“Você sente o último suspiro deixando seus corpos. Você as olha nos olhos. Uma pessoa nessa situação é Deus”
FADE IN:
EXT. DELEGACIA DE NOVA VICENZA DO SUL – DIA
Jony Stela, de calça jeans, camisa social branca e cabelos bem penteados desce do seu veículo e se pára observando o pavilhão velho onde funciona a delegacia da cidade.
SURGEM OS CARACTERES: HÁ DOIS ANOS ATRÁS
Jony SUSPIRA fundo e se encaminha para o lance de cinco degraus que leva até a porta da delegacia.
CLOSE em uma placa já desgastada com o tempo em cima da porta, que diz: DELEGACIA REGIONAL DE NOVA VICENZA DO SUL
INT. DELEGACIA – DIA
Ao adentrar no local Jony se depara com aquele ambiente tenso. Policiais de um lado para outro com papéis em mãos e outros em frente seus computadores nas suas mesas. Logo à sua frente um balcão com um jovem policial atendente.
Jony, após o susto inicial, dá alguns passos em direção ao balcão, mas é surpreendido com GRITOS, ALGAZARRAS, XINGAMENTOS e palavras RUDES de um policial adentrando a delegacia com um jovem delinquente algemado. Ambos passam se debatendo em Jony, parecendo nem notar a sua presença.
Jony pára e observa o policial levar o delinquente para uma ala onde ficam as celas. Quando perde de vista o policial e o bandido no corredor, Jony volta à si e se dirige ao balcão de atendimento.
JONY
Bom dia. Com licença!
POLICIAL ATENDENTE
Bom dia. O que seria?
JONY
Sou Jony Stela. Vim pra conversar com o delegado Walter.
POLICIAL ATENDENTE
Sim. Sim. O delegado comentou que você vinha…
O policial atendente sai de trás do balcão.
POLICIAL ATENDENTE
…pode me acompanhar.
Jony segue o policial por entre as mesas dos demais policiais. Alguns lhe encaram tentando imaginar quem seria aquele homem de cabelos tão bem arrumados e o que ele tinha para falar com o delegado.
INT. SALA DO DELEGADO – DIA
CARACTERES EM SOBREPOSIÇÃO: DIAS ATUAIS
Walter, atrás de sua mesa, com um certo ar de alívio e preocupação ao mesmo tempo. Vasculha em sua gaveta e acha um cigarro.
À sua frente estão Jony Stela e a doutora Karen, ansiosos por alguma palavra do delegado.
WALTER
Jony, Jony. Você estava certo. Os corpos de Manfred e de Killian estavam na rodovia norte. KM171. Naquele matagal de beira de estrada…
Walter se levanta. Pega o isqueiro e vai até a janela, por onde se ver que a chuva não cessará tão cedo. Ele ABRE uma fresta para poder expelir a fumaça do seu vício.
WALTER (cont.)
…e como já era de se esperar, eles foram vítimas deste maldito assassino em série.
Walter acende seu cigarro e dá uma tragada expelindo em seguida a fumaça para fora da janela.
KAREN
E agora delegado?
Walter se volta para o interior da sala deixando o cigarro em um canto da janela.
WALTER
Agora que eu acho que tive uma brilhante ideia para solucionarmos de vez estes casos de corpos desaparecidos aqui na região…
Walter, CALMAMENTE, volta para sua cadeira atrás de sua mesa. Senta encarando Jony, que mantém a cabeça baixa sem lhe olhar nos olhos.
WALTER
…quero usar este teu dom, ou seja lá do que se pode chamar isso, para acharmos os corpos que ainda estão desaparecidos.
Jony levanta a cabeça, SURPRESO com a decisão do seu superior.
KAREN
Acho que a decisão é justa delegado. E acredito que posso ajudar Jony à nos ajudar.
CORTA PARA:
INT. SALA DO DELEGADO – DIA
CARACTERES: HÁ DOIS ANOS ATRÁS
O delegado Walter está atrás da sua mesa lendo alguns documentos quando o jovem policial atendente ENTRA, acompanhado de Jony Stela, que aparenta TIMIDEZ e INSEGURANÇA.
Ao ver Jony, o delegado Walter SAI de trás de sua mesa SORRINDO e indo de encontro ao jovem bem arrumado.
WALTER
Jony! Mas veja só, que homem se tornou!
Walter ABRAÇA Jony.
WALTER
Obrigado policial DENIS! Liberado!
O jovem policial atendente se retira da sala.
WALTER
Senta Jony. Vamos conversar.
Jony senta-se enquanto Walter volta para trás de sua mesa.
WALTER (cont.)
Eu tô muito satisfeito em ter você trabalhando aqui comigo…
JONY (olhar tímido, cabeça baixa)
Obrigado!
WALTER
Ora Jony. Não precisa agradecer. Na verdade eu sempre soube que um dia eu teria trabalhando aqui comigo o filho do meu famoso e competente amigo Jose Stela.
JONY
Meu pai era um grande policial.
Walter se levanta ao mesmo tempo em que retira um cigarro da carteira que está sobre a mesa.
WALTER
Quer um?
JONY
Não. Não fumo não.
WALTER (indo de encontro à janela)
Faz bem. Isso aqui é uma merda que vai acabar me matando…
Walter ABRE a janela.
WALTER (cont.)
…mas como parar quando já se está viciado e trabalhando em um lugar desses?
Walter ACENDE seu cigarro.
CORTA PARA:
EXT. DELEGACIA – DIA
CARACTERES: DIAS ATUAIS
A chuva CAI FORTE sem parar. Debaixo da marquise da delegacia estão Karen e Jony, criando coragem para correrem na chuva até seus carros estacionados mais à frente.
KAREN
O delegado confia muito em ti Jony. Ele sempre falou que o modo de você trabalhar lembrava muito seu pai Jose.
JONY
Meu pai era o melhor policial que eu já vi. Tento sempre me espelhar nele…
Jony encara o céu escuro.
JONY (cont.)
…mas acho que não tô fazendo isso direito. Porque ando fazendo merda atrás de merda.
KAREN
Pára com isso. Se estivesse fazendo merda não estaria de volta ao caso. De volta ao trabalho.
Um TROVÃO corta o céu escuro.
JONY
É. Pelo jeito essa chuva não vai parar.
Jony e Karen puxam as golas altas de seus casacos e se preparam para descer os degraus rápidos até seus respectivos carros.
KAREN
Até amanhã Jony.
A doutora Karen é a primeira à encarar a chuva fria e intensa. Jony corre logo depois em direção ao seu carro.
CORTA PARA:
INT. SALA DO DELEGADO – DIA
CARACTERES: HÁ DOIS ANOS ATRÁS
Walter está de pé ao lado de Jony, que continua sentado em frente à mesa do seu superior olhando um álbum de fotografias.
Walter se inclina pondo o dedo sobre uma fotografia com vários policiais sendo homenageados.
WALTER
Aqui está seu pai. Condecorado com esta medalha de honra devido aos anos de serviços prestados com maestria.
Walter levanta o corpo e se dirige para trás de sua mesa.
WALTER (cont.)
Deve se orgulhar do pai que teve Jony. Porque, com certeza, ele está olhando por você e já se orgulha de tudo o que você é.
Walter senta-se. Pega um bolo de documentos e os coloca frente à Jony.
WALTER (cont.)
Quero que você leia. Se familiarize com estes casos. Porque quero deixar você como responsável por esta área. Há tempos procuro alguém com o seu curriculum e suas características. E quando vi que era filho de Jose…
Walter BATE com a mão sobre a mesa.
WALTER (cont.)
…bingo! Eu disse pra todos que tinha ganho na loteria!
Jony SORRI TIMIDAMENTE enquanto pega a pasta grossa de documentos.
CORTA PARA:
INT. SALA DA DETETIVE E PSICÓLOGA KAREN TELLES – DIA
Karen larga seu bloco de anotações sobre a mesa sentando na sua cadeira. Jony, SORRIDENTE, se joga de costas deitando na poltrona.
KAREN (sorrindo)
Como é bom te ver assim.
JONY
Você não sabe o bem que me faz estar de volta ao trabalho. Mesmo que…sendo desta forma, você entende.
KAREN
Sim. Toda forma de ajuda é válida.
Jony encara a doutora. Ele sente que algo mudou. Ele vê Karen com outros olhos.
Karen sente-se um pouco intimidada com o olhar do seu colega e paciente.
KAREN
Ok…
Karen respira fundo. Ajeita os óculos. Mexe nos cabelos.
KAREN (cont.)
…vamos ao trabalho senhor Jony.
Jony SORRI.
JONY
Vamos doutora. Vamos ao trabalho.
Jony relaxa. Fecha os olhos.
EXT. CIDADE DOS VENTOS – DIA
A pacata cidade dos ventos fica há uns 20 KM de Nova Vicenza do Sul. Um lugar, que até então, exala paz e harmonia em meio à muito verde e casas simples e aconchegantes.
CARACTERES: HÁ ALGUNS ANOS ATRÁS
EXT. ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL – DIA
No pátio da escola, atrás das grades, um grupo de crianças entre 5 e 6 anos de idade, brincam no parquinho sob observação e cuidado de duas jovens professoras.
O sinal sonoro TOCA indicando que acabou a hora do recreio. Em meio à ALGAZARRAS dos pequenos, as duas professoras chamam e organizam as crianças para entrar.
Enquanto, em filas, as crianças adentram a escola, atrás das grades, do lado de fora, um HOMEM (+ou-25 anos), de casaco de moleton e capuz, observa escondido arás do tronco de uma árvore da calçada.
INT. SALA DA DETETIVE E PSICÓLOGA KAREN TELLES – DIA
Deitado na poltrona, sob olhares da doutora Karen, Jony se agita de um lado para o outro sem abrir os olhos.
INT. ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL – DIA
Um corredor longo cheio de trabalhos infantis pelas paredes, separa as salas de aula da escola.
LENTAMENTE, percorremos o longo corredor até entrar no…
INT. SALA DE AULA – DIA
…onde uma pequena turma de mais ou menos 15 crianças, todas sentadas sobre as pernas em almofadas no chão, prestam atenção na professora explicando uma atividade. Por alguns segundos assistimos o entusiasmo da professora e a concentração dos pequenos lhes ouvindo.
EXT. ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL – DIA
O homem de moleton e capuz parece ASSUSTADO parado próximo às grades. Olha para um lado. Olha para o outro.
O homem escala as grades e pula para o lado de dentro do pátio da escola. Olha novamente para ambos os lados, se esconde atrás da casinha do parquinho, põe a mão debaixo do moleton pegando uma arma de fogo e a engatilhando. Ele dá mais uma olhada por tudo, parece NERVOSO, e vai em direção à porta de entrada.
Há um longo período de um SILÊNCIO AGONIZANTE, onde se fica à observar a escola, o parquinho e o verde das árvores, até que um pássaro POUSA sobre a placa do número da escola em cima da porta. Ele está AGITADO. Cantarola movimentando-se.
O pássaro alça vôo segundos antes de se OUVIR GRITOS ASSUSTADOS de dentro da escola. Logo em seguida OUVE-SE vários DISPAROS de arma de fogo, que fazem, um a um os GRITOS irem cessando.
O silêncio volta à ser soberano por mais um longo período. O pássaro reaparece na entrada da porta. Cantarola, observa curioso e alça vôo novamente.
CORTA PARA:
INT. ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL – DIA
O corredor colorido dos trabalho das crianças dá lugar para um ambiente ASSUSTADOR. Logo na entrada há o corpo de uma secretária estirado no chão com um buraco de tiro na cabeça e uma poça de sangue se formando. Há respingos de sangue nas paredes e nos desenhos das crianças.
As pernas de uma professora são avistadas impedindo que uma porta se feche por completo. De relance dá pra se ver dentro da sala de aula os corpos de algumas crianças também estirados no chão.
INT. SALA DE AULA – DIA
Na sala onde as crianças prestavam muita atenção nas explicações da professora, agora se vê tudo bagunçado e destruído com os corpos dos pequenos por todos os lados um em cima dos outros e, caída sobre a classe, a professora tem sangue escorrendo de sua barriga.
Em meio aos corpos infantis está o homem de moleton e capuz com a arma na mão. Ele larga a arma e tira o capuz. Seus olhos estão vermelhos de CHORAR.
OUVE-SE o CHORO de uma criança vindo debaixo da mesa da professora. O homem, CALMAMENTE, se levanta e vai até a mesa. PUXA o corpo da professora pelo braço derrubando-a no chão fazendo BARULHO e despertando o olhar ASSUSTADO de quem CHORA: um menino de 5 anos de idade.
O homem inclina-se e acaricia os cabelos do menino, quando, ao longe, se OUVE sirenes policiais.
EXT. RUAS – DIA
Uma viatura policial de sirene ligada corta as ruas em alta velocidade.
VOZ POLICIAL (em off)
Estamos dirigindo pra lá, câmbio!
Som da sirene se escuta mais ALTO.
VOZ POLICIAL (em off)
É na escola Caminhos de Luz sim. Já estamos próximos, câmbio. Desligo!
INT. SALA DE AULA – DIA
Dois policiais armados entram na sala e dão de cara com o menino, que ASSUSTADO, desvia o olhar para uma janela entreaberta.
LENTAMENTE, já com a arma abaixada, um policial caminha até o menino enquanto seu companheiro, com a arma em mãos, caminha até a janela.
POLICIAL (se aproximando do menino)
Calma, calma! Eu vou te ajudar!
POLICIAL 2 (olhando pela janela)
Nada aqui!
O menino encara o policial, começa à CHORAR e coloca ambas as mãos TRÊMULAS no meio das pernas.
CLOSE na urina que escorre entre suas pernas.
CLOSE no seu rosto ASSUSTADO que parece ir se transformando, até…
TELA ESCURA
CARACTERES: ALGUNS ANOS DEPOIS
EXT. PÁTIO – ESCOMBROS – DIA
…que o serial killer que já conhecemos limpa o suor na manga do seu casaco. Atrás dele há escombros de uma obra. Ele está aonde antes era a escola infantil Caminhos de Luz. Ele joga uma última pá de terra no que parece ser uma cova.
Em meio aos escombros há uma placa pendurada com os dizeres: “Em memória às vítimas da chacina da luz”. Assim ficou conhecida aquela chacina na escola Caminhos de Luz.
INT. SALA DA DETETIVE E PSICÓLOGA KAREN TELLES – DIA
Jony ARREGALA os olhos sentando na poltrona.
JONY
Eu sei onde há mais um corpo vítima do nosso serial killer!
FADE OUT:
Caramba vei! Esse foi pesado. Fiquei com uma angústia sem igual aqui com esse genocídio na escola. Caramba, meuis olhos se encheram de lágrimas ao ver tantas crianças mortas. E eu já estava me preparando pro serial killer matar o menino, graças a Deus que ele não fez isso.
Ufa! Muitas emoções minha gente, muitas emoções.
Um passado obscuro precisava ter. Mas confesso que foi difícil escrever a cena da chacina na escola infantil, inclusive, pensei em tirá-la, mas quando coloco uma coisa na cabeça, preciso manter aquela idéia.
Caramba vei! Esse foi pesado. Fiquei com uma angústia sem igual aqui com esse genocídio na escola. Caramba, meuis olhos se encheram de lágrimas ao ver tantas crianças mortas. E eu já estava me preparando pro serial killer matar o menino, graças a Deus que ele não fez isso.
Ufa! Muitas emoções minha gente, muitas emoções.
Um passado obscuro precisava ter. Mas confesso que foi difícil escrever a cena da chacina na escola infantil, inclusive, pensei em tirá-la, mas quando coloco uma coisa na cabeça, preciso manter aquela idéia.
Caraca!!!! Puta frieza do camarada!
Caraca!!!! Puta frieza do camarada!