Você está lendo:

Capítulo 06

CENA 01. APARTAMENTO SOLANGE. SALA. INT. DIA.

Sonoplastia: suspense. Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Solange e Pedro sentados no sofá. Solange gargalha como uma hiena. Pedro a beija.

PEDRO
Quer que eu vá com você, pra te dar cobertura?

SOLANGE
Melhor não. Só deixa o celular ligado. Posso precisar de você. Agora me pega, que eu tô ardida de desejo.

Eles se deitam no chão, ele por cima dela, aos beijos.

CENA 02. GALERIA DE ARTE. RECEPÇÃO. INT. DIA.

Virgínia e Sophia, ambas de uniforme, olham o mural com os eventos do local. Até que um anúncio chama a atenção da amiga.

SOPHIA (lê)
O mundo pelos olhos de Ivan Rangel. Parece interessante.

VIRGÍNIA
O quê, amiga? (olha o anúncio) Ivan Rangel… esse nome não me é estranho. E é pintor, pelo que está aqui. (pausa) Menina, lembrei. Vi esse homem no enterro do Mário.

SOPHIA
Sua mãe vai te deixar vir? É à noite.

VIRGÍNIA
Ela vai me encher o saco pra vir, já tô até vendo. Mas isso vale a pena, porque amo arte. Podemos vir juntas, vai ser depois do inglês.

SOPHIA
Eu topo!

VIRGÍNIA
E olha esse curso de escultura aqui. Tô doida pra fazer…

Elas continuam a conversa. Fade.

CENA 03. CURSO DE INGLÊS. FRENTE. EXT. DIA.

Letreiro: “No dia da exposição”.

Virgínia e Sophia saem do curso sorridentes.

VIRGÍNIA
Acho que fui bem na prova escrita, mas não sei na oral.

SOPHIA
Você foi ótima, Vivi. Sua pronúncia é linda. Palavra de quem já morou nos States.

VIRGÍNIA
Obrigada. Você é uma amiga de ouro.

Elas entram no carro de Helena, dirigido pelo motorista. O carro parte.

CENA 04. GALERIA DE ARTE. SALÃO. INT. DIA.

A equipe da galeria ajuda Ivan a organizar os quadros no salão. Sérgio está com ele. Conversam animados.

SÉRGIO
Um quadro mais interessante que o outro. Queria ter um décimo do seu talento para as cores.

IVAN
E eu para a sua lábia, Sérgio. Advogado de primeira, desde os tempos da escola. Tirava as melhores notas em Português, enquanto eu era melhor em Matemática. Você lembra?

SÉRGIO
Como lembro. Só não repeti a oitava série, graças a você.

Um ajudante segura um quadro e está perdido em onde pô-lo.

IVAN
Coloca naquele canto. (de volta a Sérgio) Pareço ansioso?

SÉRGIO
Não, nem um pouco.

IVAN
Mas por dentro estou um vulcão à beira da erupção.

SÉRGIO (mais sério)
Já até sei por quê. Vai mesmo colocar a vingança em prática? Depois que começar, não tem mais volta. Esquece esse assunto, Ivan. Deixa teu filho partir em paz.

IVAN
Mas eu vou deixar. Vai partir em paz sim, mas com o nome limpo como ele merece. Agora, me ajuda a terminar os preparativos.

CENA 05. MANSÃO HELENA. SALA. INT. DIA.

Virgínia e Sophia entram. Helena e Letícia estão no sofá.

HELENA
Virgínia, que bom que você já voltou. Olá, Sophia!

SOPHIA
Como vai, Helena?

HELENA
Contente em ter você junto com minha filha. Falei com sua mãe mais cedo.

SOPHIA
Ela não vai poder ir à galeria, mas deixou eu ir com vocês.

LETÍCIA
Com licença, vou lá em cima me retocar.

Letícia pega a bolsa e sobe as escadas.

HELENA
Como foram na prova, meninas?

VIRGÍNIA
Foi tudo bem. Fui melhor na prova escrita, do que na oral.

HELENA
Então precisa treinar mais essa parte, Virgínia. Sophia, você bem que podia ajudá-la nisso. E também a se arrumar como uma jovem dama.

VIRGÍNIA (censura)
Mãe!? Para de me expor para as colegas.

CENA 06. MANSÃO HELENA. CORREDOR. INT. DIA.

Letícia anda pelo corredor e dá de cara com Solange. Trocam beijos no rosto.

LETÍCIA
Oi, Solange. Como você está?

SOLANGE (falsa)
Vou indo. E você? Ansiosa pelo casamento?

LETÍCIA
Um pouco. Achei que fosse ficar mais. Enfim… Vou ali à toalete. Fica bem!

Letícia entra no banheiro. Solange dá alguns passos pelo corredor.

SOLANGE
Você vai rodar já, já. Vadia!

CENA 07. MANSÃO HELENA. SALA. INT. DIA.

Helena conversa com Nágila. Virgínia e Sophia estão sentadas no sofá, usando os celulares.

HELENA
Meu filho ligou, Nágila?

NÁGILA
Sim. Ele disse que vai direto para a exposição, pois a reunião com doutor Nelson se estendeu.

HELENA
Imaginei. Nágila, avise aos empregados que estão todos de folga a partir de agora. Você também. Ficam só os seguranças e o motorista.

NÁGILA
Sim, senhora. Muito obrigada.

HELENA
Se você quiser ir à exposição conosco, está convidada.

NÁGILA
Gostaria muito, mas vou aproveitar para resolver umas coisas pessoais. Com licença.

Solange desce as escadas.

HELENA
E você, Solange? Tem certeza de que vai com a gente? É o pai do Mário, você sabe.

SOLANGE
Vou sim, Helena. Assim é bom, que eu distraio a cabeça. Mesmo que não seja da forma como eu queria.

HELENA
Então se arruma linda e poderosa. Quero ver você de cabeça erguida.

Solange senta no sofá e pega nas mãos de Helena.

SOLANGE
Não sei como te agradecer. Você tem sido mais que uma amiga. Tem sido praticamente uma mãe.

HELENA
Estou sempre aqui pro que você precisar.

Foco agora em Virgínia e Sophia, que conversam baixo, para que ninguém as ouça.

SOPHIA
Que cara é essa, Vivi?

VIRGÍNIA
Solange não me desce. Não sei o que é, mas não acho que ela seja sincera. Tenho um pressentimento ruim.

SOPHIA
Ela me parece tão simpática, tão doce.

VIRGÍNIA
Não é o que a intuição me diz. Posso estar errada, mas tem algo errado com ela.

CENA 08. BELLATEX. ESCRITÓRIO. INT. DIA.

Marcos e Nelson entram.

MARCOS
Enfim, essa reunião terminou. Como foi difícil fechar esse negócio com os ingleses. É tão mais fácil com os russos.

NELSON
E agora temos que nos preparar para a nova loucura de sua mãe.

MARCOS
Ela está indo longe demais se aproximando do pai daquele sujeito.

NELSON
E da noiva também.

MARCOS
A Solange, não. Ela é diferente. Provou mais de uma vez que é inocente nessa história. Mas não ponho a mão no fogo pelo pintor.

Marcos pega o celular e lê uma mensagem irônica de Letícia: “Falta um dia… para a forca que foi preparada para nós. Beijos!”. Ele ri.

NELSON
O que foi?

MARCOS
Sua filha. (suspira) Amanhã é o grande dia. Serei um homem casado. Ou, quem sabe, morto.

NELSON (sorri)
Pelo menos você me terá como sogro.

CENA 09. SÃO PAULO. EXT. NOITE.

Sonoplastia (até a cena 10): Atlântida – Rita Lee. Anoitece. Imagens do trânsito engarrafado de São Paulo.

CENA 10. GALERIA DE ARTE. SALÃO. INT. NOITE.

Galeria cheia de jornalistas e convidados. Todos conversam animados, bebem, olham os quadros. As famílias de Marcos e Letícia entram; são recepcionados, fotografados e entrevistados. Instantes depois, Sérgio entra. Helena e Nelson ficam curiosos.

NELSON
Mas aquele não é o Sérgio Fontana? O advogado?

LETÍCIA
Sim, ele mesmo.

MARCOS
Dizem que ele provou a inocência de um homem que diziam ser um “maníaco”, que sequestrava e estuprava noviças e seminaristas. Foi numa cidade do interior. E também a de uma socialite cuja empregada teria inventado que ela matou o próprio filho queimado no forno, só porque foi demitida por justa causa. Na verdade, foi um acidente doméstico.

HELENA
Meu Deus! Não quero nem imaginar…

LETÍCIA
Sim, e inúmeros outros casos.

CENA 11. GALERIA DE ARTE. FRENTE. EXT. NOITE.

Solange toma um ar em frente ao local. De repente, uma sensitiva morena e com aparência mal cuidada se aproxima.

SENSITIVA
Posso ler sua mão?

SOLANGE (susto)
Hum? Não, de jeito nenhum. Não tenho como pagar…

SENSITIVA (simpática)
Não precisa. Faço de coração. Me dê sua mão.

Solange obedece. A sensitiva faz a análise e fica preocupada.

SENSITIVA
Menina, você está em apuros. Quer entrar no paraíso, mas na verdade você está em um caminho de muita lama, de muito sofrimento. É um caminho sem fim.

SOLANGE
(puxa a mão) Você está louca? (vira-se de costas) Não vou ficar aqui ouvindo essas baboseiras.

SENSITIVA
Você cutucou a pessoa errada. A consequência já está por vir. E ela está dentro desse prédio. Você despertou a ira de um leão, e agora ele está à sua caça.

SOLANGE (vai embora)
Sai de perto de mim, mulher louca!

CENA 12. GALERIA DE ARTE. SALÃO. INT. NOITE.

Sonoplastia (até a cena 15): bossa nova. Solange entra pensativa e irritada. Helena percebe e chama a moça.

HELENA
Aqui, Solange! (a moça se aproxima) Aconteceu alguma coisa que te deixou preocupada?

SOLANGE
Não, só uma maluca lendo minha mão e me rogando praga, aí fora.

MARCOS
Liga pra ela, não. O que mais tem por aí é charlatão.

Raul entra acompanhado de Isadolly, uma jovem bonita e vulgar. Entram sorridentes.

HELENA
Raul perdeu de vez o senso das coisas. Essa menina tem idade pra ser filha dele. E vestida assim? Numa galeria de arte? Que vergonha!

NELSON
Aposto que você está com ciúmes e não quer admitir.

HELENA
Nem vou te responder.

Raul se aproxima.

RAUL
Olá, Heleninha!

HELENA
Não me chame de Heleninha na frente dessa… moça. Você perdeu o senso de ridículo, Raul? Olha como ela está vestida.

ISADOLLY (irritada)
Raul, quem é essa madame entojada?

RAUL
Já falei pra você não abrir a boca aqui, Isadolly.

HELENA (passada)
Isadolly? Raul, vem comigo um instante.

Raul e Helena se afastam. Nelson e Isadolly conversam em tom baixo.

NELSON
Meu bem, como vai? Aqui não é lugar de escândalo. Respira e se comporta como moça fina. As pessoas estão olhando pra cá.

ISADOLLY
Quero saber quem é essa mulherzinha.

NELSON
É a ex. Mãe dos filhos dele. Pessoa de grande prestígio.

MARCOS
Com licença, vamos ver os quadros.

Marcos, Letícia e Solange se afastam. O casal para um lado, Solange para outro. Isadolly com vontade de armar um barraco.

CENA 13. GALERIA DE ARTE. CORREDOR. INT. NOITE.

Helena e Raul param num canto mais discreto.

HELENA
Raul, pelo amor de Deus. Tira essa moça daqui. Ela é totalmente vulgar e sem educação.

RAUL
Você está com ciúme de mim e com inveja dela.

HELENA
Não é questão de ciúme, nem de inveja. Isto aqui é um evento importantíssimo para nossa família. Não pega bem você trazer essa… para algo que pede discrição e polidez. Nem com quinhentas aulas de etiqueta, ela conseguiria ser adequada a um lugar fino. Que você queira sair, transar com ela, eu até entendo. Mas não admito que você esfregue na cara de nossos filhos. Então some com ela e leva pra onde você quiser. Estamos entendidos?

CENA 14. GALERIA DE ARTE. SALÃO. INT. NOITE.

Letícia e Marcos olham os quadros. Solange está do outro lado do salão. Marcos se vira e troca olhares com Solange.

LETÍCIA (olhando o quadro)
Essa paisagem… Não sei, parece conversar comigo. As cores, as formas… A montanha ao fundo lembra o dia em que fui para o curso de moda pela primeira vez. Mamãe me levando de carro e subindo uma montanha, lá na Suíça… Não é bonito, Marcos? (pausa) Marcos, ouviu o que te perguntei? (olha-o) Marcos!

MARCOS (desperta)
Oi?

LETÍCIA
Está bem distraído. Estou falando desse quadro com você, das lembranças que ele me traz.

MARCOS
Desculpa. É que fiquei preocupado com meu pai.

LETÍCIA
Ele e sua mãe são adultos, eles que resolvam as coisas deles. Olha esse quadro aqui, ele não se parece comigo.

MARCOS
Muito. É a sua cara.

LETÍCIA
Acho que vou comprar. Já sei até onde colocar.

CENA 15. GALERIA DE ARTE. BANHEIRO MASCULINO. INT. NOITE.

Ivan se olha no espelho. Conversa consigo mesmo. Tira uma foto de Mário do paletó e repara com carinho em cada traço do filho. Guarda a foto. Sonoplastia: suspense.

IVAN
Chegou a hora, Ivan Rangel!

Ivan sorri de orelha a orelha. Olhar sedento por vingança.

CENA 16. GALERIA DE ARTE. SALÃO. INT. NOITE.

Sonoplastia: jazz. Convidados e jornalistas no salão lotado. Sérgio entra para anunciar a chegada do pintor.

SÉRGIO
Com licença. Atenção aqui! Boa noite a todos. Nosso artista já está chegando. Uma salva de palmas!

Sonoplastia: suspense. Ivan entra pela porta. Câmera sobe dos pés à cabeça, lentamente. Depois, closes alternados entre vários personagens por alguns instantes, em especial Solange chocada. Novamente, close em Ivan com um sorriso de boca. Todos batem palmas ao artista. Sonoplastia: jazz.

IVAN
Boa noite! Espero que esta seja uma noite muito agradável a todos, assim como está sendo para mim. Agradeço a presença de vocês. Todas as obras aqui expostas estão à venda, então… Bem, aproveitem a noite. Mais uma vez, muito obrigado.

Mais uma salva de palmas. Ivan, com Sérgio ao lado, dá entrevistas. CAM em Letícia e Helena.

HELENA
Me surpreendi. Ele está tão diferente daquele homem frágil e desolado do dia do enterro. Está altivo.

LETÍCIA
Por fora. Acho que, por dentro, ele nunca vai superar a morte do filho. Vi isso nos seus olhos.

CENA 17. LIBERDADE. RESTAURANTE. EXT. NOITE.

Sonoplastia: Asa Morena – Zizi Possi. Rua lotada de gente. Nágila, de terno, chega sozinha ao restaurante e senta a uma mesa do lado de fora. O garçom a atende.

NÁGILA
Uma cerveja, por favor. Obrigada.

Pedro entra em cena, andando na calçada. Vê a governanta e senta com ela.

PEDRO
Posso?

NÁGILA
Sim, por favor. Você não é o amigo da Solange?

PEDRO
Sou sim. E você é Nídia?

NÁGILA (corrige)
Nágila.

O garçom chega com a cerveja de Nágila. Pedro pede o mesmo ao garçom. Eles jogam conversa fora, em fade.

CENA 18. GALERIA DE ARTE. CORREDOR. INT. NOITE.

Sonoplastia (até cena 19): suspense. Solange está perturbada com a presença de Ivan. Tem uma sensação estranha.

SOLANGE
Solange, acorda! Não deixa esse homem te perturbar assim.

Anda de um lado a outro. A seguir, decide voltar ao salão.

CENA 19. GALERIA DE ARTE. SALÃO. INT. NOITE.

Solange pega uma taça de champagne com o garçom. Bebe. Anda para trás, distraída. Acaba esbarrando em Ivan, que conversa com Sérgio. Ivan e Solange se viram um para o outro. Sonoplastia: suspense. Trocam olhares. Closes alternados.

Efeito de fim de capítulo: imagem congela em Ivan e Solange. Sonoplastia: rugido de leão.

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo