Jacinta invade o escritório do casarão e ver Rafael e Anderson conversando à mesa.

—O Inácio e o Darlan estão brigando lá na sala.

—Não é possível! Inácio! Darlan! —gritou Anderson e saindo correndo para fora do escritório.

Rafael e Jacinta saem logo após.

Anderson entra na sala e ver Darlan e Inácio se socando.

—Eu te odeio, bastardo! Te odeio! —grita Darlan.

—Parem! Parem os dois! —aproxima-se dos filhos e fica entre eles.

—Eu não vou parar até esse playboyzinho aprender a respeitar a minha mãe.

Aparecem Rafael, Jacinta, Tânia e Luana na sala.

—Meu Deus! Rafael, faça alguma coisa. —disse Luana nervosa.

—Ah, minha Nossa Senhora. —falou Jacinta aflita.

—Solte ele, Inácio. Não vale a pena, guri. —afasta o sobrinho.

—Ele insultou a minha mãe!

Darlan dá uma gargalhada.

—Eu não disse nada. Ele tá com raiva porque agora sou dono das terras que eram do meu pai.

—Mentiroso! —parte para cima de Darlan, mas Rafael o segura.

—Você tem inveja, Inácio, inveja porque é um bastardo e está se roendo de ciúmes por causa da Anahí.

—Por mim você engole essas terras porque pouco me importo com elas e com tudo aquilo que venha dos Barretos.

—Essa sua postura de orgulhoso de que nunca se importo com o que vem dos Barretos é uma mentira, uma farsa sua, Inácio, admita que o que você mais queria era ter um lugar nessa família algo que você jamais teve e nunca terá.

—Chega de provocações, Darlan! —gritou Anderson olhando para o filho caçula.

—Admita que você queria Anahí pra você, mas aceite que ela me escolheu e não você bastardo.

—O que tem a ver a Anahí?

—Você é louco por ela e não aceita que a índia me quer e não você.

—O que sinto pela Anahí é amor de irmão e lamento que ela ainda não tenha percebido quem você é de verdade, mas um dia ela vai ver o erro que é se unir a uma pessoa como você.

Darlan dá uma risada irônica.

—Como você é patético, Inácio, é um caipira ignorante.

Inácio tenta partir pra cima de Darlan para bater, mas Luana se aproxima e fica entre os dois.

—Acabou! Acabou a briga dos dois. Eu não quero brigas aqui na minha casa. —disse Luana.

—Luana tem razão, parem com essa briga. Vocês são dois irmãos é triste ver que estão brigando por bobagens. —falou Rafael.

—Eu não tenho irmão! —gritou Darlan. —E quer saber? Eu me cansei disso. —pegou os papeis do contrato das terras que estavam jogados em cima do sofá. —Eu tenho é pena de você Inácio, pena.

—Chega, Darlan! Chega! —gritou Anderson.

Darlan fica frente a frente ao Inácio e o encara.

—Bastardo. Sempre será um bastardo. —saiu.

Inácio tenta bater em Darlan, mas Rafael o impede.

—Calma, guri, não caia no jogo dele. —disse Rafael.

Anderson e Inácio se olhavam e ficaram em silêncio.

—Inácio, deixa eu cuidar desse ferimento. —falou Luana.

—Não, tia. Eu vou embora.

—Guri do mato a gente precisa conversar. —disse Anderson.

—Outra hora porque não estou com cabeça pra isso. —saiu para fora do casarão.

—Que confusão, minha nossa. —falou Jacinta.

—Coitada da Nanda quando souber o que aconteceu… —disse Tânia.

—Eu te avisei, irmão, que um dia tudo isso ia acontecer, mas você não quis me ouvi.

—Por favor, Rafael, o que menos quero ouvir agora é seus sermões.

—Coitado do Inácio, com certeza o Darlan o provocou. —disse Luana.

—Não exagerem tanto, tá? É uma briguinha boba de irmãos. Quantas vezes eu e você Rafael brigamos e depois nós entendemos?

—Anderson se você quer se enganar pensando assim problema seu. O que aconteceu com Inácio e Darlan não foi uma briga de irmãos e sim de inimigos.

—É tudo ciúmes do Inácio porque Darlan mal chegou aqui e já ganhou as terras e também está namorando a Anahí, eu começo achar que o guri do mato deve ter alguma quedinha pela índia. —deu uma risada.

—Toma cuidado com o Darlan, Anderson, toma muito cuidado.

 

 

Darlan andava pelo corredor do andar de cima do casarão e entrou em seu quarto e segue em direção ao espelho.

—Maldito bastardo. Ainda vai me pagar caro por tudo que fez e por existir. —afastou-se do espelho e pegou o celular do bolso e fez uma ligação. —Maurício?

Maurício estava dirigindo uma caminhonete na estrada e falava ao celular.

—Fala, patrão.

—Conseguir as terras e amanhã mesmo quero que comecem os trabalhos, mas sabe que tudo tem que se manter com descrição.

—Pode deixar comigo, patrão, amanhã irei com os garimpeiros na área. E tenho uma excelente notícia sobre o guardião da nascente.

—O que descobriu?

—O nome do guardião.

—Quem é?

—Uma índia chamada Anahí.

—Anahí. —disse Darlan surpreso. —Como conseguiu essa informação?

—Patrão, o que o dinheiro não compra, não é? Essa informação conseguir por uns indígenas da própria tribo Toriba.

 

No jardim estava Florzinha em cima da árvore e simulando um beijo em uma laranja até que Lino se aproxima quando de repente ela se desequilibra e cai.

—Ai! —gritou.

—Cuidado, guria! Se machucou? —tenta levanta-la.

—Estou bem, não precisa se preocupar comigo.

—O que estava fazendo em cima da árvore? Já não tá grandinha demais pra essas coisas? —deu uma risada.

—Qual é a graça, Lino? Eu não te devo satisfações da minha vida pra você.

—Tá, não precisa ficar brava. Tá assim ríspida comigo desde daquela noite lá no Almirante, né?

—Nada a ver. Eu tenho mais o que fazer do que ficar perdendo o meu tempo com você. —saiu irritada.

—Guria ardida essa.

 

Tânia e Jacinta estavam na cozinha preparando uma comida à mesa e Florzinha passa entre elas e saiu.

—O que deu nela?

—Não sei, ah Tânia, essa fazenda tá de pernas por ar.

—E devemos tudo ao Darlan. Ai que raiva eu sentir quando o vi batendo no Inácio, eu queria era voar em cima dele.

—Temos que manter a calma porque sinto que ainda vamos enfrentar tempos difíceis e já basta a seca no pantanal.

—É verdade, Jacinta. O Expedito e o Lino me falaram da dificuldade que estão tendo com os gados.

—O Rafael não demonstra, sempre quer manter uma postura tranquila e que tá tudo bem, mas sei o quanto está preocupado.

—Vamos ter fé e que tudo que resolva da melhor maneira possível.

—Que Deus te ouça.

 

 

De tarde Anahí estava em frente ao rio nas terras da fazenda Dois Rios, quando logo Darlan se aproxima dela e a abraça por trás.

—Que saudade do teu cheiro, minha índia.

—Darlan! —vira-se pra ele e o beija. —Faz tempo que chegou?

—Faz um tempinho. —acarinha os rosto dela e a beija. —Tentei te achar no casarão, mas não te encontrei e te liguei, mas estava sem sinal.

—É aqui na maioria das vezes os celulares ficam sem sinal. O que foi isso em seu rosto? —vendo os hematomas nele por causa da briga com Inácio.

—Anahí…eu e o Inácio brigamos.

—Por que?

—Inácio não gostou do fato do meu pai ter me dado as terras dele.

—Eu estou sabendo que essa foi a condição da sua mãe, acha mesmo certo?

—Anahí as coisas não são como parecem.

—É o que parece sim, Darlan, me fala o que vai fazer com essas terras?

—Vou construir um hotel fazenda, eu ia falar pra você antes, porém, quis guardar segredo até que aquelas terras fossem minhas.

—O pantanal não é como os outros lugares. É preciso muito conhecimento e saber o que vai fazer.

—Eu já entrei em contato com profissionais que entendem do assunto e que até construíram outros hotéis fazenda da região. Anahí, esse lugar é um paraíso, é egoísmo não permitir que outras pessoas o conheça.

—Darlan, eu tenho minhas dúvidas. Quantos lugares no mundo todo foram prejudicados e até destruídos pela quantidade de gente que os visitavam trazendo poluição a natureza.

—O hotel fazenda não vai ter esse problema, eu mesmo vou ter bastante cuidado com isso eu prometo. —sorriu.

—Eu só queria que você e o Inácio pudessem se entender. Vocês dois são irmãos…

—Não se preocupe, meu amor, foi só uma briga sem importância e logo voltaremos as boas. Agora me der um beijo que estou louco de saudade. —a beija.

 

 

Anderson, Rafael e Luana estavam jantando à mesa na sala de estar do casarão. Jacinta os serviam.

—Daqui a pouco vou a casa da minha ribeirinha, vou contar a ela que falta muito pouco para ficar livre e tê-la novamente só pra mim.

Luana olha para Rafael.

—Vocês voltaram a ficar juntos como antes? —perguntou Luana.

—Mais ou menos, vou dizer que sei que ainda a deixo balançada. —riu e deu um gole no café.

—Eu estou preocupada com o guri Inácio em ter saído daquele jeito tão nervoso. —disse Jacinta em pé entre Anderson e Rafael.

—Vocês levaram essa briguinha de guri muito a sério porque gostam de mimar o Inácio, tratam ele como se fosse uma criança indefesa, ele já é um homem feito e forte, hein? Deu trabalho pra segura-lo.

—Anderson, você ainda vai se arrepender por ter dado as suas terras ao Darlan. —falou Rafael.

—Nada me fará me arrepender por me tornar livre pra ficar com a Fernanda. E vocês também me surpreenderam em como ter escondido esse tempo todo que o Inácio se formou em direito e é advogado, o que será que mais me escondem?

Jacinta, Rafael e Luana se olham.

—O Inácio nós pediu que não te falasse. —disse Luana.

—É um absurdo, ele ter me escondido isso. Eu sou o pai dele.

—Motivos ele tem de não ter falado. —falou Rafael.

—O guri do mato não tem motivos nenhum. Pra mim o que ele fez me soou ingratidão. Eu dei uma casa pra mãe dele, pensão, paguei a escola, eu dei todo o conforto porque o que a Fernanda ganha trabalhando no restaurante mal dá pra sobreviver os dois, e o que o Inácio fez? Ele me excluiu da vida profissional dele,  ele fez direito, escolheu o mesmo caminho que eu, poxa, ele tem um pai juiz.

—Você excluiu o Inácio da sua vida, cunhado, o que queria?

Anderson fica em silêncio e pensativo.

—O que importa é que você já sabe, irmão, deve se orgulhar por ter um filho que seguiu os seus passos. Quem diria, não é, Anderson? Um dia você me falou que eu não esperasse um futuro promissor para o Inácio que ele seria igual aos demais caipiras daqui.

—Eu sei que errei no passado e a vida está me mostrando isso. Eu duvidei da capacidade do guri.

—É, incrível como o filho que você tanto renegou é aquilo que você queria que fosse o filho que você aceitou. O Inácio é o que você gostaria que o Darlan fosse, não é?

—Tem razão, Rafael, eu desejava que o Darlan seguisse os meus passos na carreira no judiciário, mas ele pouco se interessou pelos estudos.

—A vida dá voltas. —disse Jacinta.

—Às vezes penso no que seria se eu tivesse escolhido a ribeirinha? A vida nós mostra tantos caminhos, tantas escolhas…

—O passado não volta mais, cunhado, o que passou, passou. O presente é o lugar das escolhas e o passado é o lugar das memórias.

—Concordo contigo, cunhada, por isso quero fazer algo para consertar o que fiz de errado porque o pior preço de um erro é a solidão.

—A solidão pode nos trazer algo bom pode acreditar, cunhado.

—O quê por exemplo?

—Quando perdi o meu filho Bento, eu decidir que precisava de um tempo sozinha apesar do Rafael e da Jacinta estando presentes e me dando forças para poder suportar aquela perda tão dolorida e repentina, eu reconhecia os esforços deles, mas sabia dentro de mim que só eu mesma teria nas mãos a escolha de ou me entregar e afundar na dor ou de retornar a vida e recomeçar.

—Eu orei tanto, eu pedi tanto a Deus para que a dona Luana saísse daquela tristeza. —falou a governanta.

—Quando Fernanda veio aqui com Inácio após o incêndio e pedindo ajuda, eu me vi nela, e vi em Inácio o meu filho Bento. Entendi que ali naquele momento teria que sair da minha dor e ajuda-los. Depois a vida me presenteou com chegada da Anahí mesmo que por outro lado tenha perdido um grande amigo o índio Raoni.

—Nossas duas filhas são presentes de Deus em nossas vidas. Elas são nossas únicas riquezas. —disse Rafael acarinhando a mão da esposa que estava sob a mesa.

—É, eu tenho que admitir que você foi corajosa, cunhada, quantas pessoas estão presos as dores do passado, presos a memórias.

—Consequentemente quem fica preso ao passado deixasse perder a oportunidade de fazer novas escolhas. —disse Luana.

—Uma vez ouvi uma senhora muito sábia dizer que “ser feliz é uma escolha”, ela tinha toda razão.

—Verdade, temos que ter sabedoria para fazer boas escolhas. —falou Luana.

—Por exemplo, o Rafael.

—O que tem eu, Anderson?

—Você lembra que o nosso pai queria que você casasse com a filha do coronel Nonato? Como se chamava mesmo o nome da guria?

—Ana Branca.

—Que estória é essa? Você nunca me falou disso, Rafael. —perguntou Luana.

—Cunhada, você não sabia que o Rafael antes de te conhecer quase trocou o pantanal pelo sertão das Alagoas?

—Anderson, chega, tá? não me relembre desse casamento sem pé e sem cabeça que nosso pai quis arranjar pra mim.

—Eu me lembro do coronel Nonato, pense no velho ranzinza e cheio de direito, ele veio aqui algumas vezes. —disse Jacinta.

—Nem me fale, eu tive foi um livramento, Deus que me livre ter coronel Nonato como sogro, eu hein, é ruim. —falou Rafael.

—Não acredito que você ia se casar arranjado, Rafael, isso é muito ultrapassado. —riu Luana.

—É porque você não conheceu nosso pai. —riu Anderson. —Teve uma vez que o Rafael e o pai viajaram para Alagoas…

—Anderson, para de me relembrar desse fato porque o que mais quero é esquecer. —disse Rafael nervoso.

—Deixa o Anderson terminar de falar, continue, cunhado.

—Rafael e o pai viajaram para a cidade, como era o nome da cidade?

—Sertão de Maria. —respondeu Rafael.

—Isso, Sertão de Maria, quando chegou na fazenda do velho coronel Nonato, a guria tinha desaparecido.

—Imagino que ela deve ter fugido porque não queria casar arranjado. —falou Luana.

—Que nada, ela tinha passado a noite na casa de um outro pretendente.

—Caramba, então, ela já gostava de outro. —riu Luana.

—O velho coronel Nonato ficou louco procurando a filha pela cidade e só restou uma fazenda que é a fazenda de um tal de Casemiro de Alencar, um outro coronel, porém sendo mais novo, quando o velho foi lá flagrou a filha com o ele. Dizem que saía fumaça pela venta do velho de tão furioso que estava e tirou a guria de lá a força.

—E o que você e o seu pai fizeram?

—O coronel Nonato conversou com o pai e pediu desculpas pelo ocorrido. O pai já não queria que eu me casasse com Ana Branca porque naquela mentalidade de antigamente seria como se por ela ter passado a noite fora de casa e na casa de um homem seria como se não fosse mais digna, não fosse mais pura, entende?

—Entendi. —respondeu Luana.

—O velho coronel deu ao pai como retratação uma generosa quantidade de cabeças de gado. O pai, claro, ficou feliz por ter pelo menos ganhado como prêmio de consolação os gados e voltamos pra casa.

—E ela casou com esse homem? —perguntou Luana.

—Sim, casou com o Casemiro de Alencar.

—Tem notícias dela, Rafael?

—Eu não, Anderson, tenho mais o que fazer do que ficar xeretando a vida dos outros. E ainda bem que aquele casamento não aconteceu e depois de um tempo conheci Luana e que sou muito feliz. —acarinhou a mão da esposa.

—É, teve sorte. —disse Anderson segurando a risada.

—Jacinta, o bolo já tá pronto?

—Acho que já.

—Vamos dá uma olhada porquê desse bolo eu mesma quero fazer a calda de limão. —levanta-se da mesa.

—Hum, esse bolo promete, amor.

—Volto já.

Jacinta e Luana saem da sala de estar.

—Você devia ter contado o resto da estória, Rafael.

—Tá maluco, Anderson? E encerra esse assunto de Ana Branca Jacarandá.

—Quase virou coronel do sertão, hein, Rafael Barreto. Já imaginou você cheio dos oxentes pra cá e pra lá e de baixo do chicote do velho coronel Nonato? —deu uma gargalhada.

—Aquele velho se achava com aquele chicote, só que comigo ele não ia conseguir me colocar no cabresto.

—E a filha?

—O que tem ela?

—Não se faça de desentendido. Eu me lembro…

—Você não lembra de nada.

—Lembro sim…de uns beijos de baixo de um juazeiro…

—Mentira, isso nunca aconteceu, Anderson.

—Aconteceu sim, você até tocou uma viola pra ela.

—Para de mentir, Anderson. Não ouve nada, eu fui pra casa graças a Deus e nem quero saber do que aconteceu depois com essa indivídua.

—Sei. —disse irônico. —Eu vou pra casa da minha ribeirinha. Tchau. —levantou-se e saiu.

Rafael se levantou e  encostou os braços sob o encosto da cadeira.

—Das minhas memórias de juventude tão doces como o juá foram teus beijos Ana Branca Jacarandá. Segredo meu, segredo nosso. —sorriu e entrou na cozinha.

 

Fernanda e Inácio estavam sentado no sofá da sala da casa.

—Filho, não gostei de você ter brigado com o Darlan.

—Ele me desrespeitou, mãe, o que queria que eu fizesse? Meu sangue ferveu e já estou cansado dos insultos dele contra a gente.

—Seu pai poderia ter evitado tudo isso.

—Agora é tarde, mãe. Cada dia que se passa vejo que até foi melhor não ter crescido ao lado do Darlan e o pior que não sei por quanto tempo ele ainda vai ficar na cidade.

—Pelo jeito pode ser por mais tempo e quem sabe por toda a vida já que ele vai construir um hotel fazenda naquelas terras. Me diga como foi a reação do seu pai quando soube que você é advogado?

—Surpreso, duvidou um pouco como o Darlan também. É chato e doí quando alguém da própria família duvida da nossa capacidade.

—Você sabe que é capaz, Inácio.

De repente a companhia toca e Fernanda se levanta.

—Eu vou abrir. —seguiu em direção a porta, abriu e viu Anderson.

—Fernanda. —encostou na porta e sorriu.

—O que quer, Anderson? —afastou-se e andou em direção ao sofá onde estava o filho.

Inácio e Anderson se olham.

—Vim falar com o guri do mato e depois com você.

—Bom, eu vou deixar vocês dois conversarem sozinhos. Qualquer coisa é só me chamar, vou estar no meu quarto. —saiu em direção ao corredor.

—O que é? —levanta-se. — Veio me dá uma bronca porque dei uma surra no teu filho legítimo?

—Não, eu não vou levar essa briga de guris a sério. Vim falar sobre o fato de você não ter me falado sobre você ser um advogado. Por que me escondeu isso o tempo todo?

—Eu já respondi: o que diz respeito a minha vida não te importa.

—Sim, me importa. Você agiu como um ingrato.

—Ingrato? —riu irônico.

—Desde que você nasceu dei essa casa para sua mãe…

—Opa, essa casa é sua, ela está em seu nome. Você deixou a gente nesta casa enquanto foi viver sua vida perfeita em Campo Grande.

—Independente, eu dou dinheiro todo mês, uma pensão…

—Você dá essa pensão ainda porque quer, eu várias vezes te disse que não era mais necessário.

—O que você queria que eu fizesse, então? Está reclamando de barriga cheia, guri. Te dei tudo, nada te faltou esses anos e você nem se quer me diz que fez uma faculdade de direito e nem me chamou para sua formatura.

—Eu não fiz festa de formatura, foi algo muito simples.

—Quanto tempo que você tirou a carteira da ordem?

—Faz um ano e meio.

—É faz pouco tempo. Caso você queira eu posso te ajudar, eu sei bem os caminhos das pedras, eu tenho influência, afinal, você é filho de um juiz.

—Não quero sua ajuda, nem sua influência. Me deixa seguir meu caminho sozinho.

—Tudo bem, mas caso mude de ideia pode vim me procurar. Apesar de tudo e de estar desapontado com você, eu quero dizer que me agrada saber que tenho um filho que seguiu os meus passos no judiciário e que se tornou um advogado.

—Não me diga que agora o guri do mato, o bichinho matoso como você diz é seu filho. Esses anos todos nunca me registrasse como filho legítimo, me deixou aqui neste pantanal e nunca me deixou participar da sua vida na capital.

—Inácio, talvez você possa me entender agora…

—Não, pai, não há o entender, nada justifica o que você fez.

—Guri do mato, eu venho para Corumbá quase todo mês, você fala como se eu tivesse abandonado você e sua mãe nessa casa. Não seja injusto.

—Você vem sim, vem por ela e não por mim que sou seu filho, seu filho primogênito você querendo ou não, eu existo.

—Eu erro, eu não sou perfeito, Inácio, mas eu quero consertar o que fiz de errado.

—Não tem mais tempo, já passou. E por favor tenha um pouco de dignidade e deixe a minha mãe em paz, você a fez sofrer a enganando e imagino o quanto a sua esposa também sofre.

—Você não sabe do que está falando.

—Sei, você só sabe mentir, enganar, pra se sair bem sem se importar que os sentimentos dos outros.

—Ingrato!

Fernanda entra na sala correndo.

—O que está acontecendo? Ouvi gritos do meu quarto.

—Este guri é um ingrato! E você também é, Fernanda, uma ingrata. Por que me escondeu sobre o fato dele ter se formado em direito e ser advogado?

—Anderson, ele me pediu…

—É o que todos dizem, não é? Eu convivo com mentirosos você, Rafael, Luana, Jacinta, todos! Não tenho em quem confiar.

—Você me perguntou o que eu queria que você fizesse, então, te respondo: eu não quero mais te ver. Vá embora e não volte mais.

—Inácio. —disse Fernanda o repreendendo.

—É isso que você quer, Inácio?

—Sim, vá embora e nós deixe viver sem ter que suportar a sua presença.

Anderson fico sentido com as palavras do filho, mas decidiu se segurar e não demonstrar com uma postura firme, olhou para Fernanda com ar de decepção e saiu.

—Você não devia ter dito isso, Inácio.

—Quem sabe assim ele cai na real. —entrou no corredor.

 

Na estrada Anderson dirigia a caminhonete a frase de Inácio ecoava em sua mente, lembranças do passado vinha à tona e um fogaréu consumia uma grande parte da vegetação quando de repente uma árvore pegando fogo cai no caminho, ele desvia perde o controle do carro que sai da estrada e capota algumas vezes. Anderson está ferido e desacordado dentro do carro.

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  • Vamos torcer para esse acidente do Anderson não ser uma forma para ele se redimir e virar uma boa pessoa porque nada apaga o que ele fez. Até na briga dos irmãos ele ficou debochando. Ridículo. Rafael falando da Ana…me lembrou uma outra história que li aqui.

    • Oi, Marina. Riacho Paraíso está em seus capítulos finais e agradeço por ter a lido até aqui. Sobre a personagem Ana Branca, eu sou a mesma autora que escreveu Senhora do Sertão, retornei a escrever depois uma pausa. Obrigada por ler minhas estórias. 🙂

  • Vamos torcer para esse acidente do Anderson não ser uma forma para ele se redimir e virar uma boa pessoa porque nada apaga o que ele fez. Até na briga dos irmãos ele ficou debochando. Ridículo. Rafael falando da Ana…me lembrou uma outra história que li aqui.

    • Oi, Marina. Riacho Paraíso está em seus capítulos finais e agradeço por ter a lido até aqui. Sobre a personagem Ana Branca, eu sou a mesma autora que escreveu Senhora do Sertão, retornei a escrever depois uma pausa. Obrigada por ler minhas estórias. 🙂

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