EPISÓDIO 2: Empedernido 

CENA 1. INT. CRUZEIRO D´LASCA. ESCRITÓRIO. NOITE.

John Herbert gira na cadeira, sóbrio. Ruído de porta se abrindo. John Herbert sorri.

JOHN HERBERT: Por um momento achei que faria sexo. 

OTTO (Revoltado): Onde está a Regina?

JOHN HERBERT (Irônico/Sorrindo): Ela infligiu um mandamento, você sabe que eu não tolero o pecado.

OTTO: Seu sadismo não me comove.

JOHN HERBERT: O que você queria que eu fizesse com ela? Você a trouxe para o matadouro e sabia disso. A pessoa mais sádica que eu vejo aqui é você.

OTTO: Desgraçado! Eu queria promover o encontro dela com a filha, foi por isso que me aliei.

JOHN HERBERT: E você realmente acha que as duas ficariam quietas depois desse reencontro? Você acha que a Regina abraçaria a filha e sairia daqui, como se nada tivesse acontecido?

OTTO: Sei lá. (TEMPO/ Ele põe a mão na cabeça, desolado) Eu não queria que você matasse ela, isso não estava no nosso acordo.

JOHN HERBERT: É a arte do improviso. Quer um drink?

OTTO: Vida longa ao rei? Que previsibilidade!

JOHN HERBERT: Se é isso que você queria, pode ir.

OTTO: Não! Eu quero me encontrar com a menina.

JOHN HERBERT (Olhando para as partes íntimas de Otto): E ainda trabalha?

OTTO (Nervoso): Vai me dá a menina ou vai manter essa pose de psicopata?

JOHN HERBERT: Não vejo problema algum, mas eu faço questão de estar presente.

OTTO: Pra quê?

JOHN HERBERT: Quero que você conte á ela que foi eu quem matei a mamãezinha dela com três tiros no peito (TEMPO/ Ele faz o sinal da cruz) Que Deus a tenha!

OTTO: Você é insano, Herbert. 

JOHN HERBERT: Minha autenticidade te constrange, querido? (TEMPO/Ele se levanta, aproximando-se de uma adega) Great Wall ou Hardys?

OTTO: Não quero ficar mais nenhum segundo aqui. 

JOHN HERBERT: Quem vai nos levar lá é o Édy e como se vê, ele está ocupado nesse momento.

OTTO: E onde ele está? Não tô vendo nada!

JOHN HERBERT: Não interessa. Great Wall ou Hardys?

OTTO: Hardys, porra.

John sorri para Otto.

CENA 2. INT. CRUZEIRO D´LASCA. SÓTÃO. NOITE.

Meia-luz. Édy (cabelo preto, 35 anos, negro) assobiando like a Virgin – MADONNA empurra um carrinho de lixo. Ouve-se um ruído. Édy abre o carrinho, tremendo. A CAM foca no interior do carrinho. Uma mulher ensanguentada geme. Édy se afasta, assustado.

REGINA (Chorando/Ofegante): Por favor não. Não me mate, senhor. Eu só quero ver minha filha.

Édy derruba o carrinho. 

       CORTE DESCONTÍNUO:

Regina deitada no chão, acorda desnorteada. Édy a observa.

ÉDY: Fica quietinha aí. 

REGINA (Preocupada): O que o senhor vai fazer?

ÉDY: Terminar de costurar.

Édy entrega um pano para Regina.

ÉDY: Ponha na boca. Você vai precisar.

Regina obedece. Édy enfia a agulha no seio de Regina, ela geme. A CAM foca na lágrima rolando no rosto dela. Regina desmaia novamente.

        CORTE DESCONTÍNUO:

Regina abre os olhos lentamente. Édy observa, sorrindo.

ÉDY: Era pra ser bem pior. (TEMPO/ Ele pega um bojo de silicone ensanguentado) Agradeça á isso.

Regina arregala os olhos. Édy se afasta. Regina o encara.

REGINA (Confusa): E por quê que me ajudou? O que você quer em troca?

ÉDY: Na verdade, eu só fiz isso, porque eu nunca vi ninguém sobreviver à um tiro dado por John Herbert.

Édy sai. Regina respira fundo.

REGINA (Cansada/Ofegante): Era melhor ter me matado, Herbert.

CENA 3. INT. CRUZEIRO D´LASCA. ESCRITÓRIO. NOITE.

Édy entra. Otto se levanta. John gira na cadeira, sorrindo.

OTTO: Ainda bem!

John encara Édy.

JOHN HERBERT (Sarcástico): Uma hora para levar o lixo? O Guiness Book lhe espera.

ÉDY (Irônico): Pois é. Foi um lixo muito diferenciado.

JOHN HERBERT: Não me diga que você. Ah! Necrófilo. (TEMPO/Ele sorri) Você não se importa, não é, Otto?

OTTO: Deixa de gracinha, idiota. (TEMPO/ Ele olha para Édy) Me leve até a filha de Regina.

JOHN HERBERT: Espere! Quero checar as câmeras primeiro, ver se não tem nenhum milionário barreirando. Há muitos ingleses!

John liga o monitor. Otto revira os olhos. John gargalha. Otto e Édy se entreolham, cismados.

JOHN HERBERT: Esse cara é muito imprevísivel. Édy, querido, vá no quarto vinte e quatro e traga os dois imediatamente aqui.

Édy se afasta. Otto encara John.

JOHN HERBERT: Ah, Édy, leve o Otto até a Renatinha. (TEMPO/ Ele olha para Otto) Infelizmente não vou poder te acompanhar, querido, mande meus pêsames.

Otto o esnoba e se afasta. Édy olha para trás e sorri.

ÉDY (Irônico): E como eu vou convencer duas pessoas à virem comigo?

John tira um revólver da gaveta e joga para Édy. Otto observa com os olhos arregalados.

JOHN HERBERT (Sarcástico): Tenha cuidado! Foi com esse revólver que eu matei a queridinha do Otto.

Édy se afasta, sorrindo. John olha para o espelho e levanta a taça.

JOHN: Um brinde á você, meu caro, Herbert.

John sorri.

CORTA PARA:

CENA 4. INT. CRUZEIRO D´LASCA. CASSINO. QUARTO 24. NOITE.

Otto sentado na cama observa Renata (Morena, cabelo cacheado com luzes, uns 26 anos).

OTTO: Vamos supor que eu comprei sua liberdade.

RENATA (Desacreditada): O senhor deve ter bebido muito e tá avariado. (TEMPO/ Ela o encara) Ou é mais um teste de John? (TEMPO/ Ela olha para os lados procurando pela câmera) Eu não caí, Herbert. Pode tirar esse otário daqui!

Otto põe a mão no rosto dela.

OTTO: Sua mãe é Regina Pereira de Silva.

Renata arregala os olhos.

OTTO: Faz exatos seis anos que você foi vendida por seu padrasto Roger Oliveira e nesse exato momento, você está com aproximadamente 25 ou 26 anos.

RENATA: Moço, por favor, se John descobrir que você sabe de tudo isso, ele te mata. Saia! (TEMPO/ Ela sussurra) Saia daqui e denuncia à polícia, você não vai conseguir sozinho. 

Otto pega Renata pelo braço.

OTTO: Confia em mim, venha até meu quarto. O cruzeiro vai parar no próximo porto, vamos descer juntos e voltaremos ao Brasil, okay?

Renata chora.

RENATA: Eu não posso! Moço, o John vai nos matar.

OTTO: Só confia! Eu tenho tudo sob controle.

Renata franze a sobrancelha.

RENATA: Não! Eu não confio, ou você me fala agora quem você é ou eu faço questão de ir até John Herbert desvendar essa história.

Otto arregala os olhos, preocupado. Renata o encara.

CENA 5. INT. CRUZEIRO D´LASCA. ESCRITÓRIO. NOITE.

Conrado entra escoltado por Édy. John Herbert se levanta e aplaude.

JOHN HERBERT: Tragam uma medalha para esse cara. Velho, eu sou seu fã.

Luísa entra, acanhada. Conrado o observa, temeroso. 

JOHN HERBERT: Pode ir, Édy. Eu e esses dois precisamos de um momento à sós, sabe como é, né? Coisa de amigo.

Édy sai. John Herbert observa Luísa e sorri.

JOHN HERBERT: Está linda, querida. 

LUÍSA (Preocupada): Gracias.

John encara Conrado.

JOHN HERBERT: Você é tão imprevisível, Conrado. Por um segundo achei que você mataria a Luísa, mas daí lembrei que o assassino da Luísa está no cemitério da Penha no Rio de Janeiro.

Luísa olha para Conrado, confusa.

JOHN HERBERT: O que você acha disso, Luísa?

LUÍSA: No entiendo.

John bate na mesa, revoltado. Conrado e Luísa arregalam os olhos.

JOHN HERBERT: Acabou esse teatrinho. (TEMPO/ Ele olha para Luísa) Chega com esse espanhol, sua pronúncia é ridícula. (TEMPO/Ele acende um charuto) Pois é, pai e filha juntos novamente. Que ironia do destino, não acham?

Conrado e Luísa se entreolham. John abre a gaveta e põe um revólver em cima da mesa.

JOHN HERBERT: Quem vai começar?

John gargalha.

JOHN HERBERT: É incrível, doutor. Você conseguiu a façanha de corromper todos os valores de êxodo 20. Não matarás e matou a própria filha. Não darás falso testemunho ao próximo e incriminou um pobre defunto. E nem citarei outros, pois, renderia um monólogo e eu detesto monólogos. Ande! Mostra que é um homem de palavra e termine com essa vadiazinha.

John apontando um revólver para Conrado, entrega outro em sua mão. Conrado encara Luísa, chorando.

CONRADO: Desculpa, filha. Desculpa!

John os observa, sorrindo.

JOHN: Que feio, Conrado. Deixar a mulher esperando devia ser crime, mas fica tranquilo que eu resolvi isso pra você.

John apontando o revólver para Conrado, sorri.

JOHN: pode entrar, querida.

Rachel entra. Conrado arregala os olhos ao vê-la. Luísa chora instantaneamente. Rachel entra em choque e começa a tremer.

RACHEL (Surpresa): Luísa?

Luísa tenta se aproximar dela, John aponta o revólver para ela, assustando-a. Rachel desesperada, desmaia, tendo uma convulsão imediata. Todos se surpreendem.

CONRADO (Chorando/Desesperado): Faz alguma coisa, por favor. 

JOHN: Fiquem quietos aí, ou eu mato ela com três tiros na testa.

Rachel pálida se revira. CLOSE em Luísa desesperada. John toca o interfone.

JOHN (Ao interfone): Chame o Édy. Preciso dele urgentemente.

John desliga o interfone e se depara com Conrado apontando o revólver pra cabeça dele.

CONRADO: Desgraçado! Tire a minha mulher daqui imediatamente.

CLOSE em Conrado, revoltado.

CENA 6. INT. CRUZEIRO D´LASCA. SÓTÃO. NOITE.

Ouve-se passos. Regina se assusta. Édy desce, sorrateiro.

REGINA: Que susto!

ÉDY: Está melhor?

REGINA: um pouco confusa.

ÉDY: Já te trago algo. Agora quando você se recuperar, eu vou tirar você daqui no primeiro porto que o navio parar, entendeu?

REGINA: Mas e minha filha? Eu vim buscar minha filha e sem ela, eu não vou sair daqui.

ÉDY: Talvez, você acredite que ter vindo buscar sua filha tenha sido a melhor escolha e que seria fácil. A questão é que você está mexendo com toda uma milícia, Regina. Uma milícia que controla a vida de cada pai, de cada família, de cada uma dessas garotas, e sabe por quê? Porque o John Herbert era Policial militar e era criminoso, portanto tem a cobertura de duas tropas, a da polícia e a do tráfico. Pra você sair daqui com essa menina, ou você morre, ou ela morre. E vim aqui pra ver a morte da sua filha é inaceitável, até pra mim.

REGINA (Chorando): E o que eu devo fazer? Eu não arrisquei minha vida pra perder meu foco.

ÉDY: Não é questão de foco. Você precisa entender que ninguém vai enfrentar John Herbert e sair ileso, ele pode até fingir que tá cedendo, mas na hora certa. Boom! Mais uma pessoa desaparece misteriosamente. 

REGINA: Ele é um louco. Um louco manipulador e sem originalidade. (TEMPO/ Edy a observa, confuso) O negócio da Bíblia, já vi algo parecido em Pulp Fiction.

ÉDY: Você precisa entender uma coisa sobre Herbert. Ele não quer ser original, ele quer ser único e é.

REGINA: Mas isso é ridículo. Ele é um manipulador, você sabe e mesmo assim o apoia?

ÉDY: Talvez. Só que diferente dele, eu deixei você ficar viva, então aproveita a oportunidade e cala a boca.

Édy se afasta. 

CENA 7. INT. CRUZEIRO D´LASCA. ESCRITÓRIO. NOITE.

John gargalha. Conrado pressiona o revólver na testa de John.

CONRADO: Adianta!

JOHN: Babaca! Cê realmente acha que eu daria um revólver carregado pra você?

Conrado aperta o gatilho. Nenhum ruído. John aponta o seu revólver para um vaso e dispara, quebrando-o. Todos se assustam. John encara Conrado.

JOHN: Agora senta ali e entenda que quem manda aqui sou eu.

O interfone toca. John atende, apontando o revólver pra Conrado.

JOHN (Ao interfone): Fala! (T) O quê? (T) A polícia já está no Haiti? (T) Que merda! (T) Procura o Édy e o traga logo aqui.

John desliga o interfone, revoltado. Conrado sorri, esperançoso. John o encara.

JOHN: Você devia se preocupar. A polícia veio buscar você.

John franze a sobrancelha. Luísa encara Conrado. CLOSE em Conrado, preocupado.

CONTINUA…

A Widcyber está devidamente autorizada pelo autor(a) para publicar este conteúdo. Não copie ou distribua conteúdos originais sem obter os direitos, plágio é crime.

  • VELHO! ESSE Herbert é um miserável, filho da mãe, frio , calculista, manipulador e o pior de tudo é que eu gostei desse miserável kkkkkkkk.

    Sei lá, gosto desse jeito sarcástico dele hahaha.

  • VELHO! ESSE Herbert é um miserável, filho da mãe, frio , calculista, manipulador e o pior de tudo é que eu gostei desse miserável kkkkkkkk.

    Sei lá, gosto desse jeito sarcástico dele hahaha.

  • Pesquisa de satisfação: Nos ajude a entender como estamos nos saindo por aqui.

    Leia mais Histórias

    >
    Rolar para o topo