JADE

As mulheres olhavam curiosas para Jade. E ela quase que conseguia ouvir seus pensamentos. Quem é ela? Como foi capturada? O que ela fez pra irritar o Babemco? Essas e outras perguntas poderiam muito bem estar passeando pela mente daquelas prisioneiras, e isso a preocupava.

Olívia se aproximou da mulher e lhe estendeu a mão.

– Seja bem-vinda. Tem um beliche vago nos fundos.

– Obrigada – Jade respondeu, com a voz trêmula.

Ela caminhou até os fundos da cela, que era bem ampla por sinal. O lugar tinha paredes de tijolo cinza, e parecia muito confortável. Os beliches de ferro eram organizados em duas fileiras, que percorriam todo o espaço. E no fundo, um sanitário de alumínio.

Jade sentou-se no beliche. Estava confusa com mil coisas passando pela mente. Complexo fantasma, sequestro, Olívia viva. Sem falar que ela não sabia como o Lucas e o Cícero estavam. Segurou a cabeça sentindo o peso da aflição.

Uma jovem franzina se aproximou dela e deu as boas vindas. A garota era jovem, com cabelos de cachos salientes e usava um tapa-olho.

– Eu sou a Esther. E você, como se chama?

– Jade. Jade Sousa.

– Você veio de onde?

– Eu tava com meu marido e filho numa cidadezinha do interior. Um homem tomou meu filho nos braços e nos ameaçou. Depois ele me deu um murro – ela disse, tocando no olho que ainda doía. – Depois acordei na carroceria de um caminhão. Agora vim parar aqui, no complexo fantasma.

– Eu tava vendendo drogas. Pensei que fosse a polícia ou algo assim. Até sinto falta da polícia. Perto desses caras a polícia é um céu.

– Em que lugar nós estamos?

– Acho que em Pernambuco, ainda. Se bem que demorei bastante pra chegar aqui. Acho que durou umas dez horas todo o percurso.

– E a Olivia? Ela parece liderar.

– Ela lidera. É bem esperta.

Jade observou as mulheres reunidas no canto da cela. Uma mulher alta, com cara de brava, de vez em quando encarava Jade. Ela não parecia feliz. Jade ficou intimidada com aquele olhar.

– Quem é aquela? – Jade perguntou, apontando para a detenta.

– Aquela é o “Dragão”. Foi assim que a conheci. Não sei qual o nome verdadeiro dela.

– Ela parece brava.

– Ela é brava! Se fosse você não me metia com ela.

Jade levantou-se e foi até onde as mulheres estavam reunidas. Ela queria muito conversar com Olívia e saber os motivos que a levaram a tentar lhe matar, mas antes, precisava fazer algo pra sair dali. Não podia mais ficar passiva sendo levada de um lado para o outro. Tinha que montar um plano e fugir. Queria seu filho de volta. Queria sua liberdade de volta, e não iria aceitar ser controlada daquela forma.

– Olívia, eu preciso falar com você – disse Jade, aumentando o tom de voz.

As mulheres silenciaram no mesmo instante, e como em uma coreografia, todas encararam Jade com surpresa.

Ao lado de Olívia, Dragão segurou o punho esquerdo apertando o máximo que podia. Ela soltava fogo pelo nariz da mesma forma que um dragão fazia.

– O que você quer, Jade? – Olívia perguntou, com ar de desdém.

– Nós precisamos sair daqui. Precisamos montar um plano de fuga. Saber de que forma podemos escapar. Quais as possíveis rotas de fuga. Somos muitas aqui e não podemos ficar paradas. Eu quero voltar pra casa. Não posso mais ficar à mercê dessa gente. É isso que eu quero. Quero ajudar na fuga.

– Você acha que é quem pra propor um plano de fuga? – perguntou Dragão, se aproximando de Jade. Ela ficou tão próxima, que Jade teve que levantar a cabeça pra continuar olhando para o seu rosto.

– Eu só quero ajudar.

– Tá! Ajuda ficando bem caladinha.

Dragão meteu as mãos por dentro das pernas de Jade, e levantando-a acima da cabeça, arremessou-a na parede. Jade caiu e sentiu uma dor aguda nas costelas. Ficou sem ar.

Dragão ainda quis se aproximar, mas Olívia interveio.

– Chega!

Todas olharam para a mulher no comando.

– Ela vai aprender que aqui, as coisas são bem diferentes – afirmou Olivia, com ar de triunfo. Enquanto Jade se revolvia no chão gelado.

 

 

 

EPISÓDIO: FRATURA

 

 

LUCAS

Com muita dificuldade ao caminhar, Lucas entrou na sala apoiado no ombro de Eva. Ela lhe ajudou a sentar-se no sofá e estender a perna esquerda sobre um banco que estava adiante.

O pai de Eva, um homem carrancudo, usando chapéu de palha e olhar ameaçador, entrou e sentou-se diante do hóspede. Ele tinha um cheiro forte de suor que inundava toda a sala.

– Cê tá bem? – perguntou o fazendeiro.

– Tô bem sim senhor – respondeu Lucas, um pouco intimidado.

A fazenda dos Sonhos era o orgulho do seu Manoel. Um homem do campo que viveu a vida pra cuidar da terra e dos bichos.

– Do que você se “alembra”? – perguntou Manoel, com um sotaque arrastado.

Lucas franziu o cenho, e era possível ver sua mente tentando organizar as ideias em busca de resgatar alguma memória.

– Desculpa – ele disse, com pesar.

– Cê tem que ir no médico vê se não quebrou nada nessa cabeça. Minha “prercupação” é de você ter família e eles “tarem” doido te “percurando”. Cê entende né?

– Entendo sim, senhor.

– Amanhã vou te levar no hospital e depois nois vamo na polícia. Quero resolver logo isso.

– Sou grato, seu Manoel.

**

BABEMCO

O sol daquele dia iluminava Recife causando sombra entre os edifícios. Na mansão de Babemco, um som de jazz inundava todo o ambiente. Ele bailava de um lado para outro, usando um pijama de seda carmesim. Segurava um charuto entre os dedos e uma garrafa de champanhe na outra mão. Tomou um susto ao ver Marieta parada na entrada da sala.

– Você me mata do coração – ele falou, com um sorriso aberto.

Marieta se aproximou e sentou em uma poltrona acolchoada que tinha ao lado da janela. Ela observava o jardim lá fora.

– Vamos beber? – ele perguntou, oferecendo uma taça com a bebida. Marieta aceitou de imediato e deu um gole generoso.

– Isso é muito bom – ela levantou a taça fitando as bolinhas do champanhe.

– Estou tão feliz Marieta, que você nem imagina!

– Posso saber o motivo de tanta felicidade?

Ele sentou na outra cadeira em frente à Marieta. Deu mais uma tragada no charuto e expirou a fumaça fazendo biquinho.

– Eu sou pleno. Nada me falta. Existe motivação maior do que essa? – perguntou, encarando a mulher.

– Tenho que te parabenizar. Você é um dos dez homens mais ricos do Brasil, e está no top 20 da América. Isso não é pra qualquer um. Algo louvável nos tempos que vivemos. Como você construiu essa riqueza, Babemco?

– Nada melhor do que a insegurança para gerar segurança. As pessoas queriam segurança, e foi isso que eu dei a elas.

– Você nem sempre foi rico! Como conseguiu levantar esse império?

– Tudo culpa do meu pai. Ele não cumpriu o seu papel dentro de casa. Morreu carbonizado enquanto dormia embriagado.

– Nossa. Conta mais.

Babemco virou a garrafa tomando o resto da bebida. Levantou-se e pegou outra garrafa de uísque.

– Aceita?

– Claro! – disse Marieta, estendendo a taça vazia.

– Meu pai tinha um bordel. Minha mãe era uma de suas funcionárias. Eles se encontraram e viveram durante muito tempo. Até que minha mãe encontrou outro cara que tinha mais dinheiro do que meu pai, e nos deixou. Ele ficou inconsolável. Começou a beber constantemente e com frequência esquecia de comprar as coisas pra casa. Passei muitas noites de barriga vazia.

– Que triste.

Babemco tentou levantar, mas suas pernas estavam fracas. Arriou na cadeira novamente.

– Droga! Eu tô bem tonto.

– Vai devagar.

– Eu sentia que a qualquer momento iria amanhecer morto. Qualquer pessoa podia entrar na minha casa. Homens violentos, sujos e cheios de perversidade. Eles eram tão inalcançáveis. Eu sentia que eles podiam fazer qualquer coisa contra mim e ninguém podia fazer absolutamente nada. Até que fizeram.

Marieta olhou surpresa para o homem. Um suspiro de compaixão quis passar por seu peito, mas ela o afastou de imediato.

– Eles te abusaram?

– Eles me quebraram. Levaram a minha essência. Mas, eu sou grato a eles. Pois, no fim, quando me destruíram, eu renasci mais forte, com mais ódio e mais foco. Eles me fizeram um favor. Há males que vem para o bem, não é mesmo? Foi isso que aconteceu comigo. Hoje eu sou mais forte, por conta dos meus abusadores. Todo mundo tinha que passar por isso, você não acha? Veja sua nora! Ela foi abusada. Ela matou. E no fim, tornou-se mais forte, não acha?

– Não acho, não. Mas não quero falar nisso. Hoje o foco é você.

– Ahh que lisonjeiro. Aprecio sua atitude cara Marieta. Você será uma excelente CEO da companhia.

– Não sei por que você fez isso. Se não posso ter acesso aos protocolos de segurança.

– Quem disse que você não terá acesso aos protocolos de segurança. Eu mesmo irei entrega-los na sua mão. Pode ficar tranquila. Mas, você terá que ter muita responsabilidade com isso, tá me ouvindo né?

Babemco foi até um cofre do outro lado da sala. Ele discou alguns números e retirou uma maleta. Caminhou em direção à Marieta e jogou a maleta em suas pernas.

– Você agora é definitivamente a mulher com o controle total.

Marieta tremia ao segurar aquele objeto. Não imaginava que ele cumpriria com sua palavra.

– Você é uma mulher admirável, Marieta. Gostaria que minha mãe fosse como você. Nenhum pequeno merece crescer sem o amor de pai e mãe. Isso pode ser algo absurdamente perigoso.

Marieta levantou-se e fitou Babemco. Aquele era o início de uma grande revolução. A ação iria começar.

**

BRUNO

A delegada Yeda entrou na delegacia seguida do delegado Valter Justa. Ela mostrou todos os arquivos que tinha sobre o caso de Jade e Lucas. Tudo levava a crer que se tratava de um sequestro, no entanto, ninguém havia entrado em contato pra pedir o resgate.

Yeda ainda relatou que conseguiram identificar o homem que sequestrou Jade e matou uma senhora na pensão. Após a polícia regional de Recife ter sido acionada, o delegado Valter foi um dos designados para investigar o caso. A delegada teria que dividir a jurisdição daquela investigação com o delegado de Recife.

Enquanto isso, no pátio da delegacia, Bruno tentava convencer Licurgo e Victória de que o delegado Valter era um espião enviado pelo criminoso do Babemco.

– Assim como nós temos Marieta tentando combater o Babemco, ele quer alguém dele nos vigiando. Esse delegado pilantra entrou com o capanga do Babemco no meu apartamento. Eu não estou louco. Eu sei o que vi – afirma Bruno, convicto.

– Você precisa se acalmar, amigão. Se o que você diz for verdade, temos que ter cuidado em dobro. Pois o tal do Babemco consegue penetrar até nas forças policias. O que mais ele pode fazer? – Licurgo delibera.

– Não duvido de você Bruno, mas também concordo com o Licurgo. Se fizermos acusações ao vento, isso só vai chamar ainda mais a atenção para as nossas desconfianças. Vamos pensar em algo pra afastar esse cara, porque se ele ficar perto, não vai ajudar em nada – Victória colabora.

– Se ele tá com o Babemco, precisamos descobrir algo que ligue os dois – diz Licurgo.

**

Bruno e Victória estacionam em uma pousada que fica no centro da cidade de Monte Verde. O lugar tem uma fachada azul e um primeiro andar com varanda. O pátio tem uma grama verde e uma mangueira frondosa faz sombra no imóvel. O lugar é aconchegante.

Os dois entram e escolhem quartos separados. Bruno fica com o quarto no primeiro andar. Ele abre a porta da varanda e sai para observar a rua. Ficou contente com aquele lugar. Parecia limpo e organizado.

Em seguida, ele tomou um banho. Ainda no banheiro, totalmente despido, ele procurou fotos de Victória no instagram. Observou as fotos da mulher por longos minutos e não conseguia pensar em mais nada que não fosse Victória. Estava hipnotizado.

Só saiu do transe quando ela bateu na porta do quarto. Ele deu um pulo assustado e rapidamente vestiu sua roupa.

– Precisamos comer. Eu tô com fome – ela disse.

– Seu desejo é uma ordem, senhora!

– Victória. Me chama de Victória – ela disse, dando um sorriso para Bruno.

Ele ficou encabulado com os lábios carnudos dela.

**

JADE

O sol estava se pondo quando alguém abriu a cela onde as mulheres estavam. Um homem alto, portando um fuzil, se aproximou e gritou, chamando a novata.

Jade levantou-se toda torta. Seu abdômen doía. Suas costelas doíam e sua garganta também estava dolorida. Seu corpo parecia ter sido moído.

Enquanto Jade caminhava, outro homem entrou na cela, carregando uma cesta com alimentos e sacolas plásticas. Ele chamou por Olívia e pediu que ela distribuísse os alimentos igualmente entre as mulheres. Ela o obedeceu de imediato, escolhendo a comida e ensacando, para em seguida entregar a cada uma das presas.

Jade saiu da cela e o homem lhe pôs um capuz cobrindo totalmente o seu rosto. Tudo era escuridão. Ela não sabia para onde estava indo, só sentia a ponta da arma lhe empurrando adiante.

Entrou numa sala fria e puxaram o capuz de sua cabeça.

O lugar parecia um ambulatório, com uma maca no meio, vários utensílios médicos, remédios e máquinas hospitalares.

Uma mulher usando máscara e luva entrou com passos ligeiros. Ela parecia ágil e experiente naquilo.

– Deite-se – disse a mulher, apontando para a maca.

O homem portando o fuzil ficou do lado, observando tudo.

– Não tente fazer nenhuma gracinha – ele avisou.

A enfermeira retirou a camiseta de Jade e começou a analisar o machucado no abdômen. Em seguida, tocou nas costelas e no pescoço.

– Você é forte. Não tem fraturas. Nem um osso quebrado.

– Não me sinto forte – desabafou.

– Tira a roupa – ordenou a mulher.

Jade olhou para o homem ao lado. A enfermeira também o encarou. O homem bufou, mas virou-se de costas para as mulheres.

A enfermeira levou Jade para um toalete ao lado. A mulher tomou um banho decente, e toda sujeira acumulada em sua pele, desceu pelo ralo. Ainda durante o banho, Jade observou seu cabelo emaranhado e sujo de tinta e barro. Ela perguntou se tinha shampoo. O guarda deu um sorrisinho abusado e foi atrás do shampoo. Dez minutos depois, voltou com um pote nas mãos. Entregou para a enfermeira.

Jade se sentiu aliviada com aquele banho. Metade de suas dores parecera escoar com aquela água que caía ralo abaixo. Ficou renovada.

A enfermeira fez um curativo em seu abdômen, aplicou spray no pescoço e deu alguns analgésicos para a dor.

– Você vai ficar cem por cento em pouco tempo. Pode levar ela – disse a enfermeira para o guarda.

Novamente, o homem pôs o capuz nela e lhe empurrou para uma nova saleta. Quando Jade pode ver o lugar, percebeu uma mesa diante de si, com uma cadeira do outro lado, e um projetor preparado na parede que ficava à sua frente.

Pimentel, o homem de rosto oleoso, entrou acompanhado do anão Batman. Jade sentiu aquela vontade de sorrir ao ver o pobre do anão. Isso não era certo, não podia rir da condição de ninguém. Mas era quase incontrolável. Pediu perdão a Deus mentalmente. Quem nunca pecou que atire e a primeira pedra.

Os dois sentaram do outro lado da mesa, diante de Jade e começaram o interrogatório.

– Você tá bem, agora? – perguntou Pimentel, sacolejando um crucifixo nas mãos.

Ela respondeu, balançando a cabeça. Sorriu para o Batman, que respondeu com uma careta, como se sentisse dor no estômago. Ela ficou assustada. Ele não era um anãozinho simpático, pensou.

– Você gostou do shampoow?

– Ajudou bastante – alisando os cabelos molhados.

– Vamos começar, então. Eu tenho informações sobre seu marido e filho, todavia, só posso falar qualquer coisa se você me der algo em troca.

– Eu não tenho nada pra te dar – respondeu com asco.

– Tem sim. E é bem simples. Você vai me dá informação. Eu pergunto e você responde. Pode ser? – Pimentel enxugou o suor do rosto com as costas da mão.

– O que você quer que eu fale?

– Seu nome é Jade Sousa?

– Sim.

– Você é casada com Lucas Sarrasseno?

– Sim.

– Mãe de Cícero Sousa Sarrasseno?

– Sim.

– Você trabalha com o quê?

– Eu estava tentando montar uma ONG de apoio às presidiárias do Recife. E também queria ser vereadora da cidade.

– Algo mais?

– Como assim?

– Você era envolvida em outras atividades?

– Além de ser mãe e dona de casa, não lembro de mais nada.

– Arqueologia?! – ele disse, levantando os ombros.

– Eu… Não trabalhava mais com isso.

– Você conhece Marcos Gama?

Jade baixou o olhar, sem querer fitar Pimentel.

– Vou repetir: você conhece Marcos Gama?

– Conheço.

– Já se envolveu com ele?

– Eu era amiga dele. Nós trabalhamos juntos.

– Vou refazer a pergunta: você se envolveu amorosamente com Marcos Gama?

– Não.

– Você tem certeza?

– Tenho.

– Vou dar uma última chance. Você se envolveu amorosamente com Marcos Gama?

– Não! Eu era amiga dele! – ela disse, cerrando os dentes com raiva.

– Você nunca traiu o seu esposo com Marcos Gama?

Os olhos de Jade encheram de lágrimas. Ela fechou o punho prestes a esmurrar a mesa de ferro.

– Por que você tá fazendo isso? – ela perguntou, com a voz embargada.

– Por que quero te conhecer melhor – Pimentel sorriu.

– Eu… eu… – ela gaguejou, derramando lágrimas fartas.

– Vamos para a próxima pergunta – ele disse, virando uma folha que estava em sua mão. Jade o encarou, incrédula.

– Você não quer saber? – ela perguntou.

– Eu já sei a resposta.

Um silêncio aterrador tomou conta do ambiente.

– Você ama seu esposo? – ele perguntou.

– Eu o amo – ela disse, sem muita emoção.

– Você ama seu filho?

– Amo mais que tudo – ela afirmou, derramando mais lágrimas.

– Você já imaginou sua vida sem a sua família?

– Eles são o meu maior tesouro. Eu sou plena com minha família, por favor me diz que eles estão bem – pede Jade, se desmanchando em lágrimas.

– Encontrei muita coisa sua nas redes sociais. Posso mostrar?

Ela balança a cabeça concordando.

Batman liga o projetor e desliga o interruptor da sala, deixando tudo escuro. Somente a luz do aparelho refletindo na parede.

Jade vê as fotos de Cicero recém-nascido. As fraldas de pano do pato Donald. Ele sorrindo sem dentes. A carequinha brilhante e as bochechas rosadas. Ela não controla a emoção e soluça ao ver as fotos do filho. Aquilo mexe profundamente com suas emoções.

Em seguida, Pimentel mostra o vídeo do parto de Cícero. Lucas está ansioso segurando a mãe da esposa. O médico trabalha concentrado, enquanto Jade grita sentindo as dores de parto. Alguns segundos depois, o menino nasce. Lucas chora emocionado ao ver o filho pela primeira vez.

O último vídeo é do aniversário de um ano de Cícero. Eles escolheram O Poderoso Chefinho como tema da festa. Cícero vestia um macacão preto e camisa azul. A gravatinha branca dava todo o charme que o personagem carregava. Jade sorria a todo instante naquele dia. E o Cícero era só simpatia para todos. Deve ter puxado ao pai, carismático.

Jade não conseguia se controlar ao ver aqueles vídeos e fotos. A saudade doía tanto que chegava a apertar em seu peito. Como se aquelas pessoas verdadeiramente fossem parte dela.

– Por que você tá fazendo isso? – ela soluçou.

– Eu só quero te conhecer. Saber seus medos. Seus segredos.

– Onde eles estão?

– Eu preciso de mais.

– O que você quer saber?

– Por que presidiárias?

– Hã? Não entendi!

– Por que você escolheu ajudar mulheres condenadas?

– Eu fiquei presa por nove anos. Eu sei como é a cadeia por dentro – falou com raiva no olhar.

– Você acha que elas merecem misericórdia?

– Elas também são seres humanos. Merecem um tratamento digno.

– Quer dizer que elas cometem crimes, mas mesmo assim devem ser bem tratadas?

– Elas não precisam ser esmagadas feito ratos. Elas precisam de regeneração.

– Elas deveriam ter pensado nisso antes de cometerem seus crimes, não acha? – ele perguntou, esfregando as bolinhas do crucifixo entre o dedão e o indicador.

– Se elas tivessem pensado, não teriam cometido nenhum crime.

– Boa resposta. Que tal refletir sobre isso. Vou te mostrar mais algumas fotos e você vai me respondendo em seguida, ok?!

Batman ligou o projetor que expandiu e imagem de um homem deitado no caixão.

– Você reconhece esse homem? – ele perguntou

– Sim.

– Sabe qual o nome dele?

– Roberval.

– Você matou esse homem?

Ela engasgou no momento da resposta.

– Você matou esse homem?

– Si-sim.

– Por qual motivo?

– Eu achava que ele havia me estuprado.

– Eu perguntei qual o motivo?

– Foi um engano!

– Qual o motivo?! – ele gritou batendo os punhos na mesa.

– Eu não sei – com a voz trêmula.

– Pensa.

– Eu queria me vingar. Queria destruir toda memória do meu estupro. Queria aquilo morto. Não conseguiria viver se não tivesse feito aquilo. Queria pegar toda a violência que sofri e revidar cem vezes mais forte. Eu queria extinguir a raça daquele desgraçado.

– E você matou o homem errado!

Jade baixou a cabeça, envergonhada.

Na parede, uma foto com uma garota de aparentemente 10 anos. Uma garotinha de olhos negros de olheira, magra e assustada. A menina estava sendo aprisionada em uma clínica psiquiátrica.

– Você sabe quem é? – ele perguntou

– A filha do Roberval.

– Ela perdeu o pai. A mãe ficou viciada em cocaína. A família foi arruinada. Ela perdeu o resto de paz que ela tinha nessa terra. – disse Pimentel, apertando ainda mais o crucifixo. – Você fica feliz com isso?

– Eu não estou feliz com isso. É horrível.

– Foi você quem causou tudo isso! Você sabe que foi você?!

Um vídeo é projetado. A menina está com a mãe em uma sala vazia. As duas seguram um bolo pequeno com uma velinha solitária. Elas sopram a vela em homenagem ao pai morto.

– Esse foi o primeiro aniversário que elas passaram seu o pai. O primeiro de muitos.

Uma lágrima cai do olho de Jade. Ela espreme as mãos contra o rosto, em total desespero.

– Você não é inocente. Você arrancou uma vida. Uma vida inocente. Você é a vilã dessa história, sabia?

– Eu… – ela engasga mais uma vez – não,.. me perdoa.

– Pra quem você está pedindo perdão?

Ela olha para o crucifixo na mão do homem. Pimentel mostra o crucifixo diante do olhar de Jade.

– Roberval usava um igual a esse quando você o matou.

Ela continua a chorar copiosamente olhando para o crucifixo.

– Eu vou quebrar você… Por dentro – disse Pimentel, lentamente.

INCOGNOSCÍVEL

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  • Meu amigo, que episódio tenso. Posso me transportar e ir ajudar a Jade? Tá certo, ela talvez esteja pagando por algo que fez no passado, mas que judiaria, que momentos de pira tensão ela tá passando. Ahhh, várias referências ao título do episódio, bem interessante ficou. Obg por proporcionar uma boa leitura hoje antes de ir dormir. Até o próximo episódio!!!

    • Que profundo esse poço que a Jade está descendo. Mas o Marcos Gama talvez possa ajudá-la rsrsrsrsrsrs! Que bom que gostou. Até a próxima.

  • Meu amigo, que episódio tenso. Posso me transportar e ir ajudar a Jade? Tá certo, ela talvez esteja pagando por algo que fez no passado, mas que judiaria, que momentos de pira tensão ela tá passando. Ahhh, várias referências ao título do episódio, bem interessante ficou. Obg por proporcionar uma boa leitura hoje antes de ir dormir. Até o próximo episódio!!!

  • Meu Deus! Que tensão esse interrogatório com a Jade. Caracas, tava sentindo toda a angústia dela aqui, santa Genoveva!

  • Meu Deus! Que tensão esse interrogatório com a Jade. Caracas, tava sentindo toda a angústia dela aqui, santa Genoveva!

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