CENA 1. CASA DE ODETE. DIA

Continuação da cena do capítulo anterior, com a revelação bombástica de Maria.

ALEXANDRE – O que é isso? O que você está falando, Maria?

ODETE – Cala a boca! Cala a boca, sua vagabunda!

Odete parte para cima de Maria, agredindo-a com socos e tapas.

Alexandre aparta a briga entre as duas. Mas quer explicações da mãe.

ALEXANDRE – O que é isso? O que Maria está dizendo é verdade?

Odete fica em silêncio.

ALEXANDRE – (grita) Responda! O que Maria está dizendo é verdade?

ODETE – Meu filho, esse é um assunto tão complicado.

MARIA – Ah, mas temos todo o tempo do mundo para ouvirmos.

ALEXANDRE – Saia daqui! Vai embora, Maria!

MARIA – O quê? E perder a minha sogrinha sendo desmascarada?

ODETE – Ora, e você tem muita moral para falar de mim, não é mesmo? Uma vagabunda que dormiu com todos os rapazes do povoado.

MARIA – Inclusive com seu filho. E o fruto desse amor está aqui.

ODETE – Mentirosa! Tenho certeza de que esse filho não é de Alexandre, mas de Ramiro.

ALEXANDRE – Chega! Maria vai embora.

MARIA – E se eu não quiser sair?

ALEXANDRE – Vai ter que sair por bem ou por mal.

MARIA – Não terá coragem de agredir sua futura esposa.

Alexandre fica muito furioso. Pega Maria pelo braço e a arrasta para fora de sua casa. Ele joga-a na rua. Retorna para casa e quer saber de toda a história.

ALEXANDRE – Agora quero saber. Conte tudo.

ODETE – Oh, meu filho. Não era para você ficar sabendo dessa forma.

ALEXANDRE – E quando pretendia me contar? Olha só pra mim, já sou homem feito! Como pôde esconder uma coisa dessa durante tantos anos?

ODETE – Eu não sabia qual seria sua reação, meu filho. Eu… eu tive medo de te perder.

ALEXANDRE – Me perder? Por quê? Você me roubou da minha mãe verdadeira? Aliás, quem é sua mãe verdadeira?

ODETE – Eu preciso contar toda a história. Você precisa e ficará sabendo toda a verdade hoje mesmo.

 

CENA 2. CASA DE LEOPOLDO. QUARTO DE ROGÉRIO. DIA

Rogério estava deitado em sua cama. Ele nunca imaginou que ficaria dessa forma. Estava apaixonado por Daniela?

ROGÉRIO – (falando sozinho) Ora, por favor. Eu não posso estar apaixonado por Daniela. Logo eu, o maior conquistador da Europa… e não de terras. Mas afinal foi para isso que vim para Veseli, não é mesmo? Precisávamos de dinheiro e Veseli era um reino próspero. Mas tudo mudou. Essa guerra arruinou com a economia de Veseli. Então não há mais nada que me prenda aqui, a não ser… Eu não posso ficar com essa dúvida e incerteza. Vou resolver essa situação com Daniela de uma vez por todas.

Levanta decidido e vai em direção ao castelo.

 

CENA 3. CASA DE ODETE. DIA

A discussão de mãe e filho continua.

ALEXANDRE – Estou esperando. Conte logo.

ODETE – Não há como fugir mais. Vou te contar.

ALEXANDRE – Ótimo, sou filho de quem?

ODETE – Antes disso você precisa saber como e por que chegou em minhas mãos. No tempo em que você nasceu, eu trabalhava como criada no castelo do reino.

ALEXANDRE – Isso eu já sabia, mas o que tem a ver com o meu nascimento?

ODETE – Agora escute, por favor. Eu trabalhava como criada no castelo do reino. Augusto já reinava em Veseli, mas a rainha era outra. Elizabeth era a personificação da rainha perfeita. Era meiga, doce, educada. Tratava todos os funcionários do castelo com graça. Parecia um anjo. Ela tinha uma criada que era exclusiva sua. Só trabalhava para ela. Era Alice.

ALEXANDRE – Que Alice? Alice a rainha? A rainha Alice era uma criada no castelo?

ODETE – Sim. Mas Elizabeth não a enxergava como uma criada. Ela a tratava como se fosse sua irmã. Mas Alice sempre teve uma inveja descomunal de Elizabeth. Talvez a fonte dessa inveja fosse o rei Augusto. Então Alice começou a sabotar o relacionamento do rei e da rainha. Pouco a pouco, ia colocando Augusto contra Elizabeth. Pelo menos tentava. Mas o amor entre o rei e a rainha era muito sólido. Mesmo com as maiores mentiras de Alice, o relacionamento dos dois era inabalável. Então Alice teve de adotar outra estratégia. Ela se aliou a uma cigana feiticeira e começou a matar Elizabeth aos poucos. Dia a dia, mês a mês, a rainha Elizabeth ia definhando. Até não resistir mais. A morte de Elizabeth talvez tenha sido a maior comoção que Veseli passou em séculos. Todos os súditos ficaram realmente tristes quando ela se foi. Augusto entrou em uma profunda depressão. Ardilosamente, Alice se mostrou muito solícita e passou a confortar o rei. Bem devagar, foi prendendo Augusto na sua teia e o rei foi superando a depressão e se apaixonando novamente, dessa vez por ela. Ela finalmente estava conseguindo tudo o que sempre quis. O luxo, o dinheiro, a fama e o poder de uma rainha. Mas teve um infortúnio que atrapalhava todos os seus planos. Meses antes de se casar com Augusto, ela descobriu que estava grávida. Isso arruinaria a vida que ela sempre sonhou. Ela não podia ter essa criança. Então não havia outro jeito. Quando o bebê nasceu, ela estava decidida a matá-lo. Alice e seu amante iriam jogar o próprio filho do penhasco, na cachoeira. Eu não deixei. (começa a chorar) Eu não deixei que jogassem aquela criança indefesa de um penhasco.

ALEXANDRE – (chorando) Você está me dizendo que…

ODETE – Sim…

ALEXANDRE – Alice é minha mãe? Eu sou filho de Alice?

ODETE – Sim, meu filho. Você é filho da rainha Alice e de Alfredo.

Alexandre entra em choque. Não consegue raciocinar. Seu mundo caiu. Ele senta em uma cadeira, as mãos no rosto. Chorava copiosamente.

ODETE – Me desculpe, Alexandre. Eu deveria ter te contado antes.

ALEXANDRE – Eu… eu… eu não consigo nem falar.

ODETE – (abraça o filho) Não precisa falar, eu sei que é um baque muito grande receber uma notícia dessa. É por isso que Alice veio para cá quando foi expulsa do castelo. Afinal de contas, querendo ou não, temos uma conexão. Ela… ela também me deu mais uma coisa.

ALEXANDRE – O quê?

ODETE – Alice tinha muito medo que eu contasse ao rei o que ela fizera. Então ela roubou boa parte do tesouro do cofre do castelo, fez um baú de joias e me deu, para que eu nunca contasse a ninguém o seu segredo.

ALEXANDRE – É por isso que Maria estava aqui. Ela queria dinheiro para o casamento. Ela sabia de tudo?

ODETE – Ela ouviu uma discussão entre mim e Alice. E vem me chantageando desde então. Mas eu nunca dei nada a ela, nem nunca toquei nesse dinheiro maldito.

ALEXANDRE – Eu não esperava outra coisa de você, mãe.

Segundos de pausa.

ODETE – Então você continua me considerando sua mãe.

ALEXANDRE – Mas é claro! Eu nunca iria te abandonar. Você é e sempre será a minha mãe.

Odete começa a chorar. Odete e Alexandre se abraçam com muita ternura. Eles definitivamente eram mãe e filho.

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