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O Diário de Lucca: Capítulo 25 – Final de Semana II

Se sentia bonito, feliz.

Seu humor mudava completamente quando estava gostando de alguém, conhecendo e se apaixonado aos poucos. Continuou conversando com o roqueiro após aquela noite na praça, parecia até surreal que aquilo estava acontecendo porque julgava que o rapaz mais velho era o tipo de homem que nunca iria conseguir alcançar. O tipo mais experiente, mais inteligente e com um corpo considerado invejável por todo mundo. Só que como as suas férias na chácara da sua falecida avó, sua vida estava cor de rosa e uma fanfic da qual o adolescente gordinho gostaria de acompanhar.

Ficou dias conversando com Samuel e o encontrando somente no prédio do curso pré-vestibular e em consequência dessa nova relação acabou frequentando mais as suas aulas com medo do que o seu novo crush fosse pensar, mas não abandonou seus amigos porque continuava a se encontrar com todos na praça, principalmente com Sabrina e Leandro.

Até o momento em que o nosso protagonista se arrumava para seu encontro não havia beijado ainda os lábios do seu pretendente. Não era como se não tivesse existido oportunidades para isso acontecer só que Lucca estava querendo não avançar muito o sinal e assustar Samuel, entretanto, o rapaz mais velho pensava que o outro estava indo muito lento e, por isso, o chamou para sair. Claro que o mais novo ficou animado com isso, pois geralmente era Lucca quem convidava para sair quando conhecia um cara novo.

O rapaz roqueiro esperava pelo o garoto em frente ao shopping. Se tratava de um encontro básico: iriam passear pelo shopping, assistir a um filme de tarde e depois comer algo na praça de alimentação. Diferente de Lucca que sempre estava em uma posição defensiva em relação ao que poderia acontecer entre os dois, por medo de assustar e de se machucar novamente, Samuel já pensava em tentar algo sério com o mais novo. Geralmente não se envolvia com pessoas com seis anos a menos do que ele, todavia havia algo no outro que despertava seu interesse.

O garoto dos longos cabelos vestia uma camisa de alguma banda de rock, uma jaqueta de couro e calças jeans, em seus pés um par de botas. Foi o que Lucca encontrou quando chegou ao local do encontro e assim o nosso protagonista se sentiu mal vestido em relação a Samuel. Lucca estava usando uma camisa de abotoar xadrez, um blusão sem gola por cima, calças jeans e um par de tênis até bem simples. Quem os visse um ao lado do outro nunca poderiam pensar que se tratava de um casal de futuros namorados porque nas roupas que vestiam naquele momento os deixam opostos completos.

Aquele velho ditado não diz que os opostos se atraem?

— É sério? — perguntou Samuel tentando não rir.

— Sim, é sério. É uma ótima série para ampliar seu gosto musical, cara! Eles foram de Journey até os hit dos anos em que estava em exibição. Sério, eu não vou deixar você falar mal de Glee porque foi uma coisa importante na minha vida. — disse Lucca tentando manter um tom descontraído em sua fala para esconder o fato de que estava sim um pouco magoado.

— Tudo bem, mas eu não estou falando mal da série, não estou, é sério. Só que achei engraçado que você conheceu Queen por intermédio desse seriado.

— Mas como assim?

— Ah é que a maioria das pessoas que eu conheço, meus amigos e meus colegas de banda, conheceram Queen pela rádio, pela televisão, pela MTV.

— É que vocês tinham um gosto musical bem forte, eu não. Meu gosto musical realmente só surgiu quando eu comecei a assistir ao seriado, antes disso eu quase não ouvia musicas.

— Que bom, a série te deu um ótimo gosto musical.

— Sim!

Os dois riram ao mesmo tempo e seguiram com a conversa, entraram em uma livraria do shopping e ficaram observando os livros. O nosso protagonista foi quase chamado por uma voz divina para uma estante especial somente com obras da Jane Austen, baseadas na autora e biografias. Ainda não tinha lido uma obra da autora, porém no ensino médio a sua professora de literatura passou “Orgulho & Preconceito” de 2005 para ilustrar as histórias da escola romântica e Lucca sempre teve curiosidade de ler o livro.

Do outro lado da livraria, Samuel se encontrava observando alguns discos de vinis usados que estavam À venda eram de bandas de rock clássicas, entretanto se aproximou devagar do mais jovem quando percebeu que o mesmo observava com atenção uma edição de um livro da Jane Austen.

— Gosta? — perguntou Samuel já ao lado de Lucca.

— Sim. Quer dizer, só assisti ao filme uma vez, mas gostei bastante da história ao ponto de ficar curioso pelo livro, mas não tenho dinheiro para levar ele hoje. — sorriu tímido enquanto o deixava no lugar de antes.

O roqueiro de cabelos grandes voltou a pegar o livro.

— Eu compro para você.

— Que isso, não, não… Eu não posso aceitar.

— Por que não?

— Bem…

— Viu só, você não motivos para não aceitar um presente meu. Eu compro para você.

— Obrigado, você é um anjo… — sorriu Lucca novamente.

Em resposta o mais alto apenas acariciou o rosto do mais baixo e mais jovem, Lucca fechou os olhos e sorriu enquanto recebia a caricia de Samuel que por sua vez também fez o mesmo. Naquele momento o roqueiro decidiu que mais tarde, no final daquele encontro, iria pedir o rapaz gordo em namoro. Existia algo que ele não sabia explicar, mas mesmo que em uma situação corriqueira não tivesse olhado para o nosso protagonista da mesma forma que olhou após a noite na praça, Samuel sentia uma energia que o conectava com o outro. Tinham nada em comum, mas tanto para compartilhar um com o outro.

No final das contas sentia isso e era maior do que qualquer diferença que poderia existir.

A sala em que onde iriam assistir ao filme estava quase vazia e haviam escolhido o lugar mais longe possível de tudo, sentaram lado a lado e colocaram a sacola com comida que compraram nas Americanas. Ainda estava nos comerciais da própria rede de cinemas e ainda viriam os trailers antes do filme em si que pagaram para assistir. Quando Lucca olhou para o lado em que o outro rapaz estava se deparou com o roqueiro sorrindo ao olhar para ele, Lucca se sentiu feliz com aquilo, tentava se lembrar da última vez em que viu um sorriso como aquele direcionado a ele. Parecia que seu coração bateria até explodir seu peito, tinha esquecido como era se sentir apaixonado e agora lembrava perfeitamente. Era bom, tentava não pensar o que lhe aconteceria se seu namoro acabasse para que sua ansiedade não tomasse o controle.

Samuel se inclinou mais para frente e encostou seus lábios nos de Lucca, de forma delicada abriu espaço para um beijo que foi correspondido já no começo. Os cabelos entre as mãos do mais gordo eram macios, Lucca estava adorando tocar nele. O perfume que o roqueiro usava tinha um cheiro forte como uma bebida maturada por muito tempo, mas também existia um pouco de algo adocicado naquele aroma, fazia o corpo do outro se arrepiar. Nas partes menos interessante do filme os dois voltavam a se beijar, aproveitavam porque a sala do cinema se encontrava quase vazia, além do casal se encontravam ali mais algumas cinco pessoas.

— O que achou do filme? — perguntou Samuel assim que os dois deixaram a sala de projeção.

— É como se fosse uma nova versão do primeiro, mais grandiosa, sei lá. Eu gostei. E você? — respondeu e perguntou Lucca.

— Também gostei. — sorriu o cabeludo. Continuaram em silêncio até a saída do shopping, iriam comer alguma coisa na praça de alimentação, mas o shopping acabou mais tarde do que o previsto. Lucca estava pegando seu celular para ligar para seu pai quando Samuel disse antes que fosse tarde demais. — Quer ir lá para casa?

— Pra sua casa?

— Sim. — disse Samuel achando engraçada a reação do mais novo. — Se você quiser isso mesmo.

— Não, não. Eu quero isso. — sorriu Lucca. — Eu quero…

— Ótimo… Eu também quero dizer outra coisa, não é oficial, na verdade acho que não porque estamos se falando a pouco tempo e apenas ficamos nos encontrando nos corredores do Práxis, mas… Vamos namorar sério, o que tu acha?

Então o mundo parou de girar para Lucca, tudo estava perfeito e nunca havia pensando que desejaria ouvir algo como aquilo de outro cara com quem, a primeira vista, ele não teria nada semelhante. Não disse nada, não precisava porque o que faria a seguir já seria sua resposta. Segurou o mais alto pela a jaqueta de couro e o puxou com força, o beijou da forma mais intensa que conseguia. Desejava cada parte do seu corpo, queria ver, observar e guardar cada detalhe daquele homem.

Tinha vergonha do seu corpo, de uns anos para o tempo em que esses acontecimentos se passam havia ganhado mais um pouco de peso, entretanto os seus medos do seu parceiro desistir de qualquer investida quando o visse sem roupas sumiram quando o mais velho sorriu, já nu, ao terminar de despir Lucca e chama-lo de bonito.

Engraçado como outra pessoa pode influenciar de diversas formas a autoestima da outra, não é o ideal depender de um segundo ou  terceiro para isso, todavia não podemos deixar de entender e notar que o reconhecimento, um elogio de alguém faz com que nos sentimos bem consigo mesmos. Um olhar diferente, um toque, uma caricia, apenas uma palavra. “Bonito” depois dessa primeira noite tudo isso ficaria gravado nas memórias do nosso protagonista por um bom tempo e, em algum momento sozinho em sua casa com uma xícara de café ele iria sorrir sozinho ao lembrar como Samuel o fez sentir naquela noite de prazer.

O roqueiro foi gentil com Lucca naquela noite, também paciente e de várias formas generoso. Não foi no momento, mas momentos mais tarde Lucca compararia o sexo que teve com Samuel, e os que teria futuramente, com os momentos que teve com Arthur. As diferenças eram realmente claras. Com o novo namorado tudo acontecia com o tempo e era extremamente prazeroso, sentia que o outro estava preocupado não somente com o prazer próprio, mas com o dele também. Quando pensava no sexo com Arthur, lembrava que algumas vezes tudo acontecendo rápido e sentia, com essas lembranças, que o amigo não tinha preocupação em fazê-lo chegar ao ápice também.

Ficou deitado ao lado do mais velho, os dois ofegantes e um pouco suados. Aquilo havia sido especial para o nosso protagonista porque da última vez que havia feito sexo o parceiro não tinha explorado tanto o corpo dele como dessa vez mais recente. Samuel levantou da cama, ainda pelado e foi para o banheiro que ficava do outro lado da porta do quarto, ouviu um barulho de água caindo e em seguida da descarga.

Samuel voltou para o quarto e deitou novamente ao lado de Lucca.

— Foi bom para você? — o roqueiro perguntou a Lucca.

— Sim. Acho que foi o melhor sexo que já tive. — respondeu o mais novo sorrindo bobo. Samuel também riu, acariciou o rosto redondo do outro, seus olhos brilhavam e ao perceber isso o coração de Lucca ficou agitado novamente.

— Você é tão bonito.

— Não sou não. Sou normal, bonito é você. Às vezes me pergunto se tudo isso é real…

— Não fala assim. — Samuel segurou a mão de Lucca com força. — Eu gosto de verdade de você. — beijou Lucca novamente e em seguida o abraçou, ficaram assim até um tempo. Então, disse:

— Vamos mudar nossos status?

— Do Facebook? — perguntou Lucca surpreso.

— Sim. Algum problema?

Pensou em seus pais, mas já estava na hora de não pensar nisso. Uma hora ou outra iria acontecer isso, começaria a namorar com outro rapaz.

— Vamos sim.

Atualizaram os status, agora todos saberiam que estavam em um relacionamento sério. Vários comentários surpresos e outros desejando felicidades ao novo casal que se formou entre as paredes de um curso pré-universitário.

Assim que Lucca chegou a sua casa deu de cara com sua mãe sentada no sofá, estava olhando a linha do tempo do seu Facebook e quando Julieta viu o filho voltando logo avisou que queria conversar com o mesmo. Antes de voltar para a sala de estar, Lucca trocou de roupa o mais demorado que conseguia fazer.

Sentou ao lado da mãe e em seguida ela mostrou a publicação que se encontrava na sua linha do tempo, Alguns amei, alguns uau e muitos comentários. Claro que se tratava da atualização de status de relacionamento feita por ele e pelo recém namorado.

— Quem é esse? — Julieta perguntou.

— Meu namorado.

— E quando iria me contar sobre isso?

— Como assim? Eu já sou maior de idade, não sou obrigado mais a te contar essas coisas. — disse Lucca e em seguia levantando do sofá para voltar ao seu quarto.

— E quando você pensava em apresentar seu namorado para gente? Pra mim, para o teu pai, para as tuas irmãs… Trazer o rapaz aqui em casa?

Encarou sua mãe, não acreditava que ela estava dizendo aquilo. Na cabeça do rapaz estava claro que a sua mãe somente fingia aceitar a sua sexualidade, aquele comentário feito por Julieta mostrado e trazido a tona pela sua filha mais velha ainda estava fresco nas memórias de Lucca e a lembrança o atormentava quase todas as noites e tardes.

— Por que você finge ainda? — o filho questionou.

Julieta franziu sua testa, confusa com a acusação.

— Mas do que você tá falando, garoto?

— Não precisa mais fingir, eu sei que você nunca aceitou o fato de eu ser homossexual. Que eu nasci gay. Você nunca aceitou e fica fingindo.

— De onde você tirou isso? — perguntou Julieta levantando rapidamente do sofá.

— Me mostraram!

— Mostraram o quê?

— Eu sei que você comentou na foto de uma garota, mas não deve ser a única, né? Que gostaria que ela fosse sua nora, mas me diz, mãe… Se você realmente aceitasse que eu nasci gay por que você faria isso? Por que eu traria qualquer cara aqui em casa já que eu tenho medo?

— Medo…

— Medo. Por mim vocês nunca vão conhecer o Samuel, nunca…

Lucca deus as costas e foi para o seu quarto, sua mãe o chamou algumas vezes, mas ele não deu atenção.

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