Por diversas vezes tentamos desafiar as leis da física. Tentamos encontrar argumentos que justifiquem nossos atos involuntários. Mas como poderíamos fazer isso? Deus nos deu o livre arbítrio para fazermos o que quiser das nossas pseudo vidas infelizes. Quantos de nós ainda tomamos decisões erradas? Vamos parar de errar um dia? Creio que isso nunca vai acontecer.

A terceira Lei de Newton é clara: “Pra cada ação existe uma reação”. Se praticarmos o mal, receberemos o mal. Se praticarmos o bem, receberemos o bem. Mas e quando ficamos no meio termo? E quando não temos muitas opções? Angélica não teve direito de resposta, ela não teve como opinar por qual direção seguir. O destino quis assim e acabou! Não temos que discutir, apenas aceitar as nossas consequências, por pior que elas sejam.

HOTEL HILBERT, QUARTO 25- 08 DE OUTUBRO DE 1983, 22H47.

Um homem está descontrolado brigando com a mulher. Ela pede pra ele parar e ele continua a bater nela sem dó. O filho de 12 anos ouve os gritos e vai até o banheiro e fica do lado de fora da porta testemunhando a cena.

Aquele homem que, na verdade é o seu padrasto, está pegando a cabeça da mãe do garoto e batendo várias vezes contra a banheira. Ele bateu com tanta força que o sangue começou a jorrar fazendo que essa mulher em questão de minutos ficasse completamente desacordada e enfim… Morresse.

O homem termina sua crueldade e olha para o garoto que está completamente em choque, ele tira o cinto de sua calça e começa a ameaça-lo.

— Deeenis… Seja um bom garoto! Vem pro papai!

— Vo… Você não é o meu pai.

Denis tem cerca de 1,55 de altura, cabelo liso e castanho claro, apesar de ter 12 anos, aparenta ter bem menos da idade que tem. O homem que o ameaça, seu padrasto, casou com sua mãe há 2 anos quando o pai biológico do garoto faleceu em um acidente de trânsito. Desde então, a vida dela e de Denis têm sido um inferno.

— Me prometa que você vai ser um bom garoto e vai obedecer a mim.

— Não! Sai de perto de mim!

Denis sai imediatamente do quarto, seu padrasto o persegue com o cinto na mão. Ao chegar ao corredor, ele vê o machado de emergência pendurado na parede, o homem quebra o vidro e pega o machado e sorri de forma diabólica.

— Denis… Vamos brincar?

Denis vê que não tem outra solução e começa a pedir por ajuda, mas incrivelmente ninguém naquele corredor ouve nada, é como se uma áurea cobrisse os ouvidos dos hóspedes daquele hotel. O garoto se desespera e chega na porta do quarto 21. Ele força a maçaneta e percebe que a porta está aberta.

O garoto entra, tranca a porta, se afasta sussurrando aos poucos, percebe que o local está completamente vazio e os móveis estão cobertos por lençóis. Ele vê a sombra de seu padrasto pela fresta da porta.

— Denis, Denis, você não foi um bom menino este ano e por isso… Não vai ter presente de natal.

— Vai embora! Você nunca vai ser o meu pai!

— Ah, garotinho. Terá que ser mesmo do jeito difícil?

O padrasto empunha o machado e começa a acertar a porta diversas vezes, o garoto entra em pânico. Lá fora uma tempestade está acontecendo, um vendaval assola aquela noite e relâmpagos cortam o céu.

Denis fica tão desesperado que se esconde dentro do armário velho que está naquele quarto. Ele fica espiando pela brecha da porta do armário e o seu padrasto continua acertando a porta várias vezes, as trovoadas estavam ficando cada vez mais fortes. Dentro do armário, Denis vê que o mesmo começa a brilhar. Pequenas gotículas como se fossem estrelas preenchiam o armário e em seguida todo o quarto. Denis mesmo com medo, se sentou no chão do armário e se abraçou fortemente até o momento que a luz tomou conta de todo o local e em seguida desapareceu.

O padrasto consegue enfim abrir a porta, ele entra já procurando pelo garoto e vai direto em direção ao armário.

— Você pensou que poderia se esconder? Pensou que iria se esconder de mim?

Ele abre o armário e Denis não está mais ali.

— Não pode ser, não pode ser. Cadê você, pirralho? Onde você tá pirralho, maldito?

— PARADO OU EU ATIRO!

O segurança do hotel chega para impedir o homem após ter brutalmente assassinado sua esposa e ter tentado espancar seu enteado.

— Chame as unidades! Temos um homicídio no quarto 25!

A máscara caiu para aquele homem, mas o que poderia ter acontecido com Denis? Será que… O tempo o salvou?


OPENING:


 


   

EPISÓDIO 2:

“ACORDA”


 

Existem três coisas que não podem mais voltar: A flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Neste caso, Angélica foi a flecha lançada, ela foi a palavra pronunciada e, no pior das hipóteses… A oportunidade perdida.

Ela não sabia que a partir daquele momento… Sua ruína estava prestes a começar.

— Ai, querida! Você realmente bateu feio com a cabeça, até perdeu a noção do tempo.

— Espera, hoje é… Hoje é 8 de Outubro?

— Sim, querida. 8 de Outubro… De 1998.

Seus olhos ficam grandes, respiração acelerada. E fica ainda mais aflita ao olhar para um calendário na parede e ver o ano “1998” em letras grandes e bem legíveis.

— Não pode ser!

— Tá tudo bem?

— Não, não, tem alguma coisa errada. Vocês me drogaram, não é? Que tipo de droga vocês me deram?

— Querida, só te demos um sedativo… Talvez pelo impacto que você teve na cabeça, você acabou ficando assim.

— Não, eu preciso voltar pra casa! Para os meus amigos, eu…

— … Calma, você não pode se levantar.

— Não, me tira daqui! Me tira daqui!

Angélica começa a ficar descontrolada. Deise chama os guardas do hotel.

— Eu preciso de ajuda aqui! Ela tá descontrolada!

Os seguranças do hotel seguram ela com força. É o tempo suficiente de Deise pegar uma seringa com um sedativo.

— Segurem bem ela, segurem!

Os guardas a seguram para que Deise consiga aplicar o sedativo até deixar Angélica totalmente desacordada.

Horas depois…

Angélica já está acordada e contou para a enfermeira Deise e para os guardas tudo o que aconteceu com ela. Obviamente, eles ficaram a olhando como se ela fosse uma lunática.

— Então você tá me dizendo que você veio do ano 2023? E que veio pro hotel e quando acordou estava aqui em 98?

— Sim, é exatamente o que eu estou tentando dizer.

Deise e os guardas se olham um ao outro. Um deles argumenta.

— Olha, essa é a história mais idiota que eu já vi. Onde você encontrou essa maluca, Deise?

— Eu não sou maluca! Tudo o que eu disse é verdade! Estamos em 1998, significa que o presidente Fernando Henrique Cardoso acabou de ser reeleito. No dia 16 de Outubro, o presidente do Chile será preso no Reino Unido. No dia 11 de Setembro de 2001 ocorrerá um atentado nas torres gêmeas no World Trend Center, e ficará por décadas conhecido como o maior ataque terrorista da história. Em 2005, o furacão Katrina vai devastar Nova Orleans provocando mais de mil mortes, em 2008 vai haver uma epidemia de gripe suína, em 2020 ocorrerá uma das maiores pandemias da história da humanidade desde a gripe espanhola em 1918: O coronavírus… Como eu sei disso tudo? Porque eu vim do futuro, não sei como caralhos eu vim parar aqui, mas eu entrei pela porta daquele maldito hotel era 07 de Outubro de 2023 e agora estou em 08 de Outubro de 1998 e eu quero saber dos senhores… QUE PORRA TÁ ACONTECENDO AQUI?


ENFERMARIA DO HOTEL HILBERT, 08 DE OUTUBRO DE 2023, 12H45.

Daniela está deitada na maca sendo atendida por uma gentil enfermeira.

— Por sorte ela não se feriu ou coisa do tipo, vocês agiram rápido, meninos! Estão de parabéns!

Adrian responde:

— Não foi nada, doutora. Só queríamos o bem estar da nossa amiga.

— Ah, quanta gentileza sua, jovem. Mas não sou doutora, sou apenas uma simples chefe de enfermagem. Sou a Enfermeira Deise, muito prazer!

Sim, eu sei que vocês devem estar pensando: Duas enfermeiras Deise? Na verdade não, elas são a mesma pessoa. Mas dessa vez, Deise está com 53 anos e da mesma forma que ajudou Daniela há poucos minutos, ela também ajudou Angélica no passado, ou melhor, deve estar ajudando neste exato momento.


08 DE OUTUBRO DE 1998.

Deise está tentando assimilar tudo o que Angélica está falando.

— Isso não faz o menor sentido. Não tem como… Não existe esse lance de viagem no tempo, isso é loucura! Só existe nos filmes.

— É, eu também acredito que só exista nos filmes, olha… Cadê o senhor Hilbert? Chamaram ele?

— Ele já deve estar… Ah, olha ele aí!

— Oi, eu vim assim que pude. Essa é a moça por qual vocês falaram?

— Fala sério, esse não é o senhor Hilbert, o senhor que nos atendeu tem cabelos grisalhos e no mínimo uns 60 anos.

— Ow, está me ofendendo, senhorita. Tudo bem que eu já estou na meia idade, mas não é pra tanto. Prazer, sou Alfredo Hilbert, o proprietário deste hotel.

Mais uma vez o tempo está pregando uma peça.

— Puta merda! É você? Só que mais jovem.

— Bom, fiz 40 anos mês passado, mas não estou entendendo o motivo da minha idade ser pauta na discussão. O que tá acontecendo aqui?

— Essa garota tá dizendo que veio do futuro, Sr. Hilbert.

— Quê?

— Sim, de 2023. Ela disse que chegou ao hotel com três amigos e que o senhor os recebeu.

— Com todo o respeito, mas eu me lembraria de uma moça bela como você, se aparecesse na recepção.

— Esse é o problema! Não foi você que me recebeu, aliás… Não o você de agora.

— Eu não estou entendendo.

— Olha, eu preciso encontrar meus amigos, podem me ajudar?

— Ok e… Como ajudamos?


08 DE OUTUBRO DE 2023.

Daniela está começando a acordar, Adrian e Samuel ficam ali com ela.

— Ei, ei, você tá bem?

— Adrian?

— Pode falar, eu estou aqui.

— Me diz que foi um sonho que eu tive, por favor!

— Infelizmente não, Dani. Ainda estamos no hotel.

— Droga! A Angélica, ela…

Samuel responde:

— Nós não a encontramos em lugar nenhum.

— Será que ela… Pode estar viva? E saiu pra procurar a gente?

— Mesmo se ela tivesse, ela não teria saído do hotel.

— Irmão, talvez ela esteja no hotel e ainda não a encontramos. Faz o seguinte: Fica com a Daniela que eu vou dar uma volta no hotel pra dar uma olhada.

— Beleza, mano.

Samuel sai da enfermaria pra tentar procurar Angélica pelo hotel. Daniela continua a conversar com Adrian.

— Adrian!

— Oi!

— Me desculpa! Me desculpa por colocar vocês nessa situação.

— Ei, a culpa não foi sua. Fica tranquila… Olha, assim que você se recuperar… Vamos embora desse maldito hotel e nunca mais vamos voltar.

— Você promete?

— Prometo!

— Desculpa por ter sido tão chata.

— Eu também tenho sido chato, então… Estamos quites.

Daniela sorri com ternura. Enquanto isso, Samuel está procurando por Angélica, ele chega até a enfermeira Deise que agora chefia outras três enfermeiras dali.

— Com licença, enfermeira! Desculpa incomodar, mas eu acredito que talvez possa me ajudar, será que ontem à noite ou hoje pela manhã não apareceu alguma moça por aqui? Ela estava machucada, é morena, tem 26 anos, o nome dela é Angélica.

— Humm… Não, jovem. A única pessoa que recebemos aqui hoje foi só a tua outra amiga.

— Ah bom… Eu… Agradeço mesmo assim.

— Por nada, querido.

Samuel, desapontado. segue caminho. Deise para de caminhar e o chama.

— Espera!

— Algum problema?

— Essa tua amiga… Tinha um machucado na cabeça?

— Sim… Essa mesma, ela passou por aqui?

— Ai, meu Deus! Meu Deus! Então… Era verdade!

— Enfermeira, a senhora está bem?

A enfermeira Deise se escora na parede sentindo falta de ar.

— A senhora está bem? Quer que eu chame o médico?

— Não era invenção dela… Vocês são os garotos do futuro.

— Quê?


08 DE OUTUBRO DE 1998.

Alguns minutos se passam após a intensa conversa entre Angélica e as pessoas daquele hotel. Ela ainda com roupa de hospital, se levanta da maca e vai pra fora da enfermaria, ela ainda está um pouco fraca, mas consegue andar até chegar ao corredor que dá para o Hall de entrada.

Uma camareira está passando por ali, Angélica a vê e sente que reconhece essa mulher de algum lugar.

— Mamãe?

— O que disse?

— Vo… Você…

— … Olha, seria muita gentileza tua, mas não sou tão velha assim, querida. Acho que temos quase a mesma idade, mas poderíamos ser irmãs…

— Desculpa, é que eu…

— Não se preocupe. Eu também sou mãe, tenho uma filhinha de 1 aninho, o nome dela é Angélica. Veja só, eu tenho uma foto dela que eu sempre carrego no bolso do meu avental.

Aquela mulher mostra a foto e Angélica começa a chorar.

— Você está bem? Parece tão triste! Você… Tem filhos também?

— Não, não tenho, é que… A última vez que eu vi minha mãe… Eu discuti com ela feio, ela me proibiu de sair com meus amigos e eu fui mesmo assim.

=FLASHBACK= MANHÃ DO DIA 07 DE OUTUBRO DE 2023.

— Filha, por favor, eu imploro! Não vá sair com eles, a estrada está perigosa pra ir de carro.

— Ah mãe, cuida da tua vida! Não é porque você é amargurada que eu preciso ser também, é por isso que o papai te largou, ele nem aguentava uma velha chata como você.

A mãe de Angélica desce um tapa seco nela.

Angélica sem acreditar na atitude da mãe, faz gesto obsceno com o dedo pra ela e sai de casa.

— Vai pro inferno, mãe!

— Espera! Angélica! Angélica, não vá, filha! Angélica!

= FIM DE FLASHBACK=

— Escuta, se tua filha fosse adulta e ela tivesse feito alguma besteira, e depois se arrependeu… O que você faria?

— Uh! Essa me pegou! É difícil imaginar minha Angélica fazendo besteiras com 1 aninho de idade, mas… Eu diria que… Tudo bem errar, todos nós erramos, mas que ela nunca se esqueça do amor que eu tenho por ela. E eu vou passar dias e dias rezando pela vida dela, para que Deus a guarde, a proteja de todo o perigo… Mesmo se eu tiver velha e caindo aos pedaços, eu sempre vou amar o meu anjinho.

Angélica rompe a chorar, ela não está acreditando que está conversando com a versão mais jovem de sua mãe.

— Ei, ei, calma! Calma! Escuta, vou te ensinar um truque. Isso ajuda muito a gente, já que você disse que a última vez que viu a sua mãe, vocês tiveram uma briga feia. Então vamos fazer um jogo, faz de conta que eu sou tua mãe e aí você vai me contar tudo o que você tá sentindo.

Angélica, ainda chorosa, diz:

— Tá bom.

— Bom… Sou toda a ouvidos!

— M… Mãe! Eu… Eu sinto muito por ter sido tão teimosa, por ter sido tão egoísta todos esses anos, eu acho que eu não suportei o fato do papai nos abandonar e… Descontei em você toda a raiva que eu sentia. Mas a senhora não tem culpa, a senhora cuidou de mim sozinha sem ajuda de ninguém. Foi uma mulher forte, guerreira, batalhadora, nunca deu o braço a torcer. Escute bem… Não acredite se algum dia eu disser que você é uma fracassada, que você é incapaz… Você é muito melhor do que pensa, vai resistir a tudo! A tudo! O papai não merece a mulher que você é, não merece. E outra coisa… Se algum dia eu for querer sair de viagem com os meus amigos pra farrear, não deixa! Mesmo que eu implore! Que eu grite! Que eu berre! Não deixa eu sair de casa! Me tranca dentro do quarto se possível, mas não deixa eu sair… Eu te amo, mami! Me perdoa, por favor! Me perdoa!

Aquela mulher fica completamente emocionada e sente vontade de abraçar Angélica naquele momento.

Angélica a abraça tão forte que não quer mais se afastar daquele abraço, talvez aquela possa ser a última vez que ela vai ver a sua mãe estando em sua fase adulta. Ela não podia perder essa oportunidade.

Mesmo que ainda pra versão jovem de sua mãe, tudo pareça ser tão confuso… Pra Angélica tudo está claro como a água.


08 DE OUTUBRO DE 2023.

A enfermeira Deise está conversando com Samuel. Este se encontra incrédulo perante a tudo.

— Espera, tá dizendo que em 1998, uma mulher chamada Angélica apareceu aqui e disse que era do futuro?

— Sim, nós não acreditamos nela no início, claro. Ela parecia tão confusa, atordoada, mas eu vi que não havia oscilações em suas palavras, ela assegurava com firmeza o que dizia. Até pensei que ela poderia ser alguma atriz e estava tentando fazer uma pegadinha com a gente, mas… Hoje, 25 anos depois, eu percebo que eu era a tola. Ela falou exatamente o ano no qual ela entrou no hotel… 2023… Me lembro como se fosse ontem.

— Isso, isso não pode ser possível, não pode ser a mesma Angélica, amiga nossa.

— Espere um minuto! Vou te mostrar uma coisa.

Deise leva Samuel até um mural de fotos e notícias.

— Veja aquela imagem ali.

Em uma foto está escrito “Hotel Hilbert têm êxito com equipe de enfermagem como o único hotel da estrada a ter serviços médicos”.

— Veja aquela mulher ali do canto.

Samuel tira a foto do mural.

— Não, não pode ser. Só pode ser uma piada. É ela! É a Angélica!

— Olhe atrás da foto.

Ele vira a foto e tem uma data ali.

“09 de Outubro de 1998”.

— Meu Deus! O que… O que tá acontecendo aqui?

— Filho, seja lá o que esteja acontecendo, Deus trouxe vocês pra esse hotel por um motivo e cabe a vocês de tentarem descobrir.

Na sala onde Daniela está deitada na maca, Adrian está escorado na poltrona e de repente o celular de Daniela toca.

— Ai! Eu… Eu nem lembrava que eu estava com o celular.

Ela olha no visor do celular e fica com os olhos arregalados.

— Adrian! Adrian, acorda!

— O que foi?

— É a Angélica! A Angélica tá me ligando!

— Quê?

— Sim, é do celular dela, veja!

— Então atenda! Vai!

— Tá… Alô?

Oi, gata! Cadê vocês? Me deixaram plantada aqui.

— Ai, graças a Deus, Angélica! Onde você tá? Eu sinto muito, eu…

— … Estou aqui no ponto de ônibus, eu ia esperar em casa, mas a minha mãe estava um porre.

— Espera, você estava aonde? Angélica, você tá no hotel?

Amiga, você já tá fumando a essa hora? Eu disse que estou no ponto de ônibus, esqueceu que vamos curtir o melhor show de… Ah, estou vendo vocês. Nossa, pensei que não iam chegar nunca. Oii!!

Adrian e Daniela continuam ouvindo a ligação.

Amiga, por que não esperou em casa?

— Como assim? Eu estava falando com você agora pelo celular.

— Quê?

— Estou falando sério.

Ouve-se a voz de Samuel.

As gracinhas já estão de porre, mano. Que loucura!

— Cala a boca, Samuel! Droga, esqueci de desligar a ligação.

A ligação é desligada, Adrian e Daniela ficam completamente extasiados e ambos exclamam:

— QUE PORRA FOI ESSA?

Enquanto isso, Samuel continua a conversar com a enfermeira Deise.

— Se a Angélica está no passado, como ela estava com a gente ontem? Isso não faz sentido nenhum.

— Não faz sentido mesmo. Não fazia pra a gente em 98, me culpo hoje por termos rido dela e acharmos que ela era uma lunática e agora que estou aqui… Percebi que é verdade.

— Mas a pergunta agora é… Como a Angélica viajou no tempo?

Na enfermaria, Daniela e Adrian continuam intrigados.

— Você ouviu aquilo? Era como se ela tivesse falando com a gente no dia que saímos de casa.

— A voz do homem era do Samuel, será que esses dois não estão fazendo uma pegadinha com a gente?

— Mas e a outra voz, Adrian? A que se parece com a minha?

— Eu não sei, tem alguma coisa errada.

Um trovão corta o céu assustando a eles.

— Merda! Vai chover de novo. Escuta, Dani… Fica aqui se recuperando, eu vou lá em cima de novo e vou procurar a Angélica. Com certeza ela deve estar precisando de ajuda.

— Vai me deixar aqui sozinha?

— O Samuel já deve tá voltando. Eu não demoro.

— Tá bom. Mas volta logo!

Adrian sai da enfermaria pra procurar Angélica, mas o que acabou de acontecer aqui? Pelo que sabemos, Angélica está em 1998, então… Como essa ligação pode ter sido possível? Um curto espaço de tempo no passado se manifestou nas linhas telefônicas? Ou será que o tempo está mais uma vez jogando conosco?


08 DE OUTUBRO DE 1998.

Angélica e sua mãe mais jovem estão sentadas conversando no banco do hotel.

— Então, quanto tempo trabalha aqui no hotel Hilbert?

— Ah, tem uns 6 anos. No começo fiquei um pouco receosa em trabalhar aqui, ouvi histórias bizarras desse hotel.

— Que tipo de histórias?

— Dizem que em 1983, um homem matou a esposa em um dos quartos do hotel e depois tentou matar o próprio enteado de 12 anos com um machado.

— Meu Deus, que horror!

— Sim e isso não é o mais bizarro.

— O que é então?

— O enteado desse homem que surtou nunca foi encontrado. Simplesmente desapareceu da face da Terra, foi como se tivesse sido engolido por um buraco.

— Meu Deus!


08 DE OUTUBRO DE 2023.

No corredor do quarto onde os jovens estão hospedados, Adrian mais uma vez vai até o quarto 23 e quando se aproxima, um homem o chama no final do corredor.

— Adrian!

— Desculpa, eu… O conheço?

O homem tem por volta de 30 e poucos anos, cabelo liso castanho e barba por fazer, físico normal.

— No momento não é importante você saber quem eu sou, chegará o momento certo de nos conhecermos, mas não será agora.

— Do que você tá falando? Como sabe o meu nome?

— Você quer encontrar a tua amiga, não é?

— O quê? Como sabe da Angélica?

Lá fora, trovoadas começam a ressoar, as luzes ficam piscando com o início da tempestade elétrica que está por vir.

— Escuta, vai para o quarto 21.

— O quê?

— Quer encontrar a tua amiga, não é? Ela está no quarto 21.

— Isso não pode ser possível. Angélica! Ange…

Adrian olha pela fresta da porta e vê que o quarto está brilhando.

— Mas… Que porra é essa?

— Eu sinto muito, Adrian… Mas esse é o único jeito.

— Espera, do que você tá falando?

— Abra a porta!

— Quê?

— DEPRESSA! ABRA A PORTA!

Adrian abre a porta do quarto 21, as partículas de luz estão no local.

— Meu Deus, o que é isso?

— Nos veremos em breve, Adrian… No futuro.

A luz no quarto implode e Adrian desaparece. O homem misterioso vai até o quarto e encosta a porta novamente para que ninguém desconfiasse. Quem é este homem? Como ele conhece o Adrian e a Angélica?

HALL DE ENTRADA DO HOTEL HILBERT, 14H40.

Vemos alguém dando passos pequenos no hall de entrada e pelo seu ponto de vista, está o Sr. Hilbert de costas no balcão. A pessoa fica cada vez mais próxima dele até que enfim ouvimos um…

— Moço!

Hilbert vira para ele:

— Pois não? O que deseja?

A pessoa em questão se trata do garoto Denis.

— Eu acho que… Preciso de ajuda.


 

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