CARA A CARA
Jesuíta Barbosa X Jean Ribeiro
Jesuíta: Olá, Boa Noite! hoje com certeza é um dia de grande emoção para mim, pois estou frente a frente com uma pessoa que há muito vem me conquistando, seja por sua determinação, por sua coragem, ou por sua humildade, com certeza há muitas pessoas que se identificam com essa figura quase que lendária no mundo do narcotráfico, eu estou cara a cara com Jean Ribeiro.
Jean: Obrigado, pelas palavras, Jesuíta é um enorme prazer conhecer você, quero dizer que acompanho seu trabalho a medida do possível e me encanta a sua forma de atuar.
Jesuíta: Rapaz, agora fiquei corado, obrigado mesmo, reconhecimento pelo trabalho da gente é tão gratificante como ou mais que o ordenado no final do mês. Mas vamos em frente que hoje aqui, falaremos de Jean Ribeiro com Jean Ribeiro, e aí eu te pergunto, em algum momento imaginou que chegaria tão longe? Tão alto?
Jean: Sabe Jesuíta, eu venho de uma família muito humilde do interior do Paraná, perdi meu pai aos seis anos de idade, e desde então minha mãe lutou sol a sol para poder me dar o que comer, pra ela conseguir o que comer, então eu cresci muito sonhador, aquela pobreza extrema não me fazia desanimar, ela me fazia sonhar cada dia mais e aí ainda pequeno, nessa época, Ritinha, já morava com a gente, eu achei um jornal velho e nele dizia que São Paulo era uma cidade boa pra se viver, pra se conseguir as coisas, e daquele dia em dia o sonho com São Paulo foi o que me deu coragem pra enfrentar todos os obstáculos. Eu então segui meus estudos, estudei pouco, por que trabalhar era mais necessário, se eu pegasse no cabo da enxada eu teria dinheiro para poder comprar o que vestir, para colocar um pedaço de pão, um arroz com feijão na boca, se eu estudasse todos padeciam, então eu preferi trabalhar duro desde cedo.
Jesuíta: Mesmo sem ter terminado o Ensino Fundamental, Você estudou até a ª série, você tem uma inteligência acima da média não? Consegue comandar um negócio que rende milhões por ano, há quem você deve essa capacidade?
Jean: Acho que a mim mesmo, eu sempre fui muito curioso, na escola meus professores me chamavam de menino peste, não é que esse menino peste sabe mesmo, dizia minha professora de matemática, acho que isso vem da inteligência emocional, essa capacidade de análise, de projetar o futuro. Jesuíta – Armando Cardona, foi importante na sua vida? Jean: Muito importante, como um pai e não foi só pelo dinheiro que me deixou, foi mesmo pela pessoa que é. Me ensinou muitas coisas que eu vou levar pra sempre comigo.
Jesuíta: Como foi a chegada a São Paulo?
Jean: quando cheguei a São Paulo, ou melhor quando embarquei no ônibus me senti plenamente realizado, fascinado, e comecei a fazer planos com o que eu ganharia trabalhando como garçom na hot 33, naquele momento não imaginei de forma alguma que pudesse passar pelo que passei.
Jesuíta: O que significou para você Carlos Cassell?
Jean: Foi meu primeiro amor! Era uma pessoa toda errada, mas me ensinou muitas coisas, me ensinou a ter coragem para enfrentar os problemas, e a levantar ainda mais forte depois de cada tombo.
Jesuíta: Você acha que a vida no tráfico vale a pena?
Jean: Sabe que nunca parei para pensar nisso. Nunca fiz essa pergunta a mim mesmo, não por que não tenha querido fazer, mas por não ter dado tempo, quando pisei em São Paulo, e conheci Carlos, e descobri que o mundo dele era muito diferente do meu, não o julguei apenas o escutei.
Jesuíta: Imaginava que um dia eles iam o pegar?
Jean: Ele imaginava também, mas o que estávamos vivendo era tão maior que seguimos aproveitando a vida como se cada dia fosse o último. Acho que mesmo uma pessoa que não passa por problemas como ele passou as vezes pensa na morte, mas a morte é a única certeza da vida, então se segue mesmo sabendo que um dia ela vai te buscar.
Jesuíta: Você tem medo de morrer? Ou melhor, ainda sente medo?
Jean: Desde o dia que mataram Carlos, em São Paulo que descobri o que é sentir medo, medo de morrer, medo de perder qualquer pessoa que se aproximava de mim, mas o dia que perdi minha mãe e Ritinha, deixei de sentir medo, talvez por que elas eram as pessoas mais importantes da minha vida. Então senti que meu medo foi embora, que era só eu no mundo, e que de nada mais adiantava ter medo, a partir daquele momento percebi que qualquer passo que daria era de minha inteira responsabilidade e que não adiantava mais tentar se agarrar a uma crença, uma esperança.
Jesuíta: D. Ivone foi uma pessoa muito religiosa, Ritinha era uma pessoa muito crente, devota a Deus, Jean Ribeiro não?
Jean: Jean Ribeiro, sempre se questionou desde muito pequeno por que as pessoas acreditam em Deus, ou em deuses. Sempre foi uma pergunta que me fiz, sabe? E nunca tive uma resposta, então prefiro viver, ser dono do meu próprio destino, ser capaz de guiar minha própria vida, quando estou triste, ou não estou animado com o trabalho, ou com o caminhar das coisas, busco forças do meu pensamento e toco a diante.
Jesuíta: Há muitas pessoas que tem fé, que dizem mais ou menos: coloque um ateu em um avião caindo e descubra se ele é realmente ateu, o que você me diz?
Jean: Digo que se o avião está caindo é por falha mecânica, falha humana ou qualquer outra coisa, não vai adiantar chamar por ninguém, ele vai seguir seu curso, a queda é inevitável. Mas eu respeito todo o tipo de opinião, todo o tipo de crença. Só digo que o ateu não espera uma bondade divina, eu enquanto ateu não espero por nada, por ninguém, eu vou em frente, a vida pode ser mais dura? Com certeza, mas é a vida […] Eu acho que é uma maneira de se enxergar no mundo e o mundo.
Jesuíta: Você costuma ter muitos embates com você mesmo?
Jean: Muitíssimos, todas as noites, as vezes quando eu deito, quanto sento pra fumar um cigarro, a minha mente ferve, eu penso em todas as coisas que já passei, em todas as coisas que eu poderei passar, me imagino velho, me imagino morto, se bem que depois de morto já não vou sentir nada. Mas já imaginei inúmeras vezes a minha morte.
Jesuíta: (pasmo) De verdade estou admirado, a cada dia que conheço sua história eu me surpreendo ainda mais, e não há palavras pra descrever o que sinto, por que histórias de vida independente de ser de uma pessoa que cometeu coisas ruins, é uma história de vida. E o que mais me chama atenção na história do Jean e a sua capacidade de enxergar os problemas que o cercam, a maneira como os enfrenta […]
Jean: Desculpas se te interrompo, mas quero te perguntar, o que te fez interpretar Jean Ribeiro?
Jesuíta: Foi mesmo a história de vida, a maneira de fazer as coisas, a forma como enfrenta seus inimigos, a intensidade com que ama, a sua inteligência. Bom, e sempre tive vontade de interpretar um papel que fosse livre de rótulos, é machista, não é machista, É hétero, não hétero. E Jean Ribeiro é livre desses rótulos impostos pela sociedade, com certeza foi o que mais me agradou quando li a história.
Jean: A mim não me agrada dar entrevistas, muito menos ser entrevistador, mas se tratando de você sendo quem é, foi um enorme prazer, mas eu quero saber mais […]
Jesuíta: Gente, eu estou sendo entrevistado por Jean Ribeiro, o que é isso?! (risos)
Jean: Eu acompanhei a primeira temporada toda, todas as terças e Quintas as 22:57 eu já estava lá em frente ao meu computador, e o último episódio com certeza deixou muita gente muda […] O que vem na segunda temporada?
Jesuíta: Vem um Jean Ribeiro, muito mais decidido, seguro, estratégico, com uma carga emocional ainda mais intensa que na primeira temporada, tem um Jean, descobrindo traições de pessoas que ele confiava, tem uma Marla Mendonça na escalada para o poder […] são muitas coisas, são mais seis anos de história, da história de vida do Jean Ribeiro. (Risos) Gente, não estava no script, eu fui entrevistado (batendo palmas). Jean, eu quero agradecer imensamente a oportunidade desse encontro num lugar totalmente secreto, com venda nos olhos e tudo mais, foi realmente incrível, e acredito que na segunda temporada eu vou conseguir encarnar esse Jean Ribeiro que eu conheci hoje, incrível, incrível.
Jean: Eu que tenho que agradecer pelas suas palavras, e quero dizer também pro pessoal que acompanha a série Sob o Domínio do Rei, que realmente a história retratada nela é fascinante e independente de ser uma história sobre o tráfico, é uma história que aborda uma trajetória de vida, um destino, um destino que muitas vezes não está nas nossas mãos, ele se apresenta diante de nós e temos que enfrentá-lo. Muito Obrigado!
Jesuíta: Obrigado a todos que acompanharam essa entrevista, e só me resta dizer que em breve a segunda temporada de Sob o Domínio do Rei está pintando no Cyber Séries. Um beijão e até mais.
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