O tempo…

Sempre dizemos que o tempo cura tudo…

Costumamos dizer “Vamos dar tempo ao tempo”…

Ou o mais comum entre nós: “Deixa o tempo passar”…

Mas qual o conceito verdadeiro do tempo?

Na teoria da relatividade, Einstein afirma que o tempo não é igual para todos, podendo mudar de acordo com três variáveis: Velocidade, gravidade e espaço. Após publicar a sua teoria da relatividade geral, Einstein observou que a existência de matéria era capaz de gerar uma curvatura na noção de espaço e tempo. “Quanto maior for a massa de um determinado corpo, maior será a curvatura do espaço-tempo”- Concluiu ele.

Mas se Einstein estava mesmo correto, significa que o tempo pode ser algo atemporal? Pode ser finito? Infinito? Quantas dimensões podemos trilhar entre passado, presente e futuro?

Imagine poder voltar ao passado e impedir algo que não deveria ter acontecido? Você gostaria de ter esse poder? Fala sério, quem não gostaria? Mas assim como em um cálculo matemático, qualquer alteração na contagem, um número, um X ou um Y que seja, a resposta será errada. Ou seja, há consequências pelas nossas ações, se mudarmos alguma coisa no passado, provocamos uma bagunça na linha do tempo e isso pode acarretar sérios prejuízos lá na frente.

Com certeza você já ouviu falar que “os fins justificam os meios”. E isso realmente é verdade, levando em consideração que você voltou ao passado sabendo do que já aconteceu no futuro. Imagine que você esteja em uma sala de aula fazendo uma pequena prova de matemática que talvez você odeie. Estamos em uma questão de equação, você fez todos os procedimentos, seguiu a fórmula de bháskara ao pé da letra… Mas no final, o valor de X está dando diferente dos outros alunos. E o pior… O seu é o único que está diferente e a resposta está errada.

Alguma coisa lá atrás você fez de errado, e precisa rapidamente procurar o local exato do erro e consertar para que o resultado esteja batendo com o de todo mundo. Assim é o tempo… Não podemos mudar o passado totalmente, mas podemos conduzir o nosso futuro, e isso vai depender das nossas escolhas no presente.


= FLASHFORWARD=

QUARTO DE HOTEL, 07 DE OUTUBRO DE 2023, 23H50.

 

Vemos alguns jovens na faixa etária de uns 20 e poucos anos dentro de um quarto de hotel muito tensos e eufóricos, uma garota está sentada ao lado do criado mudo com as mãos na cabeça e os olhos lacrimejando, enquanto dois rapazes estão discutindo sem parar.

— O que a gente vai fazer agora? O que a gente vai fazer?

— Dá um tempo, porra! Eu preciso pensar!

A garota está transtornada e começa a murmurar algumas palavras:

— É tudo culpa minha! Eu não devia ter vindo, eu não devia ter vindo!

Os rapazes continuam a discutir.

— Chamamos a polícia?

— O quê? Tá maluco? A gente vai pra cadeia, vão descobrir nossos “esquemas”, a casa vai cair pra a gente!

A garota continua murmurando:

— É minha culpa, tudo minha culpa, por que eu tive que vim pra essa maldita viagem?

Um dos rapazes tenta acalmá-la.

— Calma, Daniela! Não foi tua culpa, a gente vai dar um jeito nisso.

— Não! Nada disso teria acontecido se eu não tivesse vindo com vocês! Vocês me obrigaram a fazer isso!

O outro rapaz argumenta:

— Ninguém fez nada! Foi um acidente!

A moça por qual é chamada por Daniela se levanta, tenta limpar o rosto que já estava há um bom tempo chorando e tremendo diz:

— Eu não vou pra cadeia por culpa de vocês! Eu deveria ter escutado minha mãe, não deveria ter vindo! Não deveria ter vindo!

— Calma, Daniela! Não entra em pânico.

— Não! Eu já estou cansada disso!

Daniela pega na sua bolsa, um estilete e o coloca contra o seu pescoço.

— Dani, para com isso!

— Não! Não podemos mais apagar o que fizemos, não vou conseguir sobreviver com essa culpa.

— Porra, Daniela! Acha que é só você que tá surtando com essa situação? Larga esse estilete!

— NÃO! (para por instantes pra respirar) Eu estou cansada… Vou dar um fim em tudo isso.

Daniela está pronta para cortar o seu pescoço, os dois rapazes gritam desesperados:

— DANIELA!!!!

Aqui nós descobrimos que o tempo… É o nosso pior inimigo.


OPENING:



 


                        EPISÓDIO 1:

                          O TEMPO


 

Estrada entre Minas Gerais e Goiás, 07 de Outubro de 2023- 21h25.

 

Em um carro grande e confortável, quatro jovens estão viajando para curtir um show que será realizado na Grande São Paulo. Eles estão bastante contentes e cheios de energia, isso também se deve aos entorpecentes que ambos estão usando. Creio que seria possível sentir o cheiro do fumo à distância, se possível, mas eles não se importavam! Afinal de contas, é a viagem mais importante da vida deles e não estavam nem aí pras regras idiotas daquela sociedade hipócrita. Um baseado aqui e ali, cerveja e energético, o que poderia dar errado? Bom, talvez se uma blitz passasse por aquela estrada e os vissem naquela situação.

Dirigindo está Adrian, rapaz de 26 anos, cabelo loiro e liso, barba cheia e completa, olhos castanhos claros, excelente físico.

Ao lado dele, no banco do passageiro, está Daniela, 25 anos, cabelo loiro até os ombros, olhos verdes e bonita.

No banco de trás estão outros amigos. Samuel, 28 anos, negro, cabelo crespo e físico definido. E também Angélica, 26 anos, morena, olhos escuros, cabelos pretos longos.

Os jovens estão cantando estrada à dentro sem se importarem com absolutamente nada. Samuel fala pra Adrian:

— Aí, Adrian! Não quer provar nem um pouco do “goró”?

— Eu passo, mano! Se eu beber, como é que eu vou conduzir vocês até lá?

— Qual é? Eu dirijo no teu lugar!

— Até parece! Mais uns dois goles, você apaga, irmão.

Angélica sorri e diz:

— Adrian, você ainda dá estia pro Samuel? Sabe que ele não amadureceu em absolutamente nada desde o fim do ensino médio.

— Talvez você poderia ter me dado uma chance, gatinha. Assim eu iria amadurecer ficando com um mulherão como você.

— Ah se toca, garoto! Sai fora!

Daniela no banco da frente murmura em tom de brincadeira.

— Olha, se vocês dois vão transar, me avisa que eu saio do carro. Que nojo! Não quero ter que ver isso.

Angélica provoca:

— Ah qual é, mana? Aproveita que o Adrian tá solteiro e vocês bem que poderiam dar uns pegas hoje.

— O quê? Sua p…

Adrian gargalha dizendo:

— A Daniela não cede pra mim de jeito nenhum, Angélica! Mais fácil eu formar um “trisal” com você e o Samuel.

— Que sexy! Eu quero!

— Ai, nossa! Como vocês são nojentos!

Samuel em tom de brincadeira diz:

— Aí, eu aceito só se o Adrian deixar eu ver a bundinha dele.

— Confessa que é a mim que você quer pegar, mano. E não a Angélica.

— Me descobriu, bro. Bora transar e deixar essas duas passando vontade.

Todos riem, Daniela diz:

— Já percebi que nenhum de nós amadureceu mesmo.

Entre as risadas, o celular de Adrian toca.

— Ora, ora, um número de Minas, quem será?

Daniela alerta:

— Cuidado com o celular no trânsito, garotão.

— É rapidinho. Alô?… Sim, é ele. Quê?… Não, não, mano, “pera”… Meu nome é Adrian e eu tô no carro com meus amigos e… De que porra tu tá falando, mano?…

Os jovens começam a se entreolhar querendo sorrir.

— Olha, bro, eu não sei qual erva você cheirou, mas guarda um pouco pra mim depois que eu voltar de São Paulo, beleza?… Tá, tá, vai se foder você também. (Desligando o celular).

Daniela questiona:

— Quem era?

— Um maluco tentando passar trote! Deve tá chapado.

— Adrian e seus agiotas.

— Que porra de agiota? Tá maluca, é?

No celular de Angélica, chega uma notificação. Ela olha um pouco incrédula e murmura:

— Em pleno século 21, quem ainda se comunica por e-mail, gente? Fala sério!

Samuel brinca, dizendo:

— Vai ver querem te contratar como garota propaganda, gata. Você já tem perfil.

— Ah cala a boca, seu otário! Nem vou ler essa mensagem.

Passa-se alguns minutos, o tempo começa a fechar dando sinais que vai chover. Adrian resmunga:

— Puta que pariu! Vai chover justo agora? Acho melhor a gente procurar um hotel pra passarmos a noite. A estrada vai tá perigosa e vocês estão muito chapados, melhor a gente se curar dessa ressaca e continuar a viagem amanhã. O que acham?

Samuel responde:

— Você que manda, chefe!

HOTEL HILBERT, 22H00.

O Hotel Hilbert possui 10 andares, é luxuoso e confortável o bastante para atender as expectativas de seus hóspedes. Ele fica literalmente localizado no meio da estrada chegando em Uberlândia- MG.

Um carro está se aproximando do hotel, está ventando forte dando indícios que vai começar a chover. Um casal juntamente com uma garotinha de mais ou menos uns 8 anos saem do veículo e entram no hotel.

Lá dentro, um senhor de 65 anos, cabelos bem brancos e usando óculos está no balcão da recepção. É o senhor Alfredo Hilbert.

— Boa noite, bem vindos ao Hotel Hilbert! Em que posso servi-los?

O homem o responde:

— Boa noite, precisamos de um quarto, estamos de viagem e vi que vai cair uma tempestade, então encontramos esse hotel aqui.

— Entendo, deixe-me ver… Hum… Sinto muito, mas preenchemos a última vaga há algumas horas.

— Sério? Mas tem certeza?

— Sim, senhor, infelizmente estamos sem vagas disponíveis.

A mulher diz:

— Meu bem, está começando a esfriar, sabe como a nossa filha fica nesse tempo.

— Escuta, não pode abrir uma exceção? Minha filha tem reumatismo no sangue, ela não pode ficar sem se agasalhar bem.

Hilbert olha para a garotinha com compaixão, alguma coisa dentro dele dizia que ele deveria tentar arrumar um quarto para aquela família, mas infelizmente isso não era possível.

— Eu sinto muito, mas realmente não há nenhuma vaga disponível… Mas… Em poucos quilômetros daqui vocês vão encontrar uma pousada e tenho absoluta certeza que lá haverá vagas. Mas precisam se apressar antes que a chuva engrosse.

— Tudo bem, eu agradeço de qualquer forma, senhor…?

— Hilbert. Sou o proprietário do Hotel.

— Ah sim, muito obrigado, senhor Hilbert.

O casal um pouco desapontado por não ter conseguido uma vaga, entram novamente dentro do carro e seguem estrada. Hilbert ainda no balcão, olha para o relógio de parede que está marcando 22h05. Ele treme as mãos e murmura consigo mesmo.

— Meu Deus… Realmente está acontecendo.

Cerca de alguns minutos depois, o carro de Adrian e seus amigos estacionam em frente ao hotel, eles saem tentando colocar suas jaquetas nas costas, pois já está chovendo.

Ambos entram no hotel um pouco afoitos e ensopados, o senhor Hilbert olha para o relógio de parede e está marcando 22h20, depois olha para os garotos e abre um sorriso.

— Boa noite! Bem vindos ao Hotel Hilbert! Em que posso servi-los?

Adrian toma a frente.

— Precisamos de uns quartos pra passarmos a noite, estamos de viagem e começou essa chuva forte, então…

— … Sim, tem chovido muito por essas bandas ultimamente. Bom, infelizmente eu…

Hilbert olhou no sistema no computador e também nas chaves que ficam penduradas atrás do balcão que há uma vaga sobrando.

— … Bem, eu não vou ter mais de um quarto disponível. Por causa da chuva, muitos hóspedes vieram pra cá.

— Droga! Sério? Mas não tem nenhum disponível?

— Na verdade, eu tenho apenas um. Mas suponho que vocês sejam casais e não vão se importar, né?

Daniela responde:

— Não, nós não somos casais, nem fodendo.

Samuel em tom de brincadeira responde:

— É, nem fodendo, mas bem que você queria tá, né?

— Cala a boca, Samuel!

Adrian tenta contornar a situação.

— Então senhor, não somos casais, somos todos amigos de infância.

— Bom, temos um quarto duplo. Com duas camas de solteiro e uma de casal, o valor pra passar a noite é 200 reais. Pagamento adiantado, o que acham?

— Por mim tá suave. O que acham, galera?

— Bro, você decide, por mim tá firme.

— Ótimo, preciso dos documentos de vocês 4 pra realizarmos o cadastro e já estarei passando a chave do quarto pra vocês.

Alguns minutos após o cadastro, o senhor Hilbert pega uma chave com o número 23 e entrega pra Adrian. Este último fica intrigado, pois o local da chave de número 21 está com uma tampa de vidro e cadeado.

— Escuta, por que o número 21 tem aquela tranca?

— O quarto de número 21 está indisponível.

— Ué, mas por quê?

— Ele está interditado há muitos anos. Ninguém vai naquele quarto, com a exceção das camareiras que vão duas vezes por semana lá para manter o local limpo, mas não vão querer ter conhecido. É o quarto mais problemático do hotel e tenho certeza que onde vocês estarão é melhor.

— Beleza então. Vamos pegar as malas, galera! E vamos levar lá pra cima!

Os garotos imediatamente vão buscar suas malas pra levar ao quarto, Hilbert se senta tremendo as pernas e tira seus óculos. Ele passa a mão no rosto e diz:

— Ele tinha razão. Está acontecendo de novo.

Alguns minutos se passam, os garotos entram no quarto de número 23 e percebem o quão agradável é aquele lugar. Praticamente uma suíte muito ampla e confortável, eles entram já festejando e parecem não se importar de que poderiam acordar os outros inquilinos que estavam tentando dormir.

Pegaram umas garrafas de cerveja e começaram a beber e dançar pelo quarto, Adrian que sempre foi o mais cabeça também tomou uns goles e todos começaram a fumar. O cheiro de maconha começou a subir no quarto, mas eles não estavam nem aí, afinal de contas pagaram para estarem ali. Quem liga pros seus atos, não é mesmo?

Já passava das 23h, tudo estava indo muito bem, até o momento em que Daniela está revirando sua bolsa e sente falta de algo. Ela imediatamente se irrita e vai até Angélica que está dançando juntamente com Samuel.

— Aí! Cadê o meu tabaco?

— Quê? Do que você tá falando?

— O meu tabaco que eu deixei na minha bolsa, você pegou!

— Ah, para, Dani! Você tá chapada, certeza você mesma fumou.

— Não, eu não fumei.

Samuel tenta acalmá-la segurando em seu queixo.

— Aí, relaxa, gatinha! Eu posso ser o teu tabaco essa noite, por que a gente não se diverte um pouco?

— Não, não! Me solta, Samuel! Alguém pegou o meu tabaco, era o último que eu tinha e eu quero ele!

Adrian tenta contornar a situação.

— Relaxa, Dani. Eu não peguei. Você pegou, Samuel?

— Eu bem que queria, mas não fui eu não.

Angélica se pronuncia:

— Tá bom, gente! Eu me rendo! Eu fumei o tabaco dela, satisfeitos?

— Sua vaca, piranha!

Daniela parte pra cima de Angélica e os outros dois tentam apartar.

— Ei, calma, calma!

— Vagabunda! Era o único que eu tinha!

— Calma aí, garota! Os meninos tem um beck muito melhor nas coisas deles, deixa de ser histérica.

— Não, você mexeu nas minhas coisas! Eu odeio quando mexem nas minhas coisas!

Samuel dessa vez se impõe:

— Tá bom, tá bom, chega! Somos adultos aqui, cacete. Por que a gente não se comporta como tais?

— Vai me pagar, Angélica!

Daniela dá as costas pra eles e nesse momento Angélica começa a provocá-la.

— Já sei, ainda não superou, né?

Daniela se detém e fica com a respiração ofegante.

— Ainda não superou ter sido trocada pelo boy. O que eu posso fazer, Dani? Se teu namorado preferiu uma morena gostosa como eu do que uma loira sem sal que nem conseguia deixar ele de pau duro?

— Sua desgraçada! Eu vou te matar!

Daniela parte pra cima de Angélica, as duas começam a se “atracar”. Adrian e Samuel tentam fazer de tudo pra apartar as duas.

— Para, gente! Para!

— Eu vou te matar, sua piranha maldita!

— Admita que você tem inveja de mim, sua oxigenada!

— Já chega, garotas!

O forcejo continua até que no momento em que Adrian e Samuel tentam apartar Daniela da Angélica, esta última é empurrada pra trás se desequilibrando e bate a cabeça na quina do móvel.

Todos ficam paralisados sem ter nenhuma reação momentânea. Adrian se aproxima dela.

— Angélica?… Angélica, ok, você venceu! Pode parar com a brincadeira.

Daniela, paralisada, vê de longe que a cabeça dela está sangrando na parte de trás.

— Tem sangue… Tem sangue na cabeça dela, Adrian.

— Meu… Meu Deus.

— Adrian, mano… Não me diga que…

Adrian se agacha e verifica a pulsação dela.

— Tá sem pulso… Ela não tá respirando, ela não tá respirando, porra!

— Meu Deus, meu Deus! Eu não queria, eu não queria…

— Calma, Dani! Calma!

Daniela se afasta e se senta do lado do criado-mudo e está completamente em choque. Samuel se aproxima de Adrian.

— Ela… Tá morta?

— Eu… Eu acho que sim.

— Puta merda! Puta merda, Adrian! E agora? A gente tá fudido, matamos ela!

— Não, nós não matamos ela, foi um acidente! A gente não tem culpa! Ela, ela estava descontrolada, chapada, todos nós estávamos.

— O que a gente vai fazer agora? O que a gente vai fazer?

— Dá um tempo, porra! Eu preciso pensar!

Daniela está transtornada e começa a murmurar algumas palavras:

— É tudo culpa minha! Eu não devia ter vindo, eu não devia ter vindo!

Os rapazes continuam a discutir. Adrian questiona:

— Chamamos a polícia?

— O quê? Tá maluco? A gente vai pra cadeia, vão descobrir nossos “esquemas”, a casa vai cair pra a gente!

Daniela continua murmurando:

— É minha culpa, tudo minha culpa, por que eu tive que vim pra essa maldita viagem?

Adrian tenta acalmá-la.

— Calma, Daniela! Não foi tua culpa, a gente vai dar um jeito nisso.

— Não! Nada disso teria acontecido se eu não tivesse vindo com vocês! Vocês me obrigaram a fazer isso!

Samuel argumenta:

— Ninguém fez nada! Foi um acidente!

Daniela se levanta, tenta limpar o rosto choroso e tremendo diz:

— Eu não vou pra cadeia por culpa de vocês! Eu deveria ter escutado minha mãe, não deveria ter vindo! Não deveria ter vindo!

— Calma, Daniela! Não entra em pânico.

— Não! Eu já estou cansada disso!

Daniela pega na sua bolsa um estilete e o coloca contra o seu pescoço.

— Dani, para com isso!

— Não! Não podemos mais apagar o que fizemos, não vou conseguir sobreviver com essa culpa.

— Porra, Daniela! Acha que é só você que tá surtando com essa situação? Larga esse estilete!

— NÃO! (para por instantes pra respirar) Eu estou cansada… Vou dar um fim em tudo isso.

Daniela está pronta para cortar o seu pescoço, os dois rapazes gritam desesperados:

— DANIELA!!!!

No momento em que Daniela iria dar um fim na sua própria vida, ouve-se uma batida na porta.

Todos eles se detém por instantes, o trinco da porta começa a girar. Adrian sinaliza pra eles ficarem em silêncio. Após algumas tentativas, seja lá quem for a pessoa que estava na porta, decidiu ir embora.

Daniela ainda está com o estilete na mão, mas rapidamente Samuel se aproxima dela e consegue pegá-lo.

— Para de crise! Se você se matar, só vai piorar as coisas, sua burra!

Daniela cai no chão rompendo em choro.

— Ahhh! Meu Deus! Eu não queria fazer isso, eu não queria! Eu só estava nervosa, não queria que ela se machucasse, meu Deus!

— Nenhum de nós queria isso! Eu vou olhar no corredor pra ver se tem alguém por perto.

Adrian abre a porta, olha no corredor de um lado e do outro e não avista ninguém. Ele volta pra dentro, tranca a porta e volta a conversar com os amigos.

— Precisamos dar um jeito nisso, eu acho melhor a gente ligar pra polícia. Foi um acidente, eles vão entender.

— Tu tem bosta de galinha na cabeça, macho? Sabe quanta maconha, e tudo qualquer entorpecente que a gente tem aqui? Dá pra deixar Minas Gerais inteira noiada. A gente não vai ser preso por homicídio, mas por uso de drogas e eu não estou afim de estragar minha maldita juventude dentro de uma cela. Sabe bem o que dizem de jovens negros como eu, né? Eu ia morrer lá dentro!

— Tá, mas o que você sugere? Hein? Tem alguma ideia brilhante, negão? Diz aí!

— Eu… Eu…

— … Eu tenho!

Daniela se levanta e se aproxima dos dois.

— Eu tenho uma ideia! O quarto que aquele senhor disse, o número 21. Se realmente ele estiver vazio, podemos esconder o corpo da Angélica lá dentro até pensarmos em um plano.

Samuel vira o pescoço franzindo a testa dizendo:

— Olha, loira. Você já teve ideias estúpidas, mas essa é a pior de todas, viu?

— Não, ela tá certa!

— Quê? Qual é, Adrian? Você é o mais certinho de nós, vai mesmo ficar do lado dela?

— Como ela disse, é só até pensarmos em um outro plano.

— Tá, mas como a gente vai entrar no quarto 21 se não temos a chave?

Daniela diz:

— Não precisamos.

— Quê?

— Não precisamos, Samuel. Você consegue abrir fechaduras, eu já vi você fazendo.

— Ow, ow, calma aí! Uma coisa é ter ficado trancado do lado de fora da minha casa ou querer fugir da sala de aula, mas entrar numa propriedade que não é minha?

— Ah vai bancar o puritano agora?

— Sua loira idiota, tá pensando que… Tá pensando que… Adrian, me ajuda aqui!

— Mano, ela tem razão. Essa é a única forma de pensarmos num plano de nos livrarmos dessa.

— Sério? Eu vou mesmo gastar meu réu primário inteiro só essa noite?

— Samuel, por favor! Eu estou apavorada… Ajuda a gente!

— Oh caralho, tá bom, tá bom, eu faço!

— Vamos fazer o seguinte: O Samuel tenta destrancar a porta do quarto 21 enquanto a Daniela e eu levamos o corpo da Angélica até lá. Após escondermos ela, a gente volta e limpa todo o sangue dela e amanhã de manhã a gente pensa como sairemos daqui. Combinado?

Todos consentem:

— Combinado!

 

A execução do plano começou. Samuel pega umas chaves de teste e consegue abrir a fechadura do quarto. Adrian e Daniela arrastam o corpo de Angélica do quarto pelo corredor até chegarem no quarto 21.

Samuel fecha a porta e procura algum interruptor.

— Merda, esse lugar fede a poeira, não disseram que passam aqui duas vezes por semana pra limpar?

Lá fora, a tempestade está tomando conta, relâmpagos fortes são ressoados, a chuva castiga sem parar. Hilbert está em seu dormitório com um terço na mão rezando.

— Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino…

No quarto 21, os garotos ainda estão tentando achar um modo de esconder o corpo de Angélica.

— Ei, gente! Tem um armário ali. Daniela, me ajuda aqui.

Samuel se aproxima.

— Não, deixa que eu faço isso. Foi mal, Angélica.

Os dois rapazes colocam o corpo da moça dentro do armário, olha pra ela por alguns segundos e depois fecha a porta. Daniela ainda um pouco temerosa questiona:

— Esperem! As nossas digitais vão ficar nela, melhor a gente desinfetar.

— Não, a gente precisa limpar apenas o nosso quarto. Veja como está esse lugar, certeza que ninguém pisa os pés aqui há décadas. Acho que o Hilbert mentiu que ainda vem gente limpar aqui justamente pra não entrarmos, esse lugar é assustador!

— Tá, Adrian, mas e se alguém entrar?

— Já estaremos longe daqui. Agora… Precisamos limpar o local onde ela caiu.

Os três imediatamente retornam ao quarto e começam a limpar qualquer mancha de sangue ou qualquer outra coisa que possa incriminá-los. Eles pegam todos os seus entorpecentes e todas as drogas que tinham escondido e jogam dentro da privada dando descarga. Após terem certeza que limparam tudo, os três se reúnem mais uma vez e Adrian dita as regras.

— Ok, amanhã vamos sair como se nada tivesse acontecido, eu vou entregar a chave para o senhor Hilbert e depois vamos embora pra São Paulo. Iremos curtir o nosso show e quando voltarmos, todo mundo vai contar que houve um acidente na estrada, a Angélica desceu pra mijar e um carro com um motorista bêbado perdeu o controle e a atropelou, vamos dizer que ela foi enterrada em Minas pra não levantar mais suspeitas da mãe dela. Estamos combinados?

Os dois consentem, mas na verdade eles não tem outra saída.

Já passa da meia-noite, a chuva continua muito forte. Daniela está deitada na cama de casal enquanto Adrian e Samuel estão nas duas camas de solteiro, ambos estão inquietos e com o olhar de terror, não conseguem dormir por mais que tentassem.

Lá fora, uma tempestade elétrica ameaça a região. Enquanto relâmpagos fortes são ressoados, voltamos novamente para o quarto 21. De dentro do armário onde está o corpo de Angélica, pequenas partículas brilhantes começam a surgir, não dá pra explicar direito o que pode ser isso, mas as partículas começam a aumentar iluminando o armário.

Era possível ver o feixe de luz pela parte de baixo da porta do quarto se alguém estivesse passando pelo corredor. Um trovão corta o céu e aquela luz brilhante que envolvia o quarto implode e depois desaparece.

Hilbert em seu quarto e ainda rezando, derruba o seu terço no chão e com o olhar aterrador diz:

— Começou! Começou!

Ele olha para o relógio da mesinha e aponta 00h21.

Algo aconteceu ali, mas não temos discernimento ainda do que pode ter sido, se é que poderemos explicar.

Como Adrian e os outros vão se livrar dessa situação? Será que foi mesmo um bom plano deixarem o corpo de Angélica ali? Quem garante que ela não será descoberta o mais rápido que pensam?

Amanhece, os jovens já estão com as malas prontas para darem adeus ao hotel. Daniela e Samuel vão na frente enquanto Adrian está devolvendo a chave para o Sr. Hilbert.

— Obrigado, pela hospitalidade, senhor, Hilbert!

— Por nada, filho. Voltem sempre!

Os três se aproximam da saída, até que Hilbert os chama:

— ESPEREM!

Os três ficam paralisados sem saber como reagir.

— Vocês não eram quatro? Onde está a outra moça?

Eles se entreolham e imediatamente Daniela arruma uma desculpa.

— Ah o namorado dela veio buscá-la no meio da noite, o senhor não ouviu? Ficamos tão preocupados em incomodá-lo.

— Na verdade não. Mas que horas mais ou menos? Eu estive na recepção até tarde e não vi ninguém chegar ou sair.

— Ah era… Era… Por volta da meia-noite, nós… Bom, nós…

Hilbert recebe uma mensagem de texto em seu pequeno celular velho dizendo:

“Eles estão mentindo, mas finja que você acreditou, diz que eu que abri a porta pra eles à noite”.

— Oh, com certeza vocês devem ter encontrado com um dos nossos funcionários que fica no plantão à noite, não é? Agora eu estou lembrado que ele havia aberto pra alguém nesse horário, mas pensei que fosse alguém chegando e não saindo.

— Pois é, foi isso mesmo.

Adrian tenta cortar o assunto para saírem.

— Sim, ela vai ficar bem e até melhor que nós, agora se me permite, senhor Hilbert. Precisamos ir embora. Foi um prazer conhecê-lo!

Quando os três viram de costas novamente, Hilbert os alerta.

— Eu não iria embora agora se fosse vocês!

Eles recuam novamente. Adrian questiona:

— O que disse?

— Vai cair uma chuva muito forte, a estrada é perigosa, não aconselho arriscar.

Samuel já um pouco incomodado questiona:

— Você trabalha na previsão do tempo, por acaso?

— Ei, mano. Pega leve!

Daniela já ficando nervosa diz:

— Olha, a gente vai se atrasar pra um show muito importante hoje em São Paulo, então precisamos mesmo ir, senhor.

— Claro, claro. Quem sou eu pra ficar dando pitaco na vida de vocês? Podem ir, filhos! E se cuidem!

Os três não perdem mais um segundo de seu tempo e saem pela portaria até chegarem no carro. O telefone da recepção toca.

— Hotel Hilbert, bom dia!… Sim! Estão saindo… Não… Só três deles.

08 DE OUTUBRO DE 2023, 10h25.

Os jovens estão no carro seguindo estrada, o tempo está começando a fechar, eles não estão nem um pouco contentes de tudo o que ocorreu. Daniela está ainda mais nervosa do que antes.

— Adrian, e se eles entrarem no quarto e investigar a gente? Vão encontrar as nossas digitais, a gente tá ferrado!

— Dá um tempo, Daniela! Você acha que isso não é difícil pra mim também?

Samuel no banco de trás murmura.

— A gente matou uma amiga nossa. Eu nunca mais vou conseguir dormir depois disso.

— Escutem, galera! Eu também tô surtando pra caralho! Por isso a gente precisa ficar o mais longe possível daquele hotel pra a gente se recuperar disso.

— Eu nunca vou me recuperar disso, foi minha culpa! Eu não devia ter brigado com ela, como eu fui tola!

— Não! A culpa foi minha por ter insistindo em ter parado naquele hotel, antes tivéssemos continuado bêbados na estrada, evitaria algo assim.

— Nós três estamos fodidos, irmão. Essa é a realidade, eu não vou ter coragem de olhar pra cara da mãe da Angélica quando voltarmos.

— Fica frio, mano. Quando chegarmos em São Paulo a gente pensa num plano. Vai dar certo, tem que dar certo.

Enquanto continuam na estrada, um raio cai em cima de uma árvore, Daniela avista de longe e alerta Adrian.

— ADRIAN, CUIDADO!

A árvore se parte e cai no meio da estrada, Adrian freia bruscamente e quase bate o carro com o tronco.

— Ah puta que pariu! Puta que pariu! Tá todo mundo bem?

— Mano, mano como a gente vai passar agora? A estrada tá bloqueada!

— Merda! Eu não acredito que… Eu não acredito que vamos ter que…

Daniela interrompe.

— No que está pensando, Adrian?

— Vamos ter que voltar para o hotel.

— Não, não, não, não, Adrian, por favor, eu imploro! Não quero voltar pra aquele lugar!

— Escuta, Daniela! Eu também estou assustado, mas eu acho que o velho tinha razão, vai ficar difícil seguirmos estrada com esse temporal. Vamos voltar e fingir que nada aconteceu.

Samuel e Daniela não estão acreditando no que está acontecendo. Só pode ser um terrível pesadelo! Quando estavam prestes a saírem definitivamente daquele lugar, algo os impede, parece que o destino os está trazendo de volta.

Cerca de meia hora depois, Adrian e os outros chegam novamente no Hotel Hilbert.

— Ow, vocês voltaram? O que houve?

— A estrada está bloqueada. Tinha razão, um temporal forte começou a cair.

— Poderiam ter esperado mais um pouco, mas entendo que vocês tem assuntos mais importantes para tratar.

— Não, a gente queria até pedir desculpas pela nossa grosseria.

— Ah, jovens! Eu já tive a idade de vocês e acreditem, eu também vivia muitas aventuras, mas estou feliz em vê-los de volta e a salvo.

— Será que… Poderíamos ficar novamente no quarto 23 ou… Alguém já assumiu a vaga?

— Não, não, podem continuar com ele, o quarto parece que foi feito exclusivamente pra vocês, vou pegar a chave.

— Tá bom e… São 200 reais, né? Deixa eu pegar o…

— Não, filho! Dessa vez fica por conta da casa.

— O que disse?

— Vamos fingir que vocês nunca saíram daqui e a diária que eu cobrei ainda não venceu. É o mínimo que eu posso fazer depois de tanto transtorno que os fiz passar.

— Poxa, eu… Nós…  Não sabemos como agradecer.

— Relaxem e desfrutem ao máximo das comodidades do hotel!

Os garotos consentem e retornam ao quarto. Eles ainda estão muito baqueados com toda a situação. Adrian senta na poltrona e diz:

— Acho que vocês tem razão, não podemos deixar o corpo da Angélica naquele quarto. Vamos dar um jeito de embrulhar ela bem, colocar dentro do carro e fugir hoje à noite. A gente fala com esse porteiro que o Hilbert falou que nós tivemos uma emergência e a gente precisava sair.

Daniela completa.

— E como esse outro porteiro nunca viu o rosto da gente, ele não vai desconfiar, não é?

— Isso! É isso! De acordo, Samuel?

— De acordo!

— Ok, eu entro no quarto 21 e vocês vigiam o corredor.

Adrian mais uma vez entra no quarto 21 e deixa a porta escorada. Samuel e Daniela ficam no corredor vendo se alguém aparece.

Adrian vai temeroso até o armário por ter que se encontrar com esse corpo novamente. Ele respira fundo, se aproxima do armário, abre a porta e tem uma surpresa.

— Quê?

Samuel e Daniela ainda do lado de fora do quarto ouvem o chamado de Adrian de lá de dentro.

— Gente!

Os dois entram no quarto fechando a porta, Daniela questiona:

— O que foi, Adrian?

— Não tá aqui!

— Quê?

— A Angélica não tá dentro do armário.

— Mas nem fodendo!

— É verdade!

Daniela se aproxima do armário e não vê absolutamente nada ali.

— Não pode ser.

Samuel, nervoso, opina:

— Alguém tirou ela! Alguém tirou ela daqui, vão descobrir que nós a matamos!

— Shh, cala a boca, Samuel!

Daniela fica sem chão e começa a sentir tontura.

— Não pode ser, não pode ser, não pode…

Daniela cai no chão e começa a ter crises de convulsão. Adrian a segura nos braços tentando acudi-la.

— DANIELA! DANIELA! ACORDA!

— ELA TÁ TENDO UMA CONVULSÃO, MANO! O QUE A GENTE VAI FAZER?

— VAMOS SAIR DESSE MALDITO QUARTO! ME AJUDA AQUI!

Os dois rapazes carregam Daniela até o quarto 23 e a deixa no tapete. Daniela começa a salivar muito e não para de se contorcer.

— Samuel, escuta! Vai até a recepção, avise ao Sr. Hilbert! Precisamos de ajuda! Depressa!

— Eu estou indo!

Samuel sai imediatamente do quarto, pressiona o botão do elevador, mas o mesmo se encontra muito longe para a urgência que ele precisa.

— Droga de elevadores! Droga!

Samuel desiste e vai pelas escadas. Ele desce com toda a pressa possível e chega correndo até o balcão da recepção.

— SR. HILBERT! SR. HILBERT!

— O que aconteceu, filho?

— Precisamos de um médico! AGORA!

O destino parece ter gostado de ter pregado uma peça a esses jovens, não era pra eles estarem ali ou então… Eles estão exatamente onde deveriam estar, ninguém pode garantir o que vai acontecer com eles após isso, se é que eles conseguirão ter uma vida normal depois de todo esse pesadelo.

QUARTO 21, 11H33.

Vemos o armário dentro do quarto 21 novamente, podemos espiar pela pequena fresta da porta que Angélica ainda está lá, podemos ver o rosto dela.

Até que…

— Aaaaaahhh!!

Angélica acorda suspirando como se tivesse se afogando, se recosta na porta do armário e cai de lá de dentro. Ela fica de bruços sob o chão empoeirado e começa a tossir muito, mas ela não deveria estar morta? Como sobreviveu?

A moça começa a se levantar aos poucos tentando assimilar o local onde estar. Ela não se lembra de ter ido ao quarto 21, obviamente, então precisava buscar alguma pista pra se situar novamente. Ela passa a mão atrás da cabeça, sente o machucado arder, ela se levanta e fica olhando para os móveis cobertos por lençóis brancos.

— Adrian? Samuel? Cadê vocês? Daniela?

Enquanto chama pelos amigos, vemos que alguém está mexendo na tranca da porta, ela fica parada por alguns minutos e depois decide chamar.

— Adrian?

A tranca da porta para de se mexer. Angélica vai cambaleando até a porta e descobre que ela está aberta. Ela gira o trinco, põe a cabeça do lado de fora e em seguida, o corpo. Ela sai e olha para a porta e vê que tá escrito “21”.

— O que eu estava fazendo no quarto 21?

Ela vê que o quarto da frente é o número 23, o mesmo que ela e seus amigos estavam hospedados. Ela vai até a porta e tenta abrir, ao ver que está trancada começa a bater e chamar pelos amigos.

— Adrian! Adrian! Samuel! Sou eu! Abre aqui pra mim.

Uma camareira está passando pelo corredor e avista Angélica batendo na porta.

— Pois não? Posso ajuda-la?

— Os meus amigos, eles… Estão hospedados nesse quarto.

— Bom, então saíram hoje pela manhã, pois acabei de limpar esse quarto e os hóspedes já tinham ido embora.

— O quê?

— Você está bem? Parece estar… Meu Deus, isso é sangue?

— Eu… Eu…

Angélica vê tudo girar e não consegue se manter de pé, ela cai no corredor e a camareira fica aflita.

— Meu Deus! Moça! Moça! Alguém me ajuda! Precisamos levá-la pra enfermaria! Alguém!

Angélica rapidamente é acudida por pessoas do hotel, mas onde Adrian e os outros poderiam estar? Será que mudaram de ideia e realmente decidiram abandoná-la?

Passou-se algumas horas, Angélica acorda aos poucos e está tentando se situar do local onde se encontra. Uma enfermeira está próxima dela e diz:

— Olha, que bom! Você acordou!

— Onde… Onde eu estou?

— Está na enfermaria do hotel. Sim, parece até loucura, mas conseguimos verbas do governo pra fazer um pequeno centro de atendimento aqui dentro, já que o hotel fica muito longe de qualquer outro hospital, né? Eu sou a enfermeira Deise e você é?

— Ang… Angélica.

— Bom, Angélica. Você teve uma pequena contusão na cabeça e precisou levar alguns pontos, teve muita sorte de não ter atingido o crânio em proporções maiores, caso contrário já estaria bem longe de uma simples enfermaria de um hotel.

— Eu… Eu só estou um pouco…

— … Sim, entendo que ainda esteja sentindo dor, mas logo você vai melhorar. Estamos esperando a garoa passar pra solicitarmos um carro pra leva-la ao hospital mais próximo pra fazer uns exames.

— Obrigada, eu… Eu acho que não me sinto tão baqueada desde quando eu peguei a COVID 19.

— Espera um pouco, COVID 19? O que seria isso?

— Está brincando, né? Você deve ter a minha idade ou estou enganada?

— Tenho 28 anos.

— Então você deve se lembrar. A pandemia do coronavírus no mundo inteiro entre 2020 e até agora. O Brasil foi um dos últimos países que se recuperaram, até ano passado tinha muitas sequelas.

— Ai, querida! Você realmente bateu feio com a cabeça, até perdeu a noção do tempo.

— Espera, hoje é… Hoje é 8 de Outubro?

— Sim, querida. 8 de Outubro… De 1998.

Neste dia, Angélica descobriu o quanto o tempo pode ser traiçoeiro.

Seus olhos ficam grandes, respiração acelerada. Ela fica ainda mais aflita ao olhar para um calendário na parede e ver o ano “1998” em letras grandes e bem legíveis.

— Não… Não pode ser!

Angélica perceberá que o tempo… Será seu mais novo inimigo.

 

 

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