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O Diário de Lucca: Capítulo 5 – Antiga Estação Ferroviária

A sua animação para aquela festa estava a todo o vapor. Tanto que deixou para se arrumar em cima da hora. Passou a maior parte do dia assistindo televisão, a situação de sua aparência física naquele momento estava semelhante à de um cadáver jogado a beira de um rio encontrado, mais ou menos, uns três ou cinco dias depois de seu falecimento.

Quando recebeu a mensagem de Arthur lhe perguntando se já estava se arrumando para a festa, Lucca estava deitado em sua cama com um saco de batatas chips sobre o seu peito e um olhar de peixe morto direcionado ao teto. Na televisão passava uma animação com censura maior de dezesseis anos.

Respondeu a mensagem do melhor amigo dizendo que estava se preparando para entrar no banho, então, Arthur respondeu com um simples “Okay”. Depois de passar mais alguns minutos encarando o teto e não pensando em nada, Lucca levantou da cama ao mesmo tempo em que murmurava sem vontade de ter que ir para a tal festa. Foi para o banheiro aonde tirou suas roupas e ligou o chuveiro na água gelada. Entrou debaixo das gotas geladas e sentiu o gelo expulsar a canseira do seu corpo adolescente, mas que de vez em quando parecia o de um idoso.

Iria para uma festa com o seu melhor amigo, aquele por quem guardava sentimentos, todavia seria ainda melhor se estivesse indo para essa festa como o namorado de Arthur.

Quem ele gostaria enganar, não é mesmo? Isso nunca iria acontecer, o outro até apresentaria um rapaz para ele. Chamado Dario. Dario… Um nome diferente que soa bonito. Soa como Darren… Darren Criss. Talvez ele fosse encontrar o Blaine do seu Kurt, quem sabe? — Quando percebeu que estava com um sorriso bobo em seu rosto, tratou de desfazê-lo de uma fez e manter seus pés firmes no chão da realidade, tentaria não imaginar nada com um garoto que ainda nem se quer conheceu.

Desligou o chuveiro, se secou rapidamente, enrolou a toalha em sua cintura e logo foi para o seu quarto.

Arthur tinha mandado mais duas mensagens querendo saber o quão mais Lucca demoraria. Respondeu dizendo que estava se vestindo. Sentou na cama, suspirou e começou a pensar na roupa que vestiria para a festa. Sabia que o seu armário não era o mais diversificado ou o mais bonito, suas escolhas eram poucas e ao invés de fazer o processo mais fácil, na verdade, o deixava mais demorado.

— Que legal Lucca, agora você entendeu os motivos que levam a sua mãe mandar você não comprar mais livros do que roupas? — sussurrou para sim mesmo observando seu armário aberto. — Legal, só vamos fazer isso de uma vez.

Pegou uma camisa branca, uma jaqueta jeans e uma calça do mesmo tecido. Passou desodorante, um perfume e calçou seus sapatos relativamente novos. Pronto, estava preparado para a festa. Só precisava melhorar um pouco a sua expressão, mas isso iria se ajeitando conforme o passar das horas.

Enviou uma mensagem para Arthur, avisando que estava indo para a casa dele e em seguida deixou o seu quarto.

— Já vai sair? — perguntou o pai de Lucca assim que viu o filho entrar na sala de estar.

— Ah, sim. O pai do Arthur vai levar a gente para a antiga estação ferroviária. — respondeu o filho.

— Tem dinheiro? — pergunta o pai.

— Dinheiro?

— Para comprar alguma coisa para comer ou beber?

— Não… — Lucca respondeu com um sussurro, tentou sorrir.

O pai levantou do sofá em que se encontrava, tirou o dinheiro da carteira que antes estava protegida em seu bolso. Meio sem acreditar Lucca pegou o dinheiro, sorriu e agradeceu ao homem que o “ajudou” a criar com um abraço e aperto de mão. Quando o homem voltou a se sentar, o adolescente deixou sua casa com um sorriso de orelha a orelha por causa dos vinte reais.

A casa de Arthur ficava logo no final da rua, na esquina. Sempre entrava sem bater palmas na frente do portão, afinal já haviam passado dessa fase. Mas quando chegava a porta da frente, aí sim, batia para alguém abri-la para ele. Foi recebido pela a mãe do seu melhor amigo, a mulher alegre o avisou que o filho estava no quarto e em seguida o garoto caminhou pelo corredor até a última porta que era a do quarto de Arthur.

Quando entrou no cômodo de Arthur, o viu sentado na cama só com a toalha tapando sua genitália.

— Chegou! — disse o rapaz de cabelos negros sorrindo.

— Pensei que você já estivesse pronto. — disse Lucca sentando na cadeira do computador.

— Eu me arrumo bem rápido. — sorriu Arthur. — Pode ficar a vontade.

— Obrigado.

Arthur levantou da cama e se livrou da sua toalha, estava nu. Pelado como no dia em que nasceu, a sua coisa balançando conforme ele mexia as pernas… E que coisa. Envergonhado e para driblar a sua tentação de olhar para a coisa do seu amigo mais uma vez, Lucca ficou de frente para a tela do seu computador. Podia sentir o seu rosto vermelho como um pimentão ou tomate. Olhou de canto para trás, viu a bunda do outro. Era um belo exemplar de bochechas, quando satisfez sua curiosidade voltou sua atenção para a tela do computador.

Precisava fingir que estava ocupado ali, então entrou no seu perfil do Facebook.

Havia de existir uma maneira de se livrar dos seus sentimentos por Arthur, talvez essa maneira se chamasse Dario, o rapaz que iria conhecer mais tarde naquela noite. Lembrou que não queria e nem seria bom pensar muito sobre uma pessoa que nem ainda conheceu, entretanto, poderia perguntar para o seu melhor amigo que estava pelado bem atrás dele como esse rapaz ainda desconhecido seria no físico e na personalidade.

— Arthur, me conta aí. Como esse tal de Dario é? — perguntou Lucca sem olhar para trás.

— Ele é legal.

Esclarecedor. — pensou o nosso protagonista. — Então me deixa mudar a pergunta. Como você conheceu ele?

Arthur parou para pensar, estava somente com uma camisa vermelha e as suas meias.

— Como eu conheci o Dario? Bem, foi em um evento de anime. Fui com uns amigos, queríamos jogar na sala de RPG, mas… Não ri de mim, okay Lucca? A sala de kpop me chamou a atenção e, então, dei um perdido nos meus amigos para ir até lá. Quando entrei na sala vi o Dario se apresentando com seu grupo de dança. Ele manda muito bem.

Lucca rapidamente virou a cadeira para trás, surpreso com a última informação.

— Ele dança? — perguntou surpreso e aparentemente decepcionado.

— Sim. — respondeu o amigo rindo, terminando de vestir suas calças. — Isso é um problema, eu não entendi o problema se for.

— Olha para mim, Arthur. — começou Lucca levantando rápido da cadeira. — Olha para mim!

— Eu estou! — riu o garoto de cabelos negros. — Mas ainda não entendi.

— Se esse Dario dança isso quer dizer que ele é magro e com certeza não vai querer nada comigo, nada! Nadica de nada…

Arthur começou a rir, em seguida passou suas mãos nos cabelos de Lucca que sentiu um arrepio elétrico preencher o seu corpo, as pupilas dos seus olhos expandiram um pouco e o seu coração começou a bater mais forte. Não conseguia desviar seu olhar da beleza que o rosto do seu melhor amigo tinha para os seus olhos. As mãos de Arthur pousaram nos ombros de Lucca, ainda sorrindo o garoto falou em um tom animado:

— Isso é coisa da tua cabeça, Lucca. Você é bonito, eu tenho a total certeza de que o Dario vai gostar de ti conhecer. Vai por mim.

— Se você… Se você diz. — Lucca respondeu dando de ombros.

— Estou pronto, só vou passar o perfume e daí a gente vai. Okay?

— Sim. — responde Lucca.

Uma música eletrônica sem letra tocava no local, o cheiro forte de erva podia ser sentido em qualquer parte da antiga estação que era ao céu aberto. Começou a se perguntar o porquê de ter aceitado o convite, estava se sentido deslocado naquele lugar. Para todos os cantos que olhava parecia que tinham aberto uma página do Tumblr ou passando pela a timeline do Instagram de alguém cult e emo.

A música com uma única batida que se repetia a cada três minutos continuava batendo em sua cabeça como um martelo.

— Quer? — perguntou Arthur se aproximando com uma bebida.

— Eu acho que vou embora. — disse Lucca. — Foi um erro eu ter vindo, desculpa Arthur. É que… Olha só para essas pessoas… Eu não me encaixo aqui, cara… Todo mundo tá tão bem vestido e eu pareço, sei lá, um qualquer.

— Não, espera aí! Meus outros amigos e o Dario ainda não chegaram. Vamos com calma, certo? Bebe um pouco, toma. Você precisa se soltar e a melhor coisa para isso é uma cerveja bem gelada.

Lucca sorriu e pegou o copo transparente de plástico que o amigo trouxe, bebeu. Era a primeira vez que sentiu o gosto amargo da cerveja, entretanto a temperatura extremamente gelada deu uma mascarada.

— Bom, não? — perguntou Arthur.

— Sim. É bom. — sorriu quando terminou de falar.

Sentou e ficou observando as pessoas na festa, o copo de cerveja ainda estava em sua mão e na outra seu celular. Arthur tinha desaparecido na multidão, mas em algum momento ele voltaria. Lucca esperava que sim.

A antiga estação ferroviária da cidade parecia o set de uma série de zumbis, também poderíamos fazer um paralelo entre alguma construção destruída em Chernobyl ou para olhos mais amigáveis, a estação poderia ser comparada a um belo e ideal local para fazer fotos produzidas. Realmente com um ângulo e luz bem calculados, ótimas fotos poderiam sair dali.

Estava oficialmente entediado com aquela festa, terminou de beber a cerveja e ficou mexendo no celular, foi para a sua linha do tempo no Twitter. Aquilo estava demonstrando ser mais interessante que as coisas que estariam acontecendo ao seu redor, uma ótima fanfic de Twitter estava rolando ao vivo bem na frente dos seus olhos e isso foi a chave para se desligar completamente de toda a realidade por algum tempo.

— Lucca… Lucca? — uma voz familiar chamava pelo seu nome.

Quando o nosso protagonista enfim desviou sua atenção do celular viu Arthur parado a sua frente, mas não estava sozinho.

Ao seu lado estava um jovem, aparentemente mais velho que os dois, cabelo castanho claro e uma pele tom de caramelo, lindos olhos aveludados e um sorriso amigável e conquistador.

— Ah desculpa, eu fiquei preso na leitura de uma coisa aqui no Twitter. — dizia Lucca enquanto guardava seu celular. — Me desculpem mesmo.

— Tudo bem. Me deixa fazer as apresentações. — disse Arthur animado. — Lucca este é Dario.

Dario sorriu para o rapaz que estava sentado, parecia calmo. Lucca tentou ter uma primeira impressão sobre ele sem antes da primeira conversa. O melhor amigo continuou com as apresentações:

— Dario, esse é Lucca, meu melhor amigo.

— Quantos melhores amigos você tem? — perguntou o mais velho em um tom de brincadeira.

— Muitos. — o adolescente de cabelos negros respondeu rindo. — Eu vou deixar vocês conversarem.

Sútil.

Pensou o nosso protagonista.

Os dois garotos perderam muito tempo encarando um ao outro, então, começaram a rir quando a coisa começou a ficar estranha. Aos poucos os risos desapareceram e o silêncio voltou ao seu reinado. Com um suspiro longe, Dario lançou seus olhos para o garoto ainda desconhecido e bolou uma pergunta em sua mente, ele não sabia que Lucca fazia o mesmo, porém sem deixar seu olhar sobre o outro. Quando as perguntas foram pensadas e repensadas, os dois perguntaram ao mesmo tempo e voltaram a cair na risada.

— Me desculpa, sério mesmo… — disse Dario ainda rindo.

— Não, tudo bem. Foi engraçado. — disse Lucca também rindo. — Pode perguntar você primeiro, eu não me importo. — deu de ombros, com o sorriso restante da risada anterior.

— Bem, o Arthur me convenceu a te conhecer quando ele disse que tínhamos algumas coisas em comum. Como, por exemplo, ambos gostamos de Super Sentai?

— Não está no topo da minha lista, mas sim, eu gosto de Super Sentai e estou acompanhando a série deste ano. — ficou em silêncio, analisando a expressão no rosto do rapaz. — Você está?

Dario respondeu com um balançar de cabeça. Em seguida continuou:

— Estou sim e sinceramente… Fazia um bom tempo que eu não me apegava tanto a uma temporada assim. — silêncio. — O que você gosta mais? Tipo, música, série, filme… Ler? Bem, eu posso responder primeiro, sem nenhum problema. Eu gosto de kpop, aliás participo de um grupo cover e modéstia parte, eu sempre arraso. Eu não assisto muitas séries ou filmes, mas podemos conversar sobre animes. E ler? Depende de qual livro estamos falando.

Lucca riu, em seguida disse:

— Isso foi bem completo. Obrigado. Eu gosto de muitas séries, acho que assisto mais do que animes, então, vamos ter dificuldade nesse assunto… Bem, só talvez. Filmes, eu também não sou muito apegado a não ser que estejamos falando dos filmes de super-herói, aí sim, eu tenho muito que falar. E ler? Leitura ultimamente estou fazendo com alguns livros, quadrinhos e mangás. Acho que é isso. — parou para pensar. — Ah não, eu também gosto de escrever fanfics, é isso.

— Gostei, acho que vamos nos dar bem. — sorriu Dario.

A conversação seguiu. Aos poucos os dois garotos aliaram seus gostos pessoais e a conversa conseguiu se estender. Descobriram que tinham muitas críticas sobre as séries anteriores dos heróis coloridos do Japão e também sobre alguns animes yaoi.

— Digo, é tão difícil ele aceitar que foi idiota ao confundir uma risada de nervoso com uma de deboche? Tipo, caralho Onodera, deixa de ser criança.

Os dois riram, seguiram com a conversa.

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