Alguns minutos depois no hospital geral, uma ambulância acaba de chegar, os socorristas retiram Anderson que se encontrava desacordado, bastante ferido e deitado na maca. Na entrada do hospital, ele é recebido por uma equipe de enfermeiros e por Marcos que ao vê-lo se surpreende.

—Não acredito que é o Anderson. O que aconteceu? —perguntou ao socorrista enquanto o examinava.

—Acidente de carro, talvez tenha desviado de algo e acabou perdendo o controle.

—Temos que ser rápidos, os sinais vitais estão muito fracos. Vamos leva-lo para o centro cirúrgico!

Marcos e os enfermeiros levam rapidamente Anderson para dentro de um corredor.

 

 

Darlan e Anahí estão abraçados enfrente a uma fogueira na aldeia dos Toriba.

—Desde que vim a essa cidade minha vida mudou. —acarinha os cabelos da índia. —não consigo parar de pensar em você, Anahí.

—Jamais pensei que um dia pudesse gostar de alguém como eu gosto de você, Darlan.

O casal se beija.

—Eu quero viver minha vida toda ao seu lado, minha índia. —tocou com os dedos os lábios dela e a beija.

—te amo Darlan. —o beija.

O casal de mãos dadas seguiu em direção a um banco de madeira enquanto alguns índios tocavam instrumentos, outros dançavam e cantavam em volta da fogueira. Os curumins correm e passam em frente ao casal.

—Se eu pudesse ficaria a vida inteira assim ao seu lado, meu amor. —falou a índia acarinhando o rosto do amado.

—Podemos se você quiser. O que acha de casarmos?

—Casar? —deu uma risada.

—Isso mesmo. Quero você pra mim. —a beija.

—É muito cedo, Darlan.

—Cedo? Pra mim é como se eu te conhecesse há muito tempo. Podemos morar aqui na aldeia, se você quiser, eu vou demorar um pouco para me adaptar porque ainda não me acostumei em viver no meio de tanto mato, de tanto bicho e de ficar quase sem roupa.

— Diz isso pelo fato de eu ser uma indígena? —deu um riso breve. — O homem branco tem um jeito de ver a vida completamente diferente de nós indígenas. Qualquer um pode despir-se e mostrar o corpo, mas para poucos sobra a coragem de despir-se e revelar-se o seu caráter. Sobre a proposta de casamento: vamos deixar que as coisas aconteçam naturalmente.

—Essa sua resposta significa que você não quer se casar comigo, não é? —acarinha os cabelos dela.

—Quero, mas não agora. Vamos nós conhecer mais.

—Mais? —sorriu e a beija.

—Sim.

—O que ainda não sei de você, minha índia? Quais são os seus segredos?

—Segredos? —risonha. —Não tenho nenhum.

—Tem, deve ter e um casal para poder criar confiança um no outro não devem ter segredos.

—E quais são os seus segredos, Darlan?

—Que estou apaixonado por uma índia que me fez deixar toda a minha vida lá na capital para estar com ela, mas eu tenho um receio.

—Qual?

—Que ela não sinta o mesmo por mim.

—Pode ter certeza que sua índia gosta de você desde quando te viu pela primeira vez. —o beijou.

—Muito me alivia saber disso. —sorriu e acarinhou o rosto dela. —E falando em segredos ou mistérios fiquei sabendo por aí que neste povoado existe uma nascente que tem ouro e diamantes.

Anahí desvia o olhar para a fogueira.

—É uma lenda apenas. —encontrava-se tensa, pois não podia revelar sobre a nascente.

—Será?

—Nestas terras não tem ouro e nem diamantes e se algum dia teve foi roubado pelos homens brancos. —olhava para a lua cheia.

—É uma pena que lugares assim são apenas estórias contadas pelo povo e que nunca saberemos se são verdadeiras ou não. É como quando falam do El dourado. —segurou as mãos dela. —Já imaginou uma cidade toda construída de ouro? Quem a encontrasse se tornaria talvez a pessoa mais rica do mundo, se tornaria dono de um império.

Anahí percebe a ambição de Darlan e desconfia de seu interesse pela lenda da nascente.

 

 

Fernanda e Inácio jantavam à mesa quando de repente o celular dela toca.

—Pode falar, Marcos.

—Fernanda, o Inácio está com você?

—Sim. O que houve parece preocupado?

Inácio olha para a mãe.

—Passa a ligação para o Inácio, por favor.

Fernanda entrega o celular para o filho.

—O Marcos quer falar com você.

—Diga, Marcos.

—Inácio, o seu pai acabou de chegar aqui no hospital…ele sofreu um grave acidente.

—O quê?

—É, eu o socorri. O estado de saúde dele é muito delicado. 

—O que foi, Inácio? —disse Fernanda preocupada com o semblante de pânico do filho.

—O meu pai sofreu um acidente e é grave, mãe.

—Não! Anderson!

—Eu vou no hospital. —saiu correndo para fora da casa.

—Espere, Inácio, eu vou com você. Espere! —gritou nervosa e correndo atrás do filho.

 

 

Uma hora depois na sala de espera do hospital, estava Inácio angustiado e andando de um lado para o outro enquanto Fernanda chorava sentada na cadeira até que chegam Rafael e Luana.

—Inácio. —disse Rafael.

—O pai tá muito mal. —começou a chorar.

—Os médicos deram mais alguma notícia sobre o Anderson? —perguntou Luana.

—Ainda não. Meu Deus, o Anderson não merece um fim desse, não merece.

—Calma, Fernanda. Vamos ter fé que o Anderson vai sair bem dessa. —sentou-se ao lado da ribeirinha e a consolou.

—E o Darlan, conseguiu falar com ele, tio?

—Não, o celular dele não atende e nem o celular da Anahí.

Logo, aparece Marcos e imediatamente Fernanda e Luana se levantam e se aproximam do médico.

—Marcos como está o Anderson?

—Ele sofreu várias fraturas nos membros superiores, inferiores e uma pancada muito forte na cabeça que ocasionou uma hemorragia, mas felizmente conseguimos conter.

—O meu pai vai ficar bem, doutor?

—É muito grave, doutor? —perguntou Rafael.

—Sim, no momento ele está em coma induzido. O que a medicina poderia fazer já foi feito. É preciso ter fé para que o quadro melhore.

Fernanda começa a chorar e abraça Luana.

—Temos que ter esperança. —disse Luana.

—O meu pai não pode morrer, tio, não pode. —falou Inácio chorando e abraçando o tio.

—Seja firme, Inácio, seja firme. —disse Rafael.

Rafael queria manter uma postura forte, mas dentro de si estava em desespero, pois temia perder o seu irmão.

 

 

Darlan e Anahí chegam na fazenda Dois Rios e entram na sala do casarão e encontram Jacinta e Florzinha.

—Graças a Deus que vocês apareceram. —disse a governanta.

—O tio Anderson sofreu um acidente.

—Como assim meu pai sofreu um acidente? Onde ele está? —perguntou Darlan.

—O Inácio ligou para o Rafael e disse que foi um acidente de carro. Seus tios estão no hospital. —respondeu Jacinta.

—Eu vou lá.

—Eu vou com você, Darlan.

—O meu pai não pode morrer, não pode!

O casal saiu com pressa.

—Será que o tio Anderson vai sair dessa?

—Eu espero que sim, Florzinha. Vamos continuar rezando e pedindo a Deus misericórdia.

 

 

No hospital, Darlan e Anahí entram na sala de espera e encontram Inácio, Fernanda, Rafael e Luana.

—Chegamos em casa e Jacinta e Maria Flor nós disseram sobre o acidente do tio Anderson.

—Ligamos pra vocês, mas não atenderam. –disse Luana.

—Estávamos na aldeia e lá não pega sinal de celular.

—Onde está o meu, pai? —se aproxima dos demais.

—Ele está em coma induzido e o estado de saúde é muito grave. —respondeu Rafael.

Inácio e Darlan se encaram.

—Espero que nesse momento os dois se unam pelo Anderson. —falou Luana.

—Eu não quero que o nosso pai morra, Inácio, não quero. —chorava e abraçava o irmão.

Inácio se surpreende com aquele abraço.

—Vamos ter fé, nosso pai é forte e vai sair bem dessa.

—Eu quero vê-lo, eu quero ver o meu pai.

—Eu também quero vê-lo, eu também sou filho. 

—Iremos os dois.

—Eu vou falar com a equipe que está de plantão e perguntar a eles se permitem que vocês vejam o tio. Eu volto logo.

—Vá filha e nós traga notícias. —disse Luana.

Anahí sai. Fernanda, Rafael e Luana observam o comportamento de Darlan que chorava compulsivamente e se sentava na cadeira. Inácio estava transtornado e com remoço porque a última vez que esteve com seu pai pediu que ele não voltasse mais, seria isso um castigo do destino? Essa é a prova de que uma palavra dita tem o poder de repercutir em nossas vidas seja para o bem ou para o mal, é necessário ter a sabedoria de saber controlar os impulsos, os ânimos, uma palavra dada não se apaga.

 

 

Anderson se encontrava na UTI do hospital, desacordado e ligado a aparelhos enquanto Marcos o examinava.

—Que golpe do destino a sua vida está em minhas mãos, Anderson.

Anahí entra no quarto.

—Doutor Marcos. Como está o paciente?

—Estável.

—Darlan e o Inácio querem ver o pai, o doutor permite?

—Tudo bem, eu permito porque não garanto se ele vai reagir bem. Eu estou fazendo de tudo para salva-lo.

—Eu sei, doutor. Vou avisar a eles que poderão entrar.

—Anahí, você é da área e pra você não vou tentar amenizar a situação.

—Temos que nos preparar? —perguntou chorosa.

—Talvez. O tempo é que vai decidir se Anderson sobrevive ou não.

 

 

Anahí retorna para a sala de espera e reencontra a família.

—Como está o Anderson? —perguntou Fernanda apreensiva.

—Estável. Eu falei com o doutor Marcos que permitiu que o Inácio e o Darlan vejam o tio Anderson.

—Então, vamos. —disse Inácio.

—Eu vou levar vocês até o setor da UTI.

Anahí, Darlan e Inácio saem.

—O Anderson tem que ficar vivo, ele tem que sobreviver. 

—Meu cunhado vai superar esse momento difícil. Vejamos pelo lado bom que Inácio e Darlan estão unidos.

—Luana, eu não me iludo com esse choro do Darlan e pra mim o guri tá é atuando, isso sim.

—Será, Rafael?

—Pra quem queria a todo custo as terras do pai, para mim não será surpresa que queira que o pai morra pra ficar com a herança sem antes de registrar o irmão.

—Se o Darlan pensa desse jeito é muita maldade, é monstruoso. O que quero é que o Anderson viva porque preciso dizer a ele que o amo. Eu não aceito que ele se vá sem antes eu dizer isso.—falou Fernanda.

 

 

Darlan e Inácio entram no quarto da UTI e ver Anderson deitado na cama desacordado e ligado a aparelhos.

—Olha só pra isso. —Darlan aproximou-se da cama. — quem diria que o doutor juiz Anderson Barreto ia acabar assim…. —aponta para o pai. —Se não morrer vai passar a vida toda igual um vegetal. É tão desprezível.  A minha mãe quando souber vai gostar de saber.

—Por que está dizendo essas coisas, Darlan? 

—Você está com pena dele? Logo você bastardo? Ele te desprezou e te ignorou a vida toda. Você devia torcer pra que ele morra ou fique preso para o resto da vida nesta cama.

—Como pode ter tanto ódio, Darlan? Ele é nosso pai.

—Inácio, não se faça de bonzinho porque eu sei o quanto você o odeia por tudo que ele fez a você e a sua mãe.

Uma lágrima cai do olhar de Inácio que rapidamente passa a mãos sob o rosto e a seca.

—Você não parece a mesma pessoa que chorava pelo pai na frente de todos. Quem é você, Darlan? Que tipo de gente é você que zomba e torce para que o pai morra?

—Sou o tipo que quer se dá bem. Ele morrendo eu herdo tudo dele e você vai ter que enfrentar a justiça para comprovar que também é filho, enquanto isso vou torrar a grana dele mesmo que tenha que dividir a parte com a minha mãe, mas a convenço em me entregar a parte dela pra mim. E pra você não restará nada. —riu irônico.

Inácio pega na gola da camisa de Darlan.

—Saia daqui.

—O que foi, Inácio? Aceite que nosso pai vai morrer ou vai vegetar aí pra sempre. Tudo que um dia tinha que ser seu é meu: o afeto do pai, a herança dos Barretos, o lugar nesta família e claro o amor da índia.

—Sai daqui! Sai! —o puxou em direção a porta.

—Bastardo, sempre bastardo. —gargalhou. —Fica aí chorando por esse traste inútil. —saiu.

Inácio chorava e fica ao lado do pai.

—Pai, me perdoa. —tocou na mão de Anderson. —eu disse aquelas coisas, mas foi da boca pra fora, foi sem pensar. É que as vezes você age de um jeito… —passou a mão no rosto enxugando as lágrimas. —o que importa isso agora? Você tem que sair dessa, pai. Se não é por mim que seja pela minha mãe, por sua ribeirinha. —beija a mão do pai.

 

 

Madrugou e na sala de espera e a família Barreto continuava esperando notícias. Anahí consolava Darlan que fingia desespero e choro.

—Meu amor, eu tenho que ir em casa, me arrumar porque mais tarde começa o meu plantão no hospital.

—Eu vou com você, eu tenho que resolver uns assuntos de trabalho pela manhã.

—Não vai ficar aqui esperando notícias do tio?

—Amor, a vida continua. Eu estando aqui ou não, não fará diferença na recuperação do pai.

Anahí estranha a súbita mudança do namorado que antes chorava descontroladamente pelo pai e depois demonstra preocupasse com assuntos profissionais naquele momento.

—Vamos.

O casal se levanta e segue em direção a Rafael e Luana.

—Vamos voltar pra casa. Eu só vou tomar um banho, comer alguma coisa e retornar para o hospital, mais tarde começa o meu plantão.

—Certo, filha. —disse Rafael.

Anahí e Darlan saem.

—Tios por favor se aproximem. —disse Inácio sentado na cadeira ao lado da mãe.

Os tios se sentam nas outras cadeiras ao lado.

—Já que o Darlan e a Anahí foram embora já posso falar. Quando eu e o Darlan entramos no quarto, ele me disse tanta coisa terrível do pai, ele quer que o pai morra pra ficar com a herança…

—Foi o que eu suspeitava. —falou Rafael.

—Não é possível que um filho deseja algo assim de um pai, é doentio. O Anderson só deu amor a esse filho. —disse Fernanda.

—Estou horrorizada. —falou Luana.

—O Darlan se transforma na frente da Anahí demonstra um filho preocupado com pai enquanto na verdade ele o deseja o pior. –disse Inácio. 

—Um verdadeiro duas caras. —disse Rafael.

—E o pior é que não sei como a Anahí não percebe quem de fato é o Darlan.

—Inácio, minha filha tá apaixonada, mas não há paixão que faça não ver quem é o homem que ela está se envolvendo por muito tempo. Ela está percebendo, eu sei.

—Luana, eu espero que você esteja certa que nossa filha veja quem é esse rapaz porque depois de saber que ele foi capaz de desejar o mal para o pai, eu temo do que ele pode fazer com nossa filha.

 

 

Entardeceu nas terras que agora são de Darlan, acontecia um acampamento de garimpeiros e dentro de uma cabana estavam Maurício, Diogo e outros capangas armados e um grupo de cinco indígenas da aldeia Toriba.

Maurício despeja pequenas pepitas de ouro em cima de uma mesa.

—Estão vendo esse ouro? Podem pegar.

Os índios se olham e um deles pega uma pepita e morde.

—Ouro de verdade.

—Se vocês cooperarem conosco terão muito mais.

Darlan entra na cabana.

—Esse é o nosso patrão seu Darlan. —apontou Maurício.

—Boa tarde, então, esses são os nossos novos sócios? 

Os índios se olhavam timidamente.

—São sim, seu Darlan. Todos da tribo Toriba.- falou Diogo.

—Eu sei que a nascente existe e que a guardiã é a índia Anahí. Se vocês nós ajudarem a chegar a essa nascente vão ter uma generosa recompensa. —pega as pepitas que estavam sob a mesa e as mostra. — O que acham? —encosta-se na ponta da mesa. —o ouro pertencem a vocês e é direito de todos compartilharem e desfrutarem dele. Vão nos ajudar a encontrar a nascente?

 

 

Fernanda entra no quarto da UTI e ver Anderson.

—Anderson… —chorava. —É tão triste ver você assim. —segurou nas mãos dele. — você tem que ser forte, você tem que viver, Anderson… —beijou a testa dele e acarinhou os cabelos. —Pelo nosso filho, por sua família…por mim.

Anderson desperta e ver Fernanda ao seu lado.

—Fernanda…

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