CENA 01. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. DIA.

Sonoplastia: suspense. Ouvem-se passos do lado de fora. Gioconda distraída. Um homem mal encarado, com capacete e todo vestido de preto bate à porta e entra.

BANDIDO
Com licença. A senhora é a dona Gioconda Grimaldi?

Fábio se aproxima sorrateiramente, vindo do corredor.

GIOCONDA
Sim, sou eu mesma. E o senhor?

BANDIDO
Sou a sua morte encomendada.

Pega um revólver da cintura e aponta para Gioconda, que se vira de frente. Fábio dá um grito e se joga à frente dela. O bandido atira e acerta em cheio o peito de Fábio. Foge com o barulho do elevador. Gioconda tenta segurar Fábio, mas o peso dele derruba ambos.

GIOCONDA (grita desesperada)
Fábio!

CENA 02. PRÉDIO GIOCONDA. CORREDOR. INT. DIA.

A sonoplastia continua. Com o grito, Bruno e Sandro saem rapidamente do elevador. Bruno corre para o apartamento de Gioconda. CLOSE no olhar de Sandro, ainda no local. Vê a porta da escada balançando.

CENA 03. APARTAMENTO GIOCONDA. SALA. INT. DIA.

A sonoplastia continua. Bruno entra e vê Gioconda em desespero, com Fábio deitado no colo.

BRUNO
Meu Deus!

GIOCONDA
Chama a ambulância, Bruno! Rápido.

FÁBIO (dor)
Meu amor, não…

GIOCONDA
Psiu, não fala nada. (Sandro entra) Corre lá embaixo e vê se o Estêvão ainda está no prédio. Na garagem.

BRUNO
Alô! Preciso de uma ambulância urgente! Tem um homem ferido a bala…

Sandro corre pra fora. Gioconda chora abraçada a Fábio.

CENA 04. PRÉDIO GIOCONDA. PORTARIA. INT. DIA.

A sonoplastia continua. O bandido sai pela porta da escada e anda até o portão do prédio, como se nada estivesse acontecendo.

CENA 05. PRÉDIO GIOCONDA. GARAGEM. INT. DIA.

A sonoplastia continua. Estêvão está ao lado do seu carro. Confere a maleta. Assim que fecha o objeto e abre a porta do carro, Sandro aparece saindo do elevador e corre em sua direção.

SANDRO (grita)
Estêvão!

ESTÊVÃO
Sandro, por que essa afobação? Aconteceu alguma coisa?

SANDRO (desespero; esgotado)
O Fábio.

ESTÊVÃO
Passou mal de novo?

SANDRO
Pior: foi baleado. Bruno chamou a ambulância.

ESTÊVÃO
Òtimo! Fez certo. Descansa um pouco aqui, que eu corro lá agora mesmo.

Estêvão corre em direção ao elevador. Sandro se apoia no carro do médico, sem fôlego. Fim da sonoplastia.

CENA 06. CASA HELENA. ESCRITÓRIO. INT. DIA.

Helena sentada na cadeira com muito ódio. Fala sozinha.

HELENA
Não vejo a hora de essa maldita estar a sete palmos da terra. Vai pagar pelo que me tomou e pelo que me fez a vida toda. Ah, vai.

O celular toca um sinal. Ela pega o objeto e lê a mensagem: “Serviço executado com sucesso”. Helena fica aliviada e abraça o celular contra seu colo. Sorri. Batidas à porta. Helena revira os olhos, mas melhora a expressão ao ver que é Jairo.

JAIRO
Com licença, dona Helena…

HELENA
(corta) Entra.

Ele obedece. Ela se levanta e anda até onde ele está. Puxa-o para um beijo ardente. Sonoplastia: sensual. Ela arranca a própria blusa, ficando apenas de sutiã. Segue se agarrando no motorista.

JAIRO (interrompe)
Por que isso?

HELENA
Digamos que é uma comemoração. Como não tinha faz tempo. Agora continua me beijando.

Eles se agarram, se deitam no chão e continuam se beijando. Fim da sonoplastia.

CENA 07. LANCHONETE. INT. DIA.

Rubens e Leila lancham juntos. Estão de mãos dadas.

LEILA
Não reconheço mais a minha mãe, sabia? Sei que ela nunca teve afinidades com a Gioconda, mas partir pra isso?

RUBENS
Pelo que o Bruno me conta, a rivalidade era séria. Uma vez sua mãe chegou a se cortar com um espelho quebrado, só pra acusar a outra de tentar matá-la.

LEILA
Se fosse em outra época, eu não ia acreditar. Mas agora… Minha mãe é completamente louca.

RUBENS
Você e sua família vão ter que tomar muito cuidado com ela.

LEILA
E eu não sei? Já vou logo avisando que ela não gostou nada de você.

RUBENS
Deu pra perceber na festa.

LEILA
Uma vez o Régis levou uma namoradinha pra casa. Menina boazinha, meiga, sem vícios. Dona Helena não inventou que ela era filha de explorador de dinheiro, só porque o pai era pastor evangélico? Nem conhecia a garota, pra falar as barbaridades.

RUBENS
Sua mãe precisa é de ajuda. (pausa) Ajuda médica. Psiquiatra.

LEILA
Infelizmente tenho que concordar. Mas vamos falar de coisa boa. Como é que está lá na escola?

RUBENS
Felizmente, lotada de alunos…

A conversa segue em FADE.

CENA 08. BOATE NOÊMIA. SALÃO. INT. DIA.

Zoraide entra, enquanto Alice varre o salão.

ZORAIDE
Oi, Alice!

ALICE
Bom dia, Zoraide!

ZORAIDE
Sua mãe está por aí?

ALICE
Ih, não, Zoraide. Ela deu uma passada no banco, mas não deve demorar. Também estou esperando, que é pra ir pro trabalho.

ZORAIDE
Tô tão feliz que vocês estão conseguindo se reerguer. Soube que os italianos simplesmente amaram a festa.

ALICE
Por pouco não saí casada com o carcamano. Acredita?

ZORAIDE
Você arrasando corações. Sandro fica com a cabeça nas nuvens quando falo em você.

ALICE
Sério?

ZORAIDE
E você duvida?

ALICE
Quero te contar uma coisa, mas mamãe não pode saber. (pausa) Ele também me faz sonhar. O jeito dele meio rústico, meio carente. O tipo de homem que sempre quis.

ZORAIDE
E por que não investe nele? Vocês estão solteiros, livres e desimpedidos.

ALICE
Não sei… Acho que minha mãe não gostou muito dele.

ZORAIDE
Ela vai ter que aceitar. Sandro é um homem de bem e tem provado isso desde que chegou à pensão. Faço muito gosto pela relação de vocês. Vou dar um jeito de juntar vocês dois num jantarzinho romântico, a sós.

ALICE
Você é uma amiga, sabia? Uma segunda mãe.

Alice abraça Zoraide, ambas sorridentes.

CENA 09. PENSÃO ZORAIDE. SALA. INT. DIA.

Carly acessa a internet pelo celular. Germano assiste ao jornal na TV.

JORNALISTA (VO)
E agora vamos a mais uma notícia. Fotógrafo sofre tentativa de homicídio em casa, em Copacabana. Fábio Velázquez está hospitalizado e passa por cirurgia.

GERMANO
Onde é que esse mundo vai parar?

CARLY
No buraco. Vocês gostam mesmo de se preocupar com a vida dos outros, hein?! Desliga a televisão e vai cuidar da própria vida, como eu.

GERMANO
Como você? Faz-me rir, garota. É por futilidades como a sua que o mundo está insensível, sem empatia.

CARLY
Lá quero saber de empatia? Os outros que se danem. Acabei de achar aqui uma seleção para garota-propaganda da Aquapaper. Lá vou eu. (beija-o no rosto) Bye-bye, amor. (sai)

CENA 10. MANSÃO ARMANDO. ESCRITÓRIO. INT. DIA.

Wilson, Carlos Eduardo e Soraya assistem à TV.

SORAYA
Que má sorte esse homem teve. Plantou o que colheu.

CARLOS EDUARDO
Mãe, isso é jeito de falar?

SORAYA
Eu conheço esse sujeito. Não vale nada. Mereceu, bem feito! Tomara que morra. Marido da Gioconda, sabia?

WILSON
A Helena deve estar comemorando a essa hora.

CARLOS EDUARDO
Vou até sair de perto, que já estou com náuseas.

SORAYA (tom)
Nem se atreva! Pois este é o tipo de gente ruim para os negócios e a família do seu pai. Eu sei do que estou falando.

Carlos Eduardo pensativo.

CENA 11. HOSPITAL. CORREDOR. INT. DIA.

Bruno abraça Gioconda, aflita. Ambos sentados no banco. Sandro e Jô entram em cena e se aproximam.

SANDRO
E então? Alguma notícia?

BRUNO
Eles ainda estão operando. Vamos ver.


Há de sair dessa.

GIOCONDA
Não sei. A bala foi bem no coração. E era pra mim.


Já foram à polícia?

BRUNO
Sim. Já deixamos nosso depoimento.

SANDRO
Eu também. Eu e Jô nos encontramos lá.

GIOCONDA
A Helena quer me eliminar de qualquer maneira.

BRUNO
Não adianta acusarmos a Helena sem provas. Pode ter sido um bandido qualquer.

GIOCONDA
Bandido qualquer não entra na casa dos outros pra atirar do nada.


Concordo com ela.

SANDRO (pondera)
Aqui não é lugar nem hora pra discutirmos, não acham? O Fábio está lá dentro, todos nós estamos nervosos.


Desculpa. É que lido com esse tipo de coisa toda hora.

BRUNO
E que dê tudo certo.

CENA 12. CASA HELENA. SALA. INT. DIA.

Jairo sai pelo corredor, ajeitando a camisa e a gravata. Amanda entra de fora.

AMANDA (nervosa)
Mamãe está aí, Jairo?

JAIRO
Sim, no escritório.

HELENA (vem do corredor)
Minha filha. Nem sei o que dizer…

AMANDA
Você dá piti e me larga sozinha no ateliê da Lídia, só por causa da Gioconda? Você pirou, mãe?

HELENA
Tive meus motivos.

JAIRO
Vou deixar vocês…

AMANDA (tom)
Você fica!

HELENA
Não fale assim com o motorista…

AMANDA (corta; tom)
Falo assim com todo mundo até você me explicar direitinho essa história, dona Helena. Por sua irresponsabilidade, uma pessoa está à beira da morte.

HELENA
Ah, não exagera, filha.

AMANDA
Não exagera? Sabia que um pistoleiro entrou na casa da Gioconda Grimaldi pra matá-la, meia hora depois de você me largar no ateliê, porque descobriu que o papai estava na casa dela?

HELENA
Saí sim, eu confesso. Mas eu jamais mandaria matar uma pessoa que fosse. Se bem que a vagabunda merece morrer, sim. Você nem imagina o mal que ela causou à nossa família. (ri)

AMANDA
Não consigo entender como consegue rir com algo tão grave. (sobe alguns degraus e se vira) Pode ficar tranquila. Gioconda não foi atingida. (termina de subir e se vira de novo) O marido está no hospital à beira da morte. (sai de cena)

JAIRO
O que ela está dizendo, dona Helena?

HELENA
Nada! Apenas me leva ao hospital.

Zilda, Leila, Régis e Estêvão entram.

ZILDA
Que gritaria foi essa? Deu pra ouvir de fora.

HELENA (mente)
Nada. Problemas com o vestido de noiva de Amanda, só isso. Jairo, me leva lá na Soraya. Preciso esfriar a cabeça. (olha Estêvão com ódio)

JAIRO
Sim, senhora.

Helena e Jairo saem.

ZILDA
Meus netos, me deixem a sós com seu pai, por favor.

RÉGIS e LEILA
Sim, vó. (sobem)

ZILDA
Estêvão, me conta a verdade. O que foi fazer lá naquela casa?

ESTÊVÃO
Se prepara, que a história é muito séria.

CLOSES alternados entre Zilda e Estêvão.

CENA 13. AQUAPAPER. FRENTE. EXT. NOITE.

Música: Universal Radio – Nina Hagen. Anoitece. Imagens da fachada e da enorme garagem da indústria.

CENA 14. AQUAPAPER. SALÃO. INT. NOITE.

A música continua. Cerca de duzentas moças, entre elas Carly (com um adesivo com número 121 colado à camisa), estão sentadas nos bancos. Aguardam para fazer testes. Cada um dos cinco avaliadores chama uma moça diferente. CORTA.

Um dos avaliadores, um homem moreno e alto, surge em PLANO MÉDIO na CAM.

AVALIADOR
Carly Simone Moon?

Carly se levanta e anda até o homem.

CENA 15. AQUAPAPER. SALA DE TESTES. INT. NOITE.

A música continua. Carly está de pé, vestida com um biquíni provocante. À frente dela estão um fotógrafo, o avaliador e Armando. Entre CORTES DESCONTÍNUOS: Carly faz caras, bocas e poses em PLANOS DIVERSOS e ALTERNADOS; CLOSES no rosto de Armando, que lança olhares provocativos para a moça; CAM no fotógrafo tirando fotos e no avaliador fazendo anotações numa folha presa á prancheta. Carly sai.

ARMANDO (cochicha com o avaliador)
Gostei dessa menina.

AVALIADOR
Mas ela nem foi tão boa assim.

ARMANDO
Pra mim foi excepcional. Me passa o contato dela. (VO) Nada como um teste mais elaborado. (expressão safada)

CENA 16. HOSPITAL. QUARTO FÁBIO. INT. NOITE.

A música para. Fábio está deitado, muito fraco. Gioconda, muito apavorada e chorosa, o abraça. Sandro está com eles.

GIOCONDA
Fiquei com muito medo, meu amor.

FÁBIO
Eu também, Gioconda
mia.

SANDRO
Mas agora precisa descansar muito, que é pra se recuperar logo.

GIOCONDA
É mesmo, Sandro. Não vejo a hora de ter meu marido de volta.

FÁBIO
Não sei. Já estou velho demais, cansado…

GIOCONDA
Não fala essas coisas, meu amor.

SANDRO
Vem comigo, Gioconda. Ele precisa dormir bastante.

FÁBIO
Estou com muito sono. A anestesia…

GIOCONDA
Depois eu volto, está bem?

FÁBIO
Está. (pausa) Chamem o Bruno, que eu quero falar com ele agora, antes de…

GIOCONDA
Eu chamo. Só não fala muito, pra não cansar ainda mais.

FÁBIO
Está bom.

Sandro e Gioconda saem e fecham a porta por fora. Fábio fecha os olhos, como se estivesse para dormir.

CENA 17. PENSÃO ZORAIDE. SALA JANTAR. INT. NOITE.

Vicky, Germano e Zoraide jantam.

ZORAIDE
Tô chocada com essa história!

VICKY
Eu também! Credo! Nem a vizinha que detestava a minha mãe chegou a uma macumba tão grande.

GERMANO
Tudo isso por rancor, por ódio.

ZORAIDE
Agora temos que orar por esse homem. Ele, sim, precisa da nossa força.

VICKY
A Jô ficou lá pra dar uma força.

GERMANO
Pelo menos a Carly foi lá no teste de garota-propaganda e não volta tão cedo.

ZORAIDE
Depois dessa, perdi até a fome.

VICKY
Eu também. Quer que eu te ajude a guardar a comida pra não estragar?

ZORAIDE
Quero sim. Enquanto isso, a gente ora.

CENA 18. HOSPITAL. CORREDOR. INT. NOITE.

Bruno e Jô conversam no banco.

BRUNO
Mal o conhecia, mas é como se fosse amigo desde sempre. Um sujeito incrível.


Imagino como deve estar se sentindo, Bruno. (pega nas mãos dele) Perdi um namorado assim. Bala perdida.

BRUNO
Sinto muito. Mas espero que o Fábio não… Você sabe.

Sandro e Gioconda entram no corredor e se aproximam deles. Bruno tira suas mãos das de Jô.


Como ele está?

SANDRO
Descansando, dentro do possível.

GIOCONDA
Não sei nem o que dizer. Fui salva duas vezes em tão pouco tempo.

BRUNO
Não se culpe, Gioconda. Pense que são os planos de Deus por algum motivo.

SANDRO (a Bruno)
Ah, o Fábio quer falar com você antes de dormir.

BRUNO
Comigo?

SANDRO
Ele faz questão.

BRUNO
Obrigado. Vou lá agora mesmo.

CENA 19. HOSPITAL. QUARTO FÁBIO. INT. NOITE.

Bruno entra. Aproxima-se devagar de Fábio. Este abre os olhos.

BRUNO
Quer falar comigo?

FÁBIO
Quero sim. (pausa) É muito importante.

BRUNO
Pode falar, amigo.

FÁBIO
Conheço você há tão pouco tempo, mas é como se fôssemos grandes amigos, irmãos… (chora) Preciso que me prometa uma coisa.

BRUNO
Fábio, não…

FÁBIO (corta)
Promete que nunca vai abandonar a Gioconda.

BRUNO
Mas eu jamais faria isso.

FÁBIO
Promete que vai cuidar da nossa mulher, depois que eu…

BRUNO
Você não vai…

FÁBIO (mais fraco)
Eu já estou de partida. Por favor, promete. Casa… com…

BRUNO
Eu prometo!

FÁBIO
Que… bom!

Fábio vira a cabeça para o lado e morre. Som do aparelho apita ininterruptamente.

BRUNO (tenta acordar Fábio; chora)
Fábio, acorda! Acorda!

Efeito de fim de capítulo: imagem congela em Fábio; FADE TO BLACK. Sonoplastia: vento.

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