Diante de seus olhos o céu azul, pintado com nuvens brancas como algodão, uma brisa agradável soprava trazendo o aroma da relva fresca em suas narinas. Ele pôs a mão diante dos olhos não acreditando em tamanha perfeição.  Era possível sentir a maciez da grama em seus cabelos, contemplar o passear das nuvens a cima deles além do cheiro de terra molhada. Tudo era tão real.

Tentando aproveitar ao máximo aquele momento único Lucca se espreguiçou na relva e respirou o ar puro antes de finalmente se levantar, ele não se sentia tão diferente quanto antes.

No corpo uma de mangas cumpridas de um azul acinzentado bem escuro, evidenciando os músculos pouco definidos, a calça da mesma cor, era cheia de bolsos e inúmeros compartimentos, guardando vários frascos cheio de líquidos coloridos, aos quais ele sabia para que serviam, nos pés botas de cano longo cujos sulcos na parte inferior serviriam bem na travessia de inúmeros terrenos. Ao seu lado repulsava um cajado feito a partir de peças metálicas de seu laboratório. Envolto em seu pescoço uma pesada capa branca quase o enforcou quando ele tentou se pôr de pé.

Ao se levantar, Lucca se deu conta de que ele, Adam, Jimmy, Tonny e Drew estavam deitados em formato de uma estrela ao redor de um cristal azulado cuja base feita em madeira trazia uma inscrição onde aquele artefato parecia flutuar.

 

Bem-Vindos a Cidade do Inicio

 

Sua mente estava trabalhando a mil por hora, pensando em cada estratégia para se sair bem daquela situação, não era só a vida dele que estava em jogo. Ele agora era responsável também pela vida dos amigos, que aceitaram participar daquela missão suicida.

Andando poucos passos à frente o garoto começou a estudar o terreno. De um lado a praia e bem distante no horizonte ele pode ver o que para ele parecia ser uma ilha ou um novo continente. As ondas quebravam numa cadeia de corais próximo a praia trazendo à tona o odor salgado vido do mar. Do lado oposto a mata fechada, cujas arvores eram tão altas que não se podia ver o fim. Tudo parecia em ordem para ele, apesar de onde estavam nada de mal aconteceu.

Tirando de um dos bolsos um pedaço de papel e um toco gasto de carvão o garoto sentou-se junto ao pilar de sustentação do cristal e começou a rabiscar de forma aleatória tudo o que via.

— Isso é lindo. — Jimmy agora estava de pé ao seu lado, também contemplando o barulho das ondas. — O cheiro, as cores, tudo isso é maravilhoso.

O garoto vestia uma pesada capa negra que o deixava com feições mais dura. Uma camisa de manga curta cheia de bolsos, preso a sua cintura um par de adagas afiadas.

— Acorde os outros. Nós não temos muito tempo.

Lucca estava maravilhado pelo universo criado a partir do pensamento doentio de Az. Eles não podiam deixar de admirar o que o garoto fizera em tão pouco tempo, em pensar que Az havia feito isso a partir de uma ideia sua, era realmente fantástico, porem estava sendo usado para o mal, — para Lucca isso era imperdoável.

Se pelo menos os dois pudessem trabalhar juntos e não em lados opostos, tudo seria diferente, as possibilidades para a dupla seriam infinitas.

— O que nós faremos agora? — Jimmy perguntou, interrompendo seu pensamento.

— O que tem que ser feito. Recolher informações para poder seguir no jogo. — ele disse seguido em direção a mata fechada.

— Tem uma cidade ali a diante. — Disse Lucca apontando para um ponto sego num mapa. — Fica depois daquela floresta, em direção ao norte.

— De onde saiu esse mapa? — Adam perguntou.

— Acho que é uma das minhas habilidades de subclasse. — Lucca respondeu. — Não sei ao certo, Eu apenas visualizei a paisagem e rabisquei no papel e do nada esse ponto apareceu.

Lucca estendeu o mapa que ele havia acabado de rascunhar para que os amigos pudessem ver. Toda a topografia do lugar havia sido desenhada em poucos segundos, e como num passe de mágica três pontos luminosos se acenderam.

— O que são esses outros pontos luminosos ai no mapa? — Perguntou Adam apontando para um deles.

— Devem ser outras cidades, ou quem sabe missões. É um começo, acho que é pra onde a gente tem que ir. — Lucca respondeu caminhando rumo a floresta novamente.

— Vamos acabar logo com isso. — Disse Drew pegando algumas coisas no chão. — Fiquem de olhos abertos. Se isso é realmente um jogo, criaturas vão aparecer logo, logo querendo nos matar. Fiquem atentos.

Ao adentrarem na floresta a atmosfera de paz e tranquilidade mudou de uma hora para outra, o ar marinho deu lugar a uma mistura de incontáveis cheiros: de flores, frutos, folhas e do musgo nos troncos das arvores. Sons estranhos vinham de todas as direções ao mesmo tempo, os pequenos animais se moviam rapidamente tentando garantir a sobrevivência.

— Isso é estranho. — Disse Adam de repente. — Eu me sinto conectado a este lugar de alguma forma.

Ele parou diante de uma arvore com vários metros de altura e a tocou. Da palma da mão ele foi capaz de sentir um turbilhão de energias fluindo de dentro do tronco para o seu próprio corpo.

Fechando os olhos ele foi capaz de enxergar um rio de luzes coloridas fluindo dentro da arvore, seguindo como uma corrente elétrica conectando todas as coisas como se eles fossem um.

— Eu me sinto mais forte aqui.

— Devem ser seus poderes dentro do jogo bárbaro. — Disse Lucca sem sair de seu cainho. — O mesmo aconteceu comigo com o mapa.

Sem dúvida aquele lugar era cheio de perigo, nenhum deles sabia ao certo o que iam encontrar ali, assim todos permaneciam o mais próximos alerta possível.

— Tomem cuidado. — Lucca advertiu. — Podemos ser atacados a qualquer momento, e por qualquer coisa antes de chegarmos a cidade.

— Cara eu tô com fome. — Disse Adam um pouco mais atrás.

— Isso lá é hora de pensar em comida? — Drew respondeu irritado.

— Eu não comi antes de sair de casa. — Ele retrucou impaciente. — O que será que tem pra comer por aqui.

— Eu não mereço isso.

“— Eu mereço isso.” — Drew ouviu alguém repetir em algum lugar próximo.

— O que foi isso? — Adam perguntou.

“— O que foi isso?” — Ele ouviu de volta.

— Fiquem atentos. — Lucca ordenou. — Isso não me cheira nada bem.

— Essa não é uma hora boa pra isso. — Adam respondeu se pondo em um círculo ao lado dos amigos.

Aquela era uma posição básica em jogos de guerra e estratégia. Assim era possível olhar para todas as direções e evitar qualquer tipo de surpresa desagradável.

Lucca havia ficado um pouco atrás, servindo como observador, qualquer movimento e ele poderia ajudar aos amigos de forma mais significativa do que em uma luta corpo a corpo. Ditando as coordenadas certas.

Ele nunca havia jogado RPG daquela forma antes. Ele era sempre o mestre do jogo, estava sempre no controle da missão e não a mercê dela. Aquilo o deixava inquieto, mas ele tinha que jogar com as armas que recebera.

Algo pareceu se mover rapidamente no topo das arvores.

— Hihihihihi.

Uma risada macabra ecoou por toda a floresta.

Vultos negros passavam de um lado para outro com rapidez, em breve eles sofreriam o primeiro ataque.

“— Saiam daqui se quiserem viver.” — Disse uma voz rouca.

De repente alguma coisa passou rapidamente diante do grupo. Era um ser pequeno, coberto por uma espécie de capuz que lhe cobria todo o rosto.

“— Voltem, ou vocês morrerão!”

— Isso está fora de questão. — Disse Lucca sacudindo seu cajado na direção para onde aquele serzinho desprezível havia ido.

Um feixe de luz branca surgiu da ponta de seu cajado causando uma explosão a poucos metros de onde eles estavam. Daquela cortina de fumaça, cinco criaturas de pele esverdeada surgiram. Homenzinhos verdes, cheios de feridas por todo o corpo, tinham braços e pernas esqueléticas, era quase impossível que estivessem de pé.

— Ai vem eles pessoal. Preparem-se. — Adam gritou alertando os amigos.

Adam retirou das costas um pesado machado de ferro fundido, ele se adiantou tentando golpear a criatura sem sucesso. A gosma disforme desviou no último segundo. Depois de um tempo, o ser que estava de pé diante dele começava a assumir suas feições, como numa cópia.

— São copiadores! — Ele gritou brandindo o machado no chão. — Não saiam da formação.

 

***

 

Uma emboscada.

A floresta era um convite a perigos inimagináveis e Lucca já esperava por isso. Os cinco garotos estavam agora diante e suas próprias copias. Bem diante de seus olhos, as estranhas criaturas gosmentas e disformes se tornaram clones perfeitos de suas vítimas sorrindo para eles, aquela parecia mais uma forma maquiavélica de saudação.

— Isso é um mau sinal. — Disse Adam.

— Porque você acha que isso é um mau sinal. — Disse o duplo Adam chegando tão próximo a sua boca que ele sentiu o hálito podre vindo da criatura. Ele usava uma roupa feita rusticamente de pele de animal curtido, nas mãos empunhava um machado do mesmo porte que o seu original, seus olhos cintilavam o brilho da morte.

— Essa coisa também copiou a minha voz. — Disse ele surpreso.

Sem pensar duas vezes Adam apertou o machado contra as mãos e com toda a força de seus músculos deferiu um golpe contra a criatura que desviou de seu ataque.

— Preparem-se para lutar. — Ele gritou enquanto um forte estrondo ecoava em seus ouvidos.

Uma enorme fenda se abriu no chão onde a criatura estava, dela grossas raízes saíram, indo em direção à criatura que pulava e se retorcia para não ser atingido pelas raízes em movimento.

Lucca, por sua vez proferia uma espécie de encantamento, repetindo sempre as mesmas palavras em latim: Danus Maximus.

No momento aquilo era a única coisa que ele poderia fazer para ajudar os amigos. Segundo a sua lista de um único feitiço o Danus Maximus era um encantamento simples de nível iniciante que servia para duplicar o dano causado pelo ataque de um companheiro de equipe, por essa razão o ataque de raízes proferido por Adam agora tinha o dobro do poder de dano.

— O que a gente faz agora? — Ele perguntou Adam ainda em alerta.

— Vocês morrem. — Urrou a criatura proferindo o primeiro golpe.

De seus dedos, unhas de metal cresceram tão afiadas que era possível ouvir o ar sendo cortado por elas a cada movimento. O pequeno gênio sorriu mostrando os dentes amarelos e pontudos enquanto proferia cada vez mais rápido e com mais força novos golpes contra o garoto tentando se livrar das investidas da criatura.

— Nós temos que dar um jeito de sair daqui. — Respondeu Drew vendo que seu duplo se preparava para fazer o mesmo.

— Não nos abandonem! — Disse o outro proferindo novos golpes com um bastão de madeira. — Nós esperamos muito tempo para brincar com vocês.

Assim como ele, a criatura usava uma espécie de roupa de mergulho colada ao corpo, sua pele era coberta por finas escamas, suas orelhas assumiram o formato de guelras enquanto fissuras abriam e fechavam filtrando o ar em seu pescoço.

— Vocês não sairão daqui vivos. — Ameaçou o gênio. — Nós sabemos das suas fraquezas

— Temos que passar por eles. — Completou Jimmy já se preparando para um novo ataque.

“— Temos que passar por eles.” — Repetiu a criatura numa amalgama de diferentes vozes.

— Fiquem juntos, e esperem o meu sinal. — Lucca ordenou.

Ele Fechou os olhos por um segundo, tentando visualizar o campo de batalha em sua mente, para só então planejar o ataque. Aquele era um lugar fechado que impossibilitava a passagem da luz. Era impossível ver com exatidão um palmo diante do nariz.

— Eu vou mostrar pra vocês porque eu sou conhecido como o mestre dos jogos. — Disse Lucca para si mesmo. — tentem atrasá-los o máximo possível.

— Ok. — Responderam todos em uníssono.

— Adam… Drew, eu vou precisar que vocês façam uma coisa.

— É só falar. — Disse Drew ao seu lado.

— Só que tem um porem. — Disse ele preocupado. — São só 5% de chances de eu estar certo.

— Isso é brincadeira né? — Disse Jimmy enquanto lutava contra o clone.

— Não é hora pra piadas. — Arrematou Tonny caído enquanto seu duplo lhe proferia golpes de ódio.

— Eu nunca falei tão sério em toda a minha vida. — Lucca respondeu por fim. — são realmente 5% de chances de eu estar certo.

Aquela situação não poderia ser pior. Se eles não fizessem nada estariam mortos em poucos minutos, se aceitassem o plano de Lucca correriam 95% de chances de que tudo fosse por água abaixo. E assim a morte era certa.

— É tudo, ou nada. — Lucca Disse enquanto lutava.

— Vamos torcer pelo tudo então. — Jimmy tentou encorajar os amigos, ainda com as mãos ocupadas.

— Nossa única chance será fugir.

Ele tinha que avaliar todas as possibilidades possíveis. Para onde quer que ele olhasse, uma luta paralela estava acontecendo, seus amigos levavam a pior.

De um lado, Adam estava preso por cipós cheios de espinhos ferindo sua carne, fazendo o sangue escorrer por seu corpo enquanto ele gritava de dor. Jimmy tinha acabado de levar um soco na boca do estomago que lhe fez voar alguns metros do chão, seu sósia deu um salto e o acertou novamente ainda com mais força fazendo seu corpo cair imóvel em uma cratera aberta por ele.

Do outro Drew e Tony ainda estavam de costas um para o outro enquanto trocavam socos e chutes contra seus adversários que simplesmente os repeliam como se já soubessem quais seriam os ataques usados pelos dois.

Lucca sacou a própria varinha e assim como sua cópia começou a murmurar um encanto, e como o outro feixes de luz começaram a se juntar diante de sua varinha formando uma imensa esfera de energia.

— Isso vai acabar com nos dois garoto. — Disse o sósia.

— Eu estou contando com isso. — Ele respondeu sorrindo. — qual de nós vai sobreviver?

— Será que você tem coragem de apostar?

— Vamos apostar então. — Disse ele apontando a varinha na direção dos amigos. — menos de um minuto pessoal.

O garoto disparou a esfera de energia no centro da batalha onde um enorme clarão se dissipou deixando todos cegos por alguns segundos.

Quando tudo acabou eles não estavam mais lá.

 

***

 

— Esse perrengue todo por causa de copiadores! — Disse Adam sentado num tronco. — se essas são as criaturas mais fracas daqui eu não quero ver a mais forte.

— O importante é que nós nos saímos bem dessa. — Jimmy os encorajou.

— O problema é que esse não vai ser o único perigo que a gente vai enfrentar aqui. Pode ter certeza. — Respondeu Lucca.

— O que a gente faz agora? — Perguntou Jimmy.

— Nós temos que descansar um pouco para recuperar as energias antes de continuar.

Eles haviam encontrado uma clareira em meio à floresta, bem protegida nas laterais por altas arvores frutíferas e um grande espaço descampado onde era possível ver o céu azul.

Jimmy tratou logo de acender uma fogueira com alguns galhos recolhidos pelo caminho, dessa forma ele manteria os animais longe. Aquele era seu elemento natural, e graças ao treinamento dado por Samuel no mundo real ele não teve dificuldade para maneja-lo com maestria, o garoto apontou uma das mãos para os galhos e disparou uma bola chamejante contra a pilha entrando instantaneamente em combustão. Adam havia recolhido uma grande quantidade de frutas dos galhos mais baixos, para que todos pudessem comer.

Lucca por sua vez, encheu o lugar com feitiços rastreadores e armadilhas magicas, para o caso de novos ataques.

Aquele era um lugar agradável onde poderiam descansar um pouco antes de seguir viagem rumo ao desconhecido.  Sentando-se junto a uma arvore Tonny tirou debaixo da capa sua harpa prateada, dedilhando nela suaves notas em harmonia. O som entoado por ele naquele lugar os fez lembrar-se de casa, das reuniões de fim de tarde na reserva, dos grupos que se formavam para ouvi-los cantar. Aquela realidade parecia tão distante do agora. Mais do que nunca eles teriam de pensar em um plano de combate ou seriam mortos logo-logo pelo inimigo invisível.

Depois do merecido descanso ales apararam o fogo, recolheram os restos das frutas e os colocaram junto a arvore, que serviria como adubo, ou alimentaria algum animal de pequeno porte, deram uma boa olhada no local antes de desfazer as armadilhas e seguir viagem.-” ”>-‘.’ ”>

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