Após saciar sua fome, Ying arrumou-se condignamente e foi ao encontro de sua irmã. Ao chegar em frente aos portões da sala do trono, as sentinelas, prontamente, abriram caminho para a princesa. Lá dentro, Hipólita a esperava e veio ao seu encontro para recebê-la assim que a viu entrar. Elas pararam a alguns passos uma da outra e ficaram se observando durante alguns minutos, num silêncio carregado de emoção, até que Hipólita falou:

– Então… Chegou o grande dia, não é?

Ying balançou a cabeça afirmativamente, ainda incapaz de falar.

– Bem, eu desejava intimamente que nunca nos separássemos, mas sabia que um dia isso aconteceria. – disse Hipólita, repetindo sem querer as palavras de Penélope. – Não obstante seu destino já ter sido traçado há muito tempo por forças poderosas, as quais não nos cabe discutir, não posso deixar de perguntar; afinal, o poder de escolha ainda se encontra em suas mãos: Você tem certeza de que quer mesmo partir, deixar sua terra natal, onde todos a respeitam e amam, para se tornar um Cavaleiro de Ouro, uma fiel defensora da deusa Athena e enfrentar todos os perigos e incertezas do mundo exterior?

Apesar de toda a sua convicção, Ying não pôde deixar de hesitar naquele momento. Intimamente, ela teve que admitir para si mesma que Nevara tinha razão no que lhe dissera. Ansiara por aquele momento por muito tempo mas estava com medo do Desconhecido… No entanto, sabia que não podia fugir ao próprio destino e estava disposta a enfrentar o que viesse pela frente. Reunindo toda a sua coragem, Ying respondeu com voz firme:

– Sim, minha irmã, tenho certeza absoluta. Enfrentarei o meu destino e jamais recuarei, aconteça o que acontecer, mesmo com o risco da minha própria vida. Athena estará comigo.

Hipólita suspirou.

– Então me acompanhe.

Seguida por sua irmã mais nova, a rainha se dirigiu para um reposteiro situado atrás do trono e abriu uma passagem que Ying nem desconfiava que existisse. As duas entraram em uma sala às escuras, com exceção do centro, onde um único raio de luar iluminava um enorme cofre dourado, dando-lhe uma aparência sobrenatural.

Fascinada, Ying se aproximou lentamente do cofre. Para sua surpresa, ele se abriu imediatamente, revelando o seu conteúdo.

– Aqui está, querida irmã. – disse Hipólita, sorrindo. – A armadura de ouro de Gêmeos. A sua armadura.

– Grande Hera! Ela… Ela é… belíssima! – murmurou Ying. – Mas…é estranho… – ponderou, refazendo-se da surpresa inicial. – Ela se parece muito com a armadura de meu irmão, a não ser…

– Isso é fácil de explicar. Na verdade, inicialmente, só existia uma armadura para cada constelação do Zodíaco, mesmo para Gêmeos. Entretanto, sentindo o forte cosmo que emanava de você desde recém-nascida, seu pai achou justo que você também tivesse uma armadura e ele próprio, com a ajuda de um amigo, o Cavaleiro de Áries, confeccionou uma armadura especialmente para você. Só que ao invés de fazê-la igual a dele, Yang decidiu prestar uma homenagem à nossa mãe, copiando a tiara que ela usava na noite em que se conheceram. Assim, de certa forma, eles estariam sempre juntos, pois ele já planejava que você e seu irmão Saga, que herdaria a armadura original, se uniriam na guarda da Casa de Gêmeos.

Ying fez menção de se aproximar mais e tocar na armadura.

– Não! Não deve tocar nela ainda. – alertou a a rainha, segurando a mão de Ying.

– Ora, por que não? Afinal, essa armadura é minha. Eu só queria vesti-la! – protestou Ying, surpresa.

– Seu irmão já deveria ter dito isso a você, talvez o tenha feito. Em primeiro lugar, é preciso que o seu cosmo se harmonize com o cosmo da armadura, até que os dois se tornem um só. Quando isso acontecer, ela virá, espontaneamente, cobrir o seu corpo, bastando que a chame. Qualquer contato antes disso poderia ser fatal. Já deveria saber disso.

Ela tem razão. – pensou Ying, envergonhada por sua atitude afoita. – Saga alertou-me sobre isso várias vezes.

– Desculpe. Acho que estou um pouco ansiosa.

– Não se preocupe. Eu compreendo. – respondeu Hipólita, sorrindo. – Agora, concentre-se.

Ying obedeceu e colocou-se em posição, como seu irmão a ensinara, com os braços e pernas bem abertos e esticados para receber a armadura. Ela, então, fechou os olhos e concentrou-se, como fizera da primeira vez em que despertara o seu cosmo .Num relance, todo o seu treinamento para Cavaleiro passou diante de seus olhos e, em seguida, toda a sala ficou iluminada por uma intensa e maravilhosa luz azul, que era o poderoso cosmo de Ying.

Simultaneamente, a armadura começou a emitir também a sua cosmoenergia, a qual foi, pouco a pouco, se harmonizando com a de Ying. Quando ela sentiu que as cosmoenergias haviam atingido o auge, ela subitamente abriu os olhos e gritou:

– Venha!

A armadura, então, como que explodiu e todas as suas partes voaram em direção à Ying, guarnecendo as respectivas partes do corpo da princesa. Primeiramente, as pernas; depois, a cintura; o peitoral; os braços; os ombros e, finalmente, a tiara, constituída por um arco ladeado por duas grandes asas douradas, que formavam um bonito contraste com a cabeleira negra de Ying, como se fossem as asas de algum pássaro mítico.

– Magnífico!! Você está magnífica, minha irmã! – exclamou Hipólita, radiante. – Parabéns! Você conseguiu!

– Tudo…Tudo isso parece um sonho… – murmurou Ying, se examinando.

– No entanto, posso lhe garantir que é real, ou,então, nós duas estamos tendo o mesmo sonho. Mas, falta uma coisa para completar o seu traje. Espere um pouco…

Hipólita foi buscar dentro de uma arca, que Ying não havia percebido, uma linda capa de veludo verde com estranhos caracteres bordados discretamente em negro nas orlas.

Delicadamente, ela a prendeu nos ombros de sua irmã, dizendo:

– Eu mesma teci esta capa para você, pensando nesta ocasião, embora, no fundo, desejasse que este dia nunca chegasse. Nevara bordou esses caracteres mágicos, eles ajudarão a protegê-la contra o Mal.

Hipólita, então, colocou-se de frente para Ying para examiná-la, murmurando vagamente:

– Nunca se esqueça de sua origem, minha querida.

Não se preocupe, Hipólita, minha irmã. Eu já disse isso antes e torno a afirmar agora: Jamais deixarei de ser uma Amazona. Agora, quanto à nobreza… bem, a única nobreza que pretendo preservar, com a ajuda de Athena, é a nobreza de espírito. Não se esqueça, querida irmã, de que , daqui por diante, deixo de ser uma princesa para ser apenas mais um Cavaleiro, ainda que seja do corpo de elite. Não terei mais os privilégios que sempre tive aqui, inerentes à minha posição de princesa e chefe militar; muito pelo contrário, sei que, como mulher, enfrentarei duras batalhas para me impôr em um mundo predominantemente masculino, no qual as poucas mulheres que conseguiram entrar foram coagidas a se esconder por detrás de máscaras. Mas eu estou pronta para tudo enfrentar, pode confiar em mim!

– Eu sei. – respondeu Hipólita, com um sorriso amargo. – Que Artêmis e Athena estejam sempre com você, Ying. Boa sorte. – desejou enquanto a abraçava.

Após algum tempo, Ying separou-se de sua irmã, não sem alguma relutância, dizendo:

– Bem, acho que agora é adeus…

– Espere! Ainda tem uma coisa que preciso lhe dar; uma última dádiva. Vem da parte de nossa mãe e de Avalon.

– O quê?! De nossa mãe?! – exclamou Ying, surpresa.

Hipólita, então, tirou da mesma arca aonde estava a capa um objeto comprido enrolado em um pano branco. Aproximando-se da irmã, ela retirou o pano que o cobria e Ying pôde ver que se tratava de uma espada.

– É uma belíssima espada, minha irmã. – disse Ying, observando o punho de ouro maciço com um enorme cristal engastado e a lâmina do mais puro aço. – Mas… pensei que soubesse… Os Cavaleiros de Athena não usam armas, eles, quero dizer, nós só podemos contar com a nossa técnica e o poder de nossos cosmos.

– Sim, querida irmã, eu sei disso muito bem. Os Cavaleiros de Athena não usam armas, exceto com a permissão dela, e se eu estou lhe oferecendo esta espada, é porque você a tem, não me pergunte como eu sei disso. Além do mais, esta não é uma espada comum; observe-a com atenção.

Ying aproximou-se mais e examinou melhor a espada, ainda nas mãos de Hipólita. Qual não foi sua surpresa ao descobrir um  quase imperceptível dragão gravado no punho.

– Por Artêmis! Esse símbolo… Essa espada só pode ser… mas, como… Como é possível?!

– Sim,Ying. Esta é Excalibur, a espada do lendário rei Arthur, a Espada Sagrada de Avalon, e agora é sua.

– Sempre pensei que ela descansaria para sempre no fundo do Lago Sagrado em Avalon, onde Sir Bedivere a lançara a pedido do rei agonizante…Por que a está entregando a mim, Hipólita? E como ela veio parar nas suas mãos?

– Na verdade, ela já não está em Avalon há muito tempo. A própria Senhora, a guardiã da Visão, a enviou para cá quando soube do nascimento dos gêmeos.

– Mas, então, por que não a entregou ao meu irmão Saga?

Hipólita não esperava por essa pergunta e hesitou antes de responder.

– Bem, eu acho que após a traição de Arthur, a Senhora achou que somente uma mulher poderia realmente resgatar a honra de Excalibur.

Ying estudou minuciosamente a expressão de sua irmã, não parecendo nada convencida.

– Seja sincera comigo, Hipólita. Essa não é toda a verdade, não é? Diga-me, foi por causa da maldição de Ares?

Hipólita estremeceu ligeiramente ante o olhar penetrante de Ying. Sabia que não podia esconder nada dela, pois Ying sempre foi tão perspicaz que parecia até poder ler pensamentos. Suspirando profundamente, respondeu:

– Sim, tem razão. Na verdade, apesar do menino Saga parecer não ter sofrido nenhuma influência maligna, visto talvez o que aconteceu com Kannon, ela teme que algo tenha permanecido latente em Saga, apenas esperando o momento certo de despertar.

Fazendo uma breve pausa, ela continuou, a despeito da palidez mortal de Ying:

– E se você quer que eu seja realmente sincera, Ying, também sou da mesma opinião; se eu fosse você, minha querida irmã, seria cautelosa com ele.

A palidez de Ying deu lugar a um intenso rubor de pura cólera. Controlando-se a custo, em virtude do respeito que tinha por sua irmã mais velha e, além disso, sua rainha, Ying respondeu com voz rouca:

Hipólita, se você não fosse quem é e eu não a amasse tanto, a desafiaria agora para um duelo pelo que disse de Saga. Não se esqueça de que ele também é seu irmão. Ele é do nosso sangue, Hipólita! Você acha que o meu pai e o de Saga, Yang, o Cavaleiro de Gêmeos, o teria treinado para ser seu sucessor, ou ainda, que o Mestre o teria sagrado um Cavaleiro se ele fosse maligno? E quanto a mim, minha irmã? Você me conhece. Você acha que, após tantos anos de treinamento, eu não teria percebido se houvesse alguma coisa? Tudo isso é uma tolice!

– Acalme-se, Ying! – pediu Hipólita, com um sorriso conciliador. – Não vamos brigar por causa disso, está bem? Não hoje. Afinal, eu apenas fiz o que me pediu. Eu disse o que pensava, fui honesta com você. Pode ser que seja uma opinião baseada em antigos preconceitos arraigados ou apenas uma sensação… Quem pode saber? Entretanto, confio em seu bom senso e tenho certeza de que Athena sempre a protegerá.

– Está certo, Hipólita. Eu peço desculpas a você pelos meus arroubos. Acho que preciso me esforçar mais para controlar esse meu gênio explosivo. Será que pode me perdoar?

– É claro, querida. Não se preocupe com isso. E então? Que me diz? Aceita a incumbência de empunhar Excalibur?

– Com certeza , minha irmã. – disse Ying, segurando agora a espada. – E juro a você, a Athena e a Deméter – ou Ceridwen, como a chamam as mulheres de Avalon. – que tudo farei para honrá-la e que sempre combaterei pela Paz na Terra.

– Muito bem, Ying. Eu sou testemunha desse juramento e sei que tudo fará para cumpri-lo. – disse a rainha, emocionada, pondo as mãos nos ombros de Ying. – Bem… – continuou, afastando-se um pouco e tentando, em vão dissimular as lágrimas. – É hora de nos despedirmos. Não se preocupe com nada. Em menos de uma hora terei tudo providenciado para sua viagem, tanto suprimentos como a escolta necessária.

– Não, Hipólita. Nada disso será preciso. Além do que, não seria prudente para vocês saírem do Vale em grupo somente por minha causa, pois isso poderia pôr em risco o segredo de sua localização. Devo ir para o Santuário por meus próprios meios. Usarei a habilidade de me teleportar, transpor as dimensões usando a velocidade da luz, adquirida durante o meu treinamento para Cavaleiro.

– Mas, Ying… Isso não seria perigoso? Afinal, pelo que me consta, essa técnica somente deve ser usada quando se conhece bem o local do destino. Você nunca esteve lá e o Santuário está situado em um terreno bastante acidentado. Seria arriscado demais!

– Sim, é verdade. Eu nunca estive lá fisicamente. Entretanto, meu irmão já me falou tantas vezes sobre aquele lugar e cada vez com detalhes tão vívidos que sinto como se conhecesse cada polegada daquele terreno, basta que eu feche os olhos que consigo vê-lo em minha mente. Essa será minha prova final: Conseguir chegar lá em segurança usando meu cosmo!

– Sendo assim… – refletiu Hipólita por alguns instantes. – Você deve saber o que está fazendo. Mas antes que se vá, preciso lhe dizer mais uma coisa muito importante acerca da espada que acaba de receber. Está vendo esse cristal verde engastado no punho? É chamado de “Pedra-das-Amazonas”. Foi nossa mãe quem o colocou aí antes de partir para Avalon. Ela me recomendou que dissesse a você que, graças a ele, você poderá transformar essa espada, que por si só já é uma arma incomum, em qualquer arma que desejar, seja de ataque ou defesa, bastando que o diga em voz alta.

– Isso é maravilhoso, minha irmã! Já tinha ouvido falar sobre os poderes desta pedra tão rara, mas pensei que fossem apenas mitos. Realmente, é uma arma extraordinária, Hipólita! – exclamou Ying, entusiasmada, mas depois suspirou e acrescentou, em tom sério: – Agradeço mais uma vez, não apenas por isso como também por todos os anos maravilhosos que passei aqui. Custa-me muito deixar esta terra onde nasci e me criei, porém preciso cumprir o meu destino. Athena me chama. Está na hora de partir.

Pedindo à sua irmã que se afastasse um pouco, Ying juntou ação às suas palavras e elevou o seu cosmo para o teleporte, inundando de luz toda a sala. Fechando seus olhos, concentrou fortemente o pensamento no Santuário, procurando visualizar com detalhes o lugar onde deveria ressurgir. Um segundo depois, Ying havia deixado o palácio real e o Vale das Amazonas com destino ao Santuário de Athena na Grécia.

Continua…

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  • Por que eu acho que ela não vai parar no local certo? kkkk olha a paranóia

    (p.s.: aaaah eu não esperava que usasse o desenho <3 aaaaah)

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