Os dias na empresa seguiam em uma aparente normalidade, Xian permanecia firme apesar de pôr dentro está em pedaços. Zhan sempre que encontrava brechas puxava assunto sobre a amizade de ambos e Xian percebia que ele queria uma aproximação.

Xian pensava em toda situação, por mais que se forçasse ser simpático e até respondia algumas das perguntas do passado feitas por Zhan, seu desejo era fugir de todas aquelas lembranças.

A cada oportunidade de escapulir, este conseguia empurrar a conversa informal para o trabalho mesmo notando a frustração nítida nos olhos de Zhan.

Xian sentia-se mal por isso e sua cabeça girava com o conflito de em se aproximar agindo como amigo como se nada tivesse ocorrido entre eles no passado respeitando a noiva de Zhan.

Se ao menos ele não fosse noivo…

Xian lavava o rosto no banheiro enquanto pensava em suas palavras, soltou um sorriso amargo se olhando pelo espelho, a quem ele queria enganar? Ele sentia cada contato de seu Wang, bastava ambos estarem sozinhos que era como ímã querendo uni-los e aquele sentimento estava o deixando perdido. Ele o queria de volta, queria seu Wang-gege, queria abraçá-lo e beijar seus lábios com todo amor que deixou guardado por 13 anos.

Eu vou enlouquecer…

Inspirou profundamente soltando o ar novamente do peito para tentar inutilmente recompor a mente e voltar para a reunião que ainda tinha que presidir naquela tarde. Quando finalmente conseguiu um pouco de normalidade a face, saiu do banheiro e olhou para Zhan que estava ali de pé olhando-o com seu semblante calmo e um brilho nos olhos claros que sempre fazia Xian perder as forças das pernas.

— Vamos?

— Hm.

A dupla saiu da sala e foram para o auditório da empresa para a última reunião daquela tarde.

— Meu irmão chega nesse fim de semana.

— Isso é bom, finalmente vão se ver. – Xian olhava a listagem das informações que precisava passar na reunião.

— Hm.

Xian sentiu que Zhan iria falar algo e o interrompeu perguntando sobre a lista de informações, para evitar mais questionamentos ou assuntos sobre o passado. Ele respondeu prontamente a cada item pautado na lista em seguida silenciou-se, porém não escondeu um leve cintilar nos olhos claros que Xian conhecia bem… Zhan se sentia frustrado.

✽ • ✽

Zhan estava parado na plataforma da estação do metrô, era hora do hush e estava lotada, aguardando para embarcar seguindo para o Leblon. Olhava as pessoas com a mente alheia ao seu redor, ainda havia muitas perguntas de sua vida no passado.

Se nós éramos melhores amigos, por que Xian foge das minhas perguntas? Será que aconteceu algo entre nós que o deixa tão evasivo?

Zhan recordava do dia que foi fazer a entrevista e como foi recepcionado pelos atuais chefes, desde então, até descobrir que se conheciam ele percebia que aquelas reações não eram normais. Zhan estava temeroso por ser algo grave e queria logo o reencontro com seu irmão para saber mais sobre sua vida na juventude, talvez mais detalhes dessa amizade com seu chefe.

— Huan disse que me contará tudo pessoalmente… – Murmurou sentindo um leve palpitar no peito.

Finalmente, após algumas tentativas conseguiu entrar em um vagão para chegar em casa, era fim de semana e no sábado se encontraria com Huan.

✽ • ✽

A manhã foi agitada, toda família e amigos de Zhan se reuniram para recepcionar o Huan, este chegou com Zhan após ele o buscar no aeroporto. Era um dia de grande alegria, ambos ficaram horas conversando. Huan queria saber tudo, perguntando sem parar sobre a vida de seu irmão.

— Irmão. – Zhan estava sentado no sofá da sala com Huan, após o jantar.

— Wang, o que quer saber?

— O pai.

— Nosso pai era um tanto frio e calado, depois da separação de nossa mãe não conversava mais comigo. – Huan tomava pequenos goles de chá sentado ao lado de Zhan.

— Eu estava vivo, por que não vieram me procurar?

— Nos disseram que não encontraram seu corpo e…

Nesse momento a campainha toca e Zhan se levanta para atender. Ao fitar pelo “olho mágico” fica surpreso abrindo a porta para a sua tia Han An.

— Tia? – Estranhando aquele retorno repentino.

— Zhan, eu posso conversar com você? – Han An tinha uma expressão nervosa.

Zhan deu passagem para ela entrar e a senhora olhou para Huan ainda mais apreensiva.

— Eu queria lhe falar a sós. – Olhou no canto dos olhos para o irmão dele.

— Ah, minhas desculpas vou deixá-los à vontade, preciso de uma ducha a cidade é quente. – Huan levantou e curvou leve a cabeça para a senhora e se retirou para o quarto.

Zhan convidou a tia a sentar, a senhora não parecia à vontade e falou baixo a ele.

— Zhan, primeiro de tudo, quero que me perdoe e entenda que tudo que irei lhe contar não é algo fácil de aceitar. – An, inspirou baixo e seus olhos se encheram de lágrimas.

Zhan franziu as sobrancelhas e se aproximou da tia, segurou a mão dela tentando acalmá-la.

— Tia, está me preocupando.

— Zhan, essa tarde eu observei seu irmão e cheguei à conclusão de que ele não está envolvido no que irei lhe contar, por favor não brigue com ele, se alguém merece sua raiva sou eu que lhe escondi todos esses anos a verdade.

Zhan chegou a prender o ar no peito, o que sua tia escondeu por tanto tempo que estava quase aos prantos para lhe contar?

— Zhan, sua família o procurou… – An, começou a falar devagar por estar muito nervosa. – Na verdade seu pai, ele veio ao Brasil.

— O que?! – Huan que havia retornado para pedir uma toalha limpa ao irmão ouviu as palavras da senhora e se aproximou deles. – Como meu pai veio ao Brasil?

Zhan olhava para a tia com uma expressão confusa.

— É melhor saber de tudo de uma vez. – An inspirou fundo e seus olhos tinham um brilho de raiva quando proferiu em tom choroso. – O pai de vocês é a pior escoria que eu pude ter a infelicidade de conhecer.

Huan chegou a ofegar sentando-se na poltrona de frente ao sofá onde a senhora e Zhan estavam sentados.

— Ele sabia que o filho estava vivo, eu que avisei que haviam encontrado e que estava no hospital em estado grave.

Zhan e Huan tinha uma expressão tão chocada com aquela revelação que mal conseguiam falar.

An começou a relatar aos irmãos que o pai havia sido informado que tinham encontrado Wang e apesar de vivo, estava internado em estado grave com traumatismo craneano. Ela relatou a ambos que falava com uma moça que era secretária do sr. Lan mantendo informado do estado de saúde do filho. Quando finalmente Wang apresentou melhoras fez questionou sobre a documentação, já que esta não havia sido enviada e precisaria para toda a parte burocrática e até retorno do rapaz para casa.

— Quando falei que Zhan estava respondendo bem e se recuperando, o homem entrou na ligação e com o tom mais frio e cruel disse:

— Como vou saber se não é uma golpista tentando arrancar dinheiro de mim, trazendo lembranças à tona de nossa tragédia?”

— Sr. Lan, eu enviei os exames dele, inclusive o que sua secretária pediu que é o teste de DNA, como acha que estou querendo lhe dar um golpe? É seu filho, está vivo e precisa do senhor.”

An, se recorda das palavras que ouviu em seguida e ficou chocada.

— Eu prefiro um filho morto a um filho homossexual… Fique com ele.”

Zhan e Huan mal conseguiam formular os pensamentos, os dois estavam em choque.

— Tia…? – Zhan finalmente conseguiu falar, estava tremulo e balbuciava para ela. – O meu pai sabia e me deixou aqui…?

An estava em prantos e balançou a cabeça confirmando.

Huan tinha as mãos sobre a cabeça, seu rosto mostrava a tamanha indignação e seus olhos estavam vermelhos pela raiva que tentava segurar.

— Sra. Han, estar dizendo que meu pai abandonou meu irmão em um país estranho, sem saber sequer falar a língua… – Lágrimas começaram a rolar sem que o homem conseguisse controlar e aos soluços continuou a falar em tom de desespero olhando para Sra. Na:  – Ele largou meu irmão em um hospital e sem…

— Ele o abandonou… – An, enxugou os olhos com um lenço fitando Zhan em súplicas.

Zhan estava olhando para ela, mas seus olhos eram vazios e perdidos.

— Alguns dias depois dessa ligação ele depositou uma boa quantia e enviou documentos. – Ela suspirou. – Han Zhan, era o meu sobrenome.

Huan tremia e seus olhos vagaram da senhora até Zhan, uma mistura de dor e desespero atingiu seu peito e rapidamente se aproximou agachando em frente a ele.

— Wang, eu não sabia, estou desesperado…

Zhan virou os olhos para Huan e a sensação que tinha era de estar em um sonho ou pior, em um pesadelo.

— Eu cuidei dele todo esse tempo…

— Por que não nos procurou mais…? – Huan olho-a indignado.

— Eu tentei, depois de alguns meses, falar com seu pai e quem me atendeu foi o sr. Lan QiRen, acredito ser seu tio. Ele me disse que o sobrinho morreu e que eu era uma golpista, me ameaçando. – An suspirou e falou. – Sr. Lan mandavam mensalmente uma boa quantia na minha conta, eu sabia que era para manter meu silêncio. Zhan não se lembrava de sua vida e eu estava passando por muitas dificuldades financeiras. – Fungou baixo voltando a enxugar as lágrimas da face com lenço. – Eu julguei que seria melhor Zhan não saber. – An demonstrava revolta no olhar. — Pensei que era para o bem dele ficar longe de uma família que o abandonou e cuidei dele como se fosse meu filho. – Olhou-o com carinho.

Huan se levantou totalmente arrasado e olhava-a um tanto incrédulo.

— Sra. Han pode provar tudo que nos contou?

— Sim, tenho extratos bancários dos depósitos mensais que ocorreram fielmente até 3 anos atrás, depois pararam e quando eu busquei informações soube que seu pai havia falecido pelo seu tio.

A senhora levantou e pediu que aguardasse que iria até o seu apartamento buscar os papéis, laudos médicos, e-mails trocados e os extratos bancários.

Huan se sentou ao lado de Zhan com olhar arrasado tentava consolar o recém encontrado irmão.

— O tio terá que me dar muitas explicações, isso… – Engoliu seco em uma breve pausa. — Isso tudo é cruel demais.

Han An retornou e entregou a Huan a pasta com tudo que ela guardou durante esses anos e muito sentida se sentou ao lado de Zhan, tocando sua mão e dizendo em seguida.

— Queria não ter lhe dado tanta dor, mas era melhor falar antes que você descobrisse da pior forma.

Zhan estava inexpressivo, sua cabeça rodopiava e ouvindo as palavras de seu irmão e sua tia pode finalmente dizer algo.

— Eu sou homossexual?

Zhan as perguntas de quem ele é, se tinha família e se veio da China nunca foram respondidas por sua tia durante aqueles 13 anos. Ele finalmente descobre a verdade e com ela a dor de ter sido abandonado porque era gay.

✽ • ✽

Xian estava na sala sentado no largo sofá com MianMian ao lado, ambos comiam pipoca enquanto assistiam um filme.

— Baba, vamos ver de novo? – A garota estava com o controle na mão sacudindo no ar.

— MianMian, de novo? – Xian resmungou com a filha. – Já vimos o dia todo Moana, já até decorei as falas. – Estreitou os olhos para filha.

— Baba, só mais uma vez. – A menina juntou as mãos como se fosse fazer uma prece e curvou a cabeça. – Só mais essa vez?

Xian olhou-a largado no sofá e virou o rosto para ver a hora ralhando com a filha.

— MianMian… – Levantou e estendeu a mão. – Não vai me enrolar de novo, combinamos que seria até a 23 horas.

Nesse momento, Beth a empregada aparece na sala com a voz sonolenta falando em inglês.

— Sr. Wei. – Beth esperou o patrão lhe dar atenção.

— Beth, ainda acordada?

— O Roberto da portaria interfonou, ele achou melhor perguntar ao senhor antes de deixar a visita subir. – A senhora tinha um ar cansado de quem fora acordada no susto.

— Visita? Quem é a essa hora?

— Sr. Han.

Xian abriu os olhos surpreso e seu coração chegou a falhar a batida.

— Sr. Han?

— O Roberto falou que ele está estranho, por isso interfonou, falo para ele deixá-lo subir?

Xian estava tão atordoado por aquela repentina visita de Zhan que balançou a cabeça confirmando, voltou o olhar para a filha que estava dançando em frente à TV imitando a Moana.

— Beth, logo que Sr. Han chegar leve a MianMian para se deitar para mim?

— Claro, Sr. Wei. – Beth se afastou e foi informar ao porteiro para liberar a entrada de Zhan.

— MianMian. – Xian se aproximou da filha e pegou o controle. – Vamos, combinado é combinado.

— Ahhhh, Babaaa~~ – A menina resmungou.

— Não, se não aprender a respeitar acordos como criança, não respeitará nada quando adulta.

— Está bem… – A menina mesmo a contragosto, seguiu junto com a Beth.

— Não se preocupe com a porta, eu vou recebê-lo. – Acenou para filha sorrindo. – Boa noite.

— Boa noite.

Tão logo Xian se viu sozinho, sua mente ficou fervilhou questionando os motivos de Zhan vir tão tarde a sua residência. A campainha tocou e Xian foi até a porta, inspirou fundo e tentou pôr a melhor expressão a face para atendê-lo. Ao abrir a porta este se assustou com a expressão de Zhan.

— Zhan, o que acont… – Xian mal pode falar quando foi surpreendido pelo seu assistente com um abraço.

Zhan no instante que a porta se abriu e olhou para Xian não pensou muito e avançou o abraçando apertado.

Xian estava com os olhos arregalados e mal sabia o que fazer, aquele abraço fora tão inesperado que ficou estático.

— Xian… Por favor, eu sei que não quer mais nossa amizade… – Zhan estava tremulo encostando a cabeça no ombro de Xian. – Eu sei que não quer, mas por favor só por hoje seja meu amigo… – Zhan ofegava e seu corpo tremia.

Xian ouvindo aquelas palavras suspirou se recuperando do baque inicial, estendeu os braços e o abraçou de volta. Zhan estava totalmente descontrolado, Xian só havia visto ele ficar assim uma vez no passado, quando ele falou aos pais que era homossexual.

Continua…

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