Dez anos depois;

Belo Horizonte, capital de Minas Gerais.

Estação ferroviária

Enquanto aguarda o horário de embarcar no trem que viaja para o interior, Antunes se assenta na área de espera. Eis que se aproxima uma jovem, negra, formosa e se assenta próxima do rapaz e puxa conversa …

SARA: Bom dia moço!

ANTUNES: Bom dia.

SARA: O jovem está embarcando para qual destino?

ANTUNES: Para a região da Zona da Mata, fica no interior de Minas.

SARA: Jura. Também estou indo para essa região.

ANTUNES: Que bom, se minha companhia lhe agradar, teremos muitas horas de viagem, tempo apropriado para prosearmos.

SARA: Será uma alegria.

É dada a hora e todos embarcaram no trem, em direção aos seus destinos.

Na fazenda do coronel  Fagundes, tudo está sendo preparado para a chegada do único filho, Antunes.

(na cozinha)

HELENA: Não me aguento de tanta felicidade. Meu filho vindo pra ficar definitivamente.

QUIRINO: Que bom dona Helena. Nosso menino vindo embora.

Do alpendre da fazenda, Fagunde dá ordens a Raimundo.

FAGUNDES: Quero que mate uma novilha e prepara um bom churrasco pra hoje no fim da tarde e chame todos os colonos para virem se alegrar comigo, pois meu filho está retornando hoje, com seu diploma de agrônomo. Também quero que vá até a fazenda do compadre Pereira e o convide com sua família, principalmente a sua filha.

RAIMUNDO: Tudo bem patrão, farei o que está pedindo.

Enquanto tudo está sendo preparado na fazenda, Antunes e Rosa viajam entrosadamente.

ANTUNES: Terminei meus estudos e me formei em Agronomia e estou retornando para a fazenda de meu pai para trabalhar com ele naquelas terras. Agora fale um pouco de você.

SARA: Bom. Nasci escrava. Graças  a abolição me tornei livre. Quando isso aconteceu, eu era uma adolescente escrava na casa de um senhor muito rico e que era viúvo e não tivera filho. Era eu e uma outra escrava liberta, Sebastiana, minha mãe de criação, que na época em que minha mãe fora vendida para ser a ama de leite do filho de um  fazendeiro, minha mãe pediu que Sebastiana tomasse conta de mim, pois eu era uma recém nascida. Sebastiana morreu  a um ano atrás. Então  continuei morando  com o senhor Lutero, que para mim era o pai que nunca tive. Seu Lutero, respeitava tanto a mim, quanto a Sebastiana. Sempre nos tratou com muito carinho e assim nós o tratava também. O velho Lutero quando sentiu que estava prestes a morrer  passou para o meu nome toda a sua fortuna. Nunca almejei tal coisa, mas esta era a vontade dele. Portanto, hoje possuo uma bela quantia financeira, herdada de seu Lutero.

ANTUNES: Poxa, sua vida possui  uma bela história. Mas o que te leva ao interior?

SARA: Estou indo em busca de minha origem. Quero fazer de tudo para encontrar minha mãe.

ANTUNES: E sua origem está na Zona da Mata ?

SARA: Segundo a Sebastiana, sim. Elas eram escravas numa das fazendas da região.

ANTUNES: Terei o maior prazer em poder te ajudar a encontrar a sua mãe ou alguém de sua família.

SARA: Obrigada. É bom poder contar com a ajuda das pessoas.

ANTUNES: Tens namorado?

SARA: Não. Não tive tempo ainda para pensar nisso.

ANTUNES: Com todo respeito, você é muito bonita.

SARA: Obrigada.

E assim o trem viaja no presente sobre os longos trilhos, porém em direção ao passado.

Na fazenda do coronel Fagundes.

HELENA: Por que choras Quirina?

QUIRINA: Toda vez que vejo o meu Antunes, lembro de minha Rosa, minha pequena Rosa, que um dia forçadamente a abandonei.

HELENA: Ai Quirina. Você não faz ideia o quanto o seu sofrimento me faz sofrer também. Você deixou sua filha por causa de meu filho.

QUIRINA: Não é culpa da senhora. Aquela era a nossa condição de vida, a escravidão. Tínhamos que aceitar o que nos era imposto.

HELENA: Te prometo que assim que Antunes chegar, pedirei a ele pra tentar  encontrar sua filha.

HELENA: É mesmo dona Helena. Isso é tudo o que mais quero, encontrar minha filha, minha Rosa.

Fagundes se dirige até a vila, para se encontrar com o filho que chegará no trem logo mais. Estando lá, o coronel, vai para o boteco de Tunico, um ponto bastante frequentado por todos da vila e região.

FAGUNDES: Boa tarde seu Tunico.

TUNICO: Boa tarde coronel. Em que posso ajudar?

FAGUNDES: Me vê uma pinguinha, enquanto o trem não chega.

TUNICO: Está esperando por alguém?

FAGUNDES: Sim seu Tunico. Meu filho Antunes está retornando pra casa após ter se formado em agronomia.

TUNICO: Que satisfação a do senhor em coronel?Ter um filho formado.

FAGUNDES: Sim, tô muito feliz. Depois da abolição dos escravos, meu filho é quem está me trazendo a alegria novamente.

TUNICO: Veja coronel, o trem chegou.

FAGUNDES: Olha, meu filho já desembarcou.

TUNICO: E ele está acompanhando uma moça para a pensão de seu Romero.

FAGUNDES: O que meu filho está fazendo com  uma mulher daquela? Até mais seu Tunico. Obrigado pela pinga.

Fagundes vai ter com o filho que se dirigiu para a pensão, acompanhando Rosa, que se instalará por lá alguns dias.

O coronel não gostou nada de ver seu filho Antunes acompanhando uma és escrava. Isso já causará um dissabor entre os dois.

CONTINUA…

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