O SANTO SALVADOR:

PARTE DOIS:

IIX: MICROFONE: 

Discussão. Suelen e Erivelto. “Comprar um microfone?! Pra quê, Erivelto?”, com um copo d’água, a Suelen ia molhando suas suculentas. Balbuciando alguma coisa, o Erivelto comendo manga: “É porque eu vi lá na Liberdade, é, uns caras vendendo, é, uns, é, uns morangos…”. Interrompe o marido, a panela de pressão: “Ué?! Morango? Mas nem é época de morango, Erivelto. Me fala de uma vez por todas por que você quer um microfone? Me fala! Você não vai gastar o nosso dinheiro com amante, né?! Odeio infidelidade e você sabe!”. Erivelto arremata a verdade: “Olha, meu amor. É que eu vislumbrei uma oportunidade de ouro! Um plano infalível! Sucesso garantido! Presta atenção, Sue: lembra do herdeiro? O do jornal? Então…”, empolgou-se com a ideia. Contou sua história a Suelen — do Pinga Fogo a Alan e os pregadores da Praça da Sé. O resultado? Liberdade de manhã cedo. Loja Oriental Brazilian Kioko. Seu Kioko: “Muita coragem você voltar aqui. Principalmente pra pedir um favor”, encara o rosto de Erivelto bem mercado de Suelen, “Um belo tapa, rapaz. Me diz, o que você quer?”. “Estou vendendo manga. Manga Palmer. Enroladinhas no jornal e tudo. Quero me destacar, né? Vender por São Paulo e quem sabe, montar um sacolão, né?!”, mentiu a carriola, suas mangas e o sorriso amarelo. O velho Kioko para e pensa, coça a cabeça, pergunta se Erivelto não quer vender manga lá na Oriental Brazilian Kioko. A fé dele em Alan e as moedas jogadas aos seus pés era tão fervorosa, que declinou a oferta do mercado e Kioko. Conversa e conversa. Seu Kioko libera para Erivelto um microfone portátil, com caixinha de som acoplada. Potência, hertz, wats, carregamento a pilha, plug para três tipos de microfone, AM/FM e outras coisas. Agora sim: produto chinês vindo de um japonês, sem burocracias.

IX: À ESPERA DE UM MILAGRE: 

Microfone portátil e caixotes. Alan e Erivelto até que estavam se destacando na Praça da Sé. Queriam elas, as suas ganâncias, as multidões. O que tinham, na real, eram alguns gatos pingados. Dava grana? Só umas moedas e um pãozinho no final do dia. O que fazer para atrair mais olhares de curiosidades? Profetização: dois velhos estavam a falar das políticas de Collor. Disse ele, o Collor, safado de família e berço, que durante seu governo, o Brasil iria sentir à flor da pele as mudanças! Um dos velhos escarrou: “Errado ou mentiroso ele não é. Não se a gente analisar esta frase isoladamente. De fato, estamos sentindo à flor da pele seu governo!”. O outro velho, também escarrando: “Verdades genéricas, afirmações genéricas que sempre serão…”, tosse um pouco mais e acende um cigarrinho, “Fumas? Não?! Bem… Dizem que quem fuma vai morrer. E quem toma água, também. A verdade é só um ponto de referência dentro deste mundo, né?!”. Eles, os velhos, continuaram conversando e compondo o quadro depressivo dos botecos sujos lá da Sé. E Erivelto? Uma verdadeira janela indiscreta: “Tô te falando, Alan! Você precisa falar o que o povo quer ver! Ou melhor, ouvir. Você precisa dizer o que o povo quer ouvir!”. Alan recua: “Mas eu tenho tanta coisa pra falar. O tanto de coisa que se passa aqui, na minha cabeça, Erivelto”. “Nós precisamos de uma verdade genérica. Uma verdade que pode se encaixar em qualquer situação. Os transeuntes ouvem a sua pregação e terminam seu significado dentro de suas cabeças. Então, tudo o que você disser, vai ser verdade SEMPRE! E outra: pregar o que os outros querem ouvir não anula você dizer tudinho o que se passa em sua mente! Não era você que queria palanque?!”.

Erivelto pondera, pede um Pinga Fogo e um bolovo. Alan pensa e concorda: “Tá. Faz sentido. E sobre o que vamos falar? Sobre esta verdade genérica?”. Bolovo chegou quentinho e o Pinga Fogo, pingando: “Vamos falar sobre a coisa que toda a humanidade conhece e adora: a desgraça!”. Um brinde! Na Paulista. Na Faria Lima. Na Cerqueira César. Na Berrini. Na Rua dos Estudantes. Nas Lojas Arapuã. Mesbla. Mappin. Na Augusta: a desgraça proferida por Alan, por dias seguidos, vinha dos céus. “Senhores vivos e senhoras, também. Venho por meio deste caixote e microfone lhes alertar que a desgraça está chegando. A Grande Tribulação vem de lá do céu, em forma de pássaro e queimará tudo e todos!”, gesticulava veementemente, o Alan. As pessoas paravam para prestar atenção? Sim! Foi num dia desses, lá na Augusta, que Alef Brasil sentiu asco em sua alma. Entre parábolas e provérbios, veio Tony com sua petulância que lhe preenche o caráter: “Bittencourt? Bittencourt?!”, retira seus óculos escuros, revelando olhos pesados de mato louco, “O que aconteceu com você?! Você enlouqueceu de vez! Idiota você sempre foi, mas esse seu estado de paranóia é novidade! E de que desgraça você tá falando, meu chapa? Você só pode estar…”, tosse, “Só pode estar louco e esquizofrênico!”. Erivelto quis dar porrada em Tony, mas segurou-se nas calças graças a voz firme de Alan: “Não sou mais o Alan. O Alan Bittencourt morreu, Anthony! Agora sou Alef Brasil. E não, não estou louco! A Grande Tribulação está chegando!”, começa a falar mais alto para que todos o ouçam, “Prestem atenção aos sinais! O perigo, a desgraça e a Grande Tribulação estão chegando…!”. O papo parou. Um som iminente rompeu com a normalidade do lugar! Todos se assustaram. Menos Tony. Tony estava lombrado…

X: O DIA EM QUE A TERRA PAROU:

Um avião caiu na Avenida Paulista. Boeing 757 da Varig. Piloto suicida. Mais de cem passageiros, treze tripulantes, piloto e copiloto. Sem contar o pessoal em solo, nos apartamentos, prédios e no MASP. Quantas obras de arte viraram cinzas de memória, meu Deus?! Sim, a desgraça veio do céu, rompendo a normalidade do lugar e trazendo a maior tribulação que a cidade de São Paulo já sentiu na carne. Morre Alan Bittencourt. Nasce Alef Brasil. Epifania. Uma lâmpada queima para que outra a substitua. Um bocado de gente ficou perplexa com Alan na horinha do desastre. Mas passou momentaneamente, até porque, não é todo dia que um avião cai no coração de São Paulo — mas é bom ficar sabendo que ele, o Alef Brasil, que era o Alan Bittencourt, marcou-se como um tipo de paranormal. Um ser humano que, à luz do dia, virou mitológico. Um pastiche bizarro com notas de Chico Xavier, Inri Cristo, Walter Mercado e benzedeira de bairro. Ele se tornou-se (sim, duas vezes), Alef Brasil, o Santo Salvador. O que, falando a verdade, de santo ou salvador não tinha nada, o Alan, né?! O cara não salvou ninguém. Na real, ele previu — encha a boca de aspas ao falar em previsão —, “previu” desgraças. Mas quando estamos falando de Brasil, a desgraça alheia é entretenimento. E entretenimento salva!

De um segundo ao outro, Alan e Erivelto fizeram o milagre da multiplicação dos curiosos lá na Praça da Sé. Até Suelen, que tinha clientela cativa, passou a ajudar o Santo Salvador e seu Sancho Pança. O trio de ouro saiu até em jornais, rádios, revistas e noticiários — não por serem os novos Nastradamus, todavia; mas por serem tipos curiosos, bizarros e que faziam da audiência, todo dia melhor. O mundo? Que se lasque enquanto este bloco está rendendo vários olhos aos patrocinadores, né?! É! Falei ou não falei que eles, o Alef Brasil, tinham um quê de Walter Mercado e Inri Cristo. Apelo popular, gente! De imediato, logo após o acidente, Alef Brasil virou lenda curiosa. Tempos depois, figurinha carimbada nos programas de televisão. Depois de tempo depois, voz ativa na Sé, concorrendo almas com a voz de Deus da Catedral Metropolitana de São Paulo, mais conhecida como Catedral da Sé ou ponto de encontro dos que não têm nada na vida. Você tem? Após quase um ano, Alef Brasil estava grande demais para microfones portáteis e caixotes. Ele precisava de um lugar maior, tipo um rancho. Mas não antes da extrema-unção.

XI: O CONCÍLIO DE TRENTO:

In ecclesia sanctorum congregatione. Padre Santiago conversa com Cônego Dias sobre Alef Brasil. Cônego, tomando vinho e comendo hóstia com patê de azeitonas, cospe sua sancta sententia: “Sexo! Sabe o porquê esse Alef Brasil está atraindo esse bando de gente? Sexo!”, toma um golinho de vinho com um pouco de Pinga Fogo e retoma, “O Charles Manson atraía e ainda atrai um monte de mulheres. Eu não sei como isso ocorre, e nem quero saber, mas psicopatas atraem sexualmente as pessoas. Principalmente as mulheres. Aquelas mais fracas. As mais fraquinhas da cabeça…”, mordida única numa hóstia bem recheada de patê. Acompanhando o Cônego, Padre Santiago e paciência, ensaia que vai falar alguma coisa com ar nos pulmões, mas desiste e assiste aos exageros de coleguinha: “Jim Jones era considerado um homem de Deus. Hoje sabemos que não. Basta olhar toda a desgraça que aquele pervertido anormal fez. Quase mil mortos!”, respira, come e bebe, “Esse Alef vai aprontar alguma coisa. Minha joanete lateja só de falar nele. Olha o frisson sexual que ele causa. E o pior, bem na frente da minha catedral!”. Padre Santiago, depois de muita paciência, cria coragem para gastar suas cordas vocais, ao mesmo tempo que desgruda-se o corpo e a alma do guarda-corpo da poltrona onde senta-se.

Com a língua, o padreco procura os restos de comida que lhe preenchem os dentes, as cáries e as ideias, assobiando involuntariamente: “Meu Deus, Dias, você é sempre exagerado! Comparando esse Alan, esse Alef, esse abestado daqui da praça, com o Charles Manson. Não acho que ele seja um psicopata. Ele é chato? É bem chato! Uma verdadeira mala sem alça de tonelada! Mas não apresenta perigo real, amigo. Mas é claro que seria bom se ele fosse ciscar em outro terreiro. E sim, acho interessante termos uma conversa”. Toma vinho, eructa com sabor de ovo choco, tosse de nojo. Cônego sente o momento e também tosse. Retorna ao verbo, o padre: “Também acho péssimo pra nossa catedral ser palco dessa peregrinação histérica, exotérica e erótica, por que não?! Como disse antes: chato, chatíssimo no tom mais superlativo possível. Todavia, não acho que alguém vá pegar fogo por causa desse bocó. Não! Mas não quero concorrência de ninguém entre mim e minhas almas, sim!? Ele pode não ser um Charles Manson, mas também não é alguém que eu queira dividir espaços”, bebe vinho, “Agora, esse teor sexual que tanto assusta o senhor, Cônego, é de se conhecer Freud, não?”. Cônego, com a eloquência dos mal servidos de inteligência: “Freud? É da época do Beethoven?!”. Padre Santiago ri ao mesmo tempo que finda aquela conversa de cheiro desagradável e intenções escusas.

XII: O PEQUENO PRÍNCIPE: 

O Cônego Dias, em sua gana higienista e, por quê não, psicanalítica, ruma até a Sé em coração e Marco Zero da cidade, ter um papo com ele, sancti salvatoris. Lá, naquele momento, o Alef Brasil está rodeado de gente ao mesmo tempo que o Alan está realizando seu sonho: pode falar tudo o que sua garganta sempre quis! Falar, falar e falar! Ao seu redor, fazendo massa, moradores e moradoras de rua, curiosos e curiosas, sacoleiros e sacoleiras, velhos e velhas, moços e moças, mendigos e mendigas, retirantes e retirantas, pedintes e pedintas, e pombos. Muitos pombos! Pombos, pombos e pombos! E pombas, também! Pombas, pombas e pombas! O público geral do Alef era majoritariamente craseado pelo acento grave e gramática — eram as moças, elas, que queriam aquilo que é do homem. O que?! Voltemos à história! (Cônego não estava tão errado, assim?! Será?!). Grudadinho a ele, ao Alan, Erivelto e Suelen, que eram seus seguranças, eram seus tesoureiros, eram seus marketeiros e eram os produtores daquele show de baixo orçamento mas de altíssima rentabilidade. Erivelto e Suelen, juntos, somavam mais que uma Marlene Mattos — aqui, estamos falando de talento! Enfim, o populismo encarnado mas sem a parte política. E o Cônego Dias? Tentando, ele, um gordinho, lutar contra a maré até chegar nele, o coração da turba, o Alef.

Alguém toca em seu ombro, o Alef, e hipnotiza sua atenção, mantendo sua garganta quieta: “Meu filho, eu quase pulei do Viaduto do Chá ontem de manhã! Mas graças à sua palavra, eu to aqui, meu filho!”. Quietude. Tá, mas quem foi o ser abençoado que lhe calou a úvula? Uma velha aleatória, dessas da sarjeta da existência, foi a abençoada que cativou-lhe os olhos e ressignificou as ações. Muito mais que falar, graças à velha e testemunho, era necessário cuidar do povo que lhe empresta os ouvidos e doa-lhe a atenção! A missão de Alan era tornar Alef um sopro de vida reconfortante que chegasse de forma leve aos mais necessitados de espírito. Do mendigo ao empresário, necessitados de espírito estão por toda parte. Será você um deles? Uma quase filantropia com licença poética: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, disse a Xuxa, uma vez. Estes pensamentos de auto-importância, com a duração média de um ou dois segundos mas com a capacidade de inturgescer os brios de qualquer um, foram interrompidos por um puxão de braço do Cônego Dias: “Precisamos conversar!”. Esta é a pior frase a ser dita para um ansioso, tal qual o Alan, que quis logo ter seu diálogo com Cônego e o pessoal lá da Catedral da Sé. Vai valer a pena? Só no próximo capítulo! Não fique nervoso. Vá tomar um café, usar o banheiro, fumar e, assim que possível, return to this sanctus text, tá bom?!

XIII: A EXTREMA-UNÇÃO, PADRE?: 

O “trio ternura” sentou-se lá na sacristia da catedral. Tudo para uma boa prosa! Bem grudadinha a ela, à sacristia, uma copa cozinha com microondas, máquina de café, geladeira e mesinha de plástico. O Padre Santiago, que deveria estar preparando-se para a Missa daquele dia, estava a oferecer-lhes vinho, hóstia, patê, tremoço, mini milho em conserva, cafezinho e perguntas indiscretas: “Você é algum tipo de, é, pagador de promessas? Um tipo de profeta? Tipo o Profeta Gentileza ou um Zé do Burro?”. Cônego Dias, servindo-se da geladeira e restos, emenda a palavra do Padre Santiago lá da copa cozinha: “Você é algum tipo de Nostradamus? Um Rasputin tupiniquim? Ou um Aleister Crowley? Charles Manson? Jim Jones? Um Chico Xavier de São Paulo? Ou um tipo de Walter Mercado? O que você é? Ou melhor: quem são vocês?”. Tentando absorver tudo aquilo, da má iluminação do lugar, ao cheiro suspeito de doce do local e coroinhas, até a voz de batata do Cônego Dias ou a voz de empáfia do Padre Santiago, Suelen cortou aquela testosterona toda em resposta bem dada: “Eu sou Suelen”, aponta para si mesma e depois, para o marido, “Este é meu marido Erivelto”, aponta para Alan, “E este é o Alan. Nós três levamos aos mais necessitados uma palavra de esperança sem utilizar Deus ou Jesus como moeda de troca ou um subterfúgio qualquer”. Luva de pelica e tapa.

Padre Santiago, rindo-se por dentro: “Você deve ser a Yoko Ono do trio”. Silêncio, silêncio e silêncio. Ele, o padreco jocoso, percebe que seu comentário não rendeu, rebaixado-o a uma piada anedótica: “Quê isso, gente?! Só foi uma piada! Igreja é também lugar de rir”. Cônego de boca cheia: “Eu ri! Por dentro, mas ri!”. Suelen ficou absurdada. Alan, impaciente. E Erivelto, de olhos um pouco franzidos de ódio e ciúmes. Zelumen. O silêncio perdurou mais alguns segundos até dissipar, igual fluência em elevador, quando Padre Santiago, depois de pigarrear, foi direto ao ponto nevrálgico da prosa: “Vocês perdoem minha descontração. Jesus também era um piadista, sabiam? Enfim, eu vou direto ao ponto com vocês. Eu acho que…”, interrompido. Erivelto estava preparando-se para falar, mas é atravessado por Alan: “Vocês querem que saiamos daqui, sim? Nós também queremos. Mas não temos dinheiro suficiente!”. O Cônego, tentando ser bonachão, mas falhando miseravelmente: “Oras, senhores: quem é que tem dinheiro hoje em dia? Cruzeiro é coisa escassa”. Mais um pouco de silêncio, coroando a situação merda. Suelen, também atravessando Erivelto: “A Igreja Católica Apostólica Romana tem grana. Vocês têm muito dinheiro, terras e afins. Se vocês quiserem que a gente saia daqui da Praça da Sé, nos ajude!”.

Erivelto, enfim, fala: “Temos cerca de Cr$ 9.000.000.000,00. Eu sei que é pouco, mas foi o que conseguimos juntar nesse um ano e tantos dias de trabalho aqui na Sé. Precisamos de ajuda!”. Silêncio e o barulho do caos de São Paulo lá fora. Quase hora da Missa! Padre Santiago pede a noite toda e uma oração para decidir. Eles, o trio, concordam e vão embora pra casa. O tempo fecha em São Paulo. Chuva que era uma garoa que faz do tempo menos seco. Erivelto, ainda de olhos franzidos, encara seu terreno e uma velha edícula lá nos fundos. Suelen dorme na cama, junta de Erivelto. Alan, o Alef Brasil, descansa lá na edícula. E o Erivelto, de olhos franzidos, a encarar seu terreno. Um dia desses, o Santo Agostinho disse: “Qui non zelat non amat“. Que, em tradução livre, fica algo tipo: “Quem não sente ciúmes não ama”. O rosto sofrido e marcado de Suelen foi beijado por Erivelto: “Eu te amo muito, meu amor! Muito, muito e muito!”. E declarou-se em amor o amor dele, o Erivelto, ao seu amor. Amor, amor e amor. Extrema-unção concedida, filho!

Obs.: Sempre bom lembrar que o vizinho imediato do amor é o ódio!

XIV: SATURNINO DE JESUS RETORNA: 

João Paulo Saturnino da Silva foi preso por homicídio doloso em 1987. Carandiru. Um ano depois, foi solto. Sorte, destino ou superlotação? Em 1989, logo depois de descobrir quem foi que matou a Odete Roitman — televisor Sharp C – 1620 —, fugiu-se para New York City, onde conheceu gente simpática de uma igreja supimpa. Eram, a igreja, um braço de um grupo cristão derivado dos Amish, que vieram dos Menonitas, que vieram dos Protestantes, que vieram da Igreja Católica, que vieram do Império Romano, que vieram dos aliens invasores, que vieram deste texto que vos fala. A história do mundo é feita de derivativos. Assim caminha a humanidade. Em alguns meses, o João Paulo tornou-se um tipo de apóstolo bem catequizado pela igreja e seus membros que, por sua vez, também foram bem orientados pela nação mais consumista do mundo, que foi descrita por Max Weber e livro. Lá, nas terras do Tio Sam, tudo o que existe, existiu ou que possa a vir existir — nem que seja no inconsciente coletivo de uma nação inteira —, tem seu preço, métodos de pagamento, propagandas, redação publicitária altamente persuasiva e muita chantagem emocional. Nas terras do Destino Manifesto, Ronald McDonald’s é o melhor amigo de Jesus Cristo, que é vizinho de Mickey Mouse que mora num palacete na Sunset Boulevard.

Qual estúdio? Warner, Universal ou Disney? A vida real, que insiste em ser histriônica em voz alta. Em outras palavras, João Paulo virou mercador da fé. Fé? O que é fé? Oras, a escada dolorida que leva as pessoas a alcançarem seus desejos. E se não alcançarem? É que você não teve fé o suficiente, meu amor. Tenha fé enquanto eles dormem! Eles, quem? O povo da Times Square ou Wall Street: João Paulo adotou-se o pseudônimo Apostle Saturnino of Jesus. De Bíblia embaixo do sovaco, pregava aos homens que iam pro céu, ou pro inferno ou pra lista de devedores de dízimo. Era um talentoso orador e um excelente chantagista emocional: “Quer mesmo levar seus filhos contigo pra arder no inferno? Por isso que é mãe solteira! Apesar disso, Deus te ama, filha!”. Um amor, o Saturnino, né?! Jack Torrance, seu supervisor de célula, queria novos bolsos a serem fidelizados: “Novas pessoas. Precisamos de novas pessoas. Precisamos de um povo medroso, apático, refém de um sistema político ineficiente que vive prometendo heróis e salvadores da pátria. A New Light of Hope Church of Jesus precisa expandir seus horizontes. E o Brasil é a resposta, certo?”. Certo, certíssimo! American Airlines, amendoim à bordo, Mountain Dew, turbulências, aeroporto, Galeão Cumbica, coração de São Paulo. Saturnino dee Jesus acabou de retornar.

FIM PARTE DOIS. 

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