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Segredos Mortais – Capítulo 18

Capítulo 18

      – E você, sabe qual o sangue que corre em minhas veias? – Perguntei colocando meus pés em seu peito o jogando para longe. Observei-o caindo por cima de uma pilastra junto com os tijolos que a compunham. 

      – Minha doce, Lara, você não sabe o que diz. – Disse ele se levantando enquanto se regenerava. Eu o esperava com as adagas preparadas, não pretendia errar desta vez. Estava atenta à oportunidade de arrancar seu coração.

     – Por que você não me explica então? Não estou com pressa. O tempo sempre esteve a nosso favor, não é mesmo? – Falei, sarcástica, encarando-o. Seus olhos eram duas chamas vivas.  Encostei-me na muralha ao lado da estátua da gárgula observando a guerra que acontecia abaixo de nós. O sol que iluminava o dia durante várias horas atrás foi substituído por enormes nuvens negras. Os raios que saiam delas pareciam rasgar o céu em fúria.

Leiael e Adar lutavam com várias criaturas, se desviando dos raios. Enquanto lá embaixo sobre a terra inundada de sangue vi Saulon atacar um enorme monstro que esmagava qualquer um que entrava em sua frente. Ele lançou uma magia sobre a criatura que pareceu deixá-la desnorteada. Gabriele e Heitor lutavam como guerreiros de ninjutsu. Heitor se lançou sobre um dos vampiros golpeando, mas o vampiro desviou atacando-o em seguida, deixando-o surpreso. Sem se mostrar abalado provocou a criatura chamando com um aceno de mão, enquanto rodava o machado na outra mão.  A enorme criatura com armadura de ossos lançou uma enorme clava com três correntes presas na ponta com bolas pontiagudas na direção deles. Heitor com sua agilidade e de frente para a criatura conseguiu desviar, mas o vampiro foi esmagado pela clava do gigante.

Senti uma vibração em minhas costas, e me virei rapidamente achando que fosse Zoraky. Mas assim que me virei, uma enorme criatura com asas de morcegos e dentes afiados surgiu a minha frente. Suas asas tinham tendões pontiagudos, e o negro das asas as tornava invisíveis diante da noite sombria. A gárgula havia despertado. 

     – Estou aqui para lhe servir. – Disse a gárgula mergulhando em direção à batalha.

     – Como você pode fazer isso? Você não tem esse poder! – Afirmou Zoraky. 

Desta vez eu sorri encarando seus olhos vermelhos. Ele se lançou sobre mim e desta vez sua garra prendeu meu peito. Com a dor deixei uma das adagas cair no chão enquanto meus olhos acompanhavam a gárgula atacar os vampiros. A dor era tão insuportável que não conseguia pensar em nada, não tinha movimento, não tinha reação. Senti-me agonizando ali, sem poder fazer nada. A única coisa que via na minha frente eram duas chamas vivas sugando minha alma. Nesse momento uma voz surgiu em minha mente. Você é muito mais do que você pensa, você é diferente deles, seu coração é puro não se esqueça. Não se deixe levar pelo ódio. Será sua perdição. Nesse momento fechei meus olhos e respirei fundo. Curvando meu corpo para frente, deixei meus pensamentos me guiarem. 

    – Não resista, Lara. Posso sentir o cheiro fétido de seu medo.  

Pude sentir a transformação acontecendo rapidamente. Meus ossos pareciam se quebrar à medida que meu sangue circulava pelas veias ativando meu DNA. Senti meu corpo se debater freneticamente enquanto me retorcia de um lado para o outro. Meu rosto estava tão quente que parecia que a carne iria se soltar de meus ossos. Não consegui olhar para Zoraky, mas podia imaginar que essa não era a reação que ele esperava. Comprovei isso assim que ele arrancou de meu peito sua garra, recuando alguns passos para trás. Senti o atrito do chão assim que minhas mãos tocaram o concreto gélido e fétido próximo de seus pés. De joelhos e com as mãos no chão, respirei fundo dando um impulso, parando de pé a sua frente.  Senti um punho preencher meu estômago, minhas costas esbarraram na mureta do castelo fazendo os tijolos despencarem lá embaixo, em cima dos híbridos que lutavam. Com uma das mãos me segurei pendurada observando o massacre que ocorria desenfreadamente entre os vampiros e os bruxos. A gárgula devorava os vampiros como se fossem baratas. Procurei rapidamente Leiael e os outros Guardiões entre a multidão, mas não os vi. Balançando o corpo coloquei a outra mão no muro elevando meu corpo para cima com um único movimento.

     – Pronto para a luta? – Perguntei encarando seus olhos vermelhos em chamas.

     – Primeiro as damas. – Disse ele, abrindo as asas e encarando-me. Passei as adagas em minha calça retirando o sangue que havia nelas. Manuseando as duas, lancei uma e depois a outra em sua direção. Rapidamente ele segurou as duas, com um largo sorriso.

     – Bela tentativa. – Disse ele segurando-as pelas pontas, ao mesmo tempo que parecia se divertir vendo seu reflexo nas lâminas. De repente vi as adagas caindo no chão enquanto suas mãos começaram a queimar.

      – O que está acontecendo? – Grita ele. Tentando apagar o fogo que se espalha rapidamente. 

      – Curioso! O todo poderoso é sensível à prata? Aço? Verbena? Ou aos três? – Provoquei apontando em sua direção uma flecha banhada em prata e aço. E assim que lancei a flecha em sua direção ele mergulhou na fumaça sumindo na profundeza do oceano.  Sem perder tempo, me jogo atrás dele em queda livre, sentindo meus cabelos se alvoroçarem com o vento. Assim que meu joelho e uma das mãos com o punho cerrado, tocam o chão, observo ao redor e vejo nitidamente uma cena aterradora. Amontoados de corpos dos híbridos dilacerados, alguns vampiros se arrastando de um lado para o outro, vampiros sob controle da magia atacavam uns aos outros. Era uma verdadeira visão do inferno. Mas não vi Zoraky.

Podia sentir minha capa ensopada de sangue, enquanto eu caminhava entre as criaturas disparava algumas flechas, sentindo a poeira das chamas voarem em minha direção.Como restavam apenas duas flechas fui obrigada a enfrentá-las a punho mesmo, fazendo-as sentir as lâminas afiadas, decepando as suas cabeças. Olhei em todas as direções tentando avistar Gabriele e os Guardiões, mas eles não estavam ali. No céu, apenas os raios insistiam em cair sobre a terra violentamente, movidos pelas ordens de algum dos bruxos. Enquanto saltava por cima de algumas criaturas e dava alguns mortais por cima de outras acertando-as com minhas adagas, vi a ponte e encontrei Gabriele abaixada, apoiada com seus joelhos no chão, e com a cabeça sobre o peito de um homem. Corri em seu encontro. 

    – O que aconteceu? – Perguntei observando seu pai se afogar com o próprio sangue apoiando uma das mãos em sua barriga aberta. 

     – Ele foi ferido por aquela coisa que não sabemos como matar, parece que nada o atinge. – Disse ela passando a mão sobre seu rosto afastando as lágrimas misturadas ao sangue de seu rosto.

     – Todo mundo tem um ponto fraco, até mesmo uma coisa como aquele monstro. – Falei observando que lá, distante de nós o gigante com armaduras de ossos massacrava todos que se aproximavam dele. Podíamos ouvir o som de sua clava explodindo contra os corpos que se juntavam na terra, esmagados pelas bolas pontiagudas. 

     – Precisamos tirá-lo daqui, vamos levá-lo para a floresta. – Falei erguendo-o por um dos braços. – Você sabe onde estão Heitor e os Guardiões?  Perguntei enquanto atirava a penúltima flecha em quatro vampiros que se aproximavam de nós. Assim que a Flecha explodiu atrás de nós, uma cortina de fogo se ergueu dando-nos tempo para colocar Saulon entre as árvores.

Fiquei esperando Gabriele se despedir do pai, em alerta no início da ponte, após alguns segundos ela aparece logo atrás de mim amarrando seu cabelo.

     – Vamos! – Disse ela colocando as adagas entre os dedos criando uma espécie de soco-inglês. Seus olhos brilhavam de ódio. Partimos para o ataque lutando por mais algumas horas. As criaturas pareciam uma espécie de praga, matávamos dez e surgiam mais dez. Pude notar o cansaço se abater sobre Gabriele, ela precisava sair dali,  seu braço e suas costas estavam sangrando, ela precisava parar. E agora? Dei outro mortal caindo a sua frente adiantando o golpe que ela mencionava dar numa criatura.

     – Corra e junte-se ao seu pai, você está fraca e precisa renovar suas energias. Vá agora! – Falei Jogando uma adaga no meio da testa de uma vampira que vinha em disparada em nossa direção. 

     – Não! Vou matar esses malditos, só saio daqui quando vir a última criatura se retorcendo no chão, agonizando enquanto arranco sua cabeça com minhas adagas.

     – Nossa! Como você está cruel! – Falei, zombando. 

     – Ok, Gabriele. É sério, vá agora! Você precisa encontrar uma forma de repor suas energias, senão será você a perder a cabeça. 

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