“O tempo
O tempo é assassino
Traz o homem e mata o menino
Depois disto vira Serial Killer
Mata o homem jovem
E traz a velhice
Mas o tempo com todos seus defeitos
Também é altruísta
Generosamente dá tempo
Pra gente viver a vida”

FADE IN:

EXT. HOSPITAL – NOITE

A placa fluorescente pisca APAGANDO o letreiro com o nome do hospital da cidade: DOM LUIZ HOSPITAL. A chuva cai AUMENTANDO a intensidade.
SURGEM OS CARACTERES: “1990”
Um carro preto aproxima-se em alta velocidade derrapando na pista molhada e estacionando em frente ao hospital.
Um HOMEM, MIGUEL (+-35 anos) desce pelo lado do motorista, contorna o carro e ABRE a porta traseira do lado do caroneiro. Ele ajuda uma MULHER, LORENA (+-30 ANOS), que tem dificuldade em sair do carro. Perto de dar a luz, ela usa uma camisola larga e SENTE muita dor.
Ao ver a cena, o GUARDA NEGRO(+- 40 anos), ao lado da porta de entrada do hospital, desce as escadas correndo para ajudar. Em seguida, um enfermeiro SAI pela porta giratória empurrando uma cadeira de rodas.

INT. HOSPITAL – NOITE

O hospital encontra-se um CAOS. Médicos e enfermeiros correm de um lado para o outro. Pacientes em cadeiras e em macas pelos corredores.
O enfermeiro ENTRA empurrando a cadeira de rodas com a mulher grávida seguido do guarda com cara de APAVORADO e de Miguel.

ENFERMEIRO
Emergência! Emergência! Mulher em trabalho de parto. Chame o doutor para a sala de parto!

LORENA (virando-se para Miguel)
Você ligou pro Jose?

O homem apalpa o bolso das calças procurando algo.

MIGUEL
Eu tentei antes da gente sair. Ele não atendeu. Vou tentar denovo.

O enfermeiro segue empurrando a cadeira de rodas pelo corredor tumultuado enquanto Miguel se pára diante do balcão de atendimento.

MIGUEL
(para Lorena)
Não se preocupe. Eu vou achar ele.

MIGUEL
(para a recepcionista)
Eu preciso fazer uma ligação para o pai da criança. Ele é policial. Deve estar em trabalho neste momento.

A recepcionista, muito calma, faz a ligação olhando os números no pedaço de papel que o homem à sua frente lhe mostra.

INT. VIATURA POLICIAL – NOITE

JOSE (35 anos) é o motorista. Do seu lado está um outro policial mais jovem. eles estão parados diante de um sinal vermelho.

JOSE
Olha denovo no mapa onde fica este endereço. Pelo que vi deve ficar lá para aqueles becos pesados.

O policial mais jovem ABRE o mapa no seu colo averiguando o pedido de Jose, que olha fixo para o sinal vermelho e bate com os dedos ritmados no volante.
OUVE-SE um sinal SONORO no rádio da viatura.

VOZ NO RÁDIO
Alô, Jose? Está na escuta?

JOSE
(apertando o botão do rádio)
Jose na escuta, câmbio!

VOZ NO RÁDIO
Tenho uma ligação do Hospital Dom Luiz. Você precisa ir logo para lá. Seu cunhado disse que sua esposa está entrando em trabalho de parto.

Jose BATE com as mãos no volante e PISA no acelerador, fazendo com que o jovem policial ao seu lado derrube o mapa no chão do carro.
O sinal fica VERDE para ele. Ele acelera.

JOSE
Meu filho vai nascer!

JOVEM POLICIAL
E a ocorrência?

JOSE
Que se danem estes malditos maconheiros! Nós vamos ver meu filho!

EXT. RUAS – NOITE

A viatura dirigida por Jose tem as sirenes ligadas e acelera pelas ruas em direção ao hospital.

INT. HOSPITAL – NOITE

Jose atravessa a porta giratória seguido pelo policial mais jovem.
Jose se pára na frente do balcão da recepção.

JOSE
LORENA? Minha esposa Lorena deu entrada a pouco em trabalho de parto.

RECEPCIONISTA
Sim. Ela foi levada para a sala de parto há mais de trinta minutos…

Jose está ANSIOSO.

RECEPCIONISTA
(cont.)
… você precisa assinar estes papéis da entrada…

A recepcionista larga alguns documentos sobre a bancada.
Jose pega a caneta para assinar, quando avista seu cunhado, o homem que trouxe Lorena para o hospital.

JOSE
(indo de encontro à MIGUEL)
Miguel, como está Lorena? E o meu filho?

MIGUEL
Calma cunhado. Lorena está bem. Já foi levada para a sala de recuperação. E o pequeno Jony está na encubadora, mas está bem não se preocupa.

Jose ABRAÇA o cunhado emocionado sob os olhares da recepcionista e do policial jovem.

INT. SALA DE RECÉM NASCIDOS – NOITE

São seis encubadoras com seis bebês CHORANDO.
CLOSE em um pequeno bebê bastante cabeludo para um recém nascido. Ele se contorce e CHORA ALTO. Está vestido com um tiptop azul grande para o seu tamanho. As mangas estão dobradas para deixarem suas mãos livres. Há uma pequena pulseira escrito seu nome: JONY STELA.
Pelo vidro do outro lado pode se ver o policial Jose Stela de pé o observando. Lágrimas escorrendo dos seus olhos. Seu cunhado Miguel chega colocando a mão sobre seu ombro.

MIGUEL
É um belo menino, Jose.

JOSE
É sim. E chora como ninguém! Mas é forte como a mãe dele.

MIGUEL
E como o pai dele também.

Jose é um policial sério e durão, mas aqui se rende aos encantos e a emoção de ver seu filho pela primeira vez. Ele deita a cabeça no ombro do cunhado CHORANDO emocionado enquanto se ESCUTA uma canção suave que se mistura ao CHORO dos bebês.

CORTA PARA:

INT. REDAÇÃO DE JORNAL – DIA

Sobre uma mesa de vime toda BRANCA, uma à uma, folhas de jornais começam a cair enquanto uma MÚSICA de SUSPENSE começa à TOCAR.
SURGEM OS CARACTERES: “DIAS ATUAIS”.
São reportagens de páginas policiais sobre o desaparecimento de corpos na região.
Uma última folha de jornal cai sobre todas as outras se sobressaindo. Nela tem a foto de um indivíduo de sobretudo
preto e chapéu saindo de um casebre sob uma forte névoa.
Sobre a foto está a manchete:”Câmera de beira de estrada flagra sujeito estranho saindo de casebre abandonado horas depois do sumiço de duas pessoas nas redondezas”. A imagem do sujeito na foto se transforma em uma noite chuvosa onde…

EXT. RUA – NOITE

…um raio atinge um poste de luz e estilhaços de lâmpadas caem pela calçada. Chove bastante e os trovões são OUVIDOS indicando que a chuva não vai cessar tão cedo.
Um homem (+-40 anos) usando capa de chuva amarela, caminha rapidamente pela rua deserta. Ele puxa o capuz da capa contra o seu rosto enquanto dobra a esquina.

EXT. ESCADAS DA PENSÃO – NOITE

O homem de capa de chuva sobe as escadas estreitas que são iluminadas pela luz amarelada da placa no alto.
CLOSE na placa que diz: PENSÃO DOLORES.
O homem de capa de chuva sobe de cabeça baixa e, no meio da escada, esbarra em um HOMEM DE TERNO (+- 30 anos),que está descendo.
O homem de terno encara o rosto do homem de capa de chuva parecendo já ter visto aquelas feições.

CORTA PARA:

INT. SALA DO DELEGADO – DIA

A sala é pequena e mal iluminada por uma fluorescente suja e com teias de aranhas. A mesa de madeira velha comporta um computador antigo e um telefone velho e está coberta de documentos e fotos.
O delegado WALTER (55 anos), um sujeito robusto e com cara de poucos amigos, está sentado atrás de sua mesa falando ao celular.

WALTER
(ao telefone)
Tem certeza que se trata deste indivíduo? Se tem certeza, pode me passar o endereço.

Walter debruça-se na mesa enquanto anota os dados que lhe passam por telefone em um bloco de anotações.

WALTER
(ao telefone)
Ok. Muito obrigado pela colaboração. Desta vez ele não escapa.

Walter desliga o celular e, imediatamente, retira do gancho  o telefone da sua mesa.

WALTER
(cont.) (ao telefone)
Senhorita Rúbia,por favor diga para o detetive JONY STELA vir até minha sala.

Walter analisa as anotações que fez em seu bloco. Parece apreensivo. Escreve no GOOGLE o endereço que está anotado. A porta da sua sala é aberta.
JONY STELA (30 anos), com seu tradicional suspensório, camisa social bem passada e cabelos bem penteados, entra.

JONY
Com licença delegado. Mandou chamar?

WALTER
Sim, Jony. Entre, feche a porta. Tenho algo para você.

Jony fecha a porta e senta-se na cadeira em frente ao seu superior, curioso para saber do que se trata.
Walter joga na mesa uma foto de uma reportagem de jornal que diz: ” Mais uma vítima do serial killer. Mais um corpo sem mão enterrado indigente em algum lugar desconhecido”.

WALTER
(cont.)
Sei que você tem conhecimento sobre este caso. Que estamos à caça deste delinquente, mas sem informações concretas.

JONY
Sim delegado. Inclusive reuni várias reportagens, depoimentos, mas nada nos leva à algum lugar.

WALTER
Acabei de receber uma ligação anônima que pode, enfim, nos levar até este infeliz.

Walter joga na frente de Jony o bloco com o endereço anotado.

WALTER
(cont.)
Também sei do teu objetivo desde que chegou aqui. Você quer seguir os passos do teu pai, e acho que chegou a hora de mostrar que pode fazer isso.

Jony escuta calado enquanto segura o bloco com o endereço.

WALTER
(cont.)
Eu quero que você reúna e comande a equipe que vai prender este desgraçado!

JONY
É uma honra ter esta confiança, mas…

Jony reluta por alguns segundos.

JONY
(cont.)
Será que estou pronto? É um caso tão importante na região…

Walter levanta batendo com as mãos na mesa.

WALTER
Por isso mesmo. Por ser um caso de extrema importância que preciso de alguém da minha confiança chefiando a equipe.

Walter contorna a mesa e se pára atrás de Jony. Põe as mãos em seus ombros e aponta para uma foto pendurada na parede.

WALTER
(cont.)
Está vendo aquele homem? Ele foi um dos melhores com quem já tive a honra de trabalhar. E o sangue que corria naquelas veias é o mesmo que corre nas suas.

Jony sorri olhando para a foto na parede.
Embaixo da foto está escrito: 1° COMANDANTE JOSE STELA ” IN MEMORIAM”.

CORTA PARA:

INT. QUARTO DE PENSÃO – DIA

É um quarto pequeno, bagunçado, com mobília velha e mal iluminado, com apenas um facho de luz, proveniente de um poste da rua, que atravessa a janela entreaberta e clareia um HOMEM NÚ (+- 40 anos), sentado em uma cadeira de palha no meio do quarto. Sua expressão está fechada. Ele está todo sujo de sangue e segura entre seus dedos um crucifixo.
Do lado da cadeira há uma mesa de madeira velha com a pintura já descascando. Sobre ela uma Bíblia aberta com um revólver calibre 38 em cima.
OUVE-SE o som de sirenes policiais ao longe. O homem nú começa a mexer freneticamente os dedos.
OUVE-SE o som das sirenes policiais cada vez mais próximas.
O homem nú começa a balbuciar algumas palavras indecifráveis.
CLOSE em seu rosto, por onde o suor escorre misturando-se ao sangue. Ele FECHA os olhos.
OUVE-SE passos pesados subindo as escadas da pensão e se aproximando da porta do quarto.
SILÊNCIO POR ALGUNS SEGUNDOS e…
…o ESTRONDO de um chute faz a porta do quarto se abrir.

POLICIAL
Mãos na cabeça!

Um policial mais à direita. Outro policial mais à esquerda.
Todos com a arma apontada para o homem nú, que mantém os olhos fechados.
Jony Stela entra no quarto. Calça jeans, camisa social branca, suspensório, distintivo pendurado no pescoço por um cordão e a arma em mãos. Fica há uns dois metros do homem nú.

JONY
Fim da linha! Você está preso!

O homem nú abre os olhos e fixa o olhar nos três policiais apontando as armas e em Jony à sua frente.
O homem nú estende o braço e pega a arma que está sobre a Bíblia na mesa.
Os policiais engatilham suas armas, mas Jony levanta a mão direita em sinal para não atirarem.
Jony dá dois passos na direção do homem nú quando OUVE-SE um disparo.

JONY
(cont.)
Filho da puta!

Jony fica todo sujo de sangue.

JONY
Merda!

FADE OUT BLACK:

EXT. RUAS – DIA

Debaixo de uma forte chuva, uma ambulância com sirene ligada anda em alta velocidade, ultrapassando os outros carros e passando nos sinais fechados, percorrendo três quadras até chegar na rua da pensão.

CORTA PARA:

INT. QUARTO DE PENSÃO – DIA

Três policiais da equipe forense já estão no quarto. Um faz anotações, um vasculha o armário, encontra a capa de chuva amarela pendurada em um cabide, e o outro tira fotos de um corpo nú coberto de sangue no chão.
Ao lado do corpo está a arma do crime e o crucifixo. Na mesa está a Bíblia com as folhas respingadas de sangue. Tudo é registrado nas lentes do policial fotógrafo.
Um médico legista ENTRA no quarto.

MÉDICO
Detetive Jony Stela?

O policial forense que faz anotações aponta para a janela onde está Jony olhando para a rua segurando uma toalha. Ele limpa o sangue do rosto com a toalha e a aperta com raiva.

JONY
Maldito seja!

FADE OUT:

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

  • Nossa! Excelente estreia! Consegui imaginar tudo a risca cena por cena. Meu Deus, já quero o segundo capítulo pra ontem!

  • Nossa! Excelente estreia! Consegui imaginar tudo a risca cena por cena. Meu Deus, já quero o segundo capítulo pra ontem!

  • Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

    Leia mais Histórias

    >
    Rolar para o topo