No casarão da fazenda Dois Rios, na sala estava Rafael e Luana com a pequena Anahí nos braços e sentados no sofá.

—Essa menina é um presente de Deus em nossas vidas. —disse a fazendeira.

—Jamais poderíamos imaginar que após a perda do nosso filho chegaria uma guriazinha pra gente cuidar. —acarinhou o rosto da menina.

—A vida as vezes nós pega de surpresa. A amo como se ela tivesse nascido de mim.

Jacinta aparece com uma mamadeira nas mãos e se aproxima dos patrões.

—Aqui está a mamadeira da guria. —entregou a mamadeira para a patroa.

—Obrigada, Jacinta.

Anderson entra na sala e fica intrigado com aquela cena e resolver se esconder atrás da porta e ficou em silêncio.

—Qualquer coisa que precisar eu estou lá na cozinha. —falou a governanta e depois saiu.

—Bom, eu vou dá um banho nela e depois vou dá a mamadeira.

—Nada melhor do que um banho e um leite quente antes de dormir.

—Não vai subir?

—Ainda não, eu vou ficar até tarde relendo alguns contratos. Amanhã é dia de leilão de gados lá na cidade.

—Está bem. Dá um beijo no papai. —entrega a filha para o marido.

—Um beijo e um bom sonho, filha. —beija o rosto da menina e a devolve a esposa.

Luana segue com a menina nos braços e sobe as escadas e Anderson se aproxima de Rafael.

—Boa noite.

—Anderson, estou surpreso com a sua volta. O que aconteceu? Deixa eu adivinhar: retornou ao pantanal atrás da ribeirinha. —em tom irônico.

—Acertou em cheio, Rafael. —se sentou no sofá ao lado do irmão. — voltei por ela, eu sou um louco apaixonado por aquela mulher.

Rafael dá uma risada.

—Anderson você não tem jeito mesmo. Lembro da nossa mãe dizendo desde que quando você era guri que já levava jeito de namorador. E a sua ribeirinha como te recebeu?

—Ela está mudada, fria comigo e me dispensou.

—Bem feito, eu acho é pouco.

—Você é meu irmão e devia estar do meu lado.

—Sou seu irmão e é por isso que não vou estar do seu lado quando estiver fazendo coisa errada.

—Olha só quem tá falando isso, hein? Você me surpreendeu, irmão, também andou pulando a cerca e trouxe uma guria pra cá. Me explica como a Luana aceitou uma filha tua com outra mulher?

—O quê? Não me confunda com você. Aquela guriazinha é adotada, ela é filha de um casal de índios da tribo Toriba, os dois morreram.

—Eu não acredito que vocês adotaram uma índia.

—Sim, adotamos e estamos muito felizes.

—Rafael, isso pode ser um grande problema para nós dois no futuro. Vocês a registram como filha?

—O processo de adoção ainda não terminou, mas o juiz permitiu que a menina ficasse morando com a gente até terminar o processo e falta pouco para ela ser oficialmente nossa filha.

—Se essa índia no futuro ir contra vocês e se juntar com os outros índios para tomar as nossas terras? Ela se tornando sua filha terá direitos como herdeira nesta fazenda e será mais fácil toma-las.

—E desde quando você se importa com esta fazenda?

pensando no meu filho.

—Qual deles? Porque o que sei você tem filhos, dois filhos e não só um.

 —O Darlan é o único filho que registrei e reconheço como meu. Essas terras também pertence a ele.

—Pertence a ele e ao Inácio. —olha para a aliança na mão esquerda do irmão. —E pela aliança vejo que já casou com a Verônica.

—Casei e meu filho com ela nasceu faz pouco tempo.

—Você casa e nem teve a consideração de me dizer?

—Não disse e não chamei ao meu casamento porque não queria correr o risco de você abrir a sua boca e dizer a todos sobre a ribeirinha e o guri do mato.

—Anderson, meu irmão, fez bem em não ter me chamado porque não faz o meu perfil participar desses tipos de festas cheias de falsidades e frescuras. Não me sentiria bem em ver toda aquela mentira e não dizer nada porque me sentiria um mentiroso igual a você como também não adiantaria abrir a boca e dizer tudo que sei porque no final sairia com a fama de fofoqueiro e são duas coisas que eu abomino nesta vida é a mentira e a fofoca.

—Você não perdeu nada em não ter ido porque a festa foi chata assim como a Verônica, a família dela e os amiguinhos dela que vivem a bajulando só por interesse.

—O noivo também não ficou de fora.

—Se arrependimento matasse estaria morto, meu irmão.

—Eu avisei e não quis me escutar.

—Verônica está cada vez pior, não há um dia que a gente não brigue e que ela não me lembre da Fernanda e do guri do mato. Está insuportável e eu não consigo parar de pensar na ribeirinha, eu a amo.

—Deu um passo errado na vida, irmão. Conserte esse erro enquanto tem tempo.

—Tempo? Não tenho mais. Darlan existe e não quero perde-lo porque sei que se eu pedi o divórcio a Verônica vai me afastar dele.

—Sacrifica um filho para não perder o outro.

—Um dos dois tinha que me perder.

—Será?

—Amanhã eu vou com a Fernanda no banco para que ela abra uma conta e será nela que vou depositar a pensão todo mês. Não acho certo que Luana fique com essa responsabilidade de ficar entregando o dinheiro para a Fernanda.

—Muito me alivia você fazer isto. Porque não concordo com Luana metida nessa estória, pois temo que Verônica descubra e queira ir atrás dela tomar satisfação e acusa-la de cumplice de alguma coisa.

—É, eu vou subir, tomar um banho e descansar porque fiz uma longa viagem. Eu antes de vim para cá passei em Três Lagoas. —se levanta.

—Bom descanso, irmão.

—Rafael, sobre o que disse da indiazinha não leve a sério, foi um exagero e uma bobagem minha. Foi bom voltar a essa fazenda e ver você e a Luana felizes como não os vejo assim há algum tempo.

—Já acostumado. —olha reprovando o irmão.

 

Enquanto isso na mansão Gouveia, Verônica estava na sua suíte máster andando de uma lado por outro e com as mãos tampando os ouvidos enquanto Darlan chorava dentro do berço.

—Que criança chata! Não para de chorar!

Marcela entra.

—Filha, o que está acontecendo?

—É esse menino, mamãe, esse menino que não para de chorar as vezes acho que faz de propósito para me chatear. Estou com a minha cabeça doendo por causa desse choro.

—Tenha calma, filha. Ele deve está sujo, com fome, quem sabe com frio ou calor? —se aproxima de berço. —Vem cá, com a vovó Marcela, me fala o que você tem, meu amor? —tira o bebê do berço.

—Não é nada disso, mamãe, ele não está sujo e não está com fome porque acabou de mamar. O problema dele é que sente saudade do pai.

—Quando o Anderson volta?

—Não sei. —se sentou na cama e começa a chorar.

—Filha, tem algo que você precisa desabafar? Eu não faço o tipo de sogra que fica se metendo no casamento dos filhos, é que percebo que todos os dias você e o Anderson vivem brigando e…

—Mamãe, qual o casal que não briga?

—Verônica, são todos os dias uma gritaria, uma discussão é por causa desse clima que essa criança vive irritada e chorando.

—Por acaso estamos incomodando você e o papai? Porque se for isso não se preocupem nós vamos nos mudar.

—Não, não é isso, filha. Mais do que me agrada está perto do meu neto. Só estou preocupada com o Darlan e com você. Tem algo que quer me contar?

—Não tem nada de errado, mamãe. A gente se desentende por coisas sem importância, Anderson é muito ciumento e eu também…

—Sou tua mãe e sei que está me escondendo algo. Eu não vou insistir para que me diga o que é, mas saiba que aqui você tem a sua mãe do seu lado para te ouvir quando quiser.

—Tá, agora leve esse menino daqui. Não aguento mais tanto grito. Vai, leva ele logo daqui.

—Vem com a vovó, meu amor. —saiu.

Verônica se joga na cama e coloca o travesseiro sob o rosto.

 

 Marcela seguiu com o neto até a sua suíte máster, entra e ver Tomás sentado na cama e lendo um livro. O bebê se acalmou e ficou em silêncio.

—Olha quem está aqui para fazer uma visita para o vovô Tomás. —segue em direção a cama e senta.

—Uma visita ilustríssima que recebo em meu quarto, vem cá com o vovô. —a esposa o entrega o menino em seus braços. —Como está a nossa filha?

—Histérica como sempre e acho que está pior depois que casou. Estou preocupada.

—Ela é adulta e sabe o que quer da vida dela. Não era esse o futuro que queria para Verônica.

—Tem algo que ela esconde.

—Eu já desconfio disso há algum tempo.

—O que será?

—Não sei, mas dessa vez é melhor deixarmos as coisas como estão. Não quero correr o risco de perder o meu bem mais precioso: o meu neto. —acarinha os cabelos do menino.

—Você me contou que o Anderson tinha te ameaçado caso o investigasse.

—Foi, eu não devia ter falado que estava o investigando e que na hora as emoções falam mais forte, era um pai tentando defender a sua filha de um mau-caráter.

—Ela o ama e por causa disso temos nosso neto.

—Pelo menos tem algo de bom nessa estória.

 

No outro dia pela tarde, na porta da casa de Fernanda, o carro estaciona e Fernanda desce do carro e logo depois Anderson desce.

—Espera, não vai se despedir de mim? —tenta beija-la.

—Fui com você no banco, fiz uma conta em meu nome e não temos mais o que falar. Vá embora, Anderson, entenda que não te quero mais. —se afasta.

—Não pode ser, eu te amo, você não pode simplesmente ter deixado de me amar. —segura o braço dela.

—Me solta! —o empurra. —Preste atenção no que vou te falar: você é apenas o pai do meu filho. Não se atreva a encostar um dedo em mim porque eu vou lá na delegacia e te denuncio por ficar me importunando e com certeza isso será nada bom para sua carreira.

—Está me ameaçando? Eu não sou esse tipo de homem. Nunca te forcei a nada e o que existe entre a gente é porque a gente quer, os dois quer.

—Existia. Não existe mais. Não quero mais você, Anderson, entenda.

—Tudo bem se é assim que você quer, eu não insisto que me beije e nem que esteja comigo, mas não pode exigir que eu deixe de te amar.

—Volte para sua casa, volte para sua mulher e vá cuidar do seu filho legítimo como você mesmo diz. O Inácio não precisa de você.

—É fácil jogar a culpa toda em mim, porém, não se esqueça que você também errou. Nós dois erramos. Você não é vítima nesta estória.

—Eu estou arrependida, só Deus sabe como estou.

Anderson encara Fernanda, ele estava querendo se controlar para não desabar e dizer tudo que existia dentro dele que também estava arrependido de ter se casado com Verônica e que mais do que queria está com ela e seu filho Inácio. Ele ficou em silêncio, entrou no carro e foi embora. Uma lágrima caiu do olhar de Fernanda. Ela enxugou a lágrima passando a mão na face e entrou em casa.

 

Na manhã seguinte na igreja matriz na sala de confissão estava Fernanda se confessando com o padre Manoel, um homem negro, usava cavanhaque e calvo, aparentava ter uns quarenta e poucos anos, estatura média e gordo, vestido com uma batina preta.

—O que realmente importa é que você reconheceu que também errou e que está disposta a seguir um novo caminho, filha.

—Padre, eu quero recomeçar.

—Já está recomeçando. O primeiro passo é essencial.

—Se eu pudesse não veria o Anderson novamente e sei que ele vai voltar e vai continuar insistindo que volte ser como antes, eu tenho medo, padre, de não resistir.

—Seja forte na sua decisão. O Anderson é o pai do seu filho e você não pode impedir que ele o veja e seja presente na vida do menino.

—Padre, se pelo menos o Anderson só aparecesse pelo Inácio, eu estava aliviada, mas não, ele não vem para Corumbá por causa do filho e sim por mim. Acho que ele não gosta do Inácio.

—Será mesmo, filha, que ele não sente amor pelo filho?

—Com tudo que aconteceu não me resta dúvidas.

—Bom, pelo menos ele te ajuda financeiramente. Eu conheço muitas mulheres que não recebe ajuda nenhuma, e criar um filho sozinha não é nada fácil. Digo, que apesar do Anderson agir na maioria das vezes de forma equivocada, algo bom também existe nele em não ter desamparado por completo.

—Não sei, padre. Talvez se não tivesse aquele incêndio lá na comunidade e não tivesse conhecido a Luana e o Rafael, eu estaria lá na minha casinha de palafita com meu filho sem nenhuma ajuda dele. Acho que ele só me ajudou por causa do irmão e da cunhada.

—Ainda o ama, não é?

—Sim, mas vou esquecer ele e quero apenas dedicar a minha vida a cuidar do meu filho.

—Não se esqueça de você, guria, não feche o seu coração. Quem sabe um dia a vida te traga um homem que possa te amar como merece?

—Pode ser que um dia eu volte amar de novo e será difícil confiar em outro homem.

—Dê tempo ao tempo, filha.

 

Dez anos se passaram e em uma tarde na fazenda Dois Rios acontecia a festa de aniversário de Inácio. Naquele momento corriam pelo jardim, Inácio, Anahí e Lino, filho de Tânia e Expedito, um garoto de oito anos de idade, seguiram correndo em direção a varanda e entraram no casarão passando por Jacinta que quase derrubou uma bandeja cheia de sanduíches.

—Cuidado gurizada! —seguiu em direção à uma mesa onde estava o bolo.

Jacinta coloca a bandeja em cima da mesa e Zeca se aproxima e rouba um salgadinho.

—O tempo passou rápido, não foi Jacinta?

—Eu vi você pegando o salgadinho escondido. —deu uma risada. —É passou sim. De repente essa criançada se torna tudo adulto.

—É, aí deixarei de ser apenas avô para ser bisavô não estou preparado para isso.

—Calma, Zeca, não exagera, ainda vai demorar um pouco para o Lino se tornar homem.

—Lino pelo jeito vai seguir os meus passos e do pai em trabalhar como peão de boiada.

—Com certeza se for depender do sangue será um bom peão.

—Estou próximo de me aposentar e não sei como vai ser a minha vida depois que deixar de ser o capataz. Não me vejo sem o meu trabalho e sem o meu dia-a-dia no campo.

—Precisa descansar, Zeca, trabalha aqui até antes de eu chegar.

—É, me lembro como hoje o seu Noel me ofereceu trabalho e eu era um rapazote, ele foi lá em casa e falou com meus pais. Comecei como peãozinho e nunca imaginei que me tornaria o capataz.

—Quem vai ficar no seu lugar?

—Não sei, quem decide isso é o patrão. Eu espero que seja o Expedito, não por ser meu filho, é porque é o mais preparado para ser o capataz.

—Concordo com você.

 

Caminhando no jardim estavam Fernanda e Luana com sua filha em seus braços um bebê de dois anos de nome Maria Flor, com cabelos negros encaracolados, pele branca e olhos cor âmbar que todos a chamam de Florzinha.

—O tempo passou tão rápido.

—É sim e parece que foi ontem que cheguei nesta fazenda com o Inácio após o incêndio lá na comunidade. Sou muito grata a você e ao Rafael por terem acolhido a gente.

—Quando você chegou aqui me viu triste pela perda do meu primeiro filho Bento e hoje estou com minhas duas filhas a Anahí e a Florzinha. Eu tenho você Nanda como uma irmã que não tive.

—Também tenho um carinho por você, por Rafael e suas filhas se tornaram minha família.

—E o Anderson, será que ele vem para o aniversário do Inácio?

Uma caminhonete para próximo a elas, e Anderson desce e segue em direção as duas.

—Minha ribeirinha. —tenda beija-la, mas ela o afasta e ele acaba beijando o rosto dela.

—Anderson, Anderson, não cutuca a onça com a vara curta.

—O que eu fiz pra você vim me receber com essa brabeza, mulher? —finge de desentendido.

—Você sabe muito bem o que fez. —se referia ao beijo que ele tentou roubar dela.

—Bom dia, cunhada, como vai?

—Bem, cunhado e você?

—Tudo ótimo. E essa boneca do tio Anderson, como está? —se referia a sobrinha Florzinha.

—Agitada e só quer está brincando com as crianças maiores. Ela é muito apegada ao Inácio. —respondeu a fazendeira.

Rafael se aproxima.

—Olha só quem apareceu por aqui. —disse o fazendeiro.

—Um bom filho a casa torna. —falou o irmão.

 

Inácio estava na sala da casarão  e viu de longe seu pai conversando com a mãe e os tios, o menino saiu correndo em direção a eles.

—Papai! Papai!

O menino surpreende o pai com um abraço.

—Opa! Guri do mato.

—Você trouxe ele?

—Ele quem? O seu presente está lá dentro da caminhonete.

—Não, papai. Eu quero saber se você trouxe o meu irmão cadê ele?

Anderson surpreso e olha sério para Fernanda que aparece está serena enquanto Luana e Rafael se surpreende com aquela situação.

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