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O Vazio que habita em mim – Capitulo 15: Três garotos um plano

Vocês devem estar aí pensando, o Mick se deu bem! Matou o padrasto, fugiu de casa e ficou com a garota.

Não, não foi bem assim.

As coisas esfriaram por um tempo, sempre que neces­sário nós fazíamos nossos trabalhinhos e assim conseguí­amos sobreviver. Os pesadelos não aconteciam mais com tanta frequência e nas raras vezes em que Álvaro me as­sombrava, Leka estava lá para me ajudar, assim eu não recorria mais aos artifícios de Rubens para resolver meus problemas. Eu era feliz.

Meu maior problema ocorreu por volta dos quinze ou dezesseis anos, não lembro ao certo. Só sei que um dia Quim, Pepeu e eu fomos fazer um daqueles famosos tra­balhinhos extras e foi ai que tudo deu errado.

Era tarde da noite, tínhamos saído escondido e deixa­do Leka e Rubens no beco dormindo o sono dos justos. Vínhamos planejando este trabalhinho há meses, tínha­mos vigiado a casa por meses até memorizar a rotina deles.

Um casal novo que tinham acabado de se mudar para a cidade, escolheram um dos bairros mais caros pata mo­rar, o que pelos nossos cálculos guardavam alguma coisa em casa, eram sempre amáveis um com o outro e não ti­nham filhos o que nos levou a crer que tinham se casado recentemente e assim seria um trabalho fácil.

O marido trabalhava a noite e pontualmente saia as cinco e quarenta de casa todas as tardes, e voltava por volta das sete da manhã do dia seguinte, isso nos dava por volta de 13 horas. Tempo mais do que suficiente para os nossos planos.

Entrar, fazer a limpeza e sair sem ser notado.

Naquele dia Pepeu ficou de vigia durante toda a tar­de, Quim foi o responsável por conseguir as coisas que precisaríamos para a tarefa e a mim coube a responsabili­dade de fazer com que Leka não soubesse de nada. Assim nós fizemos.

As nove horas estávamos pontualmente lá em frente à casa, tudo precisava ser cronometrado, era para ser como num filme.

— Tudo certo? — Quim perguntou assim que chegamos.

— Tudo… — Ele respondeu. — Ele saiu certinho, e ela continua lá dentro sozinha.

— Beleza. — Pepeu respondeu.

Ele levantou a blusa, tirou de lá uma das pistolas e entregou a Quim.

— Pra que isso? — Perguntei com medo.

— Pra tocar o terror. — Quim respondeu.

— Relaxa Mick, — Disse Pepeu vendo minha cara de assustado — ninguém vai usar isso não, é só um susto parceiro. Aqui, essa é sua.

Ele me entregou a arma, um trinta e oito de cano curto, enferrujado, cabo de madeira e a numeração raspa­da. Admirei a arma por um tempo antes de enfim me apossar dela. Eu sempre via esse tipo de arma nos filmes de bangue-bangue que eu costumava assistir com Álvaro, mas ter uma em minhas mãos era a primeira vez.

Foi incrível.

Sentir o aço frio em meus dedos me fez tomar uma coragem que eu jurava não ter. Meu sangue pulsava em minhas veias fazendo meu coração acelerar como o galo­pe de cavalos selvagens. Involuntariamente um sorriso se formou em meus lábios.

— Sabe atirar? — Pepeu perguntou.

— ham?

— Você sabe atirar? — Ele repetiu a pergunta.

— Não.

— Cê faz assim ó. — Pepeu pegou o revolver de volta e deu um leve puxão na trava de segurança depois apontou para a casa. — Depois é só puxar o gatilho…

—… E BANG! — Quim completou

— Não vai acontecer nada, mas por segurança é melhor você saber o que tá fazendo.

Pepeu me entregou a arma novamente. Estávamos prontos para entrar em ação.

Nós ficamos de tocaia escondidos até que todos da rua fossem dormir, o que aconteceu por volta da meia noite. Ouvíamos apenas o som dos animais noturnos.

Ao nos esgueirarmos pela rua deserta, cobrimos o maior campo de visão possível para os três. Pepeu foi na frente, eu no meio e Quim a minhas costas. Eu estava tremendo de excitação.

Olhei uma última vez a rua, antes de pularmos o mu­ro sem nenhum tipo de proteção, como já era esperado a casa não tinha cachorro. Era modesta mas recuada tanto nos fundos quanto nas laterais o que dava mais privaci­dade a residência. A maioria dos sons da rua eram quase imperceptíveis, a não ser que se prestasse muita atenção. Eu fui o primeiro a pular o muro, Quim e Pepeu me aju­daram fazendo uma espécie de escada humana. Já lá em cima eu os ajudei Quim a subir no fim nós dois içamos Pepeu pelas mãos.

Depois da decida nos encaminhamos a porta dos fundos por um dos corredores laterais da casa. Tudo es­tava impecavelmente organizado na área de serviço ilu­minada por uma luz de lede. Todos os armários impeca­velmente limpos e organizados, o que não demorou nem quinze segundos para mudar. Os dois garotos abriram todas as portas o mais rápido que conseguiram na espe­rança de encontrar algo de valor.

Em pouco tempo tudo que estava guardado e organi­zado, se tornou uma zona de guerra, os utensílios espa­lhados pelo chão em meio ao lixo.

— Nada aqui. — Informou Pepeu

— Hora de entrar. Fiquem de vigia.

Quim retirou de um de seus alguns utensílios estra­nhos e ficando de joelhos começou a remexer na fechadu­ra da porta. Esse era o plano, nós realmente iriamos arrombar aquela casa.

 

 

 

Em poucos segundos Pepeu retirou do bolso um lenço que protegia os seus materiais de trabalho. Ele desenrolou com cuidado no chão e só então eu pude ver os seus brinquedinhos como ele costumava chamar.

O garoto pegou uma pequena serra lixada em ambos os lados e introduziu na fechadura, depois um clipe de metal e o colocou na parte de baixo.

Ouvimos então um clique metálico e a porta estava aberta. Nós nos esgueiramos pela cozinha, a dona havia deixado a luz acesa, o que facilitou um pouco o nosso trabalho. Pepeu e Quim trocaram olhares e depois voltaram a sua atenção para mim.

Os dois estavam cientes dos meus medos, e assim como eu estavam apreensivos que eu colocasse tudo a perder.

Foi exatamente o que aconteceu.

Era para ser um trabalho rápido, entrar, pegar tudo o que fosse de valor e sair sem sermos notados. Entramos, reviramos toda a cozinha em pouco tempo. Encontramos um jogo de talheres de prata e um conjunto de porcelana, que com certeza tinha sido um presente de casamento.

Cada um de nós havíamos ficado com uma parte da casa para assim vasculharmos toda ela em menos tempo. Eu fui para o andar de cima, onde certamente eu encontraria a dona da casa.

O meu corpo ainda tremia, e a cada passo dado o ranger da madeira da escada me fazia congelar de tanto medo. Eu olhei mais uma vez para baixo e vi Pepeu vasculhar toda a sala em questão de segundos.

— Anda logo! — Sussurrou para mim num tom apressado.
Fiz um sinal positivo com a cabeça e continuei a subir. O final da escada dava para um amplo corredor cheio de portas, onde com certeza ficariam os quartos, além de outros aposentos. Tomei coragem e abri a primeira porta.

A maçaneta de metal estava tão fria quanto o medo que invadia meu estômago, ao gira-la o clique metálico revelou-me um amplo aposento decorado de forma simples e minimalista, um quarto de hospede com uma cama de casal e um guarda roupa. Ao abri-lo me deparei com o nada. Não havia nada de valor naquele aposento.

Fazendo o mínimo de barulho possível fui para o próximo cômodo. Um outro quarto também minimalista como o primeiro, mas um pouco diferente do anterior.

O quarto não estava assim tão vazio quanto o anterior, havia mais uma pessoa naquele cômodo além de mim. A pessoa estava envolta em lençóis estampados.

Eu cheguei mais perto, eu sabia que iria encontra-la cedo ou tarde, mas tinha de ter certeza que era ela que realmente estava lá.

Ao puxar os lençóis eu me deparei com os travesseiros bem distribuídos pela cama.

— Levanta as mãos e se vira bem devagar. — Ordenou-me uma voz vinda detrás de mim.

Nós tínhamos caído numa armadilha.

Com as mãos para o alto eu me virei, o meu coração queria sair pela boca. Voltei a minha atenção para a mulher de expressão carrancuda apontando uma arma para mim.

— Não tente nada ou os seus miolos vão pelos ares! — Ela fez um movimento com a cabeça me indicando o caminho até a porta.

Segui as suas instruções sem questionar, afinal eu estava na mira duma arma. No meio do caminho ela parou e voltou a sua atenção para mim.

— Quantos vieram com você?

— Eu …

— Não minta para mim, ou vai se arrepender. — Ela me cortou friamente. — Eu sei que estão de olho nesta casa há algum tempo. O meu marido percebeu a sua vigilância e nos mantivemos em alerta esse tempo todo.

— Somos em três! — Respondi tremendo.

— Onde os outros estão?

— Lá em baixo. — Respondi de cabeça baixa.
Aquela era uma mulher de coragem e nós tínhamos caído numa armadilha. Ela retirou um celular do bolso e usou a discagem rápida para ligar para a polícia, e logo em seguida para o marido.

Nós estávamos ferrados. Em pouco tempo a polícia estaria ali e se eu não fizesse alguma coisa nos três seriamos presos.-” ”>-‘.’ ”>

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