CONTINUAÇÃO DO EPISÓDIO ANTERIOR

SEGUNDO ATO

NILO
(V.O)
Dizem que quando uma janela se fecha, outra se abre.
Acho que abriram o chão para mim.

FADE IN

SONOPLASTIA: Jorginho, Me Empresta a 12 – MC Carol

CENA 14 EXT. – BAIRRO E MORRO DE VALQUÍRIA – DIA

Takes de vários pontos do bairro. Pessoas voltando da padaria; dois caras em cima de uma moto; um cara mal encarado na porta de uma loja de ferramentas; um chapadão vendendo drogas em plena rua, fala arrastada, ninguém entende.

Corta para o morro. Moleques trocando um baseado na esquina; Um ou outro de fuzil na mão, tocaiado em uma laje.

CAM vai pegar a fachada do BAR 94 /

FADE MUSIC

CENA 15 INT. – CASA DE MONI / SALA – DIA

Branco e um comparsa tomando conta dos jornalistas, todos sentados à mesa ainda. Murilo disfarça, se aproxima mais de Paulinha.

MURILO
(cochicha) Será que o cinderelo vai demorar muito pra acordar?

PAULINHA
(murmura) Acho que fazer piada aqui não é uma boa ideia, Murilo.

Lila e Roger sacam os cochichos. É quando Roger avista Moni adentrando o local, cercada por Butuca e o restante da gangue. Abre caminho para Nilo passar.

Roger se levanta, reconhecendo Moni de quando a “salvou” (cena 19 – episódio 3). Moni nem dá confiança, mantém o olhar arteiro para com todos.

MONI
Acho que precisamos trocar umas ideias, né
não, brow?

Nilo encara a todos.

= = CORTE DESCONTÍNUO = =

A gangue armada, toda de pé ao redor da sala.

MONI
É isso. (para Lila) Seu namoradinho foi alvo da DP.
Queria matar dois bonitos com um tiro só. (sorrisinho sedutor) No caso, euzinha e o herói aí.

LILA
(para Nilo) Lembra com quem esteve antes de vir parar aqui?

NILO
Não. Não lembro de nada. Foi tudo como um sonho.

LILA
Essa DP já matou muita gente. Cê teve sorte.

MONI
Não precisa agradecer, sua linda (Lila fecha a cara). Eu tenho muito prazer em receber seu herói aqui.

Branco e Butuca escondem o riso.

ROGER
(levantando-se) Bom, ahn…acho que já deu a nossa hora /

NILO
(para Moni) Eu peço desculpas por qualquer coisa. E agradeço a hospitalidade, Moni. (irônico) Foi uma ótima experiência acordar amarrado na cama.

Moni se aproxima, safada. Lila levanta-se, encarando a traficante.

MONI
Quando você quiser repetir, bonitão…

MURILO
Mas cê não vai querer saber quem te atacou, Nilo? Não tem uma câmera no
morro, sei lá, essa pessoa pode tentar /

NILO
(corta)
Tá querendo aumentar a pauta do dia, Murilo?
(Murilo emudece)
Não é o suficiente escrever que o falso herói
invadiu Valquíria armado e foi nocauteado?

MURILO
Cara, eu to de boas, ok?

BRANCO
(animado / pra Butuca) Ih, vai sair porrada.

MONI
Eu to te mirando, malandro. Tu não é o jornalista da Novo Dia?

Murilo nem responde, cismado. Troca olhares com Nilo.

BRANCO
Vai, malandro! Responde a Moni!

RISOS.

MURILO
Sim, mas eu vim na paz. (abre os braços)
Não filmei nada, podem conferir, se quiserem.

BUTUCA
Relaxa aí, maluco! A gente sabe que tu não ia meter o louco aqui dentro.

Tensão. Nilo dá uma olhada para Moni, como se quisesse dizer algo, mas Lila faz a frente.

LILA
Vamos?

CENA 16 EXT. – MORRO DE VALQUÍRIA – DIA

Pessoal descendo o morro, gangue armada, vizinhança só mirando a passagem ilustre de Nilo. Crianças até param de brincar.

MOLEQUE
É o Nilo!

Nilo não sabe se sorrir para eles; fica sem graça. Todos chegam ao pé do morro. O crossfox de Lila parado ali, com um sujeito tomando conta.

MONI
Daqui vocês seguem. Espero que tu apareça outras vezes,
mas sem surpresas, viu?

Nilo olha para uma Lila bem séria. Ele sorri e faz que sim para Moni. Ela dá a mão e ambos se cumprimentam. Depois, os intrusos entram no carro sob o olhar dos traficantes.

CENA 17 INT. – PUB MANDRAKE / ESCRITÓRIO – DIA

No rosto de Rafael, suando frio, olhando para algo fora da tela. Por trás dele, um homem de cara amarrada caminha, dando umas sacadas de vez em quando no sujeito. CAM mostra que diante de Rafael está o laptop com as imagens de segurança de Valquíria.

Vinnie se agacha, apoiando-se no investigador.

VINNIE
Eu espero que você tenha uma excelente explicação para me dar.

RAFAEL
Olha, Vinnie…(olha para o segurança) É necessário isso mesmo?

Vinnie faz um sinal para o segurança, que encara Rafael. Logo o segurança SAI. Assim que a porta bate, Vinnie se levanta, passa as mãos pelos cabelos, até se voltar para o amante.

VINNIE
Já pensou na explicação ou não tem? (Rafael engole a seco)
Você tem sorte de Nilo estar vivo. (surpresa em Rafael)
Só preciso pensar o que farei com você…

RAFAEL
(medo / apressado) Vinnie, eu não fiz nada, o cara tava doido, pediu pra eu levá-lo pra /

VINNIE
(corta / tranquilo) Calma, Rafael! (apanha uma garrafa de vodca de um bar)
Estou profundamente decepcionado com você mesmo.
Você devia saber que os meus olhos estão em Valquíria, meu querido.

Vinnie se serve da bebida e serve o amante também. Rafael não bebe.

VINNIE
Vai recusar uma Jack Daniels? Está com medo de eu ter batizado
com uma DP e fazer você se jogar da ponte Rio-Niterói? (ri, sacana)

RAFAEL
Eu te amo, Vinnie. Posso perder a cabeça às vezes, mas /

VINNIE
(por cima) Sabe o que mais me chamou atenção em você
quando nos conhecemos? A sua arrogância, a sua prepotência, nenhum
receio de fazer inimigos. A sua altivez e sarcasmo involuntários.
Isso me atrai. Mas você tem algo que me irrita.

Vinnie bebe um gole da vodca. Pensa um pouco.

VINNIE
As suas crises de ciúmes. Isso ainda te mata.

Rafael se levanta, nervoso, olhar quase marejando.

RAFAEL
Você quer que eu diga o quê? Hen? O meu namorado só sabe falar
do Nilo, só elogia e admira o Nilo. Você quer que eu lide como com isso?

VINNIE
(tom firme)Essas foram suas últimas palavras?

RAFAEL
Vinnie, pelo amor de Deus!

Vinnie pega o telefone, prestes a discar. A mão de Rafael desliga o aparelho. Ambos se fitam.

RAFAEL
Eu sei quem matou Vince Lemos! (T) As últimas digitais encontradas
antes da morte dele não restam dúvidas. Me dê uma chance?
Eu ainda posso te ajudar muito.

Vinnie, até então sério, abre um sorriso e toca no rosto do amante.

VINNIE
Eu sabia que podia contar com você. Jamais mataria quem me absorve por inteiro.

Rafael sorri de alívio. Em Vinnie.

CENA 18 INT. – REDAÇÃO NOVO DIA / SALA DE REDAÇÃO – DIA

A porta do elevador abre. Murilo sai, chateado, mas dá logo de cara com Thales.

THALES
(mãos na cintura) Ah, pronto! Chegou a madame!
Isso são horas de chegar? Tava o quê? Penteando o cabelinho?
Dando um trato no visual?

MURILO
Não te devo explicações, Thales. Tu não é meu chefe!

Murilo quase sai, mas Thales cria barreira.

THALES
Mas se a nossa chefe souber, cê vai ter que se explicar, viu?

MURILO
(altera-se) Quer contar, conta, Thales. Quer uma cadeira pra ir mais rápido?
Te empurro daqui, saco!

Thales, discretamente, empurra Murilo pro INTERIOR DO ELEVADOR, encarando-o com raiva.

THALES
Cê endoideceu? Tá achando que pode falar assim comigo?

MURILO
Eu não tô bem, Thales! Será que eu não posso ter um bad moment?

THALES
Não, aqui não. Você sabe que aqui ninguém tem vida pessoal.
Amora te come vivo se tu vier com um papinho desse. (observa)
Você tá estranho tem dias. Que é?

MURILO
Thales, tenho que voltar ao trabalho.

THALES
Te meteram em coisa errada?

MURILO
Eu posso tá com dor de barriga, não? Esse pode ser o meu bad moment, que tal?

Murilo tenta se desvencilhar, mas Thales prensa-o na parede.

THALES
Fala pra mim: te sacanearam de novo? (Murilo se chateia)
Pô, Murilão, te livrei da cadeia já, te arrumei emprego /

MURILO
(corta) Ah, obrigado por me lembrar disso, Thales. Valeu mesmo!

Murilo empurra Thales e SAI do elevador. Em Thales, com cara de frustrado.

CENA 18 INT. – CASA DE RAUL / BANHEIRO – DIA

Raul lavando o rosto, fecha a torneira, apanha uma toalha. Vai SAINDO, sem camisa, enquanto seca o rosto e entra no

QUARTO

E dá de cara com Valdete, deitada na cama, de blusinha cropped e shortinho bem sexy, toda se querendo.

RAUL
Pô, princesa, tenho que trabalhar, faz isso não.

VALDETE
(dengosa) Tu não para em casa, mô. Essa noite tu chegou
e eu já tava mortinha de cansaço.

Raul se aproxima, admirando as pernas lisinhas da garota.

RAUL
Tu sabe que nem tenho hora, né?

Valdete se ergue e entrelaça a cintura de Raul com as pernas. Ele quase cai, mas se mantém.

VALDETE
Soube que o tal do Nilo esteve no morro.
Não me diga que passou a noite paparicando o heroizinho de merda?

Raul afasta as pernas dela com força. Dá as costas.

RAUL
Pô, neguinha! Pra que judiar do cara. Te fez o quê?

Valdete fica de quatro, se aproxima dele. Agarra a cintura, sensualizando.

VALDETE
Ele anda tomando o seu tempo, gostoso.
Isso que ele me fez (mordisca sua cintura / Raul pira).

RAUL
(revira os olhos de prazer) Pô, o Nilo tava drogadão,
foi lá pra matar a Moni (ri).

VALDETE
É? (aperta a cintura, provoca) Mas parece que não foi dessa vez, né, mô?

RAUL
Não teve tempo (ri). Teria me poupado (se corta), para, Valdete!

Raul se volta, agarra a garota pela nuca e tasca-lhe um beijão. Cai por cima, CAM nem acompanha.

= = CORTE DESCONTÍNUO = =

Raul se levanta, suado e exausto. Veste a regata branca, enquanto Valdete na cama, quase embrulhada no lençol.

RAUL
Sacanagem, hen, Valdete? Agora vou ter que voar lá pro serviço.

VALDETE
Mas bem que tu gostou.

RAUL
Pô (ri, safado). Desse jeito. Agora deixa eu ir. Se cuida, hen!

Valdete vê Raul sumir pela porta.

= = CORTE DESCONTÍNUO = =

Valdete, na LAJE, estendendo suas blusinhas, enquanto TOCA um Vai Malandra por ali. CAM se aproxima, no maior suspense. Até que alguém a abraça pelas costas. Valdete dá gritinho de susto, manhosa.

VALDETE
Ai, merda! Quer me matar?

CAM revela Butuca.

BUTUCA
Só se for de prazer, minha neguinha.

Butuca beija o pescoço da garota, e ela faz que gosta.

CENA 19 INT. – DELEGACIA / SALA DO DELEGADO – DIA

Moreira em sua mesa, observando o celular em mãos. A porta abre, Rafael adentra, cismado.

RAFAEL
Então, Moreira? Posso chamar o meliante pro depoimento ou você vai conversar com ele fora daqui?

Moreira se recosta na cadeira, pensativo.

MOREIRA
Não precisa chamá-lo assim, Rafael.

RAFAEL
(mãos na cintura) Como não? Ele tem passagem pela polícia, Moreira!
Se escondeu que tava no laboratório, é porque matou o Vince Lemos.

MOREIRA
Eu vou conversar com ele, Rafael. Seguirei seus conselhos.
Chamaria muita atenção se um jornalista entrasse na delegacia.

Moreira foca na tela do celular. Rafael disfarça um estranho olhar malicioso.

CENA 20 EXT. – CAFETERIA MEGACAFÉ – DIA

Um ônibus cruza a estrada bem na nossa frente e, quando atravessa, CAM pega Moreira dentro da cafeteria, sentado, como se alguém estivesse observando-o.

CENA 21 INT. – CAFETERIA MEGACAFÉ – DIA

Moreira tomando uma xícara de café, celular sobre a mesa. Até que vê alguém e se levanta, prontamente.

MOREIRA
Que bom que veio.

Nilo diante dele, preocupado. CLOSE em sua expressão.

FADE OUT

FIM DO SEGUNDO ATO

ATO FINAL

FADE IN

CENA 22 INT. – REDAÇÃO NOVO DIA / SALA DE REDAÇÃO – DIA

Amora acaba de entrar, apressada, toda posuda no salto alto. Até que para, chateada.

AMORA
Esqueci meu tablet no carro, droga!

Thales sentado logo ali, mostra-se atento.

THALES
Opa! Deixa comigo! (para Murilo) Murilão!
Cê pode pegar o tablet da Amora rapidinho? (pisca o olho, malandro)

Murilo olha para ambos. Thales sorri, debochado, faz sinal de positivo com a mão. Murilo dá um sorriso amarelo.

CENA 23 INT. – REDAÇÃO NOVO DIA / ELEVADOR – DIA

Murilo aperta o botão, aguarda, com raiva.

MURILO
Tá me testando, Thales, tá me testando. Deixa estar que tu não me pega não.

Quando a porta se abre, Rafael está saindo. Ambos se encaram.

RAFAEL
Ah, você é o Murilo Guedes, não é?

MURILO
(desconfiado) Isso…Acho que te conheço /

Rafael se adianta e estende a mão. Murilo cumprimenta, sem entender.

RAFAEL
Eu sou investigador de polícia. Com quem eu falo sobre um furo de reportagem?

MURILO
(ressabiado) Pode falar comigo mesmo. É sobre…?

RAFAEL
(sorri, vitorioso)
Sobre a morte de Vince Lemos. Se prepara para a grande manchete:
Nilo Rodrigues é o assassino.

Na cara de espanto de Murilo, engolindo tudo em seco.

CENA 24 INT. – CAFETERIA MEGACAFÉ – DIA

Nilo e Moreira sentados à mesa.

MOREIRA
Você sabe que eu tenho profundo respeito pela sua história, não sabe?

NILO
(tenso) Onde quer chegar, delegado?

MOREIRA
Você não tem em mim a mesma confiança que eu tenho em você.
Entendo. (T) Quem já foi fichado na polícia, não morreria
de amores pelo delegado, não? (ri)

Nilo não esconde o incômodo. Olha para os lados, como se desejasse sumir dali.

NILO
Levantou a minha ficha, é?

MOREIRA
O próprio sistema faz a varredura quando encontramos digitais em algum local do crime, Nilo. Mas eu juro que esperava que você me contasse.

Nilo encara-o, sem reação.

MOREIRA
Você matou Vince Lemos.

No BAQUE em Nilo. Ele tenta dizer algo, mas BURBURINHOS chamam a atenção. Pelo vidro, um CARRO vem com tudo em cima deles, quase não dando tempo para Nilo e Moreira, assustadíssimos, se levantarem. Ambos tentam saltar dali, quando o carro INVADE o local, estilhaça o vidro, cadeiras e mesas voam. Desespero nas pessoas. O carro dá uma freada brusca.

Diante do estrago, Nilo se arrasta até Moreira, caído no chão, ferido e consciente. Um sujeito com uma meia calça na cabeça sai do carro e puxa uma arma. Nilo é rápido, e quando o sujeito aponta a pistola, Nilo saca a arma do coldre de Moreira e ATIRA certeiro contra a cabeça do sujeito. O sujeito TOMBA, arrancando gritos de horror dos demais.

Nilo encara a própria mão armada, surpreso com ele mesmo. Olha para o delegado, que segura na mão de Nilo, e fecha os olhos.

FADE OUT

FADE IN

VISTA AÉREA da cidade à noite. Sirenes de polícia ecoam pelos quatro cantos do cenário revelando o clima denso.

CENA 25 INT. – DELEGACIA / SALA DO DELEGADO – NOITE

Rafael se afasta da porta e verifica o celular. Mostra-se chateado.

RAFAEL
Mas porque esse filho da mãe não divulgou a notícia ainda? Que droga!

A porta logo atrás está entreaberta e Toninho dá as caras, cismado. Rafael nem saca. O celular dele toca. Rafael atende, irritado, mas dá uma conferida atrás. Toninho disfarça.

RAFAEL
(ao tel.)
Olha, serviço feito pela metade. O delega foi salvo pelo seu queridinho,
tá bom? (revira os olhos) Ah, tá, o Nilo atrapalha seus planos e
você briga comigo? (bufa / abaixa a voz) Vinnie, Moreira é forte,
vai acabar saindo dessa. Acha que ele vai livrar o Nilo? (T)
Tá bom, tá bom! Vou dar um jeito nisso.

Rafael desliga o celular.

RAFAEL
Eu tenho é que dar um jeito nesse Nilo…

Toninho lá atrás, ouviu tudo.

CENA 26 EXT. – REDAÇÃO NOVO DIA – NOITE

Murilo guardando as coisas na bolsa. Paulinha vai até ele, preocupada.

PAULINHA
E aí? Acha que o Nilo te entregou?

MURILO
(nervoso, nem a encara) Cê tá vendo a polícia aqui?
Eu não to vendo, cê tá vendo?

PAULINHA
Caraca, Murilo! Eu também to aflita com essa situação.

Murilo larga o que está fazendo, olha ao redor – Thales conversando com um colega – e olha para Paulinha.

MURILO
Cara, pensa comigo: era muito mais fácil o Nilo ter se entregado
há semanas do que agora, porque antes tinha uma boa desculpa
pra eu tá com ele na hora do crime, mas agora? Agora não há desculpa d’eu
ter me calado, a não ser que eu seja cúmplice!

PAULINHA
Se você tivesse falado com ele, conversado de boas, né?

MURILO
(irônico) Puxa, Paulinha, como é bom ouvir que eu
podia ter mudado tudo isso, hen.

Paulinha revira os olhos. Thales chega neles, animado.

THALES
Murilão, nem guarde suas coisas. Preciso de você pra cobrir uma manchete quente, hen.

MURILO
Que papo é esse? Já cumpri meu expediente.

THALES
Hora extra, já ouviu falar? Te apresento. É o seguinte,
parece que o Nilo invadiu a cafeteria, atropelou o delegado e
meteu tiro pra tudo que é lado. (dá um tapinha no ombro dele)
Vê isso pra mim e já!

Murilo e Paulinha trocam olhares, espantados.

CENA 27 EXT. – HOSPITAL CENTRAL – NOITE

Ambulância chegando. Movimento de pessoas entrando e saindo. Sirenes de ambulância tocando ao longe.

CENA 28 INT. – HOSPITAL CENTRAL / RECEPÇÃO – NOITE

Local cheio, TV ligada com a numeração de senha. Nilo de um lado para o outro, inquieto. Roger se levanta, impaciente.

ROGER
Nilo, daqui a pouco a outra imprensa estará aí.
Melhor tu ir pra casa, brother.

NILO
Eu só saio daqui depois de saber do Moreira.
Eu também sou a imprensa, Roger!

Lila já chegou ali.

LILA
Você tá nervoso, Nilo. Poderá falar alguma coisa indevida
e piorar a situação. Deixa que a gente cuida de tudo.

Nesse momento, quatro enfermeiros cruzam o caminho deles. Logo atrás, surge Moni, disfarçada de enfermeira, cabelos amarrados, pouca maquiagem. Só Nilo percebe. Moni faz um sinal para acompanhá-la.

CENA 29 EXT. – HOSPITAL CENTRAL / JARDIM – NOITE

Nilo caminha, enquanto procura por Moni. Dá uma sacada atrás de uma ambulância; olha adiante para uma sala de exames. Faz que não entende. É quando se volta e dá com Moni, já sem o uniforme branco.

MONI
Fortes emoções, hen, bicho.

NILO
O que tá fazendo aqui?

Moni passa a mão na gola da camisa dele, sedutora.

MONI
Te ver.

Nilo esfrega a mão no rosto, olha pros lados, incomodado. Moni ri, sapeca.

MONI
E dizer que você não poderá salvar as pessoas o tempo todo.
(sussurra) Uma hora elas morrem.

E sorri, charmosa. Os dois ficam se olhando, Nilo com as mãos na cintura; Moni mexendo os ombros de um lado pro outro.

NILO
Além desse fato surpreendente, o que mais tem a me dizer?

MONI
Que se tu quiser proteger o delega, terá que fazer guarda no quarto dele,
a menos que você não queira pagar pela morte de Vince Lemos.

Nilo vai para trás, surpreso com o papo da malandra.

NILO
O quê? Do que cê tá falando?

MONI
Não vamos entrar por aí, garotão. A pessoa que não devia saber
já sabe e fará de tudo pra te proteger. (T) Vinnie Ludwig.

NILO
(abismado) Ah, mais uma a acusá-lo! Isso não faz o menor sentido!

MONI
Certeza? Tu realmente acha que ele tava satisfeito em ver
o irmão pagando de líder comunitário em Valquíria?

Nilo engole em seco, perplexo com a novidade e, ao mesmo tempo, confuso.

NILO
Você tá me dizendo que ele mandou matar o Moreira? (Moni faz que sim)
E quantos ele vai matar pra me livrar da cadeia?

MONI
Todos (susto em Nilo). Todos que ameaçarem a sua vida e a sua liberdade.
Vou te passar a letra: melhor tomar cuidado com acessos de raiva em público.
Vinnie gosta de quem você gosta. Senão, (imita uma arma com a mão) pow!
(assopra o dedo como se fosse o cano da arma).

E gargalha, louca.

NILO
Por que tá me dizendo tudo isso? (esperto / desconfia)
O que ganha tentando me ajudar?

Uma ambulância chega com tudo, porta se abre e enfermeiros saem, apressados. Nilo se distrai com a confusão. Quando se volta, percebe que Moni foi embora.

Nele, ainda baqueado.

CENA 30 INT. – HOSPITAL CENTRAL / RECEPÇÃO – NOITE

Um copo plástico é jogado na lixeira. Lila dá uma sacada no horário do celular, preocupada. Roger chegando ali, ansioso.

ROGER
Lila, olha quem chegou.

Lila avista Paulinha e Murilo caçando alguém, munidos de uma câmera.

LILA
Cadê o Nilo, Roger?

Roger ainda olhando para os concorrentes.

ROGER
Menor ideia, Lila.

CENA 31 EXT. – HOSPITAL CENTRAL / CTI – NOITE

Um enfermeiro sai por uma porta com uma bandeja contendo seringa e outros utensílios. Atravessa o corredor e passa ao lado de Nilo, disfarçando enquanto bebe água do bebedouro. Nilo espia o enfermeiro sumir, joga o copo plástico na lixeira e caminha, discretamente, até a porta do

QUARTO

Onde estão alguns pacientes, todos entubados. Moreira está mais adiante, desacordado. Nilo fecha a porta, apreensivo, e se aproxima do delegado. Por um instante, Nilo é tomado por lembranças.

= = INSERT AUDIO = =

MOREIRA
Você sabe que eu tenho profundo respeito pela sua história, não sabe?

VINNIE
(por cima) Seja lá quem o matou, não vai se esconder por muito tempo. (encara-o) Eu garanto.

MONI
Que se tu quiser proteger o delega, terá que fazer guarda no quarto dele,
a menos que você não queira pagar pela morte de Vince Lemos.

MURILO
Tu não tem moral pra falar de mim. Perde a cabeça quando vê
que tá perdendo a reputação, né? É só isso que importa!

= = AUDIO OFF = =

Nilo já bem próximo da cama de Moreira, olhando seu semblante calmo. Ao fundo, Murilo encontra-o pelo vidro da porta.

CORTA PARA ele que, pelo seu ponto de vista, Nilo está com as mãos nos tubos ligados à Moreira. Murilo quase posiciona a câmera, mas está paralisado demais para isso.

VOLTA PARA as mãos de Nilo segurando os tubos, como se fosse apertá-los ou arrancá-los. No rosto de Nilo, que fecha os olhos.

FADE TO BLACK

FIM DO EPISÓDIO

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