As conexões entre o passado, presente e futuro ainda podem ser uma incógnita para muitas pessoas. Talvez vamos morrer sem descobrir qual o verdadeiro conceito do tempo. Quem veio primeiro? O ovo ou a galinha? Tudo o que está relacionado ao tempo é um paradoxo que a física tenta explicar até hoje.

Ás vezes é necessário uma ativação como foi o caso do portal que se abre no quarto 21 em toda vez que um fenômeno da natureza acontece. Ás vezes acontece através de um telefonema em que você consegue se comunicar com alguém no passado ou no futuro.

Mas como explicar a presença do Denis adulto em todas essas épocas? Se ele realmente veio de 2044 como disse, por que ele está aqui? Qual o papel dele nessa história?


BALCÃO DA RECEPÇÃO DO HOTEL HILBERT, 07 DE OUTUBRO DE 2023, 22H20.

Os 4 jovens entram no hotel completamente afoitos e ensopados, Hilbert olha para o relógio que marca 22h20 e dessa vez, já sabe exatamente o que fazer.

— Boa noite, bem vindos ao Hotel Hilbert! Em que posso servi-los?

Talvez essa seja a hora de conectarmos tudo o que há em nossa volta.


ESCRITÓRIO DO HOTEL HILBERT, 07 DE OUTUBRO 2023- 7 HORAS ANTES.

Adrian, o senhor Hilbert e o Denis do futuro continuam conversando no escritório. Hilbert fica um pouco decepcionado por ele ter escondido tamanha informação.

— Por que não me contou antes que você era o garoto? Eu fiquei esses dias sem dormir pensando em quem poderia ser você.

— Eu peço desculpas, senhor Hilbert, mas foi necessário. Se eu contasse antes, não iria funcionar como eu estava planejando. Foi por isso que eu precisei ir até o momento em que Adrian estaria no corredor para eu pedir pra ele abrir a porta do quarto 21, pois era o momento exato da tempestade elétrica e ele voltaria no tempo um dia antes para termos essa conversa que estamos tendo hoje.

Adrian pergunta:

— Espera, já tivemos essa conversa antes?

— Sim, mas não da mesma forma. Sempre um elemento novo aparece na linha do tempo, você não se lembra dessa nossa conversa, mas no próximo ciclo você provavelmente vai se lembrar. Todos nós caímos em um loop temporal que fica se repetindo e ainda estou tentando encontrar a exatidão de quando isso começou.

— Um loop temporal? Então a gente vive os mesmos dias todos os dias?

— Tecnicamente. Porém o loop de vocês dura apenas alguns dias, o meu dura 21 anos.

— 21 anos?

— Sim, ainda mais levando em consideração que eu fui o único que veio de uma época completamente diferente e cresceu aqui. Eu nasci no ano de 71, era pra eu estar com 53 anos hoje se eu tivesse continuado a viver minha vida normal, mas no dia que o desgraçado do meu padrasto tentou me matar, eu atravessei o portal e vim parar em 2023 com 12 anos de idade, eu fiquei nessa dimensão por 21 anos e só consegui voltar graças ao Dr. Hernandez.

O Sr. Hilbert pergunta:

— Dr. Hernandez? Quem é esse?

— Um cientista muito habilidoso que vai construir uma cápsula do tempo em 2044. Na verdade, ele começou a desenvolver essa máquina este ano de 2023 com seus 30 e poucos anos. Em 2044 ele será o primeiro cientista brasileiro a criar uma máquina do tempo que permite você viajar exatamente onde quer.

Adrian tentando assimilar tudo, pergunta:

— Então foi por isso que você apareceu pra mim no dia 08 e no dia 07 de Outubro de 2023, não é?

— Exatamente. Está vendo esses braceletes? Eles servem como um canal que conecta à cápsula do tempo. Como ela não existe em outras épocas, com o bracelete você consegue escolher o momento que você quer viajar sem precisar entrar na cápsula.

— Então se utilizarmos essa coisa… Podemos viajar no tempo e salvar a Angélica?

— Sim, podemos. E aliás, eu quero levar você para o futuro, Adrian. Quero que conheça pessoalmente o Dr. Hernandez em 2044. Mas antes você precisa fazer uma coisa aqui, precisamos deixar a linha do tempo seguir o seu percurso normalmente. Você e seus amigos precisam vir para o hotel esta noite para que tudo ocorra dentro do loop temporal sem alterações. Após isso, vou levar você para o futuro e lá vamos pensar em um plano de quebrar esse loop temporal e voltarmos às nossas vidas novamente.

Adrian apesar de um pouco desconfiado, entende que é necessário que isso aconteça.

— Tudo bem, eu topo.

— Ok. Senhor Hilbert, preciso que me passe o número do teu celular, enquanto eu estiver nessa época, vou me comunicar com o senhor por mensagem.

— Tudo bem. Estou de acordo.

E novamente o tempo está mostrando o quão ele pode ser traiçoeiro. Eles agora terão que lidar com um loop temporal desconhecido e que talvez nunca consigam sair dele.


 

OPENING ESPECIAL:

 



EPISÓDIO 4:

“LIGAÇÕES”


 

ENFERMARIA DO HOTEL- 08 DE OUTUBRO DE 2023, 18h.

Daniela está bem melhor agora e já está pronta para deixar os estabelecimentos da enfermaria do hotel, mas algo ainda a preocupa.

— Samuel, estou preocupada que o Adrian ainda não voltou.

— Eu também estou preocupado. Toda essa parada de viagem no tempo tá dando um nó no meu cérebro.

— É tão bizarro isso, a Angélica está exatamente no ano em que eu nasci. Isso é muito estranho.

— Sim… Mas o que a gente faz agora? Não vão deixar ficarmos nesse hotel por mais uma noite sem pagar.

Eles ouvem uma voz.

— Não precisam se preocupar, a diária de vocês já está paga.

Mais uma vez, o Denis do futuro aparece pra eles. Dessa vez Samuel fica bem incomodado e prensa-o contra a parede.

— Seu desgraçado! Vai nos contar que porra é essa e quem é você agora!

— Ei, calma aí, cara! Eu estou tentando ajudar.

— Porra nenhuma! Cadê o Adrian e a Angélica?

— Calma, vocês verão eles de novo, mas antes preciso mostrar uma coisa pra vocês dois.

REFEITÓRIO DO HOTEL HILBERT, 08 DE OUTUBRO DE 2023, 18H10.

Denis leva os jovens ao refeitório e de longe apontam para a versão criança dele que está sentado em uma das cadeiras lanchando.

— Tá vendo aquele moleque ali? Aquele sou eu mais jovem.

Samuel, incrédulo, pergunta:

— Quê? Tá chapado, né?

— Quer acredite ou não, aquele garotinho ali sou eu. Eu passei pelo portal em 1983 quando meu padrasto matou a minha mãe e tentou me matar. Odeio ficar repetindo essa história tantas vezes, mas sempre eu preciso contar pra novas pessoas, então…

Daniela interrompe.

— Se aquele é você, então por que o você de agora está aqui?

— Eu também faço parte desse loop temporal, meus amigos. Assim como vocês, eu também estou preso. Fiquei aqui nessa dimensão por 21 longos anos.

— Quê? Como assim 21 anos? Não conseguiu voltar pra sua época?

— Não até a minha fase adulta. Mas eu terei tempo de explicar isso tudo pra vocês em uma outra ocasião. Vou me encontrar com o Adrian no passado daqui há algumas horas e preciso que vocês tenham muita paciência… Poderão continuar hospedados no hotel no mesmo quarto, já falei com o senhor Hilbert a respeito.

— Por que tá fazendo isso? Por que tá ajudando a gente?

— Ninguém me ajudou em 83. Eu tive a sorte ou o azar, diga-se de passagem, de entrar no portal e vir pra essa época. E eu, assim como vocês, estou tentando consertar tudo. Eu quero muito sair desse loop e ter uma vida normal. Eu sei que vocês também querem isso, por isso preciso muito da colaboração de todos vocês… De vocês 4 e do senhor Hilbert. Juntos poderemos descobrir como o buraco de minhoca foi criado e arrumar um jeito de destruí-lo. Se ele for destruído, não terá viagem no tempo e talvez muitas vidas sejam poupadas… Talvez eu devesse realmente ter morrido em 83 juntamente com a minha mãe, acho que teria sido bem melhor assim… Bom, podem voltar aos seus aposentos ou passear pelo hotel, eu ainda preciso… Ter uma conversa comigo mesmo.

Os garotos saem dali.

Após alguns minutos, Denis se aproxima de sua versão criança pra conversar.

— Está gostoso o lanche?

— Hum? O senhor é aquele moço?

— Sim, sim. Não se preocupe, eu só vim conversar… Eu fiquei sabendo do que aconteceu com você.

— Soube?

— Sim… Eu sinto muito pela tua mãe…

— Hum…

Ele olha triste para o chão e depois levanta o olhar para o Denis adulto de novo.

— Deus me odeia?

— O quê?

— Se Deus me odeia tanto assim pra… Ter levado o meu pai e minha mãe? Por que ele não me levou também?

O Denis adulto tenta segurar a emoção, por mais duro que ele seja, aquele é um momento bem complicado pra ele. O Denis criança continua:

— Na quarta série eu era o único da minha turma que não tinha um pai, até era zoado na escola porque eu gostava dos…

—… Dos Beatles!

— Como sabe disso?

— Uma leve intuição.

— O senhor também gosta deles?

— Claro que eu gosto! E todo mundo na tua época gostava, aqueles garotos eram uns idiotas.

— Eu falava isso pra minha mãe e ela sempre falava:

(Os dois repetem a mesma frase ao mesmo tempo)

Enquanto você estiver morando debaixo do meu teto, não quero ver você falando esse tipo de palavreado”.

Denis (criança) arregala os olhos ao ver que sua versão adulta recitou a mesma frase que ele.

— O senhor parece triste…

— Eu só estou… É que… Eu também perdi alguém, sabe?

— Perdeu?

— Sim… Eu tinha a tua idade quando meu papai e minha mamãe me deixaram.

— E como o senhor ficou?

— Péssimo! Achei que minha vida fosse desabar. Mas sabe de uma coisa? Isso me tornou um homem mais forte hoje. Aprendi a lidar com tudo isso, talvez hoje você não entenda, mas tudo isso que aconteceu contigo será combustível de energia pra você enfrentar as dificuldades quando for maior.

— Então será que algum dia eu serei tão forte e corajoso como o senhor?

— Como eu não. Você será muito mais! E ninguém! Ninguém nessa vida vai voltar a tentar te machucar de novo… Eu prometo!

— Promete?

— Sim, de dedo mindinho e tudo.

— Obrigado, moço!

O Denis criança pula nos braços do Denis adulto, este último o abraça e está completamente emocionado. O Denis criança completamente confortável em estar abraçado à sua versão adulta diz:

— O teu abraço é tão quentinho… Lembra muito o abraço do meu pai.

O Denis adulto não consegue mais segurar e as lágrimas rolam sem parar. Todas as suas lembranças voltando à tona, mas pela primeira vez, ele pode encontrar aconchego com ele mesmo, com a criança frágil e cheia de incertezas que ele foi um dia.

Imagine se pudermos fazer isso conosco? O que você faria se encontrasse com sua versão mais jovem? Que conselho de vida você daria para ela?

BALCÃO DA RECEPÇÃO DO HOTEL HILBERT, 07 DE OUTUBRO DE 2023, 21h27.

Adrian chega até o Sr. Hilbert no balcão pra conversar com ele.

— Escuta, senhor Hilbert. Confia mesmo nesse Denis?

— Olha, filho. Até o ciclo passado eu não acreditei, mas depois que eu vi as coisas se repetindo, percebi que ele falava a verdade.

— Tá, mas e se eu tentar impedir que a minha versão mais jovem em um dia venha pra cá? Tipo… Se eu tentar entrar em contato com ele e dizer pra ele não vir pra cá? Talvez isso quebre o loop, não?

— Eu não sei se isso iria funcionar. Veja só lá fora, tá querendo chover!

— Merda! Então não temos muito tempo. Sr. Hilbert, eu posso usar o teu telefone fixo?

— Claro, fique a vontade.

— Eu vou tentar uma coisa.

Adrian disca um número e aguarda chamar. No carro em plena estrada, o celular do outro Adrian toca.

— Ora, ora, um número de Minas, quem será?

Daniela alerta:

— Cuidado com o celular no trânsito, garotão.

— É rapidinho. Alô?

A outra versão de Adrian o responde.

— Alô? Adrian?

— Sim, é ele.

— Escuta, não sei como te dizer isso, mas eu sou você.

— Quê?

— Eu viajei no tempo quando chegamos no Hotel Hilbert com a galera, me escuta…

— Não, não, mano, “pera”… Meu nome é Adrian e eu tô no carro com meus amigos e…

— … Sim, eu sei. Mas eu sou você no passado.

— De que porra tu tá falando, mano?

— Adrian, escuta! Não pare em nenhum hotel, segue o caminho reto.

— Olha, bro, eu não sei qual erva você cheirou, mas guarda um pouco pra mim depois que eu voltar de São Paulo, beleza?

— Mas que porra, Adrian! Escuta o que eu tô te falando, não entra no hotel!

— Tá, tá, vai se foder você também. (Desligando o celular).

Daniela questiona:

— Quem era?

— Um maluco tentando passar trote! Deve tá chapado.

— Adrian e seus agiotas.

— Que porra de agiota? Tá maluca, é?

No Hotel Hilbert, Adrian desliga o telefone furioso.

— Mas que teimoso! Agora eu entendo quando me chamam de babaca às vezes.

— Alguma melhoria?

— Nenhuma! O meu outro eu não quis me escutar, eles vão chegar aqui em 40 minutos.

— Não temos outra solução, o Denis disse que devemos seguir exatamente como é pra acontecer.

Denis chega até o balcão.

— Adrian!

— Olha só, falando no diabo…

— Os teus amigos estão bem… Daniela e Samuel. Logo você vai voltar a vê-los.

— Eu quero é que toda essa merda acabe.

— Acredite, eu também quero isso. Bom, senhor Hilbert, um casal com uma garotinha vai chegar às 22h procurando um quarto, temos uma vaga disponível, mas o senhor vai falar que já foi preenchida.

— Quê? Não posso perder clientes assim.

— Faça o que eu estou te pedindo, Sr. Hilbert.

— Espera, agora eu estou me lembrando… É um casal com a garotinha que tem reumatismo no sangue, não é?

— Esses mesmo. O senhor vai dizer que não tem vaga e eles vão embora.

Adrian opina:

— Espera um pouco, por que não deixa eles entrarem? Se eles ocuparem a vaga do quarto, meu outro eu e meus amigos não vamos entrar neste hotel e ninguém vai viajar pelo tempo.

— Eu já deixei que o senhor Hilbert permitisse a entrada deles uma vez e acredite… O tempo se encarregou de consertar isso rapidinho.

— Como assim?

O teu carro virou com os seus amigos na estrada molhada, todos vocês morreram.

— Quê?

— Agora entende por que a gente não pode mudar nada nas primeiras horas do ciclo?

— Então se eu morrer agora, eu volto exatamente de onde?

— Não sei, mas acredito que seja da parte que você está na estrada com os teus amigos.  Mas nem se atreva a morrer agora, precisamos de você. Bom, Sr. Hilbert, vamos ficar por ali, os garotos estão chegando. Haja naturalmente.

— Pode deixar.

Denis pede pra Adrian acompanhá-lo.

— Eu espero que essa tua ideia realmente seja boa.

— Vamos ficar escondidos aqui e eu vou te mostrar tudo, Adrian.

E assim como o previsto, 40 minutos se passaram e são exatamente 22h20. Os garotos chegam à recepção e estão conversando com o Sr. Hilbert. Adrian os observa juntamente com Denis e ele fica completamente incrédulo por estar vendo ele mesmo em uma diferença de horas.

— Meu Deus… Então era verdade? Espera, eu agora estou me lembrando de algo, por isso que eu perguntei para o Sr. Hilbert da chave do quarto 21, porque eu já…

— … Já tinha visto isso antes. Exatamente.

— Puta merda! Quantas vezes isso já se repetiu?

— Não sei, talvez umas 5 ou 6 vezes, mas nunca sabemos que tá se repetindo nas primeiras vezes, como o meu loop é o mais longo, tive mais tempo de investigar.

— Caralho… Olha, eles estão subindo!

— Cuidado, eles não podem te ver. Eu nem sei o que poderia acontecer se dois Adrians da mesma faixa etária se encontrassem justamente agora.

HOTEL HILBERT, QUARTO 23, 08 DE OUTUBRO DE 1998, 23H.

Angélica está no quarto 23 e agradece à Deise.

— Muito obrigada, enfermeira Deise. É muita gentileza me deixarem ficar no quarto, pelo menos até resolver toda essa parada de viagem no tempo.

— O senhor Hilbert é um homem de bom coração. A propósito, amanhã de manhã venha me ajudar com as crianças, vai ter uma palestra de educação infantil na enfermaria e você seria perfeita pra nos ajudar.

— Bom, é o mínimo que eu posso fazer. A minha cabeça ainda está meio fora do lugar, mas eu vou sobreviver.

— Claro que vai, querida. Boa noite!

— Boa noite, Deise!

Angélica fica sozinha naquele quarto, ela olha para o chão e se lembra que aquele foi exatamente o local onde ela caiu e bateu com a cabeça em 2023.

— Espero que vocês consigam resolver isso logo. Estou com muitas saudades.

HOTEL HILBERT, 2º ANDAR, 07 DE OUTUBRO DE 2023, 23H40.

Adrian e Denis estão no 2º andar do hotel conversando.

— Escuta, o que a gente vai fazer agora? Eu não posso ficar aqui o tempo todo sem ser visto.

— Calma, você vai vim comigo, não pode passar a noite aqui.

Quando Denis dá as costas, Adrian olha no celular e vê o horário.

— Merda! Merda, é agora!

Adrian corre imediatamente para o corredor e vai em direção ao quarto 23. Do lado de dentro, Daniela está ameaçando se cortar com um estilete.

— Eu estou cansada… Vou dar um fim em tudo isso.

Ao pronunciar a última frase, Adrian começa a bater na porta. Após bater, ele tenta girar o trinco. Lá dentro, a outra versão dele e seus amigos ficam em silêncio. Denis aparece no corredor.

— Adrian? O que você tá fazendo? Sai daí!

— A Daniela vai se matar, eu lembro que ela tenta se cortar com um estilete.

— Deixa de ser burro! Se eles te verem, vai dar uma tremenda bagunça na linha do tempo. Venha agora comigo!

— Ah droga!

Os dois andam um pouco no corredor.

— Eu deveria ter vindo antes pra impedir a briga, ou pelo menos você, já que eles não sabem quem é você.

— Você é surdo ou é burro de nascença? Eu disse pra você que não pode interferir no…

A porta do quarto 23 se abre.

— Merda! Se esconde, se esconde.

O outro Adrian sai na porta e olha para um lado e para o outro no corredor. Denis e o Adrian atual ficam no canto da parede.

— Essa foi por muito pouco. Nem sei o que seria se eles te vissem agora.

Naquele momento, Adrian percebeu que foi ele mesmo que impediu que Daniela se cortasse naquela noite.

— Denis, essa é a hora que a gente vai entrar no quarto 21 pra deixar o corpo, bom, o que a gente achava que era o corpo da Angélica lá dentro.

— É, eu sei. Mas você não vai querer ficar aqui pra ver isso de novo. Temos um outro plano agora. Coloque esse bracelete.

— Mas pra quê isso?

— Já digitei o ano e a data certa, agora fique parado e segure a minha mão.

— O quê? Pra quê isso?

— Vamos para o futuro, garoto!

Uma luz começa a brilhar ao redor deles dois, Adrian fica um pouco assustado a princípio até que essa luz implode e eles desaparecem.

E assim como deveria acontecer, tudo se repetiu. Os garotos levaram Angélica para dentro do quarto e a colocaram dentro do armário.

Os três imediatamente retornam ao quarto e começam a limpar qualquer mancha de sangue ou qualquer outra coisa que possa incriminá-los. Eles pegam todos os seus entorpecentes e todas as drogas que tinham escondido e jogam dentro da privada dando descarga.

Já passa da meia-noite, a chuva continua muito forte. Daniela está deitada na cama de casal enquanto Adrian e Samuel estão nas duas camas de solteiro. Ambos estão inquietos e com o olhar de terror, não conseguem dormir por mais que tentassem.

Lá fora, uma tempestade elétrica ameaça a região. Enquanto relâmpagos fortes são ressoados, voltamos novamente para o quarto 21, de dentro do armário onde está o corpo de Angélica, pequenas partículas brilhantes começam a surgir, não dá pra explicar direito o que pode ser isso, mas as partículas começam a aumentar iluminando o armário.

Era possível ver o feixe de luz pela parte de baixo da porta do quarto se alguém estivesse passando pelo corredor, então um trovão corta o céu e aquela luz brilhante que envolvia o quarto implode e depois desaparece. No relógio de parede do Sr. Hilbert marca 00h21.

SALA DO TEMPO, 09 DE OUTUBRO DE 2044, 00H25.

Partículas de luz se formam naquela sala, até que Adrian e Denis aparecem.

— Meu… Meu Deus, que porra foi essa?

Naquela sala, um senhor já estava a espera deles.

— Boa noite! Enfim nos conhecemos pessoalmente… Adrian!

— Quem é o senhor?

— Sou o doutor Hernandez, responsável pela criação da cápsula do tempo. Esta que se encontra atrás de você.

— Caramba! Então ela existe mesmo? Como que, como que o senhor construiu ela?

— Longos 21 anos de construção e mais uns 8 anos só de pesquisa. Vamos colocar uns 30 anos aí.

— Meu Deus! Nunca pensei que isso poderia um dia acontecer aqui no Brasil.

— Adrian, agora que conheceu o Dr. Hernandez. Precisamos conversar sobre o nosso plano.

— Tudo bem, pode falar.

— Primeiramente, amanhã de manhã vamos retornar a 2023 e certificarmos que seu outro você e seus amigos vão sair como combinado pra tentar fugir. Após isso acontecer, o você de agora vai desaparecer e sua linha do tempo vai seguir normalmente.

— Quê? Como assim eu vou desaparecer?

— Não entra em pânico. Essa tua matéria de agora desaparece, mas você vai se lembrar do momento em que você estiver na estrada e ver que ela está bloqueada.

— Um raio cai na árvore e bloqueia a estrada, é isso?

— Sim, essa será a tua deixa. Mas dessa vez você vai voltar ao hotel e vai se lembrar de tudo isso que estamos conversando.

— Tá, mas e depois? Como eu vou contar para os meus amigos?

— O senhor Hilbert vai segurar a estadia de vocês até o dia 10 de Outubro onde termina o ciclo de vocês.

— Onde termina o nosso ciclo? Como assim?

O doutor Hernandez responde:

— Dia 10 de Outubro será o dia do terremoto.

— Quê?

Denis ressalta.

— Vai acontecer um terremoto naquela região na madrugada do dia 10 de Outubro de 2023, Adrian. Esse terremoto vai matar a todos, inclusive você e seus amigos.

— Só pode ser uma piada! Não existe terremoto no Brasil!

— Também não existia máquina do tempo e veja onde estamos.

— Não! Se esse era o plano o tempo todo, por que não contou antes?

— O senhor Hilbert não podia saber.

— Espera, ele não sabe desse terremoto?

— Claro que não, nós não podemos contar isso pra ele antes, ele precisa manter as coisas como estão até o dia do terremoto. Ele não sabe… Mas o senhor Hilbert e o meu eu de 12 anos foram os únicos que caíram no loop temporal daquele hotel a sobreviverem ao terremoto. Todos os outros, inclusive você vai morrer.

— E toda aquela porra de querer consertar as coisas? Vai querer consertar nos matando?

— Essa é a parte interessante da história, Adrian. Depois que o terremoto acontecer, o tempo reinicia e tudo volta da estaca zero pra vocês. Lembra quando eu disse que o portal do quarto 21 só é ativado quando um fenômeno natural acontece? Então… Neste dia, podemos viajar e tentar impedir que um novo ciclo comece, vamos tentar descobrir onde está a origem do buraco de minhoca.

— Mas… Mas…

O doutor Hernandez complementa.

— Por causa do terremoto, o deslocamento das placas tectônicas vai causar uma pressão ainda mais forte no buraco de minhoca, se conseguirmos entrar nele no momento do terremoto, a gente pode encontrar o centro de tudo e destruir o portal.

— E se não encontrarmos? Quem garante que vamos encontrar o centro de tudo?

— Precisamos arriscar, Adrian. E para isso, eu vou propor que você faça algo que ainda não aconteceu dentro desse loop.

— O quê?

— Quero que vá pra 1981 se encontrar com o meu pai e dizer a ele que eu o amo muito. Eu iria pessoalmente, mas não terei coragem de fazer isso. Em troca, eu vou buscar a Angélica em 98, depois trazer os teus outros amigos pra cá e esse será o nosso ponto de encontro. Vamos todos nos reunir aqui em 2044 e discutir como retornaremos ao passado pra destruir aquele maldito portal e quebrarmos esse loop para sempre… Combinado?

Adrian não tem outra saída, mas ele pensa que se é para o bem maior, vale a pena o risco.

— Tudo bem, eu aceito.

— Ótimo! Vai passar a noite aqui em 2044, pela manhã voltaremos.

E foi exatamente assim que aconteceu, amanhece o dia e Denis usa o bracelete para ir até 1998 às 11h33. Este é o momento exato em que Angélica acorda no quarto 21 após ter viajado no tempo.

Denis do lado de fora do corredor, pega uma chave e destranca a porta. Angélica de lá de dentro chama pelo Adrian e em seguida Denis sai dali para não ser visto.

Após isso, Denis retorna para buscar Adrian e ambos vão para 2023 do dia 08 de Outubro no momento em que a outra versão do Adrian e seus amigos estão tentando sair do hotel. Adrian e Denis ficam escondidos atrás da pilastra os observando e escutam quando o Sr. Hilbert pergunta:

— Vocês não eram 4? Onde está a outra moça?

Adrian cutuca Denis.

— Droga, o Hilbert vai descobrir eles, inventa uma desculpa, avisa ele.

— Espera, vou mandar uma mensagem pro celular dele.

Enquanto o outro Adrian e Daniela estão tentando arrumar uma desculpa para sair, Hilbert recebe uma mensagem de texto do Denis em seu celular:

“Eles estão mentindo, mas finja que você acreditou, diz que eu que abri a porta pra eles à noite”.

Hilbert entende o recado e tenta entrar na onda dos garotos fingindo acreditar neles, após a conversa eles decidem sair apressados. O telefone da recepção toca.

— Hotel Hilbert, bom dia!

— Sou eu, o Denis. Eles conseguiram mesmo sair?

— Estão saindo!

— Todos eles?

— Não, só três.

— Ótimo! Aguarde meu retorno.

Adrian pergunta:

— E aí, deu certo?

— Sim, você e seus amigos saíram, eles vão topar com aquela árvore na estrada e tudo vai voltar ao normal e seguir a linha do tempo. Após você desaparecer, o universo vai apagar o dia de hoje e dar continuidade a partir do dia 09 de Outubro.

— Quê? Como assim apagar o dia de hoje?

— Sei lá, pergunte ao universo. A propósito, tuas mãos estão sumindo.

— Quê? O que tá acontecendo?

— Você tá sendo apagado, mas relaxa. Você vai voltar no dia 09 de Outubro de 2023 e vai se lembrar de tudo isso. Bons sonhos, Adrian!

— Esper…

E como o próprio Denis disse, aquele Adrian desapareceu. Em questão de segundos o universo tratou de corrigir essa pequena brecha no tempo, foi como se todos esses acontecimentos estivessem em uma fita cassete e está sendo passada pra frente. Os garotos voltando, Daniela passando mal, indo pra enfermaria, tudo sendo passado pra frente em velocidade rápida até que tudo fica somente um clarão, nada além de um clarão.

Esse clarão começa a se dissipar e vemos Adrian caído no corredor do hotel. Ali estão Daniela e Samuel tentando acordá-lo.

— Adrian! Adrian! Acorda!

Adrian começa a despertar, ele fica confuso a princípio, mas depois quando reconhece os amigos, seus olhos brilham.

— Vocês estão aqui?

Daniela diz:

— Você foi pro passado e agora tá aqui de novo.

— Ai, meu Deus! Como é bom ver vocês de novo!

Os três se abraçam e dessa vez todos eles já estão cientes da viagem ao tempo.

ENFERMARIA DO HOTEL HILBERT, 09 DE OUTUBRO DE 1998, 15H32.

Uma palestra de educação infantil está sendo encerrada ali, alguns membros da imprensa estão cobrindo a reportagem no local. Ao terminar, eles pedem para o corpo de enfermeiros, os médicos, o senhor Hilbert e todos que trabalham no Hotel se posicionassem para uma foto.

Deise vê Angélica no canto e fala:

— Angélica, venha você também!

— Ah, é melhor não. Eu nem trabalho aqui.

— Não seja boba, venha! Você é uma de nós também.

— Ah tá bom, tá bom.

Angélica se junta a eles e a foto é tirada. Aquela mesma foto por qual a Deise do futuro mostrou para o Samuel.

Angélica, após tirar a foto, pega o seu celular e vê que ele descarregou.

— Droga! Enfermeira Deise… Por acaso você não tem um carregador por aí, né?

— Pra esse tipo de celular não. A propósito ele é muito bonito, não sabia que tinha desse modelo.

— Droga! Eu esqueci que não existia Iphone nessa época, o que eu faço agora?

— Algum problema?

— Queria me comunicar com meus ami… Espera, vocês já tem internet, né?

— Sim, nós temos.

RECEPÇÃO DA ENFERMAGEM, 09 DE OUTUBRO DE 1998, 15H45.

Angélica está no computador da recepção da enfermagem, na tela do monitor está escrito Windows 95. Ela resmunga dizendo:

— Sério, gente? A versão 98 já saiu, por que vocês não atualizam isso?

— Precisamos de autorização pra mudar. E a internet é só você clicar ali e ligar o modem.

Angélica realiza o procedimento e passa cerca de 10 minutos pra internet conectar, é aquela internet discada que fazia aquele barulho insuportável que qualquer pessoa que viveu nos anos 90 deve se lembrar.

— Nossa, mas que lerdeza! Essa internet não vai conectar nunca?

— Lenta? Essa é a internet mais rápida daqui da região.

— Mais rápida? Ai que saudades da minha internet de fibra óptica!

— Fibra óptica? O que é isso?

— Ai, esquece, Deise! Ah! Conectou, glória a Deus! Vamos lá!… Barra de pesquisas… E… Ai puta merda, vocês ainda não tem g-mail, socorro!

— O que seria g-mail?

— Ai, Deise! Como você conseguiu viver nessa época, amada?  Você tem algum e-mail?

— Não. Mas tem o e-mail do hotel, é a conta da yahoo.

— Então eu entro com o login, vou tentar mandar um e-mail por essa conta e torcer pra que chegue no meu e-mail em algum lugar desse universo.

Minutos depois, Angélica consegue enviar o e-mail. Curiosamente quem recebe é ela mesma, mas lá em 2023 quando está no carro juntamente com Adrian e seus amigos.

— Em pleno século 21, quem ainda se comunica por e-mail, gente? Fala sério!

Samuel brinca, dizendo:

— Vai ver querem te contratar como garota propaganda, gata. Você já tem perfil.

— Ah cala a boca, seu otário! Nem vou ler essa mensagem.

O irônico é que a própria versão da Angélica mandou um e-mail pra ela mesma no passado. Mais uma vez o destino pregando peças para nós o tempo todo.


HOTEL HILBERT, 09 DE OUTUBRO DE 1998, 17H30.

Angélica está passando pelo corredor e avista sua mãe Esther quando jovem.

— Oi.

— Oie! Ana, né?

— Isso.

— Eu não podia me esquecer de você. Ainda tá por aqui? Melhorou?

— Sim, estou melhor, mas logo eu vou embora, estou esperando uns amigos meus virem me buscar. Vamos para São Paulo.

— Que legal! Vocês são de lá?

— Na verdade moramos em Brasília.

— Sério? Eu nasci em Brasília. Bom, eu ainda tenho a minha casa lá, mas tive que me mudar pra cá pra trabalhar aqui. Por isso que eu quero me aposentar logo dessa vida de camareira e voltar pra minha casa em Brasília pra criar minha filha como ela merece.

— Tenho certeza que você será uma ótima mãe.

— Obrigada, querida! E a propósito, conversou com tua mãe? Fez as pazes com ela?

— É… É… (mentindo) Sim, claro! Conversamos muito ontem à noite por telefone.

— Fico muito feliz por você, Ana. Meu sonho é que quando minha filha tiver da tua idade, possamos ter essa cumplicidade também.

— É… Bom… Eu… Espero que você tenha.

Um rapaz de uns 20 e poucos anos, cabelo castanho claro liso e barba chama por Esther.

— Esther!

— Oii, que bom que você veio aqui!

Angélica pensa:

“Meu Deus, que gato! Espero que não seja o meu pai ou o meu tio quando jovem, senão serei a mulher mais pecadora do mundo”.

— O Caio pediu pra eu deixar essas coisas pra você, eu falei que iria viajar pra São Paulo de carro, então eu ia acabar passando por aqui de qualquer jeito. Ah e ele pediu pra avisar que deixou a Angélica com a avó.

— Eu sabia que o Caio não ia ficar muito tempo cuidando da neném. Bom, eu quero te apresentar a minha amiga Ana. Ana, querida, esse aqui é o Victor, um grande amigo nosso.

— Oi, tudo bem?

— Tudo bem, prazer! É… Victor, né?

— Sim, Victor Torres.

Angélica sorri e fala pra si mesma:

— Pera, não me diga que ele…

Esther faz uma pergunta a ele:

— E como tá o teu filho? O Adrian?

— (OFF) Socorro! Ele é o pai do Adrian!

Ah, o Adrian tá só crescendo. Esse moleque vai dar trabalho quando crescer.

— (OFF) Como que o pai do Adrian pode ser mais gato que ele? Berro!

— Victor, já imaginou se minha filha e teu filho namorassem no futuro?

— (OFF) Não namoramos, mas ficamos algumas vezes, mas esse pai dele eu até casava com aliança e tudo. Que homem! Essa genética do Adrian, vou te contar, viu?

— Olha, não seria uma má ideia. Todos nós fomos amigos na adolescência, seria legal ver nossos filhos se tornando amigos e… Ficou tão calada de repente, Ana!

— Ah não, eu estou bem, estava só prestando atenção na conversa de vocês.

— Ah, a Ana também tá indo pra São Paulo, não é?

— Sério? Em que lugar você vai ficar? Porque dependendo eu posso até te dar uma carona se você quiser.

— (OFF) “Com você eu vou até o paraíso, querido… Ai, Angélica! Cala a boca!”- Ah agradeço muito a gentileza, mas os meus amigos estão vindo pra me buscar, já tínhamos combinado, senão com certeza eu aceitaria a carona, o senhor parece ser uma boa pessoa (OFF: Bom em todos os sentidos).

— Ah! Não é pra tanto.

— Ele é uma boa pessoa sim, Ana. Nem imagina quantas vezes ele já salvou a gente de cada aperto.

— Só faço aquilo que eu acho que é certo. Bom, eu preciso ir agora. Se cuida, Esther! Dá um beijinho na Angélica.

— Pode deixar, amigo. Tenha uma boa viagem!

— Ah e muito prazer em te conhecer, Ana!

— (OFF) Satisfação, meu anjo, o prazer vem depois— Ah o prazer foi todo meu, faça uma boa viagem!

— Obrigado, senhoritas! Até mais!

Angélica espera até que o pai de Adrian vire o corredor.

— Mã… Esther, amiga. Vem aqui um pouquinho.

— O que houve?

— Você poderia me dizer quem é esse gato?

— Ah, o charme do Victor também te pescou, né? Por isso que você ficou tão calada.

— Olha, desculpa ser tão direta, mas impossível se concentrar com um homem desses na minha frente.

— Ele é bonito mesmo. O Victor é muito amigo nosso de anos, ele teve uma vida complicada, o pai não era muito presente, ele tá tentando ser o oposto do que o pai dele foi e ele tá conseguindo. Se eu te contar que quase namoramos na época do colegial.

— Quase? Como você deixou este homem escapar?

— Ah, não sei. Vai ver não era pra ser. Mas o meu marido também é maravilhoso e muito lindo.

— (OFF) Mas nem a pau que meu pai era gato assim, nem em sonho.

— Mas posso te contar uma coisa, Ana? Mas promete guardar segredo?

— O que foi?

— Eu acho que… A mulher dele o engana.

— A mãe do Adrian? Quer dizer, a esposa dele? Esposa do Victor? Aí, desculpa, estou confusa.

— Sim… Ninguém aprovou o casamento dele com ela na época, ela era daquelas patricinhas mimadas que se achava a maioral nos anos 80. É uma pena! O Victor é um homem muito bom, não merece uma mulher assim.

CASA DE ADRIAN, BRASÍLIA- DF- 09 DE OUTUBRO DE 1998.

Em um quarto na casa, um casal está tendo relações sexuais, o homem ao terminar vira para o lado da cama ofegante e a mulher se enrola no lençol. Eles ficam um tempo em silêncio, até que a mulher se levanta e vai para a penteadeira.

— Precisamos parar de fazer isso.

— Qual é? Vai me dizer que não gostou?

— Não se trata disso, Caio. Você agora tem uma filha pra cuidar e eu também tenho o meu Adrian.

— A Esther desde que começou a trabalhar naquele maldito hotel em Minas, ela não tem feito papel de esposa, toda vez eu tenho que cuidar dessa pirralha.

— Não fale assim! A Angélica tem um aninho, ela precisa de vocês.

— Por um momento eu até pensei que o Adrian fosse meu filho.

— Bem que você queria, né? O Adrian saiu a cara do pai dele. Me sinto culpada por estar enganando o Victor, ele… Ele nem é uma pessoa ruim.

— É isso agora? Transa comigo e depois quer bancar a puritana? Vocês mulheres são todas iguais!

Caio levanta da cama irritado e vai para o banheiro, a mãe de Adrian fica olhando para o espelho da penteadeira pensativa.

REFEITÓRIO DO HOTEL HILBERT, 09 DE OUTUBRO DE 2023, 21H30.

Adrian, Daniela e Samuel estão no refeitório discutindo tudo o que eles passaram até aqui. Samuel incrédulo pergunta a Adrian.

— Tá zuando? Você foi pra 2044?

— Sim e foi estranho e bizarro. Aqueles braceletes do tempo são insanos! Mas eu gostei do Dr. Hernandez, parece ser uma boa pessoa.

— É tudo tão bizarro, meninos… Crescemos assistindo filmes e séries com essa parada de viagem no tempo e agora estamos justamente vivendo tudo isso. Isso é tão “Dark”.

Adrian complementa.

— Dark fazendo escola. Não é a toa que é a melhor série de todos os tempos.

Samuel indaga:

— Mentira que a melhor série de todos os tempos é Game Of Thrones.

— Nem fudendo! Com aquele final ridículo?

— Ai, desculpa gente! Mas Supernatural pisa, né?

Samuel e Adrian gargalham, o primeiro fala:

— Logo essa série de duzentas temporadas? Fala sério!

— Não, anjo, no caso seria Grey’s Anatomy. Estamos em 2023 e essa série horrorosa ainda não acabou. A propósito, Adrian, você que foi em 2044 não notou se a série ainda estava no ar?

— Olha, não duvido que ainda esteja passando e a Meredith tá com 100 anos cuidando da ala geriátrica.

Os três começam a rir alto, a enfermeira Deise os encontra e apressa o passo pra ir até eles. Ela está com um semblante sério.

— Meninos, desculpe interromper! Mas vocês ainda conseguem entrar em contato com a amiga de vocês no passado?

Daniela responde:

— Acho que sim, mas o que houve?

— Hoje é 09 de Outubro, não é?

— Sim, por quê?

— 09 de Outubro é o dia que vai acontecer uma tragédia nesse hotel em 98.

Os três se olham com semblante de preocupação.

HALL DE ENTRADA DO HOTEL HILBERT, 09 DE OUTUBRO DE 1998, 21H37.

O Sr. Hilbert está no balcão da recepção ao telefone e pela porta, entra um homem de mais ou menos uns 40 e poucos anos usando um boné, camisa larga de botões verde e uma jaqueta cinza. Ele entra sem passar pelo balcão e segue caminho direto. Hilbert ao ver isso, sente a urgência de ir até ele.

— … É, eu preciso desligar, só um minuto!

Hilbert sai do balcão e vai atrás do homem.

— Com licença! Senhor! Senhor!

O homem para e olha pra ele.

— Me desculpe, mas o senhor precisa de ajuda?

— Eu só vim buscar minha mulher.

— Desculpa, mas precisa dar o nome na recepção pra termos um controle de quem entra e quem sai, não podemos…

O homem impaciente saca uma arma.

— … Cala a boca! Onde fica o quarto 33?

— Calma, calma, não atira.

— ONDE FICA, PORRA?

— No terceiro andar, fica no terceiro andar.

— Obrigado, imbecil!

Hilbert, assustado, volta imediatamente pro balcão e faz um telefonema.

— Precisamos dos seguranças aqui agora, entrou um homem armado no hotel e está indo para o terceiro andar. Depressa!

QUARTO 33, 09 DE OUTUBRO DE 1998, 21H40.

Uma mulher está no quarto conversando com outro homem e eles parecem estar nervosos.

— Você não entende! Ele sabe onde a gente tá.

— Calma, não vou deixar esse desgraçado te machucar.

CORREDOR DO 2ª ANDAR, 09 DE OUTUBRO DE 1998, 21H47.

Angélica está passando pelo corredor pra ir até o seu quarto, ela está andando despreocupada até que ouve um tiro. Após o tiro, uma gritaria no andar de cima começa.

— Meu Deus, o que foi isso?

Lá fora, o tempo começa a fechar, uma nova tempestade está começando a surgir, o clima de medo e terror volta a pairar no hotel. E em 2023, a certeza da tragédia iminente os preocupa.

Daniela, preocupada, pergunta:

— Enfermeira Deise! O que vai acontecer? Que tipo de tragédia é essa? Me responde!

— Eu sinto muito… A amiga de vocês está em perigo… Todos do hotel em 1998 correm perigo.

 

O QUE VAI ACONTECER?

 

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