CENA 01. APARTAMENTO LEME. SALA. INT. DIA.

Trecho que conclui a última cena do capítulo anterior. Dois policiais entram e ajudam a delegada a algemar Armando e a levá-lo de lá.

DELEGADA
Acabou, Armando!

ARMANDO
Isso é o que veremos.

Eles saem. Sandro acode Gioconda, que se emociona e desmaia. Jô não gosta do que vê.

CENA 02. PRÉDIO LEME. FRENTE. EXT. DIA.

A delegada sai pelo portão com os policiais e Armando. Há duas viaturas paradas, com outros dois policiais ao lado de uma delas.

DELEGADA (aos policiais da viatura)
Prendemos o pilantra. Chamem uma ambulância, pois há uma suspeita desmaiada no apartamento.

POLICIAL MULHER
Sim, doutora. Faço isso já. (se afasta)

ARMANDO
Você pode tentar me prender quantas vezes quiser, que nada me segura.

Os policiais jogam Armando dentro da viatura e entram em seguida, um de cada lado. Jô sai pelo portão e se aproxima da delegada.


A dondoca tá desmaiada.

DELEGADA
A ambulância já tá vindo. A noiva também tem muita coisa pra explicar. Temos que saber até a que ponto ela se envolveu nos crimes do Armando.


Pra mim ela tá enfiada até o pescoço. Ela é pior que ele.

DELEGADA
Não podemos acusar sem provas.


Eu sei. Mas que tem alguma coisa esquisita com essa mulher, tem.

CENA 03. HOSPITAL. CORREDOR. INT. DIA.

Ana, Leila e Rubens assistem à TV, sentados nos bancos.

ANA
Preso de novo! Bem feito! Essa delegada é foda!

LEILA
Achou que ela não era de nada porque é mulher, e se ferrou redondinho.

ANA
Ele é tão machista assim?

LEILA
Nem te conto. A Soraya sofreu nas mãos dele. A cada cinco frases, ele coloca a gente abaixo de inseto em sete. Isso quando não dá em cima da gente. Uma vez ele tentou transar com a Amanda, bem no início do noivado dela com o Carlos. Se não fosse o papai aparecer…

RUBENS
Mas essa pose toda vai acabar, quando ele for condenado.

LEILA
E espero que seja por uma juíza.

ANA
Nossa! Pensei a mesma coisa.

RUBENS
Sua mãe que se prepare. Quando descobrirem que ela tem envolvimento com as trapaças do Armando…

LEILA
Ela vai ter que arcar com as consequências. Simples assim. (toca o celular) Só um minutinho. (se afasta para um canto mais reservado) Oi, mana!… O quê?… (preocupada) E ela?… Ai, meu Deus! Tomara que não faça nenhuma loucura… Me liga. Beijo. Se cuida! (desliga e volta para Ana e Rubens) Minha irmã.

RUBENS
O que houve?

LEILA
Mamãe descobriu sobre ela.

RUBENS
E agora essa.

CENA 04. HOSPITAL. QUARTO WILSON. INT. DIA.

Régis conversa com Wilson.

RÉGIS
É, ele foi preso de novo. Uma juíza expediu um novo mandado de prisão.

WILSON
Até que algum outro juiz o libere de novo.

RÉGIS
Acho que não. Pelo que parece, houve um flagrante de tentativas de fuga e de estupro. Com tantos flagrantes, nenhum juiz vai querer se sujar por causa do Armando.

WILSON
Isso porque você não o conhece a fundo. Armando é capaz de tudo.

RÉGIS
Pode ser. Mas apareceu um dossiê com um monte de outros crimes que ele praticou.

WILSON
O Carlos Eduardo estava montando…

RÉGIS
Não, esse dossiê não é dele. Foi a Jô que montou nesses meses todos, e agora entregou pra delegada e depois pra juíza.

CENA 05. CASA NOÊMIA. SALA. INT. DIA.

Noêmia conversa com Zoraide no sofá, enquanto elas assistem à TV. Alice sentada ao lado de Noêmia, porém cabisbaixa.

NOÊMIA
A candidatura dele já era, minha amiga! Quem montou o dossiê ferrou direitinho com ele. Com certeza algum político de tradição que não gostou de concorrer com ele, porque sabia que ia perder, né?

ALICE
Ou alguma jornalista querendo quinze minutos de fama.

NOÊMIA
Do que tá falando, filha? Isso não é coisa de peixe pequeno, não. Tem ricaço na parada.

ZORAIDE
Não importa quem foi. O pilantra já era. Isso porque pensei em votar nele. Ainda bem que acordamos a tempo. A Mercedes me falou que foi ele que tomou a fazenda dela e do Sandro na maior cara dura.

Alice sai para o quarto, irritada, ao ouvir o nome de Sandro.

NOÊMIA
Continua brigada com o namorado. Acho até bom. Nunca gostei dele mesmo.

ZORAIDE
Já eu faço questão que eles se entendam e fiquem juntos. Ele é um ótimo rapaz, e ela uma moça encantadora. Combinam muito bem juntos.

NOÊMIA (assim que Gioconda aparece na TV)
Olha lá! A biscate foi pro hospital. Ah, seu eu estivesse lá, eu tacava logo cloreto de potássio na veia dela.

ZORAIDE
Credo, Noêmia! Bate na boca.

CENA 06. HOSPITAL. ENFERMARIA. INT. DIA.

Gioconda deitada numa maca, acordada e em estado de choque. Uma enfermeira cuida dela, enquanto Jô se aproxima.


Como ela tá?

ENFERMEIRA
Nada bem. Tá em choque. Pobrezinha!


Mas ela vai se recuperar, não vai?

ENFERMEIRA
Vai, sim, se Deus quiser. É passageiro. Quase foi violentada, não?


Pois é.

GIOCONDA (delira)
Meu filho!

JÔ (estranha)
Filho?

ENFERMEIRA
Ela tá chamando pelo filho desde que acordou. Você sabe se ele está vindo, ou…?


Não, ela não tem fi…

GIOCONDA
Sandro, meu filho!

JÔ (à enfermeira)
Já volto.

ENFERMEIRA (enquanto Jô sai correndo)
Aonde você vai? Moça?

GIOCONDA (se debate)
Cadê meu filho? Eu achei meu filho! Eu vi a marca…

CENA 07. HOSPITAL. CORREDOR. INT. DIA.

Jô corre em direção a Sandro. Suspense.


Sandro! Sandro!

SANDRO
O que aconteceu, Jô? A Gioconda…


Ela tá bem, mas…

SANDRO
Mas o quê?

JÔ (mais calma; respira)
Por acaso… Você tem algum sinal…? Sinal de nascença?

SANDRO
Tenho um aqui embaixo. (aponta) Por quê?

JÔ (após segundos de silêncio; gagueja)
Achamos a tua mãe.

Sonoplastia: bombástica. Sandro arregala os olhos de tão surpreso. CLOSES alternados entre ele e Jô. A sonoplastia para.

CENA 08. HOSPITAL. QUARTO BRUNO. INT. DIA.

Bruno e Rubens abrem a porta pra sair.

RUBENS
Agora vamos pra casa, que a Ana está preparando sua comida preferida.

ESTÊVÃO (entra)
Com licença. Corri, antes que vocês fossem embora. A Gioconda veio pra cá. Sofreu um desmaio quando o Armando foi preso e…

BRUNO
Não quero ver a Gioconda.

ESTÊVÃO (estranha)
Como assim? Vocês são tão próximos, unidos.

RUBENS
A Gioconda não merece minha amizade ou qualquer outra coisa que venha de mim.

RUBENS
Sua mulher veio encher a cabeça do Bruno de minhocas.

BRUNO
Helena só disse a verdade. Gioconda me usou nesse tempo todo.

ESTÊVÃO
Não foi nada disso, Bruno. Tira isso da cabeça. A Helena faz isso pra colocar uns contra os outros. Ela tem inveja de vocês. A Gioconda gosta muito de você e precisa da sua presença.

BRUNO
Ela não gosta de ninguém. Vou pra casa. (pausa) Ela teve um filho escondido de todo mundo, sabia?

ESTÊVÃO
Sabia, sim. A Helena também teve, mas não teve a mesma sorte da Gioconda. Foi na mesma época. (pausa) Olha, a Gioconda nunca te contou isso, pra não te magoar. Você é muito especial pra ela. Tudo bem que ela não sabe como demonstrar, mas eu sei que ela te adora. Você pode estar magoado com ela, com toda razão. Eu também ficaria. Mas você tem um coração puro demais pra guardar mágoas. Esquece isso e vai lá ficar perto da Gioconda. Ela precisa de você a seu lado.

BRUNO
Você acha mesmo?

ESTÊVÃO
Com certeza. Se você a ama, e eu sei que é verdadeiro, agora é hora de se unir a ela mais do que antes. Um dia ela ainda vai te dar valor. Se falo isso, é porque eu também amo aquela mulher, mas sei que tenho menos chances que você de fazê-la feliz.

BRUNO
Tá bom! Onde ela está?

ESTÊVÃO
É assim que se fala. Vou te levar lá.

Bruno, Estêvão e Rubens saem do cômodo.

CENA 09. DELEGACIA. RECEPÇÃO. INT. DIA.

Sonoplastia: suspense. A delegada e os policiais entram com Armando. Vários repórteres e fotógrafos os cercam, mas os policiais os afastam.

REPÓRTER 1
Doutor Armando, tem alguma coisa a dizer sobre a sua prisão?

REPÓRTER 2
Como vai ficar sua candidatura à presidência.

POLICIAL
Afastem-se!

REPÓRTER 3
Doutor Armando, dê uma palavrinha pro Jornal do Meio-Dia.

ARMANDO
Logo estarei solto e as coisas voltarão ao normal. (vê Lena) Você por aqui, crioula? Devia estar lavando as minhas cuecas em casa.

Lena se aproxima de Armando e lhe cospe no rosto. Ela se afasta a seguir.

CENA 10. LOJAS CARIOCAS. FRENTE. EXT. DIA.

A sonoplastia continua. Carlos Eduardo assiste à cena pelas TVs que estão na vitrine do estabelecimento. Fala pra si mesmo.

CARLOS EDUARDO
Agora, sim, está sendo feito justiça à memória de minha mãe.

Um homem da mesma idade de Carlos Eduardo se aproxima e o aborda.

HOMEM
Você não é filho do doutor Armando?

CARLOS EDUARDO
Era. Pra mim, meu pai está morto e enterrado. Só sobrou esse monte de merda aí na televisão.

Carlos se afasta e deixa o outro falando sozinho.

CENA 11. HOSPITAL. CORREDOR. INT. DIA.

A sonoplastia continua. Sandro chocado com a revelação de Jô.

SANDRO
Você quer dizer que…


Gioconda Grimaldi é sua mãe. Não tenho cem por cento de certeza, mas ela falou em uma marca de nascença. Estava delirando, claro, mas…

SANDRO
Se ela é minha mãe…


O que tá pensando? Você vai mesmo se vingar dela?

A sonoplastia para. Bruno, Rubens e Estêvão se aproximam de Sandro e Jô. Estes disfarçam o clima tenso.


Bruno?

BRUNO
Já fui liberado. Vim ver a Gioconda.


Ela ainda está em choque, então a enfermeira pediu pra gente esperar ela voltar a si e ser mandada pro quarto.

SANDRO
É isso mesmo.


Vou aproveitar pra falar com o Wilson. Depois quero falar com você, Bruno.

BRUNO
Me chama quando voltar.

SANDRO
E eu vou dar uma volta.

Sandro e Jô saem pelo corredor, embora em sentidos diferentes. Logo Ana e Leila entram pela porta por onde saiu Sandro.

ANA
Você viu, menina?

LEILA
Adorei ver a Lena cuspindo no canalha do Armando. (ambas riem)

BRUNO
A Lena cuspiu no Armando?

LEILA
Bem no meio da cara dele.

ANA
Ele foi preso enquanto tentava fugir com a Gioconda. Mas o Sandro foi mais esperto, e colocou os dois e a polícia na mesma casa.

LEILA
Sandro só no fingimento. O machão caiu direitinho.

ANA
E ainda tentou estuprar a Gioconda. Se não fossem o Sandro, a Jô e a polícia…

BRUNO (grita)
Desgraçado!

RUBENS
Mas agora ele não escapa mais tão cedo.

LEILA
Já estão até falando na televisão que a candidatura dele já era.

ANA
Nas redes sociais, ele é o campeão de xingamentos. O povo se uniu contra Armando Alighieri.

CENA 12. HOSPITAL. PÁTIO. EXT. DIA.

Sonoplastia: dramática. Sandro anda atordoado. Senta em um dos bancos, debaixo de sol. Chora compulsivamente.

CENA 13. GOIÂNIA. FAZENDA NOVAK. SALA. INT. DIA. (IMAGINAÇÃO)

Sandro entra na sala feliz da vida. Mercedes corre da cozinha para vê-lo.

MERCEDES
Já chegou, Sandro?

SANDRO
Acabou de nascer mais um bezerro, Mercedes.

MERCEDES
Sério? Que felicidade, meu amor.

CHICO (sai do escritório)
Filho, que bom que veio. Quero te apresentar uma pessoa.

SANDRO
Quem?

GIOCONDA (também sai do escritório)

Eu, Sandro.

SANDRO
Gioconda?

CHICO
Ela é sua mãe, Sandro.

SANDRO (fecha a expressão)
Como é que é?

GIOCONDA (tenta se aproximar)
Sou sua mãe.

Sonoplastia: suspense. Sandro pega um revólver na cintura e aponta para Chico e Gioconda.

SANDRO
Fica longe de mim!

CHICO
O que você está fazendo, Sandro? Abaixa essa arma.

SANDRO
Minha mãe está morta.

Sandro destrava a arma e põe o dedo no gatilho. Chico, Gioconda e Mercedes desesperados. CLOSE no revólver.

CENA 14. HOSPITAL. PÁTIO. EXT. DIA.

Fim da sonoplastia. Mercedes chama por Sandro, que desperta.

MERCEDES
Sandro! Oi!

SANDRO
Que susto, Mercedes!

MERCEDES
Por que está chorando, meu amor.

SANDRO (enxuga o rosto)
Por nada. Depois te falo.

CENA 15. CASA JAIRO. SALA. INT. DIA.

Sonoplastia: suspense. Cômodo escuro. Jairo entra lentamente e fecha a porta. Abre a janela ao lado e se vira para a CAM. Fica assustado. Sonoplastia mais intensa. Jairo grita apavorado; leva várias facadas pelo corpo. Aparecem apenas as mãos do assassino com luvas pretas. Jairo cai morto e todo ensanguentado no chão. O assassino põe uma foto de Ângela e uma rosa sobre o corpo.

Efeito de fim de capítulo: imagem congela; FADE TO BLACK. Sonoplastia: vento.

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo