Sem descarga

 

CENA 1. ESQUINA. EXTERIOR. NOITE.

Virando a esquina, Darwin corre freneticamente, segundos depois aparece um policial que dá dois tiros em sua direção.

CENA 2. BECO. EXTERIOR. NOITE.

Darwin corre e consegue pular uma cerca, ofegante demais, ele continua correndo. Ouvisse tiros.

CENA 3. GINÁSIO ABANDONADO. EXT. NOITE.

Cenário abandonado, sem telhado, onde há alguns destroços, uma piscina pequena, com água suja, da chuva. Darwin aparece procurando algum lugar para se esconder; nervoso corre de um lado para o outro. Sem pensar ele entra na piscina com água suja, que chega ser escura. Mergulha calmamente, o policial entra no local. Darwin consegue mergulhar dentro da piscina sem que o policial o veja. Com uma lanterna começa a procurar por ele.

CENA 4. RUA. EXTERIOR. NOITE.

Dando sequência a última cena do episódio anterior. Christian e Thailyz ainda um pouco nervosos com a situação.

CHRISTIAN — Você tá bem?

THAILYZ — Eu tô! Você que não parece nada bem. Tá branco. Tá nervoso?

CHRISTIAN — É, mas eu tô legal. Tô um pouco nervoso.

THAILYZ — Eu tô nervosa. Que horror, eu acho que eles não podem chegar atirando assim. Sei lá, acertar algum inocente.

CHRISTIAN — Claro que não pode fazer isso! Imagina.

THAILYZ — Será que mataram o cara?

CHRISTIAN — (tenso) Pois é, não sei.

THAILYZ — Ai, meu Deus!

CHRISTIAN — Calma, vamos embora. Vamos!

THAILYZ — Não, a gente ainda tem que falar com os policiais. Prestar queixa.

CHRISTIAN — Thailyz, se a sua mãe souber que a gente se meteu numa encrenca como essa, logo no nosso primeiro encontro, não vai pegar nada bem pra nós. Então, eu acho melhor a gente ir embora!

THAILYZ — É. Eu acho que é; em partes você está certo. É melhor a gente ir embora mesmo.

Um dos policiais se aproxima deles.

POLICIAL 1 — Vocês que foram assaltados?

THAILYZ — Sim, fomos nós.

POLICIAL 1 — Ok, vou precisar do depoimento de vocês dois.

Thailyz e Christian se entreolham.

CENA 5. GINÁSIO ABANDONADO. INTERIOR. NOITE.

Imagens aquáticas: Darwin dentro da água, prendendo a respiração; só se vê a luz da lanterna refletindo na água. O policial ainda à procura do assaltante. Volta para Darwin já sem fôlego.

ABERTURA

 NARRADOR — Episódio: Sem descarga.

CENA 6. RUA. EXTERIOR. NOITE.

Christian e Thailyz frente do Policial 1, ele aciona um comando em seu comunicador.

POLICIAL 1 — (rádio) Situação!

POLICIAL 2 — (OFF) Suspeito em fuga, não encontrado.

POLICIAL 1 — (rádio) Entendido. (a Chris e Tay) Infelizmente o vagabundo conseguiu escapar.

Para alívio de Christian.

THAILYZ — Moço, vocês podem chegar assim atirando que nem doido?

POLICIAL 1 — Pra falar a verdade, não. Só se houvesse confronto, troca de tiro. Mas o policial que saiu correndo atrás dele é novo, inexperiente. Fui com o carro atrás deles, mas eles entraram num beco.

THAILYZ — Que perigo isso. Tem que treinar melhor esse pessoal.

POLICIAL 1 — (irônico) Não se preocupe, sua reclamação será levada adiante.

CHRISTIAN — Vocês não acertarem nenhum tiro nele?

POLICIAL — Só Deus sabe.

CENA 7. GINÁSIO ABANDONADO. INTERIOR. NOITE.

O policial 2 sai do ginásio. Dá uns 5 segundos e Darwin dá um pulo de dentro da piscina, retomando o fôlego, respiração muito ofegante. Tira a sujeira da cara, se limpando do lodo. Recupera a respiração.

CENA 8. CASA LONGARAY. SALA. INTERIOR. NOITE.

Na porta de entrada, Liége já de roupas de dormir, Christian e Thailyz acabaram de chegar.

LIÉGE — Que demora pra chegar! Pegaram a sessão da meia-noite? Que papo era aquele no telefone de prestar queixa na polícia, não entendi nada.  Até essa hora na rua…

THAILYZ — Calma, mãe. A senhora tá muito nervosa. Uma coisa de cada vez. Nós fomos assaltados.

LIÉGE — Meu Deus, que perigo. (ao Christian) Onde é que você levou minha filha, rapaz?

THAILYZ — Para, mãe! Rua conhecida, bem frequentada. Deixa eu terminar. Aí a gente conseguiu imobilizar o ladrão.

LIÉGE — Ah, eu não acredito. Justiceiros agora?

THAILYZ — Tinha um monte de gente. Eu vi que era um pé-rapado com um cano embaixo da camisa. O cara pensou que a gente é idiota. Enfim, a polícia chegou e o cara conseguiu fugir.

LIÉGE — Não conseguiram segura bem o cara?

THAILYZ — Pois é, num descuido ele conseguiu sair correndo. Mas a polícia chegou atirando, deve ter acertado um nele.

CHRISTIAN — (apressa-se) Bom, Thay, agora que você está entregue, sã e salva. Eu vou ir indo, porque já está tarde.

THAILYZ — Claro! Claro! Mãe, se não fosse o Chris eu não teria forças pra aguentar um sufoco desses, ele me amparou bem. Me senti segura com ele. Por isso, eu acho que seria gentil da nossa parte oferecer um jantar pra ele. O que quê a senhora acha?

LIÉGE — (contrariada) É. Por mim, tudo bem. Vamos marcar um dia.

THAILYZ — Amanhã! Que tal?

LIÉGE — Nossa, calma, Thailyz. Deixa o homem respirar. A gente marca outro dia.

CHRISTIAN — Na verdade, eu não me importo nem um pouco. Quando eu fico na presença dela eu fico demasiadamente bem.

LIÉGE — Hum… demasiadamente? Legal. Amanhã então. (p/ filha) E amanhã, a senhora faz a janta.

THAILYZ — Perfeito! (ao Christian) Viu só? Vou cozinhar pra você. Aí você vai ver o quanto eu sou boa pra casar.

LIÉGE — Menos, Thailyz! Bem menos! Boa noite pra vocês, estou indo dormir. Fecha bem a porta.

THAILYZ — Pode deixar. Boa noite.

CHRISTIAN — Boa noite!

THAILYZ — Bom, daí vamos poder oficializar nosso namoro. Não é?

CHRISTIAN — Claro. Claro que sim. Eu vou indo nessa. Eu adorei nossa aventura de hoje.

THAILYZ — É. Eu também. Foi tenso.

CHRISTIAN — Cada segundo.

Christian dá um beijo nela. Mais um.

THAILYZ — Tchau, lindo.

CHRISTIAN — Tchau, paixão.

Christian sai. Thailyz fecha a porta, se escora nela, e sonha acordada. Liége do alto da escada, espiando a filha, sorri e faz negativo com a cabeça.

CENA 9. CASA LONGARAY. FRENTE. EXTERIOR. NOITE.

Christian sai da casa, pega o celular rapidamente, nervoso. Disca alguns números apressado.

CHRISTIAN — Merda, desligado. Agora, não consigo falar com esse puto. Onde é que tem um táxi? Não tem um táxi nessa rua. (disca outros números/tempo) Alô!? Loreleine? O Darwin está aí? Ah!! Graças a Deus! E como é que ele tá?

CENA 10. BARRACO. INTERIOR. NOITE.

Foco no celular molhado, sem a bateria na mesa, e Lorelaine com um secador de cabelo tentando secar. Christian com as mãos no nariz. Darwin de banho tomado, sentado de ladinho.

DARWIN — Um tiro na bunda!! E você ainda quer saber como eu tô?

CHRISTIAN — Cara, que fedor é esse? Você tem certeza que não morreu?

LORELAINE — Pra fugir da polícia, ele se atirou num lodo. Numa água de escoto, ele nem sabe onde.

DARWIN — Sei lá, uma piscina, uma cancha de boxa com água da chuva, eu não sei. Foi aquilo que me salvou. Nunca vi um policial sanguinário que nem aquele.

CHRISTIAN — Sim, a gente chegou a fazer uma reclamação. Mas com certeza não vai dar em nada. Mas como é que tá aí? Tá feia a coisa?

LORELAINE — Nada. Deu sorte. Foi de raspão. O que feriu mesmo foi a dignidade.

DARWIN — Cala boca, mulher!

CHRISTIAN — E esse fedor que não sai?

DARWIN — Já tomei uns dez banhos! Não sai essa catinga. Já quase tirei a minha pele de tanto esfregar.

LORELAINE — A roupa deu perda total, sem chance!

DARWIN — Quase morri. (indignado) Tudo por causa daquela kung-fu panda! Gordinha descarada. Quando eu pegar ela, ela vai ver! Me bateu na cara, me encheu de chute.

CHRISTIAN — Eu nunca ia imaginar que ela fosse te atacar daquele jeito.

LORELAINE — (risadas) Se fodeu…

DARWIN — Tá rindo do que, desgraçada?

LORELAINE — Tomou um coro da gordinha, e ainda tomou um tiro na bunda! (risos)

CHRISTIAN — (risos) Não, eu tô rindo de nervoso.

DARWIN — É, eu não sei por que que você tá achando graça. Eu poderia ter morrido. Ou pior, eu poderia ter sido preso. Aí a porquinha ia torcer o rabo.

CHRISTIAN — Tá. Vamos pensar positivo. Por mais que quase tenha dado merda, o plano deu certo. Ela se sentiu agradecida, e já me convidou pra jantar amanhã.

DARWIN — Que rápido! A gordinha tá com fome, hein?!

LORELAINE — Louca pra dar uma sapecada.

CHRISTIAN — Ainda bem, até por que o nosso prazo está acabando. Esqueceu?

DARWIN — Não tem como esquecer.

LORELAINE — (perdida no assunto) Que prazo? Do que é isso que vocês tanto falam?

DARWIN — Assunto de gente grande, não deve e nem tem que se meter nessa história. Vai por mim.

LORELAINE — Se não é pra eu me meter, então, (saindo) já falei que não é pra meter essa história dentro da minha casa. (joga o celular dele no lixo) Esse troço já era.

DARWIN — Desgraçada… (ao Christian) Ela fala como isso aqui fosse um palacete. Ou uma casa de família. Cheio de buraco de bala nas paredes e os ratos só faltam jantar com a gente na mesa. Vai se foder… E eu quero um celular novo!

CHRISTIAN — Relaxa… Esquece isso. Vai, termina de me contar como tu conseguiu escapar do … caralho, tem certeza que se lavou bem?

DARWIN — Claro, usei shampoo da Lore e tudo. E tu sabe que o shampoo da nega tem que ser bom pra poder penetrar naquela maçaroca.

CHRISTIAN — Nossa.

DARWIN — E mesmo assim, não deu jeito de sair esse cheiro de podre…

CENA 11. MIRIPITUBA. GERAL. EXTERIOR. AMANHECER.

Tocar: Seu Cuca – Mente Aberta. Pontos da noite da cidade, locais de movimentos. O sol aparece, amanhecer. Tempo ainda correndo, movimentação da cidade; trânsito, pessoas caminhando nas ruas, parque, museu, cachorros de rua, pessoas pedindo dinheiro em semáforos, mendigos dormindo d’baixo de viaduto, um senhor sentado em algum banco de alguma praça; um marginal atacando uma mulher arrancando seu colar e saindo correndo. O céu, os prédios, as casas, as ruas, uma árvore. O mesmo marginal contando o dinheiro embaixo do viaduto, e avaliando o colar que roubou. Por fim mostramos uma imagem geral da cidade.

[[ATENÇÃO DIREÇÃO.: As cenas seguintes terão continuidade, por isso haverá uma mistura e a música será a mesma nas 04 cenas seguintes.]]

CENA 12. MIRIPITUBA. RUA 1. EXTERIOR. DIA.

Ao som de Biel – Química. Christian caminhando pela rua, ainda tem tempo para ver uma roupa em uma vitrine. Ele não percebe de longe, um homem seguindo seus passos. Christian sorri vendo a roupa, entra na loja. O homem na rua o aguarda. Ele sai já vestido com a roupa que viu na vitrine. Ele segue seu rumo. E o homem de olho nele.

CENA 13. BARBEARIA. FRENTE/SALÃO.  EXT. DIA.

Christian entra na barbearia, o homem que está lhe seguindo para do lado de fora, e fica vendo-o pela através do vidro da barbearia. Ele pega um celular e fala alguma coisa. No interior da barbearia; Christian fala com o barbeiro e senta na cadeira.  Corte: Christian paga e agradece o penteado novo. E vai saindo. O homem do lado de fora fica atento. Christian sai do local e continua seu caminho, e homem vai atrás.

CENA 14. MIRIPITUBA. RUA 2. EXTERIOR.

Christian caminha normalmente, de repente, se lembra de algo e se vira pra trás, e o homem que está lhe seguindo se esconde atrás de alguma coisa, e ele percebe e já fica cismado. Christian se vira e fica pensativo e resolve seguir seu caminho. O homem acha que ele não o viu, e continua seguindo.

CENA 15. MIRIPITUBA. GERAL. INTERIOR. ANOITECER.

Takes da cidade. Gerais. Ruas; bares, boates… encerrar a música.

CENA 16. BARRACO. INTEIROR. NOITE.

Darwin fica nervoso ao saber que Christian estava sendo seguido.

DARWIN — Mas você conseguiu ver a cara do cara?

CHRISTIAN — Vi, vi sim.

DARWIN — Tem certeza de que não era o Iuri?

CHRISTIAN — Claro que tenho. Mas pode ser alguém a mando dele. Com certeza. Ele não ia deixar de ficar sem saber das coisas.

DARWIN — Ele te seguiu até aqui?

CHRISTIAN — Isso é óbvio.

DARWIN — E você não fez nenhum esforço pra despistar o cara antes de vir pra cá?

CHRISTIAN — E de onde que você acha que ele começou a me seguir, seu anormal? Ele deve estar olhando a gente no meio desses becos.

DARWIN — Puta merda, e agora?

CHRISTIAN — Bom, agora a diferença é que a gente sabe que ele tá de olho na gente. E ele não sabe disso.

CENA 17. CASA LONGARAY. SALA. INTERIOR. NOITE.

Aleff no computador, com fone de ouvido. Entrar, chegando do trabalho, Liége, com uma caixa de torta nas mãos.

LIÉGE — Oi! Oi, Aleff! (ele nem bola) Alôôô… Tira esse troço da orelha.

ALEFF — Que é?

LIÉGE — (irônica) Oi, boa noite, tudo bem, filho? Ao menos um sinalzinho pra mostrar que se importa que a mamãe chegou.

ALEFF — Ah… e aí?! (põe os fones)

LIÉGE — (imitar) Ah… e aí?! E a sua irmã? … Ai, tira esses fones enquanto tá falando comigo, droga!

ALEFF — Ah, mãe! Que quê é? Que saco!

LIÉGE — Eu quero saber da tua irmã! Bruto! Cavalo vestido de gente.

ALEFF — Tá fazendo aquele grude dela lá na cozinha, que coisa chata. O cara tá quieto aqui, curtindo uns troço e…

Antes de sair Liége mostra o dedo do meio pra ele e vai pra cozinha.

CENA 18. CASA LONGARAY. COZINHA. INTERIOR. NOITE.

Thailyz fazendo seu prato favorito: estrogonofe. Liége entra com a caixa em mãos.

LIÉGE — Boa noite, filha. Cheguei.

THAILYZ — Oi, mãe! Tô aqui, fazendo minha especialidade na cozinha.

LIÉGE  — (brinca) E o que é? Reboco?

THAILYZ — Para, não começa.

LIÉGE — Tô brincando. O cheirinho tá bom. É pirão?

THAILYZ — Não, é estrogonofe. Sai daqui!

LIÉGE — (rir) Não, tá bom, eu paro com as brincadeiras. Por que na verdade, eu andei pensando um pouco hoje sobre você e esse seu relacionamento aí e…

THAILYZ — Mãe…

LIÉGE — Não, espera, escuta. Eu sei que você nunca namorou e tal, eu até tenho um pouco de receio disso, porque de certa forma eu atrapalho um pouco. Eu sou protetora de mais com vocês que são meus filhos.

THAILYZ — Hum? Um pouco?

LIÉGE — É. Um pouco! E em prova de que eu estou falando sério é que eu apoio você nas suas decisões amorosas. Se você acha que vai te fazer feliz ficando com esse rapaz, fica. Porém, eu quero que você saiba de que se você levar uma rasteira, a mamãe só vai estar aqui para te ajudar a levantar. Antes eu estava aqui para não te deixar cair, agora estou aqui para ajudar a se levantar.

THAILYZ — Obrigada, mãe. Se você me deixar voar com minhas próprias asas, eu tenho certeza de que serei uma mulher muita mais experiente e madura.

LIÉGE — Tenho certeza disso. (beijo) Não vai deixar queimar o estraga-bofe! (risos) Eu trouxe a sobremesa. Sabia que não ia dar tempo pra sobremesa, estava passando na padaria e resolvi comprar uma. Uma torta de chocolate, você adora.

THAILYZ — Eba!! Mas eu vou ter que comer só uma lasquinha pra manter esse corpinho.

LIÉGE — Ih, meu amor, pra manter esse corpinho, uma lasquinha já é demais, talvez um farelinho…

THAILYZ — Tá muito engraçadinha, hoje! Tá muito piadista, humorada… Que quê rolou hoje pra estar assim toda-toda…? Hum?

LIÉGE — Hum… se eu te contasse eu teria que te matar… (risos)

THAILYZ — Ué… aí tem. Olha o arroz ali pra mim, por favor. Vê se tá bom de sal.

LIÉGE — Claro, cadê a colher?

CENA 19. BARRACO. INTERIOR. NOITE.

Imagem do reflexo de Christian em um espelho quebrado. Ele está tentando terminar de se arrumar. Darwin espiando pela janela. Lorelaine dando comida para seus filhos.

LORELAINE — Cheiroso, bem vestido. Vai passar a perna em quem? Tá gatão…

DARWIN  — Mas olha só isso… e na minha presença? Ele gasta o dinheiro que eu não tenho pra ficar gatão, e você se portando que nem vagaba na frente dos moleque?

LORELAINE — Foi só um elogio. Ficou estressadinho? Não dá no coro e fica estressadinho? Ficou o dia inteiro nessa janela aí, que tanto tá espiando?

DARWIN — Fecha essa boca de latrina aí, que o meu papo e com o bonitão ali! (ao Christian) Se liga malandro! Entrou, achou, pegou e saiu! Jogo rápido! Valeu?! Vamos acabar com essa merda! Não aguento mais essa palhaçada.

CHRISTIAN — Darwin, relaxa, a gente ainda tem tempo. Tá tudo acontecendo como a gente queria.

DARWIN — “A gente” é um cacete! Meus planos eram outros, era invadir, pegar e sumir! Mas já que cê quer assim.

CHRISTIAN — Relaxa, fica sossegado. Eu vou nessa. Me deseje sorte! Tchau, Lore!

LORELAINE — Tchau, querido. Vai com Deus!

DARWIN  — … (tempo) Não tem comida pra mim, não ô nega?

LORELAINE — Hum.. vai querer a comida da vagaba? … Vai comer farofa!

CENA 20. CASA LONGARAY. SALA. INTERIOR. DIA.

Thailyz abre a porta para Christian ele está com flores nas mãos.

THAILYZ — Oi, Christian! Enfim, chegou!

CHRISTIAN — Boa noite! Eu passei num lugar pra comprar um presente pra você.

THAILYZ — Pra mim? Obrigada. (abre a caixinha, é uma pulseira dourada) Ai, que linda. Que tá escrito…? (ler) Meu raio de sol. Ai, gostei… vou usar. As flores são cheirosas. Vou por num vaso. Vem, eu quero te apresentar a família.

Aleff passando por eles.

THAILYZ — Ah, esse aqui é meu irmão, Aleff.

ALEFF — E aí, cara? Beleza?

CHRISTIAN — E aí?! Beleza?

THAILYZ — Ganhei flores. Ai, olha a pulseira que ele me deu. Não é lindo?

ALEFF — Que brega.

THAILYZ  — Ah! Sai fora, viado! (empurrar o irmão) Essa peste sempre me incomodando. Senta, senta aqui no sofá. Enquanto eu dou um jeito nessas flores. O papai está no escritório, já vem. E a mamãe tá lá encima, e já desce. Senta. Eu já volto.

Thailyz por trás de Christian faz sinal pra Aleff calar a boca. Aleff e Christian no sofá.

CHRISTIAN — É.

ALEFF — É.

Christian fica sem assunto.

ALEFF — (tempo) Você curte funk?

CENA 21. CASA LONGARAY. COZINHA. INTEIROR. NOITE.

Thailyz entra correndo no ambiente. Ela coloca a caixinha da pulseira na mesa e não sabe onde colar as flores, não encontra vaso.

THAILYZ — Aonde? Aonde? Não tem vaso nessa casa.

Thailyz abre a geladeira, pega uma jarra de água tira a tampa e põe as flores dentro. Vai até o micro-ondas espelhado e dá uma olhada no visual, nos cabelos e maquiagem.

CENA 22. CASA LONGARAY. QUARTO IANE. INT. NOITE.

Liége servindo o jantar de sua mãe. Iane sentada em uma cadeira de rodas, com uma mesinha.

IANE — Quem era? Eu ouvi tocar a campainha?

LIÉGE — Não sei, eu ainda não desci.

IANE — Essa casa é tão grande assim pra você ficar por fora das coisas que acontecem nela? Não sei como você até hoje conseguiu manter um cargo de gerencia naquela loja.

LIÉGE — Eu faço o que eu posso.

IANE — Deveria fazer mais. Não me tire pra idiota. Eu tenho certeza de que você sabe quem chegou. Eu deveria supor isso porque você veio trazer o meu jantar tão cedo hoje? É visita?

LIÉGE — Já disse que eu não sei quem é. A janta saiu mais cedo hoje porque quem fez foi a Thailyz, e ela estava em casa. Logo a janta saiu cedo. Simples assim. Não fica com caraminholas na cabeça, tá bom?

IANE — Vocês me fazem assim. Me escondem as coisas. Então, tudo eu tenho que adivinhar. E  quase sempre eu acerto!

LIÉGE — Eu não vi nenhuma clareza nessa frase.

IANE — Já terminei. Pode levar.

LIÉGE — Vai querer que eu lhe ajude a se deitar?

IANE — Não. É cedo. Tô sem sono. Quando eu resolver me deitar, eu chamo. Sai.

Liége sair. Iane continuar sisuda.

CENA 23. CASA LONGARAY. SALA. INTERIOR. NOITE.

Christian e Aleff. Os dois estão sem trocar uma palavra. Tempo neles. Christian olha para Aleff, e Aleff olha para ele.

CHRISTIAN — É.

ALEFF — É.

De novo volta o silêncio. Eles voltam seus olhares para a mesma posição. Então Christian puxa um assunto.

CHRISTIAN — E os seus pais? Como são?

ALEFF — Quer saber como são os seus sogros?

CHRISTIAN — Não, eu… Na verdade, eu e a Thailyz não temos nada, apenas bons amigos e…

ALEFF — Ah, corta essa malandro. Eu tô ligado. Mas agora, se liga: meu pai é de boa, é tranquilão. O problema mesmo é a minha mãe. Ela é chata pra caralho… Opa, tem que conter os palavrões nessa casa, no máximo três por dia. E esse foi meu… (contar) trigésimo sexto, eu acho. Não conta pra ninguém.

CHRISTIAN — Pode deixar. Cara, eu preciso de um banheiro.

ALEFF — É ali dentro. Vai fundo.

CHRISTIAN — Valeu.

CENA 24. CASA LONGARAY. BANHEIRO. INTERIOR. DIA.

Christian entra no banheiro. Ele abre os armários, olha em volta. Vai até a privada. Abre a tampa da descarga, olha em volta e encontra uma escova de coçar as costas, pega. Ele puxa a descarga; deixa a água cair e segura o sensor para não entrar mais água na caixa, ele com a escova de lavar as costas enfia ela nesse dispositivo e puxa pra cima; fazendo-o quebrar. Ele solta e começa a encher de água de novo. Ele fecha a tampa da descarga. Ele aciona o botão da descarga e não cai nem uma gota de água. Ele solta um risinho. Vai até a pia, lava as mãos, aproveita pra dar uma ajeitada no penteado, desliga a luz, e sai do banheiro.

CENA 25. CASA LONGARAY. SALA DE JANTAR. INT. NOITE.

Giovanni, na ponta; Liége sentada à direita do marido, ao lado Aleff, de frente para eles sentados Thailyz e Christian.

LIÉGE — Então, que faz da vida, Christian?

CHRISTIAN — Eu sou vendedor de joias. É, eu trabalho nesse ramo há um tempinho já.

THAILYZ — Olha a pulseira linda que ele me deu! Não é linda?

LIÉGE — Linda mesmo. (ao marido)  Hein, amor?! Já tá aí uma bela opção para meu próximo presente.

GIOVANNI — Ih… (brinca com Christian) tá vendo aí a encrenca que você me meteu, rapaz?

CHRISTIAN — (rir) Que isso? Nada melhor que presentear quem a gente gosta, e ama.

ALEFF — (cantar) Tão namorando! Tão namorando!

LIÉGE — Aleff, não começa!

GIOVANNI — É, Aleff, não é pra ficar dizendo que os dois (cantar) tão namorando, tão namorando…!

LIÉGE — Você também, né?!

THAILYZ — Ai, para pai… o que o Chris vai pensar.

ALEFF — (debochado) Ai, Chris…

CHRISTIAN — Calma, Thay. Deixa eles. É até bom que vocês deram a deixa. Seu Giovanni, eu quero oficialmente pedir sua filha em namoro.

GIOVANNI — Ó… um rapaz a moda antiga. Admiro isso. Demostra respeito.

LIÉGE  — Vocês não acham que estão indo rápido demais?

ALEFF — He, tava demorando.

LIÉGE — Mal se conhecem e já estão pensando em namoro?

CHRISTIAN — Desde o primeiro momento que eu há vi eu senti algo mais forte, algo que me fez tomar certas atitudes, como essa, aliás, até peço perdão pelo meu nervosismo. Até pode ser que eu esteja antecipando algumas coisas, mas parece que sinto que ao estar ao lado dela não posso perder nenhum minuto se quer.

THAILYZ — É sem perda de tempo. Eu também posso dizer certamente que sinto o mesmo! A vida é muito curta para não se entregar a um amor de verdade…

ALEFF — Eu acho que vou ficar diabético com tanto doce.

LIÉGE — Thailyz, minha filha, você é muito nova pra pensar dessa forma, meu amor.

THAILYZ  — Mãe, sinto dizer que eu sou maior de idade, e a senhora não pode controlar o que eu penso. Muito menos o que eu estou sentindo, e o que eu estou sentido é que encontrei o amor da minha vida.

GIOVANNI — Também não precisamos exagerar. Eu aprovo o namoro de vocês, não vejo problemas. Liége. Sua vez, quanto isso, eu vou ao banheiro. Com licença.

Giovanni deixa Liége com a palavra se levanta e sai.

LIÉGE — (pensa/tempo)

THAILYZ — Mãe…

LIÉGE — Do que vale o que penso? Por algum acaso faria alguma diferença?

THAILYZ — Eu sabia que ela ia complicar. Mãe…

CHRISTIAN — (corta Thay) Não, não. Deixa comigo. (p/ Liége)  Dona Liége. Eu sou um cara de boa índole. Nunca, jamais faria alguma mal com sua filha. Tão pouco deixaria que fizessem algum mal pra ela. Eu quero que a senhora saiba disso. Mesmo não me conhecendo direito. Minhas intenções são serias.

LIÉGE — Eu entendo tudo isso que você tá falando. Eu não quero dizer que eu não confie em você. Você me parece ser um rapaz bastante inteligente pra entender minha posição. Eu cultivo e zelo pelo bem estar da minha família. Eu não gostaria que a Thailyz se envolvesse com uma pessoa que eu não confiasse. E eu não conheço você. E pra isso eu preciso de tempo. Eu não quero empacar o namoro de vocês, não. Até quero que vocês namorem, fazem um casal bonitinho. Mas eu acho, sim, que vocês estão pondo a carroça na frente dos bois.

THAILYZ — O problema, mãe, é que a senhora não me deixa viver, não me deixa errar, não me deixa escolher aquilo que eu quero! Eu quero viver a minha vida, não a vida que a senhora quer que eu viva! Se a senhora quer o meu bem, quer tanto o meu bem estar, eu sinto muito, mas isso está me fazendo muito mal!

LIÉGE — Tá bom! Tá bem! Eu já entendi! Vou deixar você em paz com sua escolha. Vamos fazer de conta que não tivemos essa conversa. Tá! Só lembra daquela conversa que tivemos mais cedo, na cozinha. Ok?! Vamos seguir desse ponto.

THAILYZ — Perfeito!

LIÉGE — Espero que sejam felizes no namoro de vocês, e tudo mais. É isso que desejo.

ALEFF                 — (cantar) Tão namorando, tão namorando…!

Giovanni retorna ao ambiente.

GIOVANNI — E aí, se acertaram? Seguinte, a descarga do banheiro está quebrada.

LIÉGE — Quebrada?

GIOVANNI — É. Não tá funcionando.

ALEFF — Que coisa. (ao pai) Não deixou nada lá dentro, não?

Risos deles.

GIOVANNI — (brinca) deixei. Deixei uma noiva lá dentro. Vai lá ver ela. Tava te chamando.

LIÉGE — Parem, relaxados. Eu vou chamar alguém que conserte.

GIOVANNI — Eu mesmo conserto. Deixa disso. Só não arrumo agora, porque estou jantando.

CHRISTIAN — Esse papo de banheiro, me deu até vontade.

ALEFF — Ih, então vai ter que ir de balde pro banheiro.

THAILYZ — Que balde, o quê?! Balde pra bater na tua cabeça! (p/ Chris) Vai no banheiro lá de cima. É só subir as escadas, no final do corredor à direita.

GIOVANNI — Isso, vai lá… Daqui a pouco elas vão servir a sobremesa.

CHIRSTIAN — Ok…

Christian levanta-se e vai.

GIOVANNI — Gostei do rapaz, parece ser gente fina.

CENA 26. CASA LONGARAY. CORREDOR. INT. NOITE.

Christian aparece nos corredores. Flashes são dados com o que ele se lembra há 10 anos atrás; como se ele estivesse se lembrando de como era no momento que ele estava fugindo da polícia no primeiro episódio. Retornamos a ele, e ele vai até a porta onde ele se lembra que entrou com o colar. Pega na maçaneta, vira-a e abre a porta vagarosamente.

CENA 27. CASA LONGARAY. QUARTO IANE. INT. NOITE.

A porta se abrindo vagarosamente. Christian dá uma olhadinha no lado de dentro, e vai abrindo mais ainda ao não ver ninguém. Ele entra no quarto, o ambiente de um quarto normal, rústico, com moveis de madeira. Novamente os flashes desde ambiente são dados; com cenas do primeiro episódio. Ele caminha pelo quarto até encontrar onde supostamente está o colar. Bem acima da cama de Iane.

CHRISTIAN — Achei!!

Ele fica olhando, sem que ele perceba sai do banheiro Iane de cadeira de rodas. Quando ela o vê ela leva um susto e solta um grito. Com o grito ele se assusta e acaba esbarrando na cômoda e derruba alguns objetos no chão. Os dois ficam se encarando assustados!

CORTA.

FIM DESTE EPISÓDIO

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

Leia mais Histórias

>
Rolar para o topo