—Fala! —gritou a índia.

—Eu estava apenas passando pela mata…

—Mentira! Você veio me seguindo da aldeia até esse riacho. O que quer? Fala porque senão eu corto teu pescoço. —tocou a lamina do punhal sob a pele do pescoço do índio.

—Abana vai dizer. Solte Abana, solte.

Anahí solta Abana que recuperava-se o ar e ajoelhado na grama.

—Quem mandou você me seguir, Abana? —apontava o punhal para ele.

—Abana seguiu Anahí atrás da nascente de ouro.

—Por que?

—Garimpeiros…eles chamaram Abana e outros índios para ir atrás da nascente.

—Você é um traidor! —pulou em cima de Abana e colocou o punhal sob o pescoço dele.

—Não me mata, Anahí, não mata Abana, a nascente também é nossa. Os homens brancos vão nós pagar bem, vão nós dá ouro, você pode ganhar muito ouro se nós mostrar onde fica a nascente.

—Nunca! Nunca, eu vou trair a minha tribo, trair os Toriba por causa de ouro. Eu vou te arrastar até a aldeia, vou te denunciar na frente de todos e você será banido. Deixará de ser um Toriba.

—Não! Não! Se Abana deixar de ser Toriba, será uma vergonha e vou ser proibido de ver minha esposa e os meus curumins.

—Foi uma escolha sua, Abana, devia ter pensando antes.

—Abana faz acordo com Anahí para não denunciar.

—Qual?

—Falo o nome do dono do garimpo e Anahí não denuncia Abana.

—Se eu não te denunciar o que me garante que não vai continuar a trabalhar com os garimpeiros?

—Confie em Abana.

—Não! Já mostrou que é um traidor e se vende fácil por qualquer conversinha de homem branco. Eles não vão dá nenhuma recompensa nem a você e nem aos outros índios, quando conseguirem o que querem serão capazes até de mata-los.

—Darlan, esse é o nome do dono do garimpo.

—Tem certeza?

—Sim, ele já sabe que a guardiã da nascente é Anahí.

A índia fica devastada ao saber que este era o plano de Darlan se aproximar dela para chegar a nascente.

—A nascente não existe, Abana, mesmo que não acredite em mim, é só uma lenda.

—Me deixe ir, Anahí, já disse o nome do dono do garimpo.

—Se eu descobrir que voltou a trabalhar para os garimpeiros não terá outra desculpa, será banido da aldeia.

—Sim, sim, não se preocupe, Abana fica de bico fechado.

—Vai embora daqui! Sai! —o levanta e o empurra.

Abana sai correndo para dentro da mata.

Anoiteceu e Anahí chega no casarão da fazenda Dois Rios, entra na sala e encontra seus pais que se encontravam sentados no sofá.

—Meus pais descobrir algo que pode causar uma guerra na aldeia Toriba.

—O que foi dessa vez, filha? —perguntou o pai.

— Há um garimpo em Riacho Paraíso. Eu já tinha contado a mamãe.

— Mais uma vez essa gente insisti em encontrar essa nascente. Eles nunca desistem. —disse Rafael.

—Você me falou que o mercúrio está contaminando os rios e adoecendo a população. —falou Luana.

—Não é só isso, mãe. Eu estava na aldeia e sentir que estava sendo seguida até o riacho e descobrir que era Abana, um índio Toriba, eu perguntei o motivo dele ter me seguido e me revelou que está trabalhando no garimpo e estão em busca do ouro da nascente, o dono do garimpo sabe que eu sou a guardiã da nascente.

—Filha isso é muito perigoso. —falou Luana.

—Abana me disse o nome do dono do garimpo.

—Quem é? —perguntou Rafael.

—Darlan.

—Meu Deus! —disse Luana.

—Inacreditável. Então, sabemos o porquê dele ter se aproximado de você, filha.

—Pai, estou horrorizada. Será que Darlan mentiu quando disse que está construindo um hotel fazenda nas terras que eram do tio Anderson?

—Talvez na verdade seja o garimpo. —disse Luana.

—Eu vou descobrir o que de fato o Darlan está construindo lá naquelas terras.

—Filha, não acho que seja prudente.

—Pai, eu não tenho medo do Darlan. Eu vou enfrenta-lo porque para mim já chega de mentiras. Se ele pensa que vai conseguir invadir a aldeia está muito enganado. Eu vou defender aos Toriba com a minha vida.

—Será que o Anderson sabe disso? —perguntou Luana.

—Não sei, Luana. Se souber o meu irmão estiver sabendo desse garimpo é uma decepção. Começo a achar que o Darlan já veio para cá sabendo desta lenda da nascente e talvez aquela estória de que veio conhecer a origem do pai tenha sido uma desculpa para vim se instalar aqui e fazer toda a confusão que ele fez.

—Me sinto usada e enganada. Como fui ingênua em não ter percebido as intenções reais dele. Com tudo isso começo a entender o porquê que ele tanto insistia que eu dividisse com ele meus segredos, queria se tornar íntimo demais em tão pouco tempo de namoro. Chegou até me propor casamento.

—Anahí, o Darlan é obcecado por você e por essa nascente. Ele é um dissimulado e confesso que estou com medo com que ele pode fazer com você e Inácio. —disse Luana.

—Não vou permitir, mamãe. Eu vou enfrentar Darlan, ele não tem esse poder de nós fazer mal.

—Ele que não se atreva a tocar em você novamente porque vou esquecer que ele é meu sobrinho e acabo com a raça dele.

—Se realmente o garimpo está naquelas terras, então, será que algo liga a Amélia? Filha a gente ainda não te contou sobre…

—Inácio já me disse sobre ter encontrado uma mulher que corria assustada e vinha das terras de Darlan. Eu vou conversar com ela e quem sabe descobrimos mais algo.

Jacinta aparece com uma bandeja com café e biscoitos.

—Jacinta, me leva onde está a Amélia.

—Certo. —deixou a bandeja no centro da sala. —Vem comigo.

Jacinta e Anahí saem.

—Rafael, eu estou com medo que o Darlan faça algo pior com a nossa filha. —o abraça.

—Ele não fará nada contra a Anahí, eu não vou permitir, não vou.

Inácio estava no quarto e andando nervoso de um lado para o outro enquanto Anderson se encontrava sentado na cadeira de rodas ao lado.

—Miserável! Como ele pôde fazer isso com a Anahí! Como?

—Se acalma, Inácio.

—Como me pede calma? O seu filho querido, o seu guri de ouro é um covarde, ele teve a audácia de machucar a Anahí, ela me confirmou. Quando eu encontrar ele vou quebrar a cara dele, eu quero ver se ele tem tanta coragem de enfrentar um homem.

—Eu só não quero que vocês se matem por causa disso, vocês são irmãos.

—Por causa disso? —se aproximou dele e o encarou. —Seu filho agrediu uma mulher não é suficiente para você ver que tipo de pessoa é o Darlan? Caramba! Você é um juiz! Se teu olhar de pai te cega, pelo menos olhe com os olhos de um juiz.

—Eu sinto por Anahí, ela não merece, aliás nenhuma mulher merece ser agredida e passar por outras violências. Eu estou envergonhado, não sei como vou olhar para a cara dos seus tios. O que importa é que ela o denunciou.

—Imagino que você vai ajuda-lo, vai contratar um bom criminalista e livrar a pele dele de ser julgado por crime de violência doméstica.

—Aí que você se engana, Inácio, eu não vou limpar a barra do Darlan, não vou ajuda-lo. Se for comprovado que ele agrediu a Anahí e ser julgado por esse crime, ele terá que sofrer as devidas penalidades. Não vou mover nenhuma palha para ele se sair bem.

—Estou surpreso com essa. —sentou-se na rede ao lado.

—Inácio, eu posso ter os meus erros e sei que por causa deles estou pagando um preço muito alto. Eu conheço vocês meus filhos. Eu sei quem é o Darlan, se eu tivesse agido de um jeito mais rígido com ele talvez não seria essa pessoa que é hoje. Acha que é fácil para um pai saber que o filho agrediu uma mulher?

—O que sente o juiz sendo pai ao saber que seu filho cometeu um crime e irá responder por isso?

—Impotente. Eu mudo de lugar do julgador para o lugar do pai do acusado. É uma sensação estranha de estar fora do jogo. Quando estou no meu lugar de juiz eu estou no controle do jogo, fora dele sou apenas um mísero mortal.

—Não vai usar de sua influência? Tem certeza?

—Tenho, eu usei dessa tal influência para defender o seu irmão e criei um monstro.

—Estou admirado com essa tua decisão. Ele terá que enfrentar a justiça e eu vou defender Anahí e terei todo gosto de fazer o Darlan pagar por seu crime.

—Filho, não use da justiça como vingança. Somos peças de um tabuleiro do jogo e conhecedores da lei e do direito e para sobreviver a essa jornada é preciso sabiamente não se levar pelas paixões e por outros sentimentos que nós acedem por dentro.

—Pai, se não tiver paixão, se não tiver sede de justiça, seremos apenas atores a decorar falas com palavras difíceis, a simular sentimentos apenas na busca dos holofotes e é por motivos como estes que a sociedade a cada dia pouco confia na ética da justiça.

—Eu que te faço a pergunta a você advogado: Vai defender por justiça ou por vingança? Se a pessoa que ama e que defende te deixar? Se de repente essa pessoa sentir que não te quer mais, que não te deseja como agora, o que você vai fazer? Seu desejo de justiça continua o mesmo ou diminui?

—Todos somos livres para amar, meu pai. Vou sofrer se ainda querer essa pessoa ao meu lado, mas vou aceitar e continuarei a defender porque esse é o meu papel de advogado, de defensor.

—Seja sincero comigo, o desejo de justiça, a intensidade e a sua vontade de castigar Darlan continua a mesma ou diminui?

—Diminui.

—Para você ver que quando se move as peças do tabuleiro também muda as intenções do jogo.

—Me sinto mal por isso, mas tenho que ser sincero. Então sou uma farsa?

—Não, meu filho, é a vida te ensinando que os interesses são como cordões que nós ligam as paixões e os desejos e que podem se despedaçar com o tempo. Essa intensidade, esse seu desejo de castigar e de fazer Darlan pagar caro por tudo que ele fez se chama vingança e ela assim como outros sentimentos podem mudar no decorrer do tempo.

—Ele tem que pagar pelo que fez.

—Eu sei e tem toda razão. Os sentimentos quando estão vividos com paixão e intensidade podemos agir com peso maior em nossos julgamentos. A injustiça não está apenas em não penalizar, ou dá uma pena mais leve e como também em fazer a tal justiça com as próprias mãos.

—Acho que sei onde quer chegar: está falando de imparcialidade. Não se preocupe que eu vou agir com sensatez em não misturar meus sentimentos com a razão. Vou defender Anahí porque a amo e também por justiça.

—Quem é mais forte em você o amor ou a justiça?

—Os dois.

—E se o amor perder?

—Fiz justiça.

—E se a justiça perder?

—Fiz por amor.

Anahí entra junto com Jacinta no quarto de Amélia que estava sentada na janela.

—Amélia, desculpa entrar desse jeito, mas essa é Anahí, filha dos patrões ela quer conhecer você.

Amélia desceu da janela e olhou desconfiada para Anahí.

—Tudo bem, eu não vou te fazer nenhum mal. Podemos ser amigas. Inácio me falou que te encontrou fugindo das terras do Darlan.

Neste momento Amélia fica nervosa e se senta acuada na cama.

—Você conhece ele? O Darlan? —senta-se ao lado dela na cama. —Eu não quero te assustar, mas preciso saber o que há naquelas terras, eu tive informações de que se trata de um garimpo…

—Não me leve para o Diogo! O Diogo, não! —gritou chorando.

—Amélia, guria fique tranquila não vamos te levar para esse tal de Diogo. Queremos te ajudar. —disse Jacinta.

—Eu vou te mostrar a foto do Darlan. —pegou o celular na bolsa e mostrou a foto para Amélia. —O conhece?

Amélia balança a cabeça afirmando.

—Eu preciso que da sua ajuda, Amélia, eu preciso saber o que há naquelas terras…

—É um garimpo.

Anahí e Jacinta se olham surpresas.

—Eu vi o garimpo antes de fugir.

—Você estava presa lá? Por que?

—Diogo me ofereceu para o Darlan em troca de dinheiro.

—Santo Deus! —disse Jacinta.

—Minha tia Roberta me vendeu para o Diogo, ele vive disso de oferecer gurias para passar…a noite com clientes…ele me ofereceu ao Darlan. Eu juro que não queria! O Diogo me sequestrou na estrada e quando acordei estava presa numa cama dentro de uma cabana.

—Que horror! —disse Jacinta.

—Eu achava que tudo aquilo fosse um pesadelo. Eu me sinto culpada por não ter resistido, eu fiquei sem reação, não gritei, não fiz nada para me defender enquanto o Darlan me tocava, me… —chorou.

Uma lágrima cai do olhar de Anahí.

—Amélia, o Darlan é meu ex-namorado e acabei descobrindo que ele é o dono do garimpo e que está em busca de encontrar a nascente.

—Quando consegui fugir da cabana, eu ouvi Diogo conversando com um outro homem e falavam sobre o garimpo e a nascente.

—Eu sou uma índia Toriba e guardiã da nascente. Eu preciso deter o garimpo e evitar que entrem na aldeia.

—Me sinto tão suja, tão envergonhada com tudo que passei.

—Amélia, você devia ter nós falado antes. O Darlan e esse Diogo precisam pagar pelo que fizeram com você. —disse Jacinta.

—Eu tenho medo que eles façam algo contra mim. Diogo é muito perigoso, muito. E pior é que antes eu nunca tinha estado com um homem.

—Saiba que você pode contar comigo, Amélia, não tenha medo deles. O Darlan me agrediu e tentou me atacar e eu o denunciei as autoridades e busco por justiça. Juntas podemos vencê-los.  —segurou nas mãos dela.

—Não sei se vou conseguir. —chorava.

—Vai sim, nós duas vamos conseguir fazer com que paguem pelo que fizeram contra nós.

—Você disse que era namorada do Diogo, eu juro que não me entreguei a ele porque eu quis, eu fui forçada, eu juro…

—Tudo bem, eu acredito em você, Amélia. Vamos denunciar o Darlan e o Diogo as autoridades.

Inácio estava na sala de sua casa e sentado no sofá assistindo televisão com os pais.

—Essas queimadas parecem que nunca vão acabar. Tá destruindo tudo e até tá afetando o movimento no Almirante.

—Nanda, isso é que se chama grilagem. Queimam o mato e se aproveitam da seca no pantanal para se alastrar mais rápido e no final é tudo gente que quer terra para plantar.

—O governo precisa fazer alguma coisa. Coitadinhos dos bichos. —a ribeirinha apontava para a televisão onde passava imagens de animais mortos e feridos com as queimadas.

— Entra governo e sai outro e nada resolve e o problema só aumenta e o incrível é que quando chega na época das eleições vivem fazendo promessas utópicas e que jamais se cumprem. —disse Inácio.

—O problema é esse povo que se deixa levar com lábia de político quando chega nas eleições a maioria vende seu voto em troca de fogão, gás, dinheiro, o povo vende voto por qualquer coisa. —falou Fernanda.

—Nada mudou nesse país mesmo ter passado por tantos conflitos, por tantas lutas como a conquista da democracia continuamos com o mesmo pensamento retrógado e cheio de fanáticos por todos buracos. Estamos é entregue as moscas e o que lamento é por aqueles que perderam suas vidas em busca de um futuro melhor para essa nação. —disse Anderson.

—Aqueles que morreram no tempo da opressão das liberdades não morreram em vão e suas memórias jamais devem ser esquecidas. —de repente o celular de Inácio toca e atende. —Anahí. —levanta-se e se afasta.

Anahí estava na sala do casarão ao lado dos pais e de Jacinta.

—Inácio, eu descobrir que o Darlan é o dono do garimpo.

—Era só que faltava.

Anderson e Fernanda se olham após a reação do filho.

—Fui seguida pelo índio Abana e ele me contou que o garimpo está em busca da nascente e que eu sou a guardiã. Os garimpeiros contrataram alguns índios para trabalhar com eles e me seguirem para descobrir onde fica a nascente.

—Como você descobriu que o Darlan é o dono do garimpo? —olhou sério para o pai que demonstra surpresa enquanto Fernanda o olha com reprovação.

—Amélia, ela falou comigo, eu mostrei a foto do Darlan que tem no meu celular, já que você a encontrou fugindo das terras dele. Ela me revelou que foi sequestrada por Diogo que a ofereceu para passar uma noite com o Darlan em troca de dinheiro, quando fugiu do local viu que estava no garimpo e ouviu o Diogo conversando com outro homem sobre a nascente.

—Maldito! Temos que denunciar o Darlan e esse tal de Diogo!

—Ela está com medo, Inácio, mas eu disse a ela que confiasse em mim.

—Eu chego aí daqui a pouco, vamos na delegacia e denunciar os dois.

—Vamos te aguardar, Inácio. Te amo.

—Também te amo, Anahí. —desligou.

—Eu ouvir bem? —Fernanda se levanta do sofá. —o seu irmão é dono de um garimpo?

—É sim, mamãe. Um garimpo que sabe que Anahí é a guardiã da nascente que diz a lenda que está nas terras dos Toriba.

—Anderson você sabia?

—Não, eu não sabia. O Darlan me disse que queria as terras para construir um hotel fazenda.

—Mentiroso! Você sabia!

—Me respeite, guri do mato! Quem pensa que é para gritar comigo?

—Você devia era ouvir o que Anahí me disse pelo celular o que o Darlan foi capaz fazer: comprar uma noite com uma mulher que foi sequestrada e vendida por um cafetão.

—Minha nossa! —gritou Fernanda.

—Como ela soube disso?

—Vocês não sabem, mas eu encontrei uma guria fugindo das terras do Darlan, ela se chama Amélia e estava machucada e assustada e com medo que o Diogo a encontrasse. Eu a levei para o casarão e os tios a acolheu.

—É monstruoso. —disse Fernanda se sentando no sofá.

—Ela passou esses dias em um quarto dos fundos do casarão e não falava nenhuma palavra.

—Pobrezinha estava em estado de choque. —falou Fernanda.

—Anahí mostrou a foto do Darlan e ela o reconheceu e disse tudo que aconteceu com ela.

—Eu sabia que o Darlan era dono de alguns garimpos, mas ele me disse que tinha desistido da garimpagem e que queria as terras para construir um hotel fazenda.

Inácio se aproxima do pai e se agacha em frente a ele.

—Pai, eu espero que você não tenha nada a ver com esse garimpo porque se estiver está sendo cumplice.

—Não sou cumplice, Inácio, mesmo que não acredite eu não sou.

—Eu vou lá na fazenda. —levanta-se. —vou levar Amélia e Anahí para delegacia e denunciar o Darlan. A coisa tá feia pra ele, pai, quero ver como ele vai conseguir escapar. —saiu.

—Anderson, olha para mim. —segurou o rosto dele. —Você tem tá metido nisso? Tá?

—Não, Fernanda, eu não estou.

Inácio chega nas terras da fazenda Dois Rios e no quarto encontra Amélia sentada na cama ao lado de Anahí e em pé está Luana e Tânia.

—Ainda bem que chegou, meu amor. —a índia se levanta e o beija.

—Então, Amélia vamos?

Amélia olha para todos desconfiada e depois confirma balançado a cabeça.

—Vão denunciar o garimpo? —perguntou Luana.

—Não temos provas, tia.

—Amanhã eu vou até as terras do Darlan e vou tirar fotos do garimpo.

—É muito perigoso, filha.

—Mãe, temos que agir rápido antes que o Darlan faça algo muito pior. O doutor Marcos já encaminhou os laudos dos exames dos pacientes para a secretária de saúde.

—Vamos precisar desses laudos e juntar com as fotos e encaminhar as autoridades que seguirão com a investigação. —disse Inácio.

—Que Deus proteja vocês, espero que dê tudo certo.  —falou Tânia.

Na delegacia, Amélia estava sentada em frente à mesa da delegada Marília e ao lado se encontrava Inácio.

—Mais uma vez uma denúncia contra esse sujeito chamado Darlan Barreto. —disse a delegada.

Amélia estava tensa.

—E como você chegou nesta cabana? Alguém te levou até lá?

—Sim, eu fui sequestrada na estrada pela tardinha.

—E quem te sequestrou?

Inácio olha para Amélia que desvia o olhar.

—Não sei quem é.

—Como não sabe, Amélia? Você disse que quem te sequestrou e te vendeu foi o Diogo.

—Por favor o senhor não interfira no depoimento da vítima.

—Mas delegada, eu a encontrei fugindo das terras do Darlan e gritando assustada com medo de um homem chamado Diogo e que a tia dela a vendeu para ele que a ofereceu para passar uma noite com o Darlan.

A delegada Marília olha para o escrivão Jardel ao lado e sentado em outra mesa.

—Tem certeza que você foi sequestrada ou foi por vontade própria? —perguntou olhando para Amélia que está cabisbaixa.

—Eu não sei, não sei bem dizer.

—Foi o Darlan que te sequestrou?

—Não.

—Você disse ao Darlan que não queria fazer o programa e que foi sequestrada?

—Não. Eu não disse nada.

—Ele te pagou?

—Sim. —balançou a cabeça.

Após sair da sala da delegada, Inácio e Amélia encontram Anahí na entrada.

—Como foi?

Amélia cabisbaixa se afastou.

—Ela não ajudou em nada. Mentiu sobre o Diogo e disse que não sabia quem foi que a sequestrou. Disse que não disse nada ao Darlan e que no final a pagou, enfim, não há o quer incriminá-lo.

—Ela está com medo do Diogo deve ser por isso que agiu desse jeito.

—Não é possível que o Darlan e esse tal de Diogo vão ficar impunes.

—Com essa delegada que pouco fez caso com agressão que sofri.

—Você não me disse sobre isso, Anahí.

—É, foi. Ela não acreditou em mim, mas pelo menos fiz o corpo de delito.

—Menos mal. No caso de Amélia também foi solicitado, vamos aguardar os resultados. Eu só espero que não estejamos enganados com Amélia.

—Está desconfiado?

—Estou.

Inácio e Anahí olham para Amélia que estava distante e sentada na cadeira.

Pela manhã, Anahí entrou nas terras de Darlan e se escondeu atrás de uma árvore quando viu o garimpo nas margens do rio.

—Amélia tinha razão. —disse em voz baixa.

Anahí se escondeu atrás de um caminhão e ouviu um grito.

—Diogo! —gritou Maurício.

De repente Diogo aparece atrás da índia e a surpreende coloca a mão tapando a boca dela.

—Socorro! —ela gritou abafado.

—Olha só que temos aqui: uma intrusa. — riu. —Fica quietinha. —a arrastou.

Na cabana Diogo empurra Anahí que cai no chão em frente à Darlan.

—Me deixe sozinho com ela.

Diogo sai.

—Quem diria que você voltaria assim para mim de joelho aos meus pés, minha índia. —se agachou e segurou o queixo dela.

—Eu sei o que você está fazendo, Darlan! Eu sei!

—É mesmo? Levanta, vai. —a levanta do chão e a segurava. —O que achou do meu…

—Garimpo!

—Essa era a surpresinha que tinha para você, meu amor. Como descobriu? Ah, espera, você veio até aqui me procurar, não foi? Ficou com saudade de mim. —tocou no rosto dela.

—Nunca! —cuspiu no rosto dele.

—Não brinque comigo, Anahí, a minha paciência com você está se esgotando!

—Por que tudo isso, Darlan?

—Eu quero a nascente, sei que você é a guardiã e se você me ajudar a encontra-la vou te dá muito ouro, vou te dá uma vida de rainha e se tornará a índia mais rica que esse país já teve.

—A nascente não existe, Darlan, é só uma lenda e você está perdendo o seu tempo.

—Mentira! A nascente existe e é um egoísmo seu em se negar em dizer onde ela está. Anahí, eu amo você tanto que sou capaz de perdoar e até mesmo de aceitar que você ame o bastardo, sou capaz até aceitar a pior humilhação de um homem de ser traído ou dividir o seu amor com ele, mas me diz onde está essa nascente. Me fala!

—Darlan, estou horrorizada, decepcionada, eu não consigo entender como eu pude ter me apaixonado por você.

—No coração não se manda. —tocou no rosto dela e que afasta.

—Você não precisa disso, Darlan, não precisa. Esse seu garimpo está contaminando os rios, tem gente doente por intoxicação de mercúrio.

—Esse garimpo não é o primeiro e nem o último do Brasil. Garimpeiros não são criminosos como muitos pensam, tá? Tem muito chefe de família por aqui que só quer ter a sorte de fazer uma fortuna e dá uma vida melhor para a família.

—O problema é que se a natureza adoece também adoecemos.

—Viver, adoecer e morrer é algo natural da vida, meu amor. —caminha em direção a uma mesa.

—Acha justo que pessoas e animais inocentes paguem pelo seu erro? Você e esses que provocam as queimadas são todos iguais são ambiciosos e egoístas. Não se esqueçam que vocês também fazem parte da natureza e assim como em uma pandemia tanto os ricos e os pobres pagam pelas consequências.Todos pagam!

Darlan abre uma mala preta executiva.

—Veja.

Abriu a mala e haviam barras de ouro e pedras preciosas.

—Na nascente deve ter pedras milhares e até maiores que essas e muito ouro. Se você minha índia se unir a mim vou te vestir de ouro, te cobrir da joia mais cara e não vai precisar viver neste mato, neste pantanal porque eu vou te dá o melhor, muito luxo, muito mimo, será minha índia rainha.

—Você não vai me comprar com isto! —empurrou a mala e que caiu no chão. —não sou igual Abana e outros Toriba que se deixaram levar pelo que você prometeu. Nunca vai cumprir! Mentiroso!

—Então, foi Abana que deu a língua nos dentes.

—Darlan. —segurou o rosto dele. —Se sente algo bom por mim, eu te peço que feche esse garimpo e vá embora.

—Eu sempre fui tão fiel a você.

—Fiel? Não foi, estou sabendo de Amélia.

—Como?

—Amélia foi sequestrada por Diogo que a ofereceu para você passar uma noite com ela.

—Eu não estou sabendo disso. Paguei sim por ela, mas não sabia que tinha sido sequestrada.

—Ela não queria, ela esteve com você porque foi ameaçada por Diogo.

—Anahí, pelo jeito que ela estava não parecia que não queria. Agora me diga como conheceu Amélia?

—Não importa. Você me traiu estando com ela!

—O que não encontrei em você, procurei em outra.

—Você não presta, Darlan.

—Sou um homem, Anahí, e você fez pouco caso do meu desejo por você. Eu só queria e ainda quero te amar.

—Está louco, Darlan, obcecado por está ideia de nascente.

—Mais do que a nascente, eu quero você.

—Você se tornou um monstro, me agrediu e quase me forçou a está com você porque não aceitou que eu terminei o namoro e porque amo o Inácio.

—Como pode amar o Inácio se a pouco tempo dizia que me amava? Você não gosta de nenhum dos dois, está se divertindo comigo e com ele. Você é uma praga! Eu não consigo pensar em outra coisa a não ser você, quando estou com outra só te vejo! O que fez comigo? O que fez com Inácio?

—Eu sempre amei o Inácio, mas nunca tive coragem de me declarar por medo que ele não correspondesse a mim.

—Como de repente estão juntos? O que houve entre vocês? Admita que me traiu com ele! Admita!

—Isso não importa mais. Terminamos e vou viver o meu amor com Inácio você querendo ou não.

—Você é uma maldição! Traidora!

—O que você fez comigo é imperdoável! Vá embora, Darlan, já causou problemas demais.

—Não vou embora dessa cidade sem a nascente.

—É só uma lenda. Ela não existe.

—O que sentia por mim, Anahí? Se ama Inácio, por que estava comigo?

Anahí fica em silêncio.

—Não tem coragem de responder, não é? Você se diz tão correta e tão justa, porém não quer admitir que estava comigo apenas para ocupar o espaço do Inácio, já que não o tinha então se contentou comigo. Me usou, brincou com essa sua imagem de santinha para me seduzir e depois que viu que Inácio também te correspondia me jogou fora, me descartou como se nada mais fosse.

—Sim, eu errei, Darlan, neste sentido eu errei, devia ter sido honesta com meus sentimentos, mas se Inácio não me correspondesse eu não poderia passar a minha vida toda esperando por um amor não correspondido. Eu tentei ser feliz com você…

—Pela primeira vez nesta vida eu vi em você um amor para viver a vida toda.

—Você não tinha o direito de me agredir…

—É de responsabilidade sua o que acontecer entre eu e o Inácio e tudo que acontecer por não me falar onde está a nascente.

—Não seja infantil, o seu maior problema é que nunca se responsabilizou pelos seus atos. Não venha colocar culpa em mim por seus erros. Assuma o que faz, Darlan, e saiba que cedo ou tarde você vai pagar por tudo que faz.

—Você está proibida de entrar nas minhas terras! Fora das minhas terras! Antes que eu faça uma besteira! —empurra os objetos da mesa que caem no chão. —Fora daqui! —derruba a mesa no chão.

Anahí sai correndo.

—Ela vai me dizer onde está nascente. Tem que me dizer! —deu um soco na pilastra de madeira.

Tânia entra na sala do casarão e ver Jacina e Luana.

—A  Amélia fugiu!

—Como assim ela fugiu? —perguntou Luana.

—Vale-me Deus! —exclamou a governanta.

—Ela fui no quarto dela e encontrei esse bilhete na cama. —entrega a patroa.

Luana ler o bilhete.

—Ela pede desculpas ao Inácio, agradece a todos e disse que está indo embora.

—Por que ela fez isso? Por que fugiu? —perguntou Jacinta.

—O que vamos fazer, dona Luana?

—Dizer ao Inácio.

No quarto, Inácio terminava de fazer a barba em seu pai.

—Pronto, veja se tá melhor. —pegou o espelho.

—Tá bom.

O celular de Inácio toca e ele atente.

—Alô, tia Luana.

—Inácio, a Amélia fugiu, ela deixou um bilhete te pedindo desculpas, agradecendo a todos e disse que voltou para casar. O que vamos fazer?

—Se ela quis ir embora não temos que forçar ela ficar. Só sinto que talvez ela tenha que enfrentar o Diogo. —olhou para o pai. —E Anahí, já voltou? Certo, qualquer coisa me fala. Tchau.

—A guria que você encontrou voltou para casa.

—Isso. Estou preocupado com Anahí, eu devia ter ido com ela.

—Eu estou atrapalhando você, não é, Inácio?

—Você é minha prioridade, pai. Se Darlan não fosse tão errado deveria estar aqui comigo cuidando de você.

—Você gosta mesmo da índia.

—A amo.

—Nunca permita que outros interesses a afaste de você. Se ama lute por esse amor. Eu me arrependo de ter escolhido viver a minha vida lá na capital, de ter me casado com Verônica e não ter ficado com a ribeirinha.

—Às vezes tomamos escolhas erradas.

—É, escolhas que não tem como voltar atrás. O tempo passou e mesmo ter conquistado tudo que queria na minha carreira, ter bens materiais, dinheiro, sucesso, há um vazio em mim que nunca conseguir preencher.

—A sua ribeirinha.

—Eu pensei que fosse só ela, mas não é somente ela. Eu tive pessoas que tentaram me dá conselhos principalmente seu tio Rafael e o Décio, meu amigo, e eu insistir em seguir um caminho sem pensar, sem ver e apenas seguindo a vida que…

—Descobriu o que é de fato esse vazio?

—Deus. —apontou para o crucifico na parede e começou a chorar.

—Ele sempre esteve com você, pai. Deus é o único que pode preencher nossos vazios internos. Aliás será mesmo que temos vazios? Se sabemos que Deus existe dentro de nós então estamos completos.

—Tem razão, eu só não percebi que Deus esteve sempre aqui comigo e tanto que me deu uma segunda chance de viver.

—Ele é paciente demais. Deus nós conhece por inteiro.

—Um pai tolerante, que quando queremos algo e não conseguimos o transformamos em carrasco.

—Imagine se no mundo todos realizassem o que querem.

—Às vezes um pai ou uma mãe diz não ao filho é um jeito de educar, de evitar que vá para um mal caminho. A vida precisa dos nãos para gente amadurecer. Eu devia ter dado não para o seu irmão e quem sabe ele teria se tornado uma pessoa melhor.

—A vida vai ensinar o Darlan.

—Quando a vida ensina é mais dura do que uma advertência dos pais.

—Concordo.

—Tem algo do Darlan que você não sabe: desde criança ele sempre foi assim me dava problemas na escola com mal comportamento, zombava dos colegas e dizia que podia fazer o que quiser porque é filho de um juiz e neto de desembargador. A Verônica aceitava tudo que ele fazia, eu via que era errado, porém, por achar a falta que fazia porque trabalhava bastante, saia cedo de casa e só voltava a noite, então, eu quis compensar a minha ausência satisfazendo os desejos dele, os caprichos, dando tudo que ele queria até que ele entrou na adolescência e começou a sair com amigos que eram filhos de alguns conhecidos meus como juízes, promotores, procuradores, enfim, gente do meio da justiça, então, pedir qualquer possibilidade de impedir que ele tomasse decisões erradas, começou com brigas em boates, desacato a autoridades, e infrações de trânsito. Toda vez que quis reprimi-lo, a mãe vinha protege-lo e jogar na minha cara que eu tinha chegado ou onde cheguei por ela.

—E o tempo passou e Darlan se tornou um adulto agressor de mulheres e um criminoso ao ser dono de um garimpo ilegal.

 —É, eu tenho culpa disso tudo. Eu fui covarde, devia ter enfrentado Verônica, eu…

—Pai, acredita mesmo que conseguiu tudo que conseguiu somente por ter se casado com Verônica?

—Em partes sim. Você está começando agora e verá depois como funcionar esse mundo. A influência, o status e boa aparência tudo isso conta. Uma pessoa pode ser a mais inteligente, a mais talentosa, mas se não tiver dinheiro, poder e uma boa aparência vai permanecer no mesmo lugar no ostracismo.

—Valeu a pena, então? Casa com Verônica e ganhar o mundo?

—No começo pensei que valia a pena, hoje eu digo que não.

Anahí estava dentro da oca da Cacica Jaci conversando com ela e com Sami.

—Os Toriba tem que se preparar porque homens brancos vão invadir a aldeia. —disse Jaci.

—Eu estou pronta para o combate. Eu vou defender meu sangue Toriba! —falou Anahí.

Sami pela janela ver duas caminhonetes em frente à entrada da tribo e vários homens armados.

—Chegou o momento.

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