– Então, pelo que me contou, você quase cedeu ao Lado Sombrio? – perguntou Luke Skywalker a Tarsis, na face uma expressão inquisitiva.
– Sim, Skywalker e não me orgulho nem um pouco disso. Não suportei ver Ying sendo torturada daquela maneira por Venom, ainda mais depois que a Ying nos disse que ela era sua mãe. Que mãe é esta que tortura a própria filha? – respondeu Tarsis olhando pela enorme janela da Câmara do Conselho no Templo Jedi, admirando paisagem urbana de Coruscant.
Tarsis se virou e encarou Luke, com uma expressão consternada no rosto. Andava de um lado para o outro como se fosse um animal enjaulado. Com Skywalker, Tarsis se permitia ser ele mesmo, não procurando esconder seus sentimentos.
– Acalme-se meu amigo! Posso sentir que você sofre pelo que aconteceu na Estação Crseih. E, se me permite o comentário, eu lhe avisei que Venom poderia utilizar seus sentimentos contra você. Sei que se preocupa com a garota, com seu bem-estar, e isso é louvável em você, tenho de reconhecer. Mas se estivéssemos na Antiga Ordem Jedi, eu teria de desencorajá-lo a nutrir tais sentimentos por outros Jedi. Mas felizmente os tempos são outros. Sabe bem que ter um padawan é uma grande responsabilidade e ter um ao qual ama muito é uma responsabilidade ainda maior. – falou Luke, pondo as mãos nos ombros de Tarsis.
– Luke, ela me chamou de pai! – falou Tarsis, quase às lágrimas.
Aquela frase pegou Luke de surpresa. Ele esperava que Ying gostasse mesmo de Tarsis, como um amigo, como um irmão até, mas nunca como um pai. Ying já estava fazendo de Tarsis sua figura paterna, alguém que substuísse a ausência do pai falecido há tantos anos. Por outro lado, Tarsis também sofria, pois sempre foi um solitário, condição feita ainda pior pela Ordem 661, a qual destruiu a Ordem Jedi, separando amigos, mestres e padawans, da qual nada ficou a não ser morte e solidão. Tarsis ainda era um jovem padawan de Naboo e a Ordem 66 o forçou a fugir e se exilar em seu planeta natal. Coincidentemente ou ironicamente, Naboo também era o planeta natal do autor da Ordem: o Imperador Palpatine.
– Pai? Puxa… – Luke recuou alguns passos e baixou a cabeça, visivelmente consternado. A sombra de Vader ainda estava presente nele, muito embora ele soubesse que Anakin Skywalker não mais fosse o Lord Sith Darth Vader e estivesse com a Força agora.
– Desculpe-me, Skywalker. Eu não quis trazer más lembranças para você com tudo isso. Sei como foi difícil para você… – Tarsis estava sem jeito e apertava as mãos.
– Não há problema, Tarsis. Eu já estou superando isso. Eu fico feliz que a Ying o veja com os olhos de filha e não poderia desejar um pai melhor que você para ela. Você, ela e o Kar-Ani formam uma grande família a meu ver! E quer saber? É isso que importa! Vocês têm sido solitários por tempo demais! E até a Deliah tem bancado a mãe dela, dando-lhe conselhos! – Luke se virou para Tarsis novamente e então continuou.
– É isso que eu desejo que a Nova Ordem se torne: uma grande família! Cada um cuidando do outro. Bem, acho que a Ying precisa de você agora. Ela tem estado muito afastada de tudo e de todos. Desde que vocês voltaram que ela tem se isolado do mundo e isso não é bom. Ela pode ficar amargurada e isso a levará ao Lado Sombrio. – Luke fez uma pausa e respirou fundo, cruzando as mãos atrás do corpo.
– A Leia e o Han estavam querendo conversar com ela e com você sobre o que aconteceu em Corellia, pois há algumas coisas que eles acham que não se encaixam. Agora vá, meu amigo, pois preciso ponderar sobre algumas coisas. – Quando Tarsis saiu, Luke se voltou à grande janela da Câmara do Conselho e passou a vislumbrar a paisagem de Coruscant, uma lágrima furtiva rolando-lhe pela face…
****************
Ying abraçou Kar e chorou mais ainda.
– Ah, Kar… Eu amei durante anos uma mentira!… A mãe com a qual sonhava nunca existiu!!!
Ying e Kar seguiram andando. Ele a encaminhou para um lugar tranquilo e belo, onde talvez pudesse ter um refrigério para sua jovem alma atormentada: A Sala das Mil Fontes.
Kar continuou tentando animar sua irmã de sabre.
– Ying, a mãe que você sempre amou existe. Apenas está submetida a um corpo a qual Venom dominou.
– Como assim? – Ying estranhou.
– Assim como Vader “assumiu” o corpo de Anakin. Em minha opinião, todos têm um “lado sombrio” dentro de si e outro iluminado. Os jedis geralmente têm seu lado iluminado predominante. É questão de personalidade. Acho que você sempre amou sua mãe. Aquela sith não é sua mãe, apenas a quer ao lado dela por causa do sangue. Sua mãe é a jedi que ela foi um dia e que pode voltar a ser.
– Eu…. amava uma mulher que acho que nunca existiu…
Kar-Ani ponderou um pouco e se aproximou mais de Ying, olhando em seus olhos.
– Ying… Tudo o que você sonhou é real. No fundo da sith que Venom é, ainda há uma jedi que ama sua filha…
Ying olhou, surpresa, pro irmão.
– Você..acha…Acha mesmo? – Uma tênue luz de esperança surgiu dentro de si.
– Mas cabe, principalmente a você, trazê-la de volta. – diz Kar.
– Mas… tentei fazer isso… – Ela abaixou a cabeça, – Antes dela quase me matar… – por reflexo, levou a mão ao pescoço, onde a mancha roxa já começava a desaparecer.
– Ying, você tentou, mas veja que estava abalada por ver que agora ela era uma Sith e isso não te fez confiar que podia fazê-la voltar para a luz e a deixou confusa. Mas confie em si mesma e em seus amigos que iremos fazê-la voltar a ser uma jedi, a qual nunca deixou de ser, e ela voltará a ser sua mãe de verdade…
Os olhos de Kar-Ani brilharam e ele parecia bastante confiante, capaz de transmitir tal confiança para todos.
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Deliah Blue estava sentindo a tristeza de Ying há dias. Para uma Zeltron2, toda aquela tristeza numa só pessoa era como um veneno que a corroía por dentro. Procurou a melhor forma de se aproximar da jovem Jedi a fim de conversar com ela e fazê-la se sentir melhor. Mas nenhum jeito foi melhor que encontrá-la casualmente como aconteceu naquele dia a caminho da Sala das Mil Fontes.
Ao ver os dois, Deliah aproximou-se de ambos, sorriso franco no rosto, como era do seu feitio, braços abertos como se quisesse abraçar o mundo.
– O Kar tem razão, Ying! – Deliah sorriu, entrando na conversa.
– Deliah… – Ying tentou sorrir, mas ainda guardava muita dor.
– Ying! Kar! Que bom ver vocês aqui!
Deliah abraçou a ambos efusivamente.
– Ah, não, Ying! Deixa essa carinha triste e abre um sorrisão pra mim, vai?
Ying olhou pra ela e se esforçou…Se esforçou de verdade, mas só saiu um sorriso triste. Pálido reflexo do famoso sorriso dos Solo.
– Ai, ai, ai… Está difícil mesmo pra você hoje, não é?
– Sim…Eu…Eu sinto muito, Deliah…Mas, não precisa se preocupar…Eu vou ficar bem... – disse, tentando convencer mais a si própria que a ela.
– Não gosto de ver ninguém triste e quer saber? Essa nuvenzinha negra aí acima da sua cabeça pode ser vista a quilômetros! Levanta essa cabeça, mulher e estufa o peito! – Deliah empinou ainda mais os voluptuosos seios ao dizer “Estufa o peito”.
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Sorri pra Deliah, com um pouco mais de vontade. Quem conseguia ficar triste perto dela?
Kar-Ani olhou de lado para Deliah, prendendo o riso, então se voltou para Ying.
– E então? O que me diz? Vamos treinar para trazer sua mãe de volta?
– Sim!! – respondi querendo desesperadamente crer na esperança que Kar lhe passara.
– Continua que tá dando certo, Karzinho! Ela está sorrindo! – falou Deliah, baixinho, abraçando-o por trás.
Kar-Ani ficou sem fôlego com a reação de seu corpo ao abraço da Zeltron, então se soltou e se afastou, se virando, vermelho de vergonha e ofegante.
– Ué? Que foi agora? Eu tomei banho, tá? Estou cheirosa! – protestou Deliah.
E como está… – Kar-Ani pensou, muito corado.
– E-Eu… – fiquei sem jeito entendendo o que faziam e sorri com vontade. –Obrigada…Obrigada a vocês dois…
– Ah, estou vendo um solzinho brilhar de novo em cima da sua cabecinha, Espoleta! – Deliah comemorou.
Se for mesmo possível trazê-la de volta, como mestre Luke fez com o pai dele… – pensei e sorri, esperançosa.
– Se não! É possível! – respondeu Kar, lendo a mente dela.
– Kar! Eu te adoro!! Me sinto bem melhor agora. – pulei em cima de Kar, o agarrando.
– Agora entendo porque o Tarsis a chama de “Raio de Sol”! – Deliah sorriu.
Kar-Ani caiu pra trás com Ying por cima, ficando ainda mais vermelho.
É algum complô? – pensou Kar-Ani tentando se soltar, pois, apesar de seu corpo “gostar”, ele não achava certo, afinal, Ying era sua irmã de sabre…
Dou uma risada.
– Calminha,Kar…
Deliah riu ruidosamente e também se jogou por cima dos dois! O decote generoso e revelador bem ao nível dos olhos dele.
Socorro!! – pensou Kar, quase púrpura de tão envergonhado.
**************
Tarsis seguia pelos corredores, as palavras de Luke ainda ecoando em sua mente: “Eu não poderia desejar um pai melhor que você para ela.” Até que ele chegou ao lugar onde estavam Ying, Kar e Deliah.
Kar-Ani sentia-se esmagado, não só pelo peso, mas pelas sensações. Então viu seu mestre ali perto e tentou se soltar, em pânico.
Tarsis pigarreou, anunciando sua chegada.
– Pai…Mestre Tarsis!!! – Ying gritou, feliz ao vê-lo chegar
Kar-Ani olhou para seu mestre, todo vermelho, tentando se arrumar, sem conseguir encará-lo.
– Eu tentei evitar…
Fiquei rindo baixinho.
Tarsis não aguentou de felicidade ao ver Ying, Deliah e Kar-ani diventindo-se e abriu os braços, lágrimas rolando pelas faces.
– Venham cá, meus queridos!
Kar-Ani sorriu, então com Burst of Speed apoiou as mãos e se impulsionou para um salto, caindo por cima do mestre.
Tarsis ajoelhou-se e abraçava Ying quando Kar-ani caiu sobre os dois, iniciando o “Montinho”.
– Opa! É festa em cima do Tarsinho??? – falou Deliah.
Deliah atacou o grupo, caindo sentada em cima do Kar-Ani.
Ao ver que Deliah iria pular, Kar-Ani se virou ficando com a cara para cima, esperando Deliah pular. Quando ela pulou, se desviou.
– Ha! Passou direto. Não conseguem me pegar…
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Começei a me sentir feliz de novo. Um calor agradável me invadia o coração antes gelado e vazio.
– Ai!! Ai! Vocês estão pesados! Ufa! – reclamou Tarsis. – Venha cá, seu padawan matreiro!
Kar-Ani ficou sorrindo e se esquivando dos abraços.
_ Adoro vocês!! – gritou Ying, novamente animada.
– E nós te amamos, Yinguita! Nunca duvide disso!- falou Deliah
– Eu sei… Desculpe se preocupei vocês…Por tudo que já aprontei…
Kar-Ani pulou por trás de mim, caindo por cima, depois rolou e se levantou;
– Nem me pegam…
– Isso que você pensa!! – falei, gostando da brincadeira.
Eu comecei a correr atrás de Kar, mas parei, perplexa, me deparando com alguém que jamais esperara encontrar.
Continua…
1Ordem 66: A Ordem 66 foi um evento no final das Guerras Clônicas no qual soldados clone do Grande Exército da República se voltaram contra os Generais Jedi e os exterminaram, ocasionando a destruição da Ordem Jedi. (N. A., Fonte: Wikipedia)
2 Zeltron: eram uma espécie quase humana, fisicamente distinta por sua pele que veio em diferentes tons de vermelho variando de rosa claro a vermelho escuro, e cabelo que poderia ser vermelho ou azul. A maioria deles foi considerada altamente atraente pelos padrões humanos , quase humanos e até mesmo alguns não humanoides. Conhecidos pelos potentes ferormônios e a capacidade de projetar emoções (N. A., Fonte: Wikipedia)
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