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Capítulo 13

CENA 01. APARTAMENTO IVAN. INT. NOITE.

Ivan usa o notebook. Conversa virtualmente com Frida.

IVAN
Thanks so much, my dear! Just remember: don’t tell anything to Virginia. See you later.

FRIDA (tela)
See you, Ivan. Bye-bye!

Ivan abaixa a tela do notebook e fica contente. Fala sozinho.

IVAN
Macho beta, você está fora de campo. Helena livre pro papai aqui. E se você ousar cruzar meu caminho ou o de meu filho novamente, já sabe. Sua Heleninha vai adorar saber o seu segredo mais obscuro… Raul Torelli.

Sonoplastia: suspense. Ivan pega do dossiê e olha com atenção para a foto de um homem idoso. Em seguida, a guarda junto com o dossiê dentro da gaveta. Sonoplastia (até a cena 02): Ah, como eu amei! – Benito de Paula. Olha com carinho a foto de Mário no porta-retrato. Depois, abraça o objeto contra o peito. Emociona-se.

CENA 02. SÃO PAULO. EXT. DIA.

Amanhece. Imagens de pessoas andando pelas ruas da capital, e do trânsito congestionado.

CENA 03. MANSÃO HELENA. SALA. INT. DIA.

Marcos sentado no sofá; lê um jornal. Nágila se aproxima dele.

MARCOS
Bom dia, Nágila!

NÁGILA
Bom dia, doutor Marcos! Desculpa a intromissão. O escândalo do seu pai saiu no jornal?

MARCOS
Escândalo? Do que você está falando?

NÁGILA
Veja o senhor mesmo. Deve ter saído na página de fofocas.

Marcos a obedece e vê as fotos da confusão de Raul no bar. Arregala os olhos de tão surpreso.

MARCOS
Quando a mãe souber…

NÁGILA
Ela já sabe. Estava aqui quando mandaram pro celular da sua irmã. Já é de se imaginar a reação dela.

Solange desce as escadas, toda arrumada e maquiada. Ouviu parte da conversa.

SOLANGE
O que houve com seu pai?

MARCOS
As noitadas de sempre. Só que dessa vez, ele tá frito! Espancou a moça no bar.

NÁGILA
Era travesti.

MARCOS
Isso! (pausa) Você vai sair, Solange? Quer carona? Já estou indo pro trabalho.

SOLANGE
Pode ser.

MARCOS
Então, vamos. (coloca o jornal sobre a mesinha) Nágila, cuida de tudo. Me deixa informado.

NÁGILA
Sim, doutor. Tenham um bom dia.

Marcos e Solange saem juntos.

CENA 04. AVENIDA PAULISTA. CARRO. EXT. DIA.

Marcos dirige. Mais frio com Solange.

SOLANGE
Fico por aqui. (ele para o carro) Obrigada pela carona.

Ela tenta beijá-lo, mas ele continua inerte. Então, ela sai do veículo. CAM do lado de fora. Solange vê o carro partir. Pega o celular e liga para o hacker.

SOLANGE
Oi, amor. Sou eu, Solange. Fica esperto, que logo vou precisar de você de novo… Sim, pra isso mesmo… O Pedro está sabendo sim… Quem sabe não te retribuo com uma boa…? Você sabe… Te ligo… Beijo!

Solange desliga o celular e gargalha.

SOLANGE (VO)
Não vejo a hora de ver aquela avestruz toda depenada, e eu podre de rica. O que já peguei, tá guardadinho no lugar certo. Mas eu quero mais, porque sou Solange.

Ela se distrai e tenta atravessar a rua com o sinal vermelho para pedestres. Alguém a agarra por trás, evitando que seja atropelada. Assustada, ela se vira.

IVAN
Com essa distração toda, aquele ônibus ia te pegar.

SOLANGE
Não sei o que me deu… Acabei de sair do carro do meu marido, e aí… Nossa, você foi um anjo. Não sei nem como agradecer.

IVAN (ardiloso)
Não tem de quê, Solange. Você tem alguma coisa pra fazer agora? Se não, te convido pra tomar um café comigo lá em casa, se não se importar. Assim você me faz companhia.

SOLANGE
É… eu aceito!

IVAN (sorri)
É logo ali na outra rua. Vamos?

CENA 05. BELLATEX. SALA HELENA. INT. DIA.

Helena e Magda conversam sobre o ocorrido na noite anterior.

MAGDA
Fui inconsequente sim, dona Helena. Não sei se a senhora vai me perdoar, ou me demitir. Não deveria ter mandado aquele bilhete pra ele. A briga só aconteceu por causa disso.

HELENA
De jeito nenhum, Magda! Você só tentou ajudar. Como sempre, é leal a mim e à Bellatex. Não se culpe pelas besteiras adolescentes de meu ex-marido. Pensa que podia ter sido muito pior, se eles tivessem ido a um…

MAGDA
Mesmo assim, dona Helena. Fico constrangida.

HELENA
Pois não fique. E se o Raul te fizer qualquer coisa, te ameaçar, te humilhar, fala pra mim.

Marcos bate à porta e entra.

MARCOS
Atrapalho?

HELENA
Não, filho. Queria mesmo falar com você. (a Magda) E você, confirma pra mim a reunião com os russos, por favor. E fica despreocupada.

MAGDA
Obrigada, dona Helena. Com licença.

Magda sai. Marcos senta em seu lugar. Helena e Marcos conversam em FADE.

CENA 06. APARTAMENTO IVAN. SALA. INT. DIA.

Ivan e Solange entram.

IVAN
Aqui estamos!

SOLANGE
Muito bonito. Nem tinha reparado direito da outra vez.

IVAN
Gostou mesmo? Senta aqui, que vou preparar alguma coisa pra gente comer, tá bom? Fica à vontade.

Ivan sai para a cozinha. Solange se levanta e começa a analisar minuciosamente o cômodo e os objetos. Fixa o olhar no autorretrato de Ivan por alguns instantes. Depois pensa.

SOLANGE (VO)
Esse jogo vai ser muito interessante. Mas não há nada ainda que me mostre por onde começar. Nada do Mário, a não ser aquele porta-retrato.

Ivan entra com pratos e talheres. Arruma a mesa, enquanto fala.

IVAN
Está vendo esse quadro? Fiz pro Mário. Eu ia dar pra ele no dia da premiação. (suspira) Ele me faz muita falta.

SOLANGE
A mim também, apesar de…

IVAN
Apesar de quê?

SOLANGE
Nada. Não ia falar coisa com coisa. Tô zonza ainda.

Ivan sai novamente para a cozinha, mas continua falando.

IVAN (OS)
Você sabe que venho de Petrópolis, não sabe? Mais exatamente de Araras. Tenho uma mansão lá. É um lugar tranquilo, com muita vegetação, muitos pássaros. Mário sempre gostou muito de pássaros. Quando era menino, ele todo dia jogava pedaços de frutas pra eles. Bons tempos. Mas me fala de você. Como vai seu casamento com o Marcos? Soube que ele não está te tratando muito bem, por causa da insistência da Helena.

SOLANGE
Não sei se esse casamento foi a melhor ideia.

Ivan volta com uma bandeja com café, leite, frutas e pães. Coloca-os sobre a mesa, enquanto fala.

IVAN
Talvez sim; talvez não. Nisso eu não posso te ajudar. Mas posso servir este humilde lanche. Fiz misto quente, você gosta?

SOLANGE
Parece estar uma delícia.

Solange se senta à mesa. Ambos se servem.

IVAN
Bom apetite!

CENA 07. APARTAMENTO NELSON. INT. DIA.

Nelson de roupão, lendo jornal. A campainha toca. Ele põe o jornal sobre o sofá e atende a porta. Raul força a entrada.

NELSON
Raul, o que…

RAUL (corta)
Você precisa me ajudar. Eu me meti numa enrascada.

NELSON
Se meteu mesmo. E antes que me pergunte, sua família inteira já está sabendo.

RAUL
A Magda me paga.

NELSON
A Magda nem precisou abrir a boca. As amigas da Vivi mandaram fotos pro celular dela (pausa) Como é que você resolve bater em travesti na frente de todo mundo? Você pode ser preso por homofobia.

RAUL
Então agora eu tenho que tratar o vagabundo com pão-de-ló, porque é bicha? Ele pegou no meu pau!

NELSON
Tudo bem, muita gente já botou a mão em mim também. Mas não é assim que se resolvem as coisas. Esfria a cabeça e não faz nada. Vou chamar o Valdir e juntos vamos ver o que fazer. Enquanto isso, nem sonha em chegar perto da Helena ou dos seus filhos.

Letícia abre a porta e entra com Vlad. Fica chocada com a presença de Raul.

RAUL (a Nelson)
Ela já está…?

LETÍCIA
Já sim, Raul. Aliás, que papelão! (a Nelson) Papai, quero te apresentar meu namorado… Vladímir, o Vlad.

NELSON
Então você é o famoso russo por quem minha filha está encantada?

VLAD
Eu mesma. Você tem uma filha de ouro.

LETÍCIA (abraça Vlad)
Estamos namorando.

RAUL
Acho que estou sobrando aqui. Nelson, eu já vou.

NELSON
Nada disso, me espera lá no escritório. (Raul sai) Ela tem me falado muito bem de você, Vlad. Você acha que pode fazê-la feliz? Pergunto isso, porque ela teve uma desilusão recente com um outro rapaz, que era noivo dela.

CENA 08. APARTAMENTO IVAN. SALA. INT. DIA.

Ivan e Solange conversam de pé.

IVAN
Solange, fica à vontade. Vou só lá embaixo pegar umas cartas e já volto.

Ivan se vira para sair, quando Solange o chama.

SOLANGE
Ivan?

IVAN (atende)
Sim, minha querida?

Ela se aproxima e pega na mão dele, suavemente. Fala e olha fixamente para Ivan.

SOLANGE
Queria te agradecer mais uma vez por salvar minha vida. Você tem sido mais que um pai pra mim. Ivan… eu queria te pedir mais uma coisa. Se você puder me atender? Mas é que estou com vergonha.

IVAN
Vergonha de quê, meu amor? Pode falar.

Sonoplastia: romântica. Num impulso, ela o beija. Após uns segundos, ele se solta, atordoado. Fim da sonoplastia.

IVAN
Não posso.

SOLANGE
Por que não?

IVAN
Você era noiva do meu filho, e eu estou com a Helena. Não é certo. Eu sei que você está confusa, mas…

SOLANGE
Não consigo resistir. (acaricia o rosto dele) Alguma coisa me prende a você. Não sei explicar.

IVAN (tira a mão dela de seu rosto)
Solange, vamos parar por aqui. Já volto. (sai)

CENA 09. PRÉDIO IVAN. CORREDOR. INT. DIA.

Sonoplastia: suspense. Ivan parado perto da porta de seu apartamento. Põe as mãos na cabeça, aflito.

IVAN
O quê você está fazendo, Ivan? Ela está te tentando.

Ivan anda de um lado a outro. Logo entra no elevador.

CENA 10. APARTAMENTO NELSON. SALA. INT. DIA.

Nelson agora de terno. Valdir e Raul com ele, todos sentados no sofá.

VALDIR
A vítima prestou queixa ontem mesmo contra o senhor, por agressão, lesão corporal e homofobia. Sua situação se complicou, doutor Raul.

RAUL
E agora. O que devo fazer, doutor?

VALDIR
Por enquanto, nada. Apenas espere o oficial de justiça chamá-lo pra depor.

NELSON
Mas ele pode ser preso?

VALDIR
Dependendo do desenrolar do processo, pode sim. Como houve testemunhas, provas, e tudo mais, a pena pode chegar a 6 anos. Fora multas e indenizações. Depende muito do juiz.

CENA 11. PRAÇA. EXT. DIA.

Pedro e Magda conversam sentados num banco.

MAGDA
Claro que saí. Fiquei assustada. Não gostei mesmo de você bancando o machão pra cima do doutor Raul. Agora ele pode querer se vingar na gente.

PEDRO
Desculpa, meu amor. É que meu sangue ferve quando vejo homem batendo em mulher. Não quis te magoar, nem te colocar em encrenca. Me perdoa, bombom.

MAGDA
Tá bom. Mas não faz mais isso quando estiver comigo. Não topo violência.

PEDRO
Faço o que você quiser, minha lady. Agora, o que você acha de a gente curtir um rodízio lá na Moóca? Conheço uma pizzaria muito boa.

MAGDA
Pizza, não. Prefiro um de japonês.

PEDRO
Eu pago! Que é pra compensar minha tropeçada de ontem.

Eles se beijam.

CENA 12. MANSÃO HELENA. SALA. INT. DIA.

Solange e Ivan entram. Nágila e Helena à espera deles. Helena dá um selinho em Ivan e abraça Solange.

HELENA
Que surpresa boa, vocês dois juntos!

IVAN
Convidei a Solange pra tomar um café lá em casa. Depois, passamos no túmulo do Mário.

SOLANGE
Bem que você disse que seu namorado é um cozinheiro de mão cheia. Todo prendado. Aliás, que homem!

Ivan coça a cabeça, desconfortável.

HELENA
Algum problema, Ivan?

IVAN (disfarça)
Não, tudo bem. Só algo que me passou pela cabeça.

HELENA
Solange, quero te mostrar umas coisas lá em cima. Ivan, a Nágila vai te servir um café. Com licença.

Helena e Solange sobem a escada e saem de cena. Enquanto isso, Ivan senta no sofá. Nágila prepara uma xícara e leva para o pintor. Quando ele tenta agradecer, ela finge estar desastrada e derruba o café quente nele, sujando a camisa branca e a calça. Sonoplastia: suspense.

IVAN
Ai, meu Deus! Nágila…

NÁGILA (se revela)
Isso é pra aprender a não mexer com a família dos outros. Tipos como você não me enganam.

IVAN
O que você quer dizer com… tipos como eu?

NÁGILA
Não seja cínico!

IVAN
Querida, você não me conhece. Eu não te dou o direito de falar assim comigo. Agora eu vou subir e vou me limpar. (levanta-se) Você pode achar o que quiser de mim, mas exijo que me respeite.

Ivan a olha atravessadamente. Depois, anda em direção à escada, enquanto ela fala.

NÁGILA
O último que tentou enganar esta família acabou se matando com medo da polícia.

Ivan volta e fica de frente a Nágila; encara-a.

IVAN
Se você está falando do meu filho, vai ter que provar o que disse. Não tenho medo de suas ameaças. (cínico) Ah! O café estava ótimo.

Ivan vai novamente em direção à escada; sobe. Nágila revoltada.

CENA 13. MANSÃO HELENA. COZINHA. INT. DIA.

Virgínia abre a geladeira e pega uma garrafa de água. Enche o copo e guarda a garrafa. Bebe. Nágila entra furiosa.

NÁGILA (fala sozinha)
Ordinário de meia figa! Você vai ver só.

VIRGÍNIA
De quem você está falando, Nágila? Do papai?

NÁGILA (tom baixo)
Desculpa, nem vi você aí, Virgínia. Não, é apenas um sujeitinho que se meteu na minha vida pessoal. Não se preocupe com isso. Com licença, vou ver se está tudo em ordem pela casa. (sai)

VIRGÍNIA (fala sozinha)
Ela tá esquisita.

CENA 14. MANSÃO HELENA. SALA. INT. DIA.

Marcos entra e vê Nágila.

NÁGILA
Que bom que o doutor chegou! Nem imagina quem está lá em cima.

MARCOS
Pela sua cara, não vai me dizer que é aquele…

NÁGILA
O próprio. Passou o dia junto com sua querida Solange.

MARCOS (furioso)
Esse desgraçado, além de seduzir minha mãe, agora dá em cima da minha mulher? Isso não vai ficar assim!

Marcos sobe as escadas apressado.

CENA 15. MANSÃO HELENA. CORREDOR. INT. DIA.

Ivan sai do banheiro.

IVAN (fala sozinho)
Acho que deu uma boa limpada.

Sonoplastia: suspense. Marcos entra no corredor e dá de cara com Ivan. O primeiro fica possesso.

IVAN
Como vai, Marcos?

MARCOS
Você aqui, seu…

IVAN
O que você tem contra mim? É por causa da sua mãe? Porque se for…

MARCOS
Que parte que você não ainda entendeu de sair de perto dela? Ela tem dono. Helena não é pra um canalha como você.

IVAN (tom)
Canalha, não! Você não fala comigo nesse tom ou…

MARCOS (grita)
Ou o quê? Vai me dedurar pra chefona? Por que não vira homem e resolve comigo? Claro que não. É um covarde igual ao Mário.

IVAN (tom)
Não fala do meu filho!

Helena e Solange chegam ao corredor, assustadas com os gritos. Solange se abraça a Helena.

HELENA (tom)
Marcos, para com isso agora!

MARCOS (grito)
Tão covarde, que agora está queimando no inferno, como merece.

IVAN (esbofeteia Marcos e grita)
Cala essa boca!

Efeito de fim de capítulo: imagem congela em Ivan. Sonoplastia: rugido de leão.

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