NOVA CHANCE PARA AMAR
Novela de Ramon Silva
Escrita Por:
Ramon Silva
Direção-Geral:
Wellington Viana
PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO
BEATRIZ
DANIELA
EDILEUSA
ELISA
GABRIELA
GUILHERME
GUSTAVINHO
JOSIAS
KLÉBER
LAURA
MARCELO
MOREIRA
NANDÃO
RAMIRO
REINALDO
RODRIGO
SALINA
SEVERO
VIVIANE
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL:
DIRETORA e MARÍLIA.
CENA 01. CASA LAURA E SEVERO. FRENTE. EXT. NOITE.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Edileusa com o celular em punho ainda a tirar fotos do casal, ela está surpresa com o que vê.
EDILEUSA — Vivi Superiora tem que saber disso.
CAM detalha a tela do celular, ela vai enviar a foto, quando o celular notifica a falta de carga na bateria e desliga.
EDILEUSA — Quê?! Droga de celular!
Edileusa segue se afastando. Corta de volta para o “Casal 20”:
RODRIGO — E então, Elisa? Você já pensou em como vamos continuar agora?
ELISA — Calma lá, Rodrigo. Vamos com calma. Ficamos mais de 15 anos sem se ver, e agora você já quer continuar?
RODRIGO — Você não?
ELISA — Claro que eu quero! Mas eu acho que devemos seguir devagar.
RODRIGO — Tudo bem então. Você sabe que o que você decidir, eu apoio!
ELISA — (Sorrir) Eu sei. (dá um selinho no amado)
RODRIGO — Esse seguir devagar vai ser de quanto tempo mais ou menos?
ELISA — (Pensa) Hum… Que tal uns dias?
RODRIGO — Acho que é um tempo ideal. Assim eu posso agilizar todos os trâmites do divórcio.
ELISA — Nunca que a Viviane vai aceitar isso numa boa.
RODRIGO — Por que não? Nosso casamento já estava arrastado.
ELISA — É, mas você acha mesmo que ela vai aceitar superbem a ideia de que o ex dela está com a empregada da casa?
RODRIGO — (corrigindo-a) Ex-empregada!
Fecha em Elisa, que sorrir.
CORTA PARA:
CENA 02. MANSÃO VIEIRA. ESCRITÓRIO. INT. NOITE.
Continuação imediata da cena 19, do capítulo anterior.
RAMIRO — (disfarça, sorrir nervoso) Mas que história absurda é essa, Marcelo?
MARCELO — Não adianta o senhor querer me enganar! Eu ouvir muito bem quando a tia Beatriz disse sobre vazar a informação da localização da fábrica e do trabalho ‘vassalo’!
RAMIRO — Tudo bem, Marcelo. Acho que desta vez você venceu.
MARCELO — Então o senhor admite mesmo que isso existe na fábrica da empresa?
Ramiro não responde.
MARCELO — Mas é claro! Por isso não queria que eu fosse com você e com o Rodrigo! O Rodrigo sabe disso?
RAMIRO — Sabe, mas demonstrou sua indignação, assim como você!
MARCELO — Ah, bem! Era só o que me faltava, ninguém mais nessa família ter salvação! Só quero que o senhor me responda uma coisa: por quê?
RAMIRO — Porque é mais barato assim!
MARCELO — Canalha! Eu sempre soube que o senhor nunca prestou, mas daí chegar ao ponto de escravizar seres humanos em pleno século XXI?!
RAMIRO — (debochado) Que diferença faz o século?! Nenhuma! Só não enxerga quem não quer! A escravidão jamais foi abolida, principalmente neste país! Ela apenas foi maquiada para enganar os trouxas! Apenas ganhou os títulos de: carteira de trabalho, direitos trabalhistas! Mas o que um infeliz não tem que fazer para ter esses “direitos”? A única diferença é que agora não temos mais as senzalas, nem sinhá, nem senhores. Mas será mesmo? Talvez sinhá e senhor, estejam disfarçadamente rotulados como empresários. E sabe as senzalas? Talvez elas agora tenham ganhado o status de “quartinho de empregada”. Onde nem a luz sol bate!
Fecha em Marcelo perplexo a encarar pai. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 03. MANSÃO VIEIRA. PORTÃO PRINCIPAL. INT. NOITE.
Kléber ali dentro do carro a conversar ao celular com Moreira.
KLÉBER — (Ao cel.) Como estão as coisas por aí, Moreira? Regina continua afundando a empresa?
MOREIRA — (OFF) Tá do mesmo jeito. Ela só tá desconfiada de que eu tô te ajudando.
KLÉBER — (Ao cel.) Se preocupa não, Moreira. Em breve isso acaba.
MOREIRA — (OFF) Espero que bem para todos!
KLÉBER — (Ao cel., sorrir) Então você não me conhece, meu caro! Estou neste exato momento no ponto estratégico.
MOREIRA — (OFF) Ponto estratégico?
KLÉBER — (Ao cel.) De tocaia só observando os passos da família Imperial Fabristilo.
MOREIRA — (OFF) O que que tu tá fazendo aí, cara? Se te descobrem você tá ferrado.
KLÉBER — (Ao cel.) Relaxa, Moreira. Estou fazendo falta aí nessa fábrica, quando sair você não era esse cagão. Mas pode ficar tranquilo. Em breve todos saberão as armas que Kléber usará!
Kléber sorrir maligno. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 04. APART GABRIELA. SALA. INT. NOITE.
Reinaldo e Daniela ali sentados. Reinaldo a mostrar um álbum de fotos de sua família. (pele de Dani com leves feridas e fissuras)
DANIELA — Quem é essa, pai?
REINALDO — Essa é a sua tia, Ingrid. Ela mora na Suíça. É doida por você, Dani. Sempre que me liga pergunta porque eu não te levei pra ela conhecer.
Gabriela vem do quarto.
DANIELA — Mãe, a senhora tem que conhecer esse álbum.
GABRIELA — Da família do seu pai?
DANIELA — É.
GABRIELA — Eu já vi.
DANIELA — Vem, mãe.
Gabriela revira os olhos e se senta perto da filha. Reinaldo foleia mais o álbum e para na foto de sua mãe com Gabriela, vinte anos mais nova.
REINALDO — Essa é a sua avó.
DANIELA — Com a senhora, mãe?
GABRIELA — Sim. Dona Evangelina era uma pessoa maravilhosa.
DANIELA — Pena. Queria tanto ter conhecido ela.
CAM mostra Guilherme que vai entrando, quando percebe a família sorridente, apontando para as fotos e comentando, fora de áudio. Frustrado, ele recua, sai e fecha a porta.
CORTA PARA:
CENA 05. MANSÃO VIEIRA. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.
Beatriz sentada lendo. Ramiro desce a escada.
RAMIRO — Nossa! Novos hábitos até então que eram excêntricos nesta casa! Estou gostando de ver irmãzinha.
BEATRIZ — Como você é inconveniente, Ramiro.
RAMIRO — Que isso? Agressiva, ela. Apenas estou comentando a minha surpresa.
Beatriz nem dá bola e volta a sua leitura. Ouve-se o grito histérico de Viviane, seguido por:
VIVIANE — (OFF) Eu vou matar esses dois!
BEATRIZ — (Assustada) Alguém deve ter invadido a casa.
RAMIRO — (Debochado) Ou a sua filhinha viu na internet que a loja de grife está fazendo liquidação e ela ficou de fora!
BEATRIZ — Ridículo! Primeiro que grife e liquidação na mesma frase é algo (imita Ramiro) excêntrico!
Viviane desce a escada furiosa, arrematando.
VIVIANE — Aquele filho da mãe! Ele me paga!
BEATRIZ — Que isso, filha? Que gritaria é essa?
VIVIANE — A senhora acredita que o Rodrigo está com aquela songamonga da Elisa?!
BEATRIZ — (Surpresa) Quê?!
RAMIRO — Aquela empregada da casa?
BEATRIZ — Ex-empregada! Foi demitida ontem.
VIVIANE — Foi demitida e foi se consolar nos braços do meu marido! Eu vou até lá acabar com essa palhaçada! (avança para a saída)
BEATRIZ — Espera, Viviane! Como você ficou sabendo disso?
VIVIANE — A Edileusa mora no mesmo bairro que aquela piranha!
RAMIRO — Esse pessoal moram na zona norte, Viviane! Não é bom ir pra esses lados a essa hora.
VIVIANE — (Furiosa) Antes eu encontrar um bandido no caminho! Daria carona até esse tal bairro do Sabiá, sei lá das quantas, que a Edileusa me deu o endereço e mandava matar os dois!
BEATRIZ — Você está louca, Viviane? Olha as besteiras que você está falando, minha filha! Vamos subir e dormir que já está tarde.
VIVIANE — Eu vou acabar com o Rodrigo e com a piranha da Elisa! Nem se divorciou de mim e já está com outra! (Inconformada) Mãe, eu fui trocada pela empregada.
BEATRIZ — Vamos subir, filha. Você vai precisar de um calmante pra dormir se continuar desse jeito.
Viviane e Beatriz sobem a escada.
RAMIRO — (P/si, sorrir) Rodrigo não perde tempo mesmo.
CORTA PARA:
CENA 06. CASA JOSIAS. SALA. INT. NOITE.
Josias abre a porta e Rodrigo entra.
RODRIGO — Licença, tio.
JOSIAS — Que isso, Rodrigo? Essa casa também é sua.
RODRIGO — E pelo visto nada mudou.
JOSIAS — Não mesmo. Quero que você veja uma coisa.
RODRIGO — Que coisa?
JOSIAS — Vem comigo.
Os dois seguem para o quarto.
CORTA PARA:
CENA 07. CASA JOSIAS. QUARTO RODRIGO. INT. NOITE.
Josias e Rodrigo entram. Rodrigo fica encantado, surpreso em como nada que era dele, saiu do quarto.
RODRIGO — (Surpreso) Meu Deus! Está tudo aqui.
JOSIAS — Sim, eu nunca mexi em nada.
RODRIGO — A minha mesa, o meu skate que eu nunca aprendi a andar… Tio, tô sem palavras.
JOSIAS — Sabia que você ia gostar.
RODRIGO — Gostar? Eu adorei! É como se eu tivesse voltado a adolescência.
JOSIAS — Que bom, fico feliz que você esteja feliz.
Rodrigo se senta na cama e passa a mão na bola de futebol que ali está.
RODRIGO — A única bola que minha mãe me deu. Agora eu tô pensando: como tudo teria sido se minha mãe estivesse aqui?
JOSIAS — Certamente vocês ainda morariam nesta casa. Letícia sempre foi apaixonada por este bairro. Ela costumava dizer que o bairro do Canarinho era um refúgio pra onde você quisesse ir.
RODRIGO — Ela faz falta, tio.
JOSIAS — Muita! Eu deixei tudo como estava quando você foi embora, porque essa era uma forma de manter viva a esperança… De que um dia eu poderia ver você de novo antes de morrer.
Rodrigo sorrir, se aproxima do tio e o abraça. Close em Josias emocionado. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 08. APART GABRIELA. SALA. INT. NOITE.
Reinaldo, Gabriela e Daniela sentados no sofá. O álbum no colo de Dani.
REINALDO — Filha, eu sei que você nunca ouviu essa história antes, mas eu e a Gabriela até conversamos sobre isso e decidimos que você merece saber.
DANIELA — Saber do quê?
GABRIELA — De como foi a nossa separação. Eu sei que até hoje você não entende porque seu pai até saiu do país.
REINALDO — E tudo aconteceu do jeito que aconteceu por minha causa. Eu fui um canalha e trair a Gabriela com uma amiga dela.
DANIELA — Sério?
GABRIELA — É sim, filha.
REINALDO — Eu não cumprir com o que prometi no altar. Eu fui terrível com sua mãe.
GABRIELA — Também não precisa falar desse jeito, Reinaldo. O que aconteceu no passado, fica no passado. O que importa agora é que você está perto da Dani novamente.
DANIELA — Mas por que o senhor saiu do país, pai?
REINALDO — A verdade é que eu fui um covarde! Errei e achei que saindo do país tudo estaria resolvido. Na época, meu chefe estava procurando alguém para ser representante da empresa na Argentina e eu me candidatei.
DANIELA — O senhor preferiu ficar longe de mim por causa de um erro seu, é isso mesmo?
REINALDO — Dani, eu sei que eu errei. Me desculpe.
GABRIELA — Bom, Dani. Seu pai agora está aqui e tentando.
REINALDO — E agora nunca mais vou embora. (Gabriela o encara, séria) Nunca mais vou embora do Rio, mas breve, breve vou comprar um apartamento. (tem ideia) Eu acho que sei o que pode melhorar a estética da pele da Dani. Eu trouxe da Argentina um creme que me ajudou nos momentos que eu mais precisei, vou lá pegar.
Reinaldo vai para o quarto.
DANIELA — Será que esse creme vai resolver isso que eu tenho, mãe?
GABRIELA — Resolver não vai, filha. Mas se melhorar e te deixar feliz, está bom. Vou ligar pro Guilherme, ele ficou analisando a amostra da seiva. (pega o cel. e liga.)
OPERADORA — (OFF) Sua chama está sendo encaminhada para a caixa postal.
Gabriela desliga e estranha
CORTA PARA:
CENA 09. RUA. CARRO. INT. NOITE.
Guilherme ao volante sério. INSERT-FLASH da cena 04.
GUILHERME — (P/si, frustrado) Família feliz! Agora tá aí a resposta pra urgência dela!
CORTA PARA:
CENA 10. CASA JOSIAS. QUARTO RODRIGO. INT. NOITE.
Josias e Rodrigo sentados na cama.
JOSIAS — Muito bom ter você de volta, meu sobrinho.
RODRIGO — Confesso que sentir falta do senhor falando: meu sobrinho; minha sobrinha…
JOSIAS — Você voltou pra ficar, né?
RODRIGO — Sim. A França não é mais pra mim, tio. Desde que meu pai morreu, que/
JOSIAS — (Corta, surpreso) O Pierre morreu?
RODRIGO — Morreu, tio. Por isso nunca mais ligou pro senhor. Meu pai era cardíaco e a empresa dele estava que só problemas! Daí eu vi de perto o que é ser um homem sobrecarregado e disse pra mim mesmo: não quero isso pra mim.
JOSIAS — Você faz o que da vida agora?
RODRIGO — Por enquanto estou como Gerente-Geral na empresa da família da Viviane.
JOSIAS — E essa Viviane seria a sua esposa?
RODRIGO — No papel ainda sim, mas no real, não. Vou entrar com o divórcio.
JOSIAS — Tudo isso por causa daquela Elisa Borges, Rodrigo?!
RODRIGO — Eu amo a Elisa, tio. Aliás, sempre amei! Até me senti traído pelo senhor, já que fui obrigado sair do país.
JOSIAS — Eu não tenho mais autoridade na sua vida, Rodrigo. Na época esta foi a forma que arrumei pra evitar a união de um Garcia com uma Borges. Mas eu posso ter sido egoísta ao colocar algo que me agradaria sobre o que você queria. Me desculpe.
RODRIGO — O senhor mudou mesmo, tio. Aquele tio Jô de 15 anos atrás, jamais pediria desculpas por qualquer coisa que seja.
JOSIAS — Eu andei pensando muito a respeito de tudo que já me aconteceu nessa vida. E o quanto eu fui mala, como eu ainda sou conhecido na vizinhança.
RODRIGO — (Sorrir) Verdade.
JOSIAS — Agora estou um pouco mais aberto a mudanças.
RODRIGO — Que bom, tio.
JOSIAS — Mas já fique ciente de uma coisa: a segunda geração dos Borges e Garcia, jamais aceitarão a união de ambas as famílias!
Fecha em Rodrigo, que sorrir.
CORTA PARA:
CENA 11. RIO DE JANEIRO. STOCK-SHOTS. EXT. AMANHECER.
Takes do nascer do sol, praia de Copacabana com a presença de alguns banhistas. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 12. CANARINHO. PRAÇA. EXT. DIA.
Elisa e Rodrigo debaixo da asa do canarinho.
RODRIGO — Eu sei que você disse que precisava de um tempo, mas eu quero que você saiba de uma coisa.
ELISA — Que coisa?
RODRIGO — Eu vou pedir o divórcio hoje mesmo!
ELISA — Ah, sim. Que bom! Só assim podemos reatar. Não quero ser a segunda opção de ninguém!
RODRIGO — Claro que não! Até porque uma mulher linda assim que nem você, merece ser a única opção!
ELISA — Hum… Que cantada mais brega e sem graça.
RODRIGO — Ué! Falar a verdade agora é considerado cantada? Não sabia.
Os dois se beijam. Táxi de Nandão se aproxima e buzina.
NANDÃO — Vambora, Rodrigo!
RODRIGO — Já estou indo. (P/Elisa) Vou lá, Elisa. Preciso organizar meu desvínculo da família Vieira. Te amo!
ELISA — Também te amo! Agora vai.
Rodrigo entra no táxi, que se afasta. Elisa segue caminhando em direção a casa dos pais.
CORTA PARA:
CENA 13. CASA LAURA E SEVERO. FRENTE. EXT. DIA.
Severo, Laura e Gustavinho saem de casa. Elisa se aproxima.
LAURA — Vamos rápido que você já está atrasado, Gustavinho.
SEVERO — Calma, Laura. Eu vou levar ele de carro.
GUSTAVINHO — É, vó. Desencana!
LAURA — Que isso menino? Isso lá é jeito de falar com a sua avó?!
ELISA — O que tá acontecendo, gente?
LAURA — Gustavinho que agora deu pra ficar falando essas manias de jovens.
ELISA — (Sorrir, não entende) Como assim?
LAURA — Cê acredita, Elisa, que o menino falou pra mim: desencana?
SEVERO — Chega, Gustavinho, vamos. Laura é a primeira a falar que estamos atrasados e agora quem está nos atrasando mais é ela!
Severo coloca o neto no banco de trás do carro. Entra, dá a partida, buzina para a esposa e filha. Elisa e Laura acenam para Gustavinho, que acena de volta para elas, o carro segue se afastando.
LAURA — Não pense que passou despercebida, senhora Elisa.
ELISA — Quê?!
LAURA — Eu vi muito bem você e o Rodrigo que nem adolescentes debaixo da asa do Canarinho.
ELISA — Rodrigo disse que hoje vai pedir com o divórcio. (Feliz) Dessa vez vai, mãe!
LAURA — (Sorrir, ergue as mãos para o céu) Graças a Deus!
CORTA PARA:
CENA 14. APART GABRIELA. SALA. INT. DIA.
Marília batendo umas almofadas, varre o chão. Gabriela e Reinaldo vêm do quarto. Marília estranha os dois, por achar que estavam no mesmo quarto.
MARÍLIA — Os dois saindo do quarto… Juntos?
GABRIELA — Não é nada disso que essa sua mente poluída está pensando.
MARÍLIA — Ah, não?
REINALDO — Não!
MARÍLIA — Tudo bem então. E a Dani, como ela está?
GABRIELA — Um pouco melhor.
REINALDO — Estou passando nela um creme que me ajuda bastante a despistar minha condição.
MARÍLIA — Que bom! Tô com tanta peninha da Dani passando por isso.
GABRIELA — Mas vamos vencer essa ictiose, Marília.
MARÍLIA — Se Deus quiser!
REINALDO — Vamos, Gabriela? A diretora marcou as nove.
GABRIELA — Vamos. (P/Marília) Estamos indo até o colégio da Dani, conversar com a diretora sobre o que aconteceu.
REINALDO — A gente tem que tentar entender o que aconteceu.
GABRIELA — Quando a Dani acordar, inventa alguma coisa pra ela. Mas não diga que fomos até o colégio.
MARÍLIA — Claro! Vão com Deus.
Reinaldo e Gabriela saem.
CORTA PARA:
CENA 15. MANSÃO VIEIRA. SALA DE JANTAR. INT. DIA.
Marcelo e Ramiro sentados a tomar café da manhã. Marcelo com repulsa a olhar o pai.
RAMIRO — Hoje é o grande dia, Marcelo! Tá animado?
MARCELO — Nem tanto.
RAMIRO — Ah, que isso meu filho? Você vai se formar na faculdade. É uma grande vitória!
MARCELO — Grande vitória seria se empresários que nem você, deixassem a ganância pelo dinheiro de lado e parassem de escravizar pessoas!
RAMIRO — Agora começa com o politicamente correto e não para mais! Que saco! Você e o Rodrigo ficam dando um de bom moço, mas de tão “certinho” que ele é, traiu a Viviane!
MARCELO — (Surpreso) Como assim?
RAMIRO — Não ouviu ontem o escândalo da Viviane? Ela descobriu um caso do Rodrigo com uma ex-empregada da casa.
MARCELO — Daqui de casa?
RAMIRO — É.
MARCELO — (Surpreso) Meu Deus.
Beatriz entra.
BEATRIZ — Bom dia a todos.
MARCELO — Bom dia.
BEATRIZ — Vocês sabem onde a Viviane está? Eu fui até o quarto dela e a cama já está arrumada.
RAMIRO — Não vi a Viviane hoje.
MARCELO — Nem eu.
Edileusa vem da cozinha.
BEATRIZ — Edileusa, você por acaso viu a Viviane?
EDILEUSA — Vi sim, dona Beatriz. Assim que cheguei o carro da família saiu.
BEATRIZ — Pra onde será que essa menina foi?
CORTA PARA:
CENA 16. PRÉDIO FABRISTILO. FRENTE. EXT. DIA.
Táxi de Nandão se aproxima. Rodrigo vê o carro da família Vieira ali estacionado.
RODRIGO — Para o carro, Nandão.
NANDÃO — Esqueceu alguma coisa?
RODRIGO — Não. (Aponta) Este carro aí é da família da minha ex.
NANDÃO — Ah, sim. Parece que a ex quer reatar então.
RODRIGO — Conhecendo bem Viviane, sei que o que ela quer é fazer escândalo de novo. (pega o cel. e liga) Oi. Aqui é o Rodrigo. Não fale meu nome. Apenas me confirme se a Viviane, está por aí me esperando. (Pausa) Tá bom. Obrigado, querida. Não comente com ninguém que eu liguei, tá bom? Tchau. (Desliga) Como já esperava. Ela está na minha sala me esperando.
NANDÃO — Não vai descer e encarar a fera?
RODRIGO — Não. Toca pra outro lugar aí, Nandão.
NANDÃO — Que outro lugar?
RODRIGO — Vai que no caminho eu te explico.
O táxi segue se afastando. CAM mostra Rick saindo do prédio da Fabristilo, desconfiado, ele olha o táxi se afastando. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 17. CASA LAURA E SEVERO. SALA. INT. DIA.
Elisa sentada mexendo no cel. Laura vem da cozinha.
LAURA — Elisa, você está aí toda felizinha projetando sua vida ao lado do Rodrigo… Mas você parou pra pensar no que pode acontecer com ele?
ELISA — A senhora tá falando da morte do Marcos?
LAURA — É. Ele é considerado o assassino.
ELISA — Mas foi em legítima defesa! A perícia ainda vai chegar a esta conclusão. A própria mãe do Marcos, dona Salina, confirmou pro delegado que o Marcos queria nos matar!
LAURA — Se a própria mãe falou contra o filho é porque é verdade. Eu, pelo menos, nunca mentiria se soubesse que você está errada.
ELISA — Que horror, mãe! E ia deixar que eu fosse presa?
LAURA — Você é adulta. Saberia muito bem como se virar na prisão!
Fecha em Elisa que sorrir, não acreditando. Instantes.
CORTA PARA:
CENA 18. ANGRA. CEMITÉRIO. EXT. DIA.
Atenção Sonoplastia: Instrumental – Triste.
Cortejo fúnebre com o caixão e Salina no carrinho elétrico, que percorre o cemitério até o local do sepultamento. Dois coveiros pegam o caixão no carrinho. Salina salta do mesmo e se aproxima da cova, o caixão desce a sepultura, Salina chora profundamente triste. Instantes. Tristeza.
CORTA PARA:
CENA 19. COLÉGIO PARTICULAR. SALA DA DIRETORA. INT. DIA.
Gabriela, Reinaldo e diretora sentados conversando.
DIRETORA — Eu soube do que aconteceu com a Dani no pátio do colégio e presto as minhas sinceras desculpas.
GABRIELA — Justamente por isso que estamos aqui hoje, diretora.
DIRETORA — Eu confesso a vocês que não sabemos lidar muito bem com a situação. Até mês passado a Dani não tinha nada. Ela ficou algumas semanas afastada do colégio sem justificativa e quando voltou estava com o rosto… (Pensa) Não sei nem que adjetivo uso.
REINALDO — Nós compreendemos completamente a situação de vocês. Tanto minha ex-esposa, Gabriela, quanto eu, fomos pegos de surpresa.
DIRETORA — Vocês descobriram o que a Dani tem?
GABRIELA — Sim, a Dani na verdade é vítima de uma doença hereditária chamada ictiose.
A diretora não entende.
REINALDO — Pelo visto nem a senhora sabe do que se trata.
DIRETORA — Olha, vocês vão ter que me desculpar. Mas eu não sei mesmo o que é.
GABRIELA — Acho que é por aí que a gente tem que começar. Dando acesso a informações como essa para os alunos, pais, funcionários.
REINALDO — Como assim, Gabriela?
GABRIELA — Embora a internet está aí para nos informar, ainda sim há muitas pessoas alienadas. E no caso da Dani com essa doença de pele não é diferente. Muitos acham que se encostar numa pessoa com ictiose, pode pegar. E isso não é verdade. A ictiose não é uma doença contagiosa.
DIRETORA — Eu posso ajudar caso a maioria dos pais aceitem.
Closes alternados em Gabriela e Reinaldo que não entendem.
CORTA PARA:
CENA 20. MANSÃO VIEIRA. PORTÃO PRINCIPAL. EXT. DIA.
Kléber ainda em seu carro a observar a movimentação. Ele olha para o relógio e arremata
KLÉBER — (P/si) Vida de patrão é boa mesmo, hein! Na fábrica as seis da manhã já estão todos de pé pra bancar a vida boa desse canalha!
CAM mostra o carro de Ramiro saindo, com os vidros todos fechados.
KLÉBER — (P/si, sorrir) A grande hora está chegando.
Ele dá a partida e o carro segue o carro de Ramiro. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
CENA 21. ESTRADA DE TERRA. EXT. DIA.
Táxi de Nandão se aproxima jogando muita poeira para o alto e para.
NANDÃO — Que lugar é esse, Rodrigo?
RODRIGO — Eu tenho um povo pra libertar, Nandão!
NANDÃO — Povo pra libertar? Mas do que é que você tá falando?
Rodrigo tira do bolso uma nota de cem e dá a Nandão.
RODRIGO — Aqui o seu dinheiro, Nandão. Agora dá o fora que eu preciso cuidar disso sozinho.
NANDÃO — Não posso deixar você sozinho nesse fim de mundo. Como tu vai embora depois? Eu posso ir com tu, isso se tu quiser, claro.
RODRIGO — Querer eu não quero! Quanto mais pessoas envolvidas nisso, pode ser mais perigoso.
NANDÃO — Eita! A coisa deve ser das cabeludas mesmo, hein!
RODRIGO — O táxi tem que ficar num lugar mais escondido.
NANDÃO — Isso é o de menos!
Nandão dá a partida e joga o táxi para dentro do matagal. CAM permanece no mesmo ângulo.
RODRIGO — (OFF, assutado) Ficou maluco, Nandão?! E se o táxi encalha por aqui!
NANDÃO — (OFF) Aí é só tu empurrar!
RODRIGO — (OFF) Vai nessa! Agora vamos focar no que importa!
CORTA PARA:
CENA 22. MATAGAL ATRÁS DA FÁBRICA. EXT. DIA.
Rodrigo e Nandão seguem avançando pelo matagal, quando sentem um cheiro terrível.
RODRIGO — (Tapando o nariz) Mas que cheiro podre é esse?
NANDÃO — Isso aqui deve ser desova de coisa ruim!
Nandão pega um pedaço de pano no bolso e tapa o nariz. Rodrigo faz o mesmo. Ambos seguem avançando e chegam ao local do “cemitério clandestino”. Vários quadrados em que não há vegetação. CAM mostra que há dezenas de quadrados no local.
RODRIGO — Você tinha dito “desova” não foi, Nandão?
NANDÃO — Foi.
RODRIGO — Nós estamos na zona da desova dos corpos dos trabalhadores da fábrica.
Closes alternados em Rodrigo, horrorizado, Nandão confuso. Instantes. Tensão.
CORTA PARA:
FIM DO TRIGÉSIMO OITAVO CAPÍTULO