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O Vazio que Habita em mim – Capitulo 16: Enjaulados

Quando dei por mim estávamos os três lá em baixo desarmados e sob a mira de uma arma. Aquela era uma mulher de coragem. Nós três erramos feio em subestima-la por ser mulher.

O sexo frágil não existe, Leka nos deu várias vezes provas de que isso é apenas um estereótipo imposto pela sociedade e essa era a confirmação derradeira disso.

Marina me fez descer sem fazer quase nenhum barulho e surpreendeu Pepeu e Quim vasculhando a parte de baixo da casa.

— Larguem as armas e ponham as mãos para cima! — Ela ordenou. — Ou eu estouro os miolos dele.

Nenhum de nós teve escolha a não ser obedecer. Marina acendeu a luz e nos pôs sentados num canto da parede e nos amarrou as mãos com tiras de pano cortadas enquanto nos vigiava à espera da polícia sentada no sofá da sala tomando uma taça de vinho. Em mais ou menos uma hora de espera a viatura chegou e fomos levados para a delegacia, a rua estava lotada de gente Pepeu e Quim esconderam o rosto com as mãos então eu fiz o mesmo.

Tudo estava acabado, logo eles ligariam a morte de Álvaro a mim quando descobrissem meu nome, apesar de eu não ter nenhum documento comigo aquela estranha sensação ainda me acompanhava.

Aquela era uma típica delegacia de cidade pequena, de plantão eram apenas três agentes os dois que foram nos buscar e um estava na delegacia para registrar as ocorrências. Marina fez a queixa formal de nosso crime e fomos levados a presença do delegado.

Um homem corpulento, de cara fechada, impondo medo e respeito ao mesmo tempo, estava bem vestido, camisa social e gravata detrás de uma mesa abarrotada de processos.

Ele ouviu com atenção o depoimento de Marina, que entregou a ele a arma e o documento de posse da mesma. Depois de um tempo com ela, o delegado voltou sua atenção para nos três.

— Nome e idade? — Perguntou ele com a voz meio rouca.

Permanecemos ali calados olhando para o chão.

— Sargento Nobrega, me entregue os documentos deles! – Pediu o homem

— Eles não têm documento senhor.

— Sem documentos… entendo, o que vocês faziam uma hora daquelas na casa da senhora Marina. — Ele havia se levantado e olhava diretamente para nos três. – DIGAM SEUS NOMES!

Ele gritou e bateu com força na mesa.

De súbito nos três demos um pulo na cadeira.

— Pe… Pedro, senhor. — Pepeu respondeu. — Dezessete anos

— Joaquim, quatorze anos — Quim foi o próximo.

Ambos voltaram sua atenção para mim, e sem opção eu tive de responder.

— Mick, doze anos.

— Nenhum deles tem ficha senhor. — Respondeu o sargento Nobrega.

— Então fiche os rapazes, e entre em contato com o concelho tutelar, para que eles possam tomar as medidas cabíveis. Enquanto isso, pode levar os três para a cela.

Sargento Nobrega nos encaminhou para os fundos da delegacia, abrindo uma das celas vazias, tirou nossas algemas e nos conduziu para dentro.

Assim passamos nossa primeira noite na cadeia

 

 

 

Sim, nós passamos uma noite de cão. Uma cela escura, imunda, fedendo a fezes e urina.  Nenhum ser humano por pior que tenha sido o seu crime merece um lugar como aquele.

— Como isso foi acontecer caramba! — Pepeu esbravejou. — Tava tudo tão bem planejado.

— A culpa foi do Mick que não fez o serviço direito. — Retrucou Quim sentando-se na beira da cama.

— Eu… — Tentei argumentar do meu canto, junto a parede.

— Não adianta reclamar de nada, muito menos escolhe o culpado. — Pepeu cortou. — Nós estamos ferrados e ponto.

— Nós vai pro reformatório!

— É Quim, a gente vai direto por reformatório. O Mike pega um de seis meses a um ano, de boa. Já nós dois…

— Tu fez burrada parceiro… era pra ter matado aquela cachorra.

— Foi tudo muito rápido… — Respondi.

— Ele não tem culpa. — Quim me defendeu. — Nos dois o colocamos nisso.

Quim parecia realmente preocupado, eu sabia que os dois já haviam passado pelo reformatório antes, só não sabia o que acontecia lá dentro para eles estarem daquele jeito.

— O que vai acontecer com a gente.

— Tu vai ser fichado. E a gente vai passar uma temporada no inferno.

Pepeu permaneceu de pé enquanto Quim se ajeitou na única cama que existia naquela cela, eu continuei sentado, tentando colocar as ideias em ordem fechei os olhos por um segundo.

As luzes haviam sido apagadas, tudo era um completo silencio. Olhei em volta. Nada além da escuridão.

Um sussurro, uma respiração ofegante próxima a mim. Eu não estava sozinho

— Quim…? Pepeu…? Tem alguém ai?

Não obtive resposta.

Algo estava errado. Levantei-me num salto, um tanto rápido demais e senti minha cabeça girar.

— Você nunca está sozinho. — pude ouvir um sussurro junto ao meu ouvido. Seu hálito gélido indicava que estava a minha frente

Um arrepio percorreu minha espinha, levei os braços a frente e os sacudi tentando manter qualquer coisa que estivesse ali longe de mim.

Não havia ninguém.

— Quem é você?

— Quem sou eu? — Devolveu-me a voz agora as minhas costas. – Eu sou você!

— O que quer de mim?

— Eu quero a sua vida.

— SAI DAQUI!

Algo me apertava o pescoço, meu coração estava quase saindo pela boca. Eu queria me mexer, mas os músculos não me obedeciam.

— Não posso. — Respondeu-me ele num sorriso sádico. — Eu ou você. Estou dentro de você.

— Por que? — Perguntei com a voz fraca.

— Apenas para lembra-lo do que você fez.

— Álvaro era um monstro! — Retruquei.

— A culpa é sua! Você provocou.

— NÃO!

Ele estava chorando, e agora eu havia tomado seu lugar.

Eu sentia todas as suas angustias, seus medos, todo o peso da culpa. As imagens invadiam vinha visão sem que eu pedisse. Queria fechar os olhos, mas ele me impedia.

— Veja no que eu me transformei por sua causa.

— Eu não tive culpa!

— Você provocou tudo o que aconteceu e sabe disso. Ele era como um pai para mim, e você o matou.

Lagrimas rolavam copiosamente de seu rosto.

— Ele mereceu! — Agora eu também chorava! — Ele roubou minha vida.

— Tudo podia ser diferente!

— TUDO FOI DIFERENTE!  Nenhum de nós mereceu o que aconteceu.

As imagens de minha mãe e de meu irmão surgiram das sombras abraçando-o. logo em seguida Álvaro apareceu e os tirou de meus braços mais uma vez.

— A Culpa é sua! — Ele me sacudia enquanto derramava lagrimas de sangue. — Eu sou o vazio que existe em seu coração e jamais te deixarei ser feliz novamente.

Num solavanco, eu abri os olhos. Tudo não passou de um pesadelo.-” ”>-‘.’ ”>

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