Kapittel fire

VII – O corcel negro

O final de tarde na vila de Gudwangen estava estranho naquele dia. O céu carregado de nuvens escuras e os trovões que rasgavam o céu à cada cinco minutos indicavam que a chuva chegaria à qualquer momento. Quando um raio cortou o céu causando um estrondo mais forte, Freya, que se ocupava com os afazeres da casa, assustou-se e olhou pela janela. Observou o silêncio daquelas ruelas e lembrou-se que o motivo era a última expedição que já durava alguns dias. Suspirou sentindo falta de Thórin e de Kaira e, quando ia se virar para o interior do casebre, algo chamou sua atenção há alguns metros do seu quintal. Arrepiou-se e lembrou das palavras do oráculo na última visita. Lá longe, um cavalo negro como a noite, a encarou e relinchou se aproximando um pouco mais do cercado das terras de Thórin e Freya.

– Por Odin! – disse Freya para si mesma.

As palavras ditas pelo oráculo ancião estavam martelando a sua mente. Tudo se encaixava. Cada vez que aquele corcel negro aparecia, ele estava mais próximo. E se fosse verdade o que o oráculo falou? O que seria de Freya?

Mais um trovão cortou o céu carregado e, este chegou acompanhado de uma chuva que começou calma mas logo se tornou mais densa. O cavalo negro como a noite relinchou novamente e balançou a cabeça jogando as crinas brilhantes ao vento e à chuva. Aos poucos foi se distanciando das terras de Thórin e Freya. Se distanciou e sumiu do alcance dos olhos dela.

– Thórin! Kaira! Espero que esteja tudo bem! Como queria ter vocês aqui agora. – lamentou-se Freya olhando a chuva que se tornava mais forte do lado de fora.

Freya, com dificuldade, fechou a janela e se voltou para o interior do humilde casebre em que morava. Sentou-se sobre um banco de madeira e o seu pensamento voou para longe. Para um passado distante ali naquele mesmo vilarejo, quando era apenas uma menina serelepe correndo por aquelas ruelas.

Gudwangen do Passado

Freya, com 10 anos de idade, corria pelas ruelas da vila com seus cabelos loiros voando com o vento. Cruzou uma esquina, esbarrou em um comerciante derrubando sua mercadoria, saltou sobre algumas caixas, pulou em cima de algumas poças d’água e atravessou o portão de madeira correndo para os braços do seu velho pai Edgemond, um antigo líder viking da região, morto pelo Earl sob acusação de traição.

– Minha menina…- disse Edgemond abraçando a garota com um sorriso no rosto que se destacava em meio à barba grossa e comprida.

– Me leva ver os cavalos? – perguntou Freya acariciando a barba do seu pai.

– Vamos sim! Vamos ver o corcel negro que estava machucado. – respondeu ele enquanto andava em direção ao galpão dos fundos.

Quando chegaram em frente ao galpão, Freya saltou do colo de Edgemond e correu para o interior. Lá dentro estavam quatro cavalos e o seu irmão mais velho Cartrolous alimentando-os. Mais ao fundo, afastado dos demais, estava um cavalo negro de longas crinas. Freya correu até ele e ficou acariciando seu pêlo macio. Edgemond passou pelo filho elogiando-o pelo trabalho realizado e se agachou diante da pequena Freya.

– Ele vai ficar bom? – perguntou a garota com lágrimas nos olhos e dor no coração.

Edgemond suspirou, pegou Freya novamente no colo e se levantou. Ficou acariciando as crinas daquele cavalo que foi seu companheiro em longas batalhas.

– Eu não sei não, minha menina.

Cartrolous se aproximou do pai ficando ao seu lado. Encarou os olhos grandes e brilhantes do animal e acariciou a franja que caía em meio àqueles olhos pretos.

– Eu não queria isso, mas acho que vamos ter que sacrificar, pai.

– Não! – disse Freya revoltada. – Não deixa, pai. – ela complementou puxando o rosto de Edgemond e encarando-o.

O dia seguinte amanheceu triste e cinzento. Edgemond levantou cedo, antes da menina Freya despertar. Ele acordou Cartrolous e os dois seguiram para o galpão em profundo silêncio. Quando lá chegaram Cartrolous foi até o cavalo negro e o puxou para fora, para longe do galpão em um campo aberto. Edgemond se posicionou em frente ao animal e pegou seu machado, ergueu para o alto e cravou no crânio do animal. O sangue sujou os agasalhos de pai e filho. Estava feito. Aquele cavalo não tinha mais serventia e por mais difícil que fosse, aquela era a atitude certa à se tomar.

Gudwangen dos dias atuais

Freya se debruçou sobre a mesa de madeira feita por Thórin e chorou de soluçar. Estas lembranças sempre mexiam demais com ela. Um estrondo a assustou e ela levantou o olhar. Correu até a janela abrindo-a e viu que as nuvens escuras já estavam indo embora. Vestiu seu agasalho de pele de cordeiro e saiu caminhar para espairecer.

VIII – Aquele dos olhos cor de mel

Syggia debruçou-se sobre a soleira da janela do casebre. Desde a partida do Earl com a frota que seguiu para batalha, era o que ela fazia todo final de tarde. E havia um motivo. Quando o sol estava se pondo atrás dos montes, um jovem cavaleiro sempre passava pela estrada deserta que levava para a floresta. Altivo e bem apessoado, ele cavalgava um cavalo branco e vestia-se sempre com uma capa preta. Syggia nunca ligou para estas coisas, mas aquele cavaleiro tinha algo que mexia demais com ela.

Naquele dia, após a chuva torrencial que caiu sobre a vila, o cavaleiro passou com sua capa preta toda molhada. Olhou para Syggia debruçada na janela e sorriu um sorriso galanteador. Ela sentiu-se envergonhada, mas lisonjeada. Devolveu um sorriso tímido olhando aqueles olhos cor de mel e espantou-se quando aquele cavaleiro apeou do cavalo branco e se aproximou do casebre.

– Syggia de Gudwangen. Você é muito conhecida na região, sabia? – disse o cavaleiro.

– E você quem é? – Syggia perguntou séria.

O cavaleiro tirou sua capa molhada e fez uma reverência em respeito à esposa do Earl.

– Sou Britanyum. Filho de fazendeiros vizinhos.

– E o que o filho de fazendeiros faz passando todo o dia por aqui? Eu juro que achei que seria alguém de mais requinte. – disse Syggia esnobando o jovem.

O cavaleiro olhou para os lados e se aproximou da janela.

– Só há um motivo para passar aqui todo dia.

Syggia sentiu um calor subir pelo seu corpo. O olhar daquele jovem tinha algo especial. Discretamente ela o chamou para dentro do casebre enquanto a noite chegava tensa e fria para a vila de Gudwangen.

Freya tinha saído para espairecer e tentar tirar da cabeça os pensamentos ruins e as palavras do oráculo. Caminhou pelas ruelas estreitas do vilarejo e foi se dar conta de onde estava quando chegou em frente ao casebre do Earl. Estranhou o lugar aberto e aquele cavalo branco na frente. Atravessou o portão e foi se aproximando devagar. Lá dentro viu uma tocha acesa iluminando o lugar. Ouviu vozes e gemidos. Entrou no recinto e caminhou lentamente até avistar, atrás de uma cortina de paus, sobre um colchão de palha, o corpo nú de Syggia sobre aquele jovem. Espantou-se com o que viu e acabou batendo na cortina de paus chamando atenção do casal.

Syggia virou-se quando ouviu o barulho e se deparou com Freya.

– Você aqui? – disse ela assustada por ter sido pega no flagra.

O jovem cavaleiro se levantou, vestiu suas roupas como se nada tivesse acontecido e saiu cruzando por Freya.

– Fique quieta! – ordenou Syggia enquanto vestia-se.

Freya recuperou-se da visão que teve. Se aproximou da esposa do Earl olhando bem dentro dos seus olhos. Pegou firme no braço dela e ficou encarando aquela mulher altiva que causava medo em muitos na vila, mas não nela.

– Eu posso calar…mas tudo tem um preço. – disse Freya com sangue nos olhos.

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  • Um bom capítulo! Destaque para Freya com ares de protagonismo durante todo o episódio, personagem bem construída, gosto bastante. Parabéns!

    • Sim, também sou fã dela e achei necessário mostrar este passado dela para não deixar pontas soltas lá na frente. Obg pelo elogio. Abraço!!
      Obs.: Ansioso pelo final de PSI

  • Um bom capítulo! Destaque para Freya com ares de protagonismo durante todo o episódio, personagem bem construída, gosto bastante. Parabéns!

    • Sim, também sou fã dela e achei necessário mostrar este passado dela para não deixar pontas soltas lá na frente. Obg pelo elogio. Abraço!!
      Obs.: Ansioso pelo final de PSI

  • Um episódio mais cadenciado, dando mais profundidade pra Freya ao entrar no seu passado. Apesar do que não nos informa ainda como essas sombras do passado irão influenciar no presente. Sabemos que isso acontecerá por conta do corsel, mas não sabemos como e quando. Muito bom!
    Essa alternância entre protagonistas, ou passando da protagonista para uma coadjuvante é muito importante. Pois dá mais peso às subtramas e também ajuda a causar ainda mais empatia com a personagem (Freya).
    A cereja do bolo é se a trama de Freya se cruzar com a trama principal de Kayra, aí seria mais impactante ainda.

    • Obg pelo comentário, Hugo. É uma série longa, acho necessário dar uma ênfase nestes coadjuvantes. São importantes para a história. Abraço. Vai pro capítulo V

  • Um episódio mais cadenciado, dando mais profundidade pra Freya ao entrar no seu passado. Apesar do que não nos informa ainda como essas sombras do passado irão influenciar no presente. Sabemos que isso acontecerá por conta do corsel, mas não sabemos como e quando. Muito bom!
    Essa alternância entre protagonistas, ou passando da protagonista para uma coadjuvante é muito importante. Pois dá mais peso às subtramas e também ajuda a causar ainda mais empatia com a personagem (Freya).
    A cereja do bolo é se a trama de Freya se cruzar com a trama principal de Kayra, aí seria mais impactante ainda.

    • Obg pelo comentário, Hugo. É uma série longa, acho necessário dar uma ênfase nestes coadjuvantes. São importantes para a história. Abraço. Vai pro capítulo V

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