava te observando.

FABIANA – Sem o meu consentimento?

GUTO – Para olhar agora precisa permissão?

FABIANA – Precisa, ainda mais quando você age como um maníaco.

GUTO – Não é para tanto.

FABIANA – É sim. A gente mal se viu na facul e você já faz isso?

GUTO – Que culpa eu tenho se você é muito bonita?

FABIANA – Você é muito atirado para o meu gosto! Agora vai embora que eu vou para casa.

GUTO – Deixe de ser marrenta, entra no carro, olha esse temporal, vai pegar um resfriado.

FABIANA – Ah…então depois de me dar um baita susto com essa buzina, quase me matar do coração e me botar medo dizendo que me espionou sei lá desde quando, você quer me oferecer uma amigável carona?

GUTO – Não seja dramática!

FABIANA – Eu tô sendo realista, isso sim. Agora faz o favor de ir embora.

GUTO – Você vai se sujar toda pisando nessa água.

FABIANA – Fui…

Ela se vira, mas acaba tropeçando e caindo de mãos numa poça lamacenta.

FABIANA – Arg! Não!

Guto ri.

GUTO – Eu disse.

E gargalha alto. Fabiana perde a paciência.

FABIANA – Quer rir? Pois agora vou te deixar um motivo para rir de verdade. Toma!

E joga lama na face do rapaz que engole barro. Ela começa a rir alto. Ele cospe enojado.

GUTO – Caralho, velho. O que você fez?

Ela não consegue parar de rir. Ele sai do carro e pegando barro revida. Fabiana fica passada.

FABIANA – Malditoooooo. Mas agora você vai ver o que eu sou capaz. TOMA!

E joga mais lama. Os dois ficam ali por um bom tempo trocando lamas.

CORTAR PARA:

DENTRO DO CARRO

Eles chegam na casa dela e ela bate no cabelo para retirar a lama.

FABIANA – olha o que você me fez, seu marginal?

GUTO – Reclama não, porque não joguei terra na sua boca.

De dentro do carro, a jovem chama pela vizinha.

FABIANA – Sebastiana! Oh! Sebastiana!

A Vizinha sai com um guarda-chuva.

SEBASTIANA – Meu Deus! Fabiana! Você está toda encharcada e suja de lama. Quer ajuda para entrar em casa?

FABIANA – Na verdade não vou entrar agora, você sabe onde minha mãe foi? Eu vi que ela saiu com um homem.

SEBASTIANA – Sim, é um amigo dela, chama-se Guilherme.

FABIANA – Guilherme? Não conheço nenhum Guilherme. Ele parecia que estava sendo carregado por vocês.

SEBASTIANA – E estava…o coitado passou um mal lá dentro, tinha chegado no almoço com sua mãe.

FABIANA – No almoço? Mas o que eu saiba, hoje ela trabalharia. Não era para estar aqui tão cedo.

SEBASTIANA – Ela conseguiu atestado na clínica que ele frequenta.

FABIANA – Clínica que ele frequenta? Que clínica?

SEBASTIANA – Nossa, eu não sei…espere, ela comentou rapidamente…acho que é centro oncológico La…

FABIANA – Laurindo Peixoto?

SEBASTIANA – Isso mesmo.

FABIANA – Nossa, mas…então, esse homem tá fazendo tratamento para câncer.

Ela troca olhares com Guto sem entender.

FABIANA – Minha mãe nunca é de me esconder nada. Essa história está muito estranha, não é de hoje que Dona Carolina fica me escondendo as coisas, já faz um tempo que ela sai e volta tarde da noite, teve um dia que praticamente virou a noite fora.

GUTO – Se você quiser podemos ir até lá, não me importo de…

FABIANA – Não precisa, sei me cuidar sozinha!

GUTO – Mas olha o temporal que está, guria.

FABIANA – Eu não sou guria, eu tenho nome e sobrenome. Sebastiana faz o seguinte, tome a chave, entra em casa e pegue um guarda-chuva. Se você puder me deixar no ponto de ônibus ali da frente já vai estar de bom tamanho e dê-se por satisfeito deu ter entrado nesse seu carro.

Guto abaixa a cabeça contrariado.

CORTAR PARA:

CENA 16/SÃO PAULO/TATUAPÉ/CAMPUS UNIVERSITÁRIO OLIMPIUS/ HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ORLANDO MOÇA/ CORREDOR UTI/ TARDE CHUVOSA

 

Goram observa Rita em um leito da UTI por um vidro transparente, ela está intubada. Heloísa acaricia suas costas, ele se vira, eles se abraçam.

HELOÍSA – Ela significa muito para você, né?

GORAM – Tenho um carinho especial por ela, mavá foi uma das primeiras pessoas que heche aqui em São Paulo.

Hector, o Paciente 2 passa correndo rindo e Sara vai atrás.

SARA – Olá, Suzy, pessoal. Hey, Hector volte aqui!

SUZY – Nossa, mas não é aquele paciente que estava vendo moscas voarem?

MEIRE – Ele mesmo.

SUZY – Gente, eu já volto, quero acompanhar os desdobramentos deste caso.

MARCELA – Vou com ela, porque não quero perder isso.

HELOÍSA – Acho melhor você dar um tempo também, vamos com elas, Meire e Caio ficam aqui.

GORAM – Talvez tu tenha razão, curuminha.

Eles partem e Meire e Caio que estavam encostados na parede com seus jalecos, aproximam-se do vidro.

CORTAR PARA:

CENA 17/SÃO PAULO/SANTO AMARO/BURACO QUENTE/INT. CASA DE PAMELA/SALA/TARDE CHUVOSA

 

Pamela estava desesperada, andando de um lado para o outro quando viu que Bernardo estacionou o carro. Ela correu ao seu encontro, abrindo a porta.

PAMELA – Eu estava desesperada. Precisava de alguém.

BERNARDO – O que aconteceu? Você não me disse pelo telefone.

PAMELA – Minha mãe, eu não sei onde ela está. Desde ontem de noite, não voltou. Desapareceu.

Ele a abraça e esboça um sorriso maquiavélico por entre seus ombros.

BERNARDO – Calma. Tenho certeza que vamos encontrá-la. Deve ter uma explicação para isso tudo.

CLOSE-UP em seu celular na sua mão. Numa das conversas, lemos: MANTENHA ESSA COROA QUIETA.

Ele digita rapidamente depois do abraço.

“FAÇA O PRIMEIRO CONTATO”.

Não demora muito, toca o telefone. Pamela corre a atender. Bernardo observa tudo em silêncio, fingindo estar preocupado.

PAMELA – Mãe, é você? Onde você está? O quê? Numa viagem com Leda para venderem roupas em Campos do Jordão. Como você some assim e me deixa preocupada…dormiu na casa dela?

Ela olha para Bernardo que esboça um sorriso amarelo. Instrumental explosivo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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