No capítulo anterior, Fagundes reuniu amigos e vizinhos para festejar a chegada definitiva de Antunes. Tonho fala para Quirina sobre a soltura de José. Tunico tenta mudar a decisão de José sobre a vingança ao coronel Fagundes.

Novo dia na vila, Sara se desperta toda animada para começar a investigar sobre o paradeiro de sua mãe.

SARA: Bom dia seu Romero. Bom dia dona Divina!

DIVINA: Bom dia.

ROMERO: Bom dia senhorita.

DIVINA: Dormiu bem?

SARA: Melhor seria impossível dona Divina.

DIVINA: E vejo que a senhorita amanheceu bem disposta.

SARA: Sim. Darei início ao motivo da minha vinda até aqui. Preciso encontrar minha mãe.

ROMERO: É,e vai ser uma busca difícil. Por que na época em todas as fazendas haviam muitas negras. E de tempo em tempo eram vendidas e compradas e deixavam suas crias para traz.

DIVINA: Mas,a moça sabe o nome dela?

SARA: Não. Infelizmente não. A minha história é muito triste dona Divina. Minha mãe chegou em uma fazenda grávida e nesse mesmo dia eu nasci. Então, um senhor de escravo daqui, ficou sabendo de uma negra escrava que chegara grávida, então procurou o dono de minha mãe para negociar com ele, pois a sua esposa havia acabado de dar a luz e precisava de uma ama de leite para seu filho. Então minha mãe foi vendida no dia em que nasci em troca de 5 escravos fortes. Minha mãe ainda sentindo as dores do parto e cansada da viagem, me entregou para Sebastiana, outra escrava, e se foi, segundo Sebastiana, junto com minha mãe, foi também um escravo para servir de reprodutor na fazenda desse coronel. Essa  escrava que cuidou de mim até a sua morte, na época tinha um filho já grandinho e que ainda mamava, então pude sobreviver graças ao leite dela.

ROMERO: Essa Sebastiana cuidou de você. E  qual foi o paradeiro do filho dela?

SARA: Alguns dias antes da abolição, o nosso senhor, vendeu uma leva de meninos para  um escravocrata de São Paulo e seu filho foi um dos vendidos e se foi. Logo após eu e Sebastiana fomos vendidas para seu  Lutero, fazendeiro lá na proximidades de Belo Horizonte. Homem boníssimo, abolicionista e nos deu a alforria imediatamente

DIVINA: Nossa! Tão jovem e viveu tantas emoções.

SARA: Sim dona Divina, muitas emoções. Seu Lutero após a abolição e já cansado da vida na fazenda, vendeu tudo o que tinha e investiu em  grandes imóveis na capital, guardou estimadas quantias em dinheiro, joias e barras de ouro, em bancos na capital mineira. Eu e Sebastiana trabalhamos para ele como assalariadas.

ROMERO: E o filho da Sebastiana não apareceu mais depois da abolição e nem ela o procurou?

SARA: Procurar como seu Romero? Era tudo tão difícil, tempos difíceis o transporte, a comunicação. Pobre coitada, morreu sem rever o filho. Está fazendo um ano que ela se foi.

DIVINA: E seu Lutero?

SARA: Seu Lutero, faz 3 meses que morreu. E mesmo após sua morte me surpreendeu. Como não tinha filhos e nem herdeiro nenhum, deixou em testamento todos os seus bens para mim. Ele me tratava como filha e eu como pai. O pai que não tive na infância.

ROMERO: Essa sua busca minha filha não vai ser fácil. Eram muitas fazendas com escravos por aqui. E após a abolição, quase todos se foram, ficaram poucos por aqui. Muitas negras eram vendidas nas mesmas condições de sua mãe. Podemos afirmar isso, por que eu e Divina já temos 30 anos que moramos aqui nesta vila.

DIVINA: Aqui na vila por exemplo vivem alguns ex escravos. Mas não sei de que senhor eles eram escravos

SARA: Que bom saber. Posso conversar com eles. Quem sabe se lembram ou sabem de algo que possa me ajudar a encontrar a minha mãe.

Na fazenda de Fagundes, assim que amanheceu, Antunes quis logo sair pela fazenda. Sua mãe Helena, fez questão em acompanha-lo.

ANTUNES: Os ares do sertão são outros. Limpos, puros, fazem bem pra nossa saúde.

HELENA: Verdade meu filho. E agora você terá tempo de sobra para desfrutar desta fonte de saúde.

Caminham até chegar próximo onde era a senzala.

ANTUNES: Por que papai ainda mantêm essa senzala na fazenda? Só traz tristes recordações. Símbolo de dor, sofrimento. Precisa-se destruir isso tudo.

HELENA: Seu pai, vive iludido de que um dia a escravidão poderá voltar.

ANTUNES: Sério? Papai sonha com isso ainda? Veja só! Aquele maldito tronco ainda de pé. Ao ver este tronco, me lembro de José naquele dia, o da abolição quando ele estava apanhando neste tronco.

HELENA: Sim. Também me lembro. Ao ser solto pelos soldados, investiu contra o feitor Brum e o matou.

ANTUNES: Lembro perfeitamente. Ele ainda jurou meu pai de morte.

HELENA: Esse lugar é marcado de sangue, dor e sofrimento.

ANTUNES: Vou falar com papai e destruirei isto tudo. Farei isto agora.

HELENA: Agora não. Ele foi para a vila.

ANTUNES: Assim que retornar conversarei com ele.

HELENA: Vai ser difícil convencê-lo…Vamos voltar, está muito quente.

ANTUNES: Ainda não comuniquei a senhora e nem ao papai, que terei de ir a São Paulo em breve para conseguir  a última  assinatura no meu registro para que eu possa exercer minha função de agrônomo. Mas é coisa rápido chego num dia e volto no outro.

HELENA: Só de pensar meu filho que agora você ficará aqui definitivamente, meu coração está tranquilizado.

Fagundes vai para a vila e como costume de todos que ali se vão, dirigem-se  para o boteco do Tunico. Assim o coronel o fez, mas ao chegar no local…

TONHO: Veja José quem se aproxima.

TUNICO: Por favor não quero confusão no meu boteco.

FAGUNDES: Boa tarde seu Tunico.

TUNICO: Boa tarde coronel.

FAGUNDES: O que esses escravos estão fazendo aqui seu Tunico? Não sabia que podem emporcalhar seu estabelecimento?

JOSÉ: Vamos Tonho em respeito ao seu Tunico. (Ao passar perto do coronel) Não esqueci do juramento que fiz no dia que matei a maldito feitor.

FAGUNDES: Suma daqui seus imundos, imprestáveis.

TUNICO: Em que posso ajudar coronel? E como está minha irmã Helena?

FAGUNDES: Helena está bem, feliz com a chegada de Antunes… Vim resolver algumas situações da fazenda e passei aqui pra me inteirar sobre a vila.

Tonho e José saem do boteco e caminham pela rua da vila.

JOSÉ: Não vejo a hora de acabar com esse coronelzinho.

TONHO: Já te falei homem, esquece disso. Você quer voltar pra cadeia de novo?

Caminhando encontram com tio João.

JOSÉ: Melhor o senhor não ir para o boteco agora tio João. O maldito está lá.

TONHO: Verdade tio João, saímos de lá pra evitar confusão.

TIO JOÃO: Tá bem. Também não quero encontrar com ele. Não por medo, mas, pra evitar triste lembranças.

TONHO: Vamos todos lá pra minha casa. Maria irá preparar um cafezinho para nós.

CONTÍNUA…

 

No próximo capítulo, no boteco Fagundes ver Sara saindo da pensão e questiona a Tunico sobre a moça. Antunes vai à vila para encontrar com Sara na pensão.

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