“Envolvidão”

 

[CENA 01 – CASA DE SAMUEL/ SALA/ NOITE]
(Dácio continua em pé surpreso olhando para o pai de Daniel. Daniel, rapidamente vendo o estado dele, pensa em algo)
DANIEL – Pai, este é o Dácio. Estuda comigo, e fera nos assuntos de tecnologia.
SAMUEL – (andando até ele) Ainda não conhecia esse seu amigo.
DANIEL – Eu e o Dácio nos conhecemos tem pouco tempo.
SAMUEL – Tudo bem, Dácio? (estendendo a mão para cumprimentá-lo, Dácio coloca a almofada sobre o sofá e cumprimenta Samuel)
DÁCIO – Tudo.
DANIEL – Dácio veio formatar meu computador, aí acabamos vendo um filme.
SAMUEL – Porque não chamou o Guilherme. Ele formataria para você.
DANIEL – O Guilherme iria cobrar pelo serviço, já o Dácio não cobrou.
SAMUEL – Você fez de graça?
DÁCIO – Fiz. (um pouco nervoso) Não costumo cobrar, gosto de ajudar.
SAMUEL – Então, bem-vindo, Dácio. Estou indo para o meu quarto, não quero atrapalhar o filme de vocês.
DANIEL – Na verdade ele já acabou. (olha para a TV e ver os créditos subindo)
DÁCIO – E na verdade eu já estava indo. Até a minha casa tem um longo ainda.
SAMUEL – Quiser posso te dar uma carona?
DÁCIO – Não precisa. Está tarde já, não quero incomodar.
DANIEL – Eu te acompanho até a porta, Dácio. (indo em direção à porta, Dácio segue ele, mas antes se despede de Samuel)
DÁCIO – Até qualquer hora. (aperta a mão dele novamente, e sai apressado até a porta)
DANIEL – (baixinho) Me manda mensagem quando chegar em casa?!
DÁCIO – Ok.
DANIEL – Até amanhã então.
DÁCIO – Até amanhã. (pensa em abraça-lo, mas tem receio de que o pai de Daniel esteja observando, então vai embora. Daniel o observa por alguns segundos, depois fecha a porta e volta para a sala, onde seu pai estava sentado no sofá, mexendo no celular)
SAMUEL – Seu amigo mora onde?
DANIEL – Nem sei ao certo. A gente não trocou muita ideia ainda.
SAMUEL – Vocês não trocaram muita ideia, e ele formata teu computador de graça?
DANIEL – Sim, qual é o problema?
SAMUEL – Problema nenhum, só que ninguém faz nada de graça para outra pessoa, se não quiser algo em troca.
DANIEL – Dácio é gente boa, tem um bom coração apenas. O que poderia pedir em troca.
SAMUEL – Não sei. Mas confesso que o achei um garoto um pouco estranho, filho. (levanta do sofá, indo em direção a escada) Cuidado com esses amigos que você acaba de conhecer, antes de trazer aqui para casa. (Daniel ri, se joga no sofá, e pensa no que acabou de rolar ali minutos atrás)

[CENA 02 – RUA DA CASA DE PEDRO/ NOITE]
(o carro de Felipe estaciona em frente à casa de Pedro)
FELIPE – Pronto, chegamos.
CARLA – Obrigada mais uma vez, Felipe.
FELIPE – Não tem do que agradecer.
PEDRO – Confesso que me surpreendi com você, Felipe. Não esperava que você mandava tão bem assim. Realmente a Alice herdou de você o talento pela música.
ALICE – Até eu não imaginava que o senhor cantava tão bem assim. Precisamos cantar uma juntos, pai.
FELIPE – Você nunca me convidou, filha!
ALICE – Assim que chegarmos em casa iremos cantar uma então.
FELIPE – Melhor deixar para uma próxima, querida. Estou um pouco cansado, tenho que acordar cedo amanhã.
ALICE – Ih, voltou o empresário.
PEDRO – Bem, eu adorei cantar contigo.
FELIPE – Eu também. Se eu fosse você não desistiria não. Sei que você vai embora, voltar para a sua cidade, mas, continua cantando por lá. Você tem talento, deveria aproveitá-lo.
PEDRO – Eu sei. Quando eu cheguei aqui, não tinha essa paixão pela música como tenho agora. Pode ter certeza que não irei parar.
ALICE – Se eu herdei o talento da música do meu pai, você herdou de quem? Da sua mãe?
CARLA – Não, de mim não foi mesmo. Eu não canto nem no chuveiro.
PEDRO – Talvez tenha herdado do meu pai também. Já que eu não o conheci, não tenho como ter certeza. (olha para Carla, esperando que ela contasse algo sobre seu pai)
CARLA – Eu não sei se seu pai cantava, filho. Não pude ver ele cantando quando estávamos juntos.
FELIPE – Cantando ou não, você recebeu esse talento. E isso ninguém irá tirar de você.
CARLA – Bem, é hora de irmos. Tchau, Felipe.
FELIPE – Tchau. (Carla sai do carro) Tchau, garoto. Se cuida viu, e lembre-se do que eu te disse.
PEDRO – Pode deixar, que vou lembrar sempre. Tchau para vocês, boa noite. (saindo do carro)
FELIPE – Boa noite! (acena para Carla e Pedro, sorri, liga o carro e sai. Carla e Pedro o observa por alguns segundos, depois caminham em direção à casa)

[CENA 03 – CASA DE FLÁVIO/ SALA/ NOITE]
(Flávio está beijando Paula empolgado, porém ela não para de pensar na cena estranha que viu minutos atrás)
FLÁVIO – (encerrando o beijo, ao perceber que ela não os retribui) Está tudo bem, Paula?
PAULA – Estou sim. Só acho que está meio tarde, melhor eu ir indo.
FLÁVIO – Por que você não dorme aqui? (volta a se aproximar dela, porém Paula levanta do sofá)
PAULA – Sabe que não posso. Preciso trabalhar amanhã.
FLÁVIO – Infelizmente. (levanta, ficando de frente para ela) Bem, mas eu entendo. Você tem seu trabalho, está certa. (dá um selinho nela) Eu te levo até a porta. (Paula pega sua bolsa que estava no sofá ao lado, e vai com Flávio até a porta) Manda mensagem quando chegar! (da um beijo nela, um pouco longo)
PAULA – (encerrando o beijo e se afastando) Tchau.
FLÁVIO – Tchau. (abre a porta, Paula vai embora, Flávio a observa por alguns segundos, depois fecha a porta. Flávio caminha em direção a escada, sobe em direção ao quarto de Laura. Abrindo a porta do quarto da menina, a encontra dormindo. Ele mesmo assim entra, tranca a porta e começa a tirar a roupa. Só de cueca, sobe na cama da garota, e começa a beijar o rosto dela, o que a acorda, assustada) Não acredito que você ia dormir sem brincar comigo?! (começa a beijar o rosto dela, Laura fecha os olhos, com nojo dos beijos dele)

Amanhecendo…

[CENA 04 – CASA DE CAIO/ COZINHA/ DIA]
(Cláudio está terminando de aprontar a mesa, quando Caio entra na cozinha)
CAIO – Bom dia, pai.
CLÁUDIO – Bom dia, campeão.
CAIO – A mamãe já acordou?
CLÁUDIO – Já, e ela já foi para o trabalho.
CAIO – Ué, ela não vai comigo para a escola?
CLÁUDIO – Conversei com ela ontem, e decidimos te dar mais um voto de confiança. (Caio sorri) E, esperamos que dessa vez você não nos decepcione.
CAIO – Não irei, pai. Vocês vão ver.
CLÁUDIO – Que bom. Agora, senta aí, toma seu café, que daqui a pouco a gente vai para escola. (Caio coloca a mochila na cadeira ao lado, senta-se e começa a se servir)

[CENA 05 – CASA DE VERÔNICA/ COZINHA/ DIA]
(Verônica está tomando o café da manhã, quando Luana entra na cozinha, pega uma maça e sai da cozinha)
VERÔNICA – Mas que pressa é essa? Não vai tomar nem o café da manhã?
LUANA – (respondendo da sala) Tenho que procurar um emprego, esqueceu!
VERÔNICA – (responde, porém Luana não escuta) Não, não esqueci. Preciso pensar algo para fazer com que essa aí fique aqui.

[CENA 06 – CASA DE PEDRO/ COZINHA/ DIA]
(Carla está tomando o café da manhã, quando Paula entra na cozinha, pensativa)
CARLA – Bom dia, irmã.
PAULA – Bom dia.
CARLA – Tudo bem?
PAULA – Só não consegui dormir direito ontem.
CARLA – Algum problema?
PAULA – Não é nada demais, irmã. Só besteira da minha cabeça. Então, já começou a arrumar suas coisas de volta para Minas?
CARLA – Vou começar hoje assim que retornar do médico.
PAULA – Ah é. Será que o aneurisma sumiu?
CARLA – Não sei, se não tiver sumido, espero que pelo menos tenha diminuído e que eu possa continuar tomando os medicamentos lá em Minas.
PAULA – Se o médico não autorizar sua viagem, você ficará aqui?
CARLA – Não, independente da resposta, eu vou voltar para Minas. Você sabe que não posso deixar o Pedro aqui próximo do Felipe.
PAULA – Sendo assim, quando eu chegar do trabalho te ajudo na mudança, está bem.
CARLA – Não precisa se preocupar, irmã. Consigo arrumar tudo sozinha. Pedro me disse que assim que chegar da escola, irá me ajudar também.

[CENA 07 – COLÉGIO ESTADUAL OLIVEIRA SANTOS/ PÁTIO/ DIA]
RAMON – Quer dizer que você vai deixar a banda?
PEDRO – Infelizmente, cara. Eu não queria fazer isso, mas não posso deixar a minha mãe sozinha agora. Ela precisa de mim para superar esse tratamento.
RAMON – Mas e o programa? A gravação do vídeo para enviarmos, você vai deixar isso de lado?
PEDRO – Sim. Vocês terão que procurar outro vocalista para a banda.
RAMON – Poxa, cara. Você não tem ideia do quanto isso era importante para gente. Quando você chegou, nos deu esperança de que teríamos alguma chance, mas agora…
PEDRO – Não pensa assim, cara. Você também é talentoso, a banda inteira são. As inscrições ainda nem abriram, vocês têm tempo para encontrar um outro vocalista, quem sabe até você mesmo.
RAMON – Não há ninguém tão talentoso quanto você, cara. E se há, não está nessa cidade.
PEDRO – Também não exagera. Rio de Janeiro é grande, existe alguém que cante bem por aí. Vocês só precisam procurar, se quiserem posso ajudar vocês.
RAMON – Fazer o que, né. Vamos ver se encontramos alguém com talento o suficiente que nos leve até a final. Pior, que nos faça passar ao menos na seleção.

[CENA 08 – PIZZARIA/ DIA]
(Eduardo chega na pizzaria, desce da moto, porém ainda não entra, devido ter chegado uma mensagem em seu celular)
EDUARDO – (ler a mensagem do pai médico do seu amigo, sorri, e logo em seguida digita uma mensagem para Dácio) “Consegui marcar uma consulta para Letícia.” “Preciso falar com você pessoalmente depois” (envia a mensagem, guarda o celular e entra)

[CENA 09 – CASA DE ALICE/ SALA/ DIA]
(Felipe vem descendo as escadas, e encontra Miguel sentado no sofá, pensativo)
FELIPE – (colocando a pasta em cima da mesa) Pensando em como será sua vida em Minas?
MIGUEL – Como você sabe que vou para Minas?
FELIPE – Encontrei com a Carla ontem. Ela me contou que você vai com ela para Minas.
MIGUEL – Segui o seu conselho. Não vou deixá-la ir embora dessa vez.
FELIPE – Você fez o certo. Se eu estivesse na sua posição, teria feito a mesma coisa. (não diz mais nada, pega sua pasta e sai de casa, Miguel volta a fica pensativo)

[CENA 10 – ESCOLA ESTADUAL OLIVEIRA SANTOS/ PÁTIO/ DIA]
ANDRÉA – Esperava já essa decisão de você.
RAMON – É, mas eu não.
PEDRO – Já conversamos, Ramon.
RAMON – Eu sei, cara. Mas você não pode me impedir de ter ficado decepcionado com sua atitude.
ANDRÉA – Não liga para o Ramon, Pedro. Às vezes ele é dramático demais.
PEDRO – Queria ao menos, saber se antes deu ir, poderia cantar mais uma com a banda?
ANDRÉA – Sem músicas de despedidas, por favor.
RAMON – Claro. Quando você quiser.
PEDRO – Mando mensagem para você, combinando lá na lanchonete do Ivo.
ANDRÉA – E que tal cantarmos uma agora? (levanta do banquinho, começa a tocar envolvidão)

[CENA DE MÚSICA – ENVOLVIDÃO (RAEL)]

[ANDRÉA]
Ela tem cores, curvas, sabores, coisas que seduzir e 1
Eu levo flores, som de cantores e ela ama ouvir
Se der minha hora, preciso embora, mas ela me pede
De um jeito louco, fica um pouco, sou incapaz de ir
Não vou mentir, fiquei envolvidão

[PEDRO]
Malandro, era inevitável eu não me envolver 2
Ela é inacreditável, você tinha que ver
Cê liga essas pretinha, toda emperiquitadinha
Meio modeletezinha, na pegada France
Tem a simplicidade que é difícil se ver
E a sagacidade que é difícil se ter

É de falar baixinho, gosta de calor, carinho
E quando vai tomar um vinho pra brindar diz Santé
A gente se combina, a gente tem tudo a ver
Se é coisa do destino, eu já não sei te dizer
Havia conhecido através de um conhecido
Ela é prima de um amigo que eu trombei num rolê

[ANDRÉA]
Ela tem cores, curvas, sabores, coisas que seduz e 3
Eu levo flores, som de cantores e ela ama ouvir
Se der minha hora, preciso embora, mas ela me pede
De um jeito louco, fica um pouco, sou incapaz de ir
Não vou mentir, fiquei envolvidão

[RAMON]
E ela tinha uma mania de caçar assunto 4
Dizia que amor e ciúme eram um conjunto
Pedia pra eu valorizar as crises de ciúme dela
Porque se o ciúme dela sumisse, o amor também sumia junto
E curtia Nutella, revista, novela, sambista, Portela
A pista, a favela, mó sinistra ela, frasista e bela

Lia Sergio Vaz, era fã de Mandela
E vai pensando que ela é fácil, rapaz
Ela não é daquelas minas tanto fez, tanto faz
Não cabe naquela rima de alguns anos atrás
Nem combina com as mulheres vulgares uma noite e nada mais

[ANDRÉA]
Ela tem cores, curvas, sabores, coisas que seduz e 5
Eu levo flores, som de cantores e ela ama ouvir
Se der minha hora, preciso embora, mas ela me impede
De um jeito louco, fica um pouco, sou incapaz de ir

[PEDRO E RAMON (ANDRÉA)]
Não vou mentir, fiquei envolvidão
Não vou mentir, fiquei envolvidão
E ela quer, quer, quer, quer, quer, quer
E ela quer, quer, quer, quer, quer, quer
E ela quer, quer, quer, quer, quer, quer
Eu fiquei envolvidão

1. Andréa começa a andar seguindo o ritmo da música, Pedro e Ramon, curtem o som sentados no banquinho. Andréa anda por algumas mesas, de vez enquanto olhando para os garotos.
2. Pedro levanta e começa a andar pelo pátio, indo em direção à Andréa. Ambos de vez enquanto soltam alguns passinhos de dança. Alan e Ana aparecem no pátio, e sendo envolvido pela música, Alan começa a dançar se aproximando de Pedro.
3. Andréa volta a se aproximar do banquinho onde estavam, puxa Ramon de lá e começa a dançar com ele.
4. Ramon quem começa a andar pelo pátio, sendo acompanhado por Pedro e Alan. Pedro está surpreso ao ver como Alan tem gingado e sabe dançar. Ana também, que não tirar os olhos de cima dele. Alguns outros alunos também aparecem e começa a dançar no meio do pátio.
5. Andréa vai para o meio do pátio, Pedro e Ramon se aproximam dela, Alan continua dançando junto com o pessoal, enquanto os outros três finalizam a música juntos.

[CENA 11 – HOSPITAL/ DIA]
(Carla está na sala, esperando o médico trazer os novos exames, segundos depois de espera, o médico entra)
CARLA – Demorou um pouquinho, hein doutor. Estava começando a ficar preocupada aqui.
MÉDICO – Creio, que o que eu vou te dizer deixará um pouco mais.
CARLA – O aneurisma piorou?
MÉDICO – Acho que você vai ter que adiar sua viagem para Minas!

[CENA 12 – CENTRO EDUCACIONAL GUSTAVO AUGUSTO/ BANHEIRO FEMININO/ DIA]
(Manuela está em frente ao espelho do banheiro, se olhando, tentando ignorar os olhares que recebeu desde que chegou da escola. Alguns de pena, outros fazendo piadas do corte de cabelo dela, Alice entra no banheiro, Manuela ao ver que é ela, rapidamente se vira para ir embora)
ALICE – (segurando o braço dela, impedindo de ir embora) Calma, aí querida. Eu vi você ontem cantando, com o meu primo.
MANUELA – Aquele garoto é seu primo?
ALICE – Sim. De onde você o conhece?
MANUELA – Eu não o conheço. Na verdade, ele que veio falar comigo ontem.
ALICE – E por que você cantou uma música com ele? (Manuela não responde) Acho que precisamos ter uma conversa séria sobre isso.
MANUELA – Por favor, deixa eu ir. Eu não conheço seu primo, eu juro. (começa a chorar, Éster entra no banheiro)
ÉSTER – Larga o braço dela, Alice. Se não vou agora na direção e conto tudo o que você fez para ela!

Continua no Capítulo 42…

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo